terça-feira, junho 24, 2014

a fé das lamparinas

Ainda no mês de Maio, numa das minhas muitas comunidades, ao entrar na Igreja deparei-me com a imagem de Nossa senhora de Fátima num trono bonito rodeado por aquelas lamparinas vermelhas que piscam e piscam até se gastar a pilha. Aquelas lamparinas que costumamos ver nos cemitérios, e que quando as vemos fora deles, não conseguimos afastar a imagem dos cemitérios. Embora as velas de chama e fumo sejam perigosas fora dos horários em que alguém está dentro da igreja e deixem marcas sobretudo nas imagens, a verdade é que não fazem tanto lembrar os mortos. Assim sendo, no final da missa perguntei-lhes o que, porventura lhes faziam lembrar aquelas lamparinas, e foram unânimes em responder que lembravam os cemitérios. Eu concordei e acrescentei que se calhar o melhor era retirá-las de ao pé do trono de Nossa Senhora. Reforço a ideia de que nem sequer usei da força, da persuasão ou dos galões para que retirassem de lá as senhoras lamparinas. Achei que daria melhor a volta à questão fazendo com que fossem eles a retirar as ilações necessárias.
Contaram-me mais tarde que duas senhoras não ficaram nada contentes. Uma delas que costumava ir todos os dias ao terço e à missa quando lá a havia, dissera zangadíssima que os padres só sabiam tirar a fé e que nunca mais tornava ao terço ou à missa. Dito e feito. Não tem aparecido. Eu chamaria a isto a fé das lamparinas ou das velinhas acesas. Mas acho que se calhar devo estar errado. Vale mais termos a nossa fé concentrada numa vela ou numa lamparina, mesmo que lembre os mortos, do que não a ter em lado algum.

14 comentários:

PR disse...

Boa tarde,

"Vale mais termos a nossa fé concentrada numa vela ou num lampadário, mesmo que lembre os mortos, do que não a ter em lado algum." Peço desculpa mas não concordo.

Na minha opinião será mais ofensivo para Deus ter fé nesse tipo de coisas do que não ter fé.

Concordo que há padres que não valem como pessoas quanto mais como padres, mas também os há que são verdadeiros guias espirituais, são os que nos apresentam a palavra sem a impor, são aqueles que nos ensinam a pescar mas não pescam por nós.

Um dia destes não muito longe do actual dirigi-me a uma igreja e procurei o padre responsável, foram alguns quilómetros que tive de percorrer mas não de arrependo de o ter feito.
Comecei por relatar-lhe a forma como me estava a sentir tão distante de Deus... Daquele Deus que me haviam transmitido em criança... que ficava lá fechado no Sacrário e que se queríamos ter um encontro com ELe só mesmo no templo de pedra.

Levava o terço comigo, tirei-o da carteira e expliquei-lhe que todas as noites, desde que me conheço, faço um momento de reflexão, até há algum tempo atrás limpava o meu interior e rezava o terço, desde à um tempo não conseguia rezar mais que a "minha" oração do total abandono e o Pai Nosso, mas que ficava longos minutos, até à hora, horas, a olhar para a cruz que pende do terço... Que nesses momentos o meu olhar não era doentio mas que me levava ao erguer da cabeça e a pensar na atitude de Maria mãe de Jesus, em sofrimento perante a morte, mas de pé, de cabeça erguida junto à Cruz.

Contei-lhe também que tinha muitas dúvidas se teria força para continuar de pé, se teria coragem para continuar a acompanhar os Jovens como o faço.

Disse-lhe ainda que quase todos os dias e porque não sabia como rezar acendia uma vela na sala da casa onde moro e fazia intenções para que fosse a vela a rezar por mim, para que aquela luz simbolizasse a Luz Divina... que essa luz iluminasse cada recanto do meu ser.

"A sua vida é uma linda oração, uma das mais bonitas que conheci até hoje..."
...
Rezar é viver e viver é fazer o que você faz, e fá-lo tão bem...

Não é por não rezar o terço que Deus deixa de estar connosco...
...

"nunca mais tornava ao terço ou à missa." Quem sabe as mulheres não tiveram um momento de verdadeira lucidez e começaram a ver Deus na vida resolvendo ficar por lá




Anónimo disse...

