domingo, março 08, 2015

Coisas de padres

Se o homem não tem consciência de caminhar, porque vamos apresentar-lhe um caminho? Se ele não está inquieto, porque havemos de lançar-lhe uma proposta? Se ele não quer escutar-nos, porque havemos de falar-lhe? Estamos a pregar no deserto. Vivemos numa sociedade e numa época sem Deus, onde este, quase nem para os que frequentam a missa é de facto o centro das suas vidas. E porque haveria de ser? perguntou a Carolina. Respondi-lhe, como faço não raras vezes, com outra. E qual é o centro da tua vida? Ela encolheu os ombros e não soube responder. Enderecei-lhe nova pergunta. Qual é o sentido da tua vida, afinal? Baixou os ombros, mas não baixou as armas. Disse. Coisas de padres. Como se as coisas de Deus fossem coisas do imaginário dos padres. Se ao menos os padres fossem o rosto de Deus!

7 comentários:

Anónimo disse...


Se ao menos os Padres fossem o rosto de DEUS!!!
Que lindo!!!
E muitas vezes são mesmo esse Rosto.
O que o oculta, são as nossas visões
ou lentes escuras...
Que sejas Tu Senhor a dar um Rosto mais belo aos Padres, para que eles iluminem a Tua Igreja...
Amem.

Luis disse...

É tão triste ver que são tão poucos os católicos que se comprometem realmente nas paroquias e se limitam a assistir à missa como quem cumpre um preceito e nada mais. É urgente fazer com que se tenha um verdadeiro encontro pessoal com Cristo. Quem se encontra com Cristo não fica igual. O centro da sua vida muda, o cento da vida passa a ser o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Mas a realidade é que muitos ainda não fizeram a experiência de se sentirem amados por Deus. A eucarístia é experiência de comunhão com Cristo e com os irmãos em comunidade. Na eucaristia eu vou-me transformando cada vez mais à imagem e semelhança de Jesus Cristo. Quem não tem Cristo no centro da sua vida, acaba por andar inquieto, a saltar de momentos de alegria passageiros, acabando por descobrir mais tarde por descobrir a verdadeira alegria e sentido da está em de encontrar em Deus, um Pai portador de um amor imensamente misericordioso. Quem anda longe de Deus, anda disfigurado. Quem anda perto de Deus, anda iluminado e é transfigurado à imagem de Jesus. É uma caminhada que não é fácil e passa por momentos de deserto. Mas Deus no seu imenso amor, vem ao nosso encontro pronto para nos abraçar e dar a mão. Ele nos levanta para caminharmos e retomarmos o caminho a que somos chamados a viver.

Anónimo disse...

Bom dia!
Gostei muito desta reflexão.
Acompanho um grupo de 27 jovens do 9º ano de catequese, com a atitude da tua Carolina.
Atém as respostas que me dão são muito semelhantes à que ela te deu, "coisas de padres".
Pela paróquia já passaram uns quantos padres que de certa forma foram afastados pelas situações que lhes foram sendo atribuídas e muito pouco dignas de uma pessoa quanto mais de um Padre, enquanto ministro de Deus.
As coisas de Deus não são de todo coisas de padres ou dos homens.
"Se o homem não tem consciência de caminhar, porque vamos apresentar-lhe um caminho?"
Os "meus" jovens não estão inquietos, porque hei de continuar a falar-lhes? é uma questão que me coloco após cada encontro.
Cansada, resolvi envolver os pais nos encontros de catequese convidando-os para estarem aquela hora junto dos filhos, participando com eles e debatendo os temos propostos pelo guia.
Amar os pais, amar a vida, ser feliz para quê?
Constatei que as reticências dos filhos são o reflexo da falta de formação dos pais.
Pais despertos para estes assuntos orientam filhos convictos e dispostos a dar razões da fé que professam ou não.
Não sou Padre, penso que nem vocação teria para tal se fosse homem, mas sinto com muita frequência a "... pregar no deserto." ou fazer chover no molhado, não se nota.

SN disse...

Pessoalmente é-me difícil abstrair-me da humanidade dos sacerdotes. Talvez porque nem sempre a prática corresponda à pregação. Aos meus olhos, é certo.
Quanto às suas interrogações, às sementes que lança não adivinha o solo em que caem. Por vezes só Deus saberá dos frutos.
Diz o Evangelho que o bom pastor conhece pelo nome as suas ovelhas. Na minha paróquia, não. Somos uma amálgama de rostos conhecidos que se encontram aos Domingos. Não me sinto acolhida, não vejo interesse na minha história, não sou desafiada para nada. O meu pastor não me conhece nem parece interessado.

Bruno disse...

"Se ao menos os padres fossem o rosto de Deus!" Desculpe o tom irónico, mas pensei que eram... que éramos todos o rosto de Deus, ou então quando dizemos que "todo o Homem é nosso próximo" e quando lemos "sempre que o fizeste a um destes pequeninos a mim mesmo o fizeste"... estamos mais ou menos a dizer que não acreditamos em Deus e na Sua Palavra.
Deus é amor, mas como estava no comentário do confessionário ao post dos melhores paroquianos do mundo, mesmo no amor há coisas que nos agradam menos. Não me parece que o problema seja "os padres que não são o rosto de Deus", mas os cristãos que "não são/têm os olhos de Deus".
Deus tem exatamente o mesmo amor por alguém que cai em algum momento da sua vida (Moisés, David, Salomão, Jonas, etc.) como por aqueles que parecem ter sido/foram sempre fiéis (Abraão, José do Egito, Maria, Jesus). Mas em todos eles vemos a ação/Palavra de Deus (tal como em todas as velas do mundo vemos... uma vela - seja ou não colorida, com cheiro, grande ou pequena, etc.).
O problema das "coisas de padres" é as pessoas esquecerem-se que todos nós somos sacerdotes pelo Batismo e portanto nos dizem respeito a todos. Espero não ter sido confuso

Para terminar, apenas uma pergunta à SN (por causa do último parágrafo) e que espero que não leve a mal. Alguma vez disse ao seu Pastor "eu existo, estou aqui, estou disponível?". Da maneira como escreveu, parece-me que a sua paróquia é relativamente grande. Será que é fácil um pastor conhecer as ovelhas se apenas as vir na assembleia? Numa paróquia pequena, até 100, 200 pessoas talvez seja possível, mas mais do que isso... o padre não é omnisciente (e muitas vezes tem mais trabalho do que imaginamos)... tem de haver aproximação de parte a parte.

Que a Paz de Deus nos acompanhe a todos

SN disse...

Bruno, sim, eles sabem que eu existo. Como diz, tem de haver aproximação de parte a parte. E os passos no sentido da aproximação foram todos dados por mim até agora. Mas não vou suplicar por atenção. Intriga-me o desinteresse da outra parte.

Bruno disse...

Ok, então sim é estranho. Até porque em muitos casos os padres andam é a desesperar por as pessoas não se quererem "comprometer" com outras atividades. A única coisa que posso dizer é que talvez ainda não tenha chegado o seu tempo... Deus sabe o que faz e muitas vezes só depois de as coisas acontecerem é que nós percebemos porque aconteceram assim.