Boa Tarde,

Lamento a Fé das lamparinas!... Mas, entre isso e nada, não sei o que será melhor...
Peço a Deus que ilumine essa senhora a ver Cristo em tudo o que a rodeia. Temos coisas tão belas que Deus criou para nós. Não será possível aproveitar-mos o sobrenatural para enriquecer o natural e o espíritual?
Que Deus fique nos nossos corações!...

Confessionário disse...

24 Junho, 2014 16:42

gostei tanto da palavra "lamparinas". Era a palvra que eu devia ter utilizado e que me faltou (acho que vou trocar! lol)... é que ainda por cima faz-me lembrar, quando eu era mais pequeno e não me portava bem, alguém me dizia "olha que levas uma lamparina!"

Anónimo disse...

Boa Noite,

Senhor Padre conf.Como achei bela a ideia da lamparina!... Se me dá licença, vou recitar uma canção que utilizei com as minhas crianças na cateq. Só não tenho a música!...

LAMPARINA DE BARRO

"Tu me acendeste para ser teu fogo
Sempre me amaste de todo o coração
Quero contigo ser a luz do mundo!
Quero na vida ser a tua canção!

Eu sou a chama pequena que treme,
Eu sou a lamparina de barro Senhor
A minha luz e o meu barro preferes
Tu és para mim Luz e Amor"

Desculpa se fui atrevida!... Penso que todos devemos ser luz.
bjs.

Anónimo disse...

Olá conf.

As lamparinas que referes são aquelas que acendem com moedas?

SL

Confessionário disse...

Não, SL

essas serão as mais adequadas. Eu referia-me àquelas lamparinas que estão a piscar, daquelas que habitualmente se colocam por sobre as campas!

Anónimo disse...

Pois... por medo que pegue fogo, não se colocam as velas tradicionais... a pobre Senhora queria as velas acesas, enquanto orava a N. Senhora!

Qual a simbologia da vela acesa, junto a uma imagem religiosa, enquanto se reza? A questão irá ter resposta aí!

A conotação que damos a determinados "artigos", é o nosso "preconceito"!

Não quereria a Senhora, apenas velas acesas?

Confessionário disse...

eu sou favorável a que se coloquem velas ditas velas (de cera ou cera líquida), como colocamos no altar, durante os momentos das celebrações, sejam elas a Eucaristia, vigílias, adorações, ou terços.

A vela acesa tem um simbolismo enorme, e representa a Fé.
O resto, que se retirem as conclusões...

Anónimo disse...

Não tenho, nem nunca tive uma "boa relação" com cemitérios... pode até parecer estranho. Mas cada um lida como consegue com a morte... Daí eu desconhecer essas lamparinas...

Desculpa a ignorância.

SL

Ana Melo disse...

Há padres que mudam muito, há padres que não mudam nada (como em tudo).

A mim ”todas” as igrejas me cheiram a ”mofo”, são dezenas/centenas de anos de acumulação de maus costumes, SIM, porque o que é VIVO dentro de uma igreja, O EVANGELHO, lido, meditado, a renovação da BOA NOTICIA, QUE É JESUS CRISTO, ACREDITO, QUE ENTROU E SAIA CONOSCO.

Tenho tido a possibilidade, (atrás de uns ciclistas de domingo) de visitar algumas diferentes terras, em quase todas procuro a hora da missa, e vou. Não tem só a ver com a idade do padre!! Mas os costumes (!!!tanto objeto sagrado!!!),fazem os padres fazer papeis “desgraçados”. No entanto, não olhando para as idades, ou tamanho/antiguidade dos monumentos, tenho apanhado algumas lufadas de ar fresco, e é dessas que vou falar:

Missa onde as leituras são oferecidas nos 10minutos antes, aos menos habituais, fornecendo os meios de “estudo”.

Missa onde o padre não tem pressa, e durante a missa, em instantes bem pensados, nos deixa em silêncio (quantas vezes incomodativo) a meditar.

Missa onde os garotos, sendo a abordagem feita logo a entrada da missa, com alegria pegam o saco, e se disponibilizam/ responsabilizam pelo peditório.

Missa onde os ministros de comunhão, é que, vão pela igreja toda distribuir a comunhão (quase desmanchando a ideia de procissão, de lugar de julgamento de pecadores).

Missa onde a comunhão se faz de pão e de vinho, que para mim representa a PARTILHA pela totalidade, e onde o padre estimula os pequenitos a participar com os pais, e aos quais dá/dão uma pequena bênção.

Missa onde os acólitos, já são bastantes, dando um ar jovem/leve ao altar, e mesmo sendo alguns bem pequenos, tudo corre bem, e nos passam sem esforço, o ar de garotas/garotos bem comportados.

Missa onde os coros, usam mais variedade de instrumentos, e dão um ar mais leve aos cânticos/eucaristia.

!!!É claro que, para que estas lufadas de ar fresco nos cheguem, alguém, padres e leigos, e são muitos, cheios do Espirito Santo, se impõem, e mandam apagar muitas velas que nos distraem (ou pelo menos não vão deixando acender mais).

(!!!Bom! as heranças materiais tem estas coisas, custos de manutenção enormes, e! estando os herdeiros pobres o brilho vai-se!! – mesmo quando vem a “sorte” de um tremor de terra que pôs tudo abaixo, ainda nos esfalfamo-nos mais, para pôr tudo igualzinho!! Não vão os próximos ter nada com que se entreter/guerrear. É a vida.)

Anónimo disse...


"Vale mais termos a nossa fé concentrada numa vela ou num lampadário, mesmo que lembre os mortos, do que não a ter em lado algum."
E que tal ir visitar essa paroquiana, falar com ela e dar-lhe um abraço? Se calhar é isso que ela precisa. Precisa saber que tem um pastor que se preocupa com ela e que está disposto a ouvir-lhe as dores sem ser no confessionário da Igreja.
Evangelizar é ir ao encontro das pessoas e não esperar que elas venham à missa. Vá ter com ela. De-lhe "colo", porque de certeza é disso que essa alma sente falta.

E.U. disse...

Eu lamento que certas coisas sejam associadas exclusivamente a cemitérios e que isso seja uma coisa "má".

As velas que vêm num receptáculo vermelho, por exemplo: são de "cemitério". As que têm uma tampa metálica dourada então, dizem logo que é cemitério. Determinadas FLORES dizem logo que faz lembrar os mortos no cemitério.

Eu acho isso tudo ridículo. Primeiro, os mortos não fazem mal a ninguém, não deviam ser uma ideia repugnante e muito menos os cemitérios. Depois, acho mal que se determine que "isto é para a morte" "isto é para a fé".

Lamento mas a fé pode vir de todas as formas e manifestar-se/fazer-se representar em todo o tipo de "velas". Colocarem uma limitação/proibição nas velas acesas durante a ausência de supervisão ainda vá lá, porque é prevenir acidentes. Mas escolher o tipo de vela, restringindo mesmo as de pilha, só porque faz lembrar "cemitérios" não faz sentido.

A senhora que deixou de ir à missa pode ter exagerado na reação mas não está de todo errada na censura que fez à censura das velas.

E.U. disse...

Eu lamento que certas coisas sejam associadas exclusivamente a cemitérios e que isso seja uma coisa "má".

As velas que vêm num receptáculo vermelho, por exemplo: são de "cemitério". As que têm uma tampa metálica dourada então, dizem logo que é cemitério. Determinadas FLORES dizem logo que faz lembrar os mortos no cemitério.

Eu acho isso tudo ridículo. Primeiro, os mortos não fazem mal a ninguém, não deviam ser uma ideia repugnante e muito menos os cemitérios. Depois, acho mal que se determine que "isto é para a morte" "isto é para a fé".

Lamento mas a fé pode vir de todas as formas e manifestar-se/fazer-se representar em todo o tipo de "velas". Colocarem uma limitação/proibição nas velas acesas durante a ausência de supervisão ainda vá lá, porque é prevenir acidentes. Mas escolher o tipo de vela, restringindo mesmo as de pilha, só porque faz lembrar "cemitérios" não faz sentido.

A senhora que deixou de ir à missa pode ter exagerado na reação mas não está de todo errada na censura que fez à censura das velas.

Confessionário disse...

EU, a questão não está na opinião que se tem acerca das velas assim ou assado, mas no "perder a fé por causa de velas".

Ninguém perde a fé por causa de velas, a não ser que ou não a tenha ou a tenha muito mal formada.
Que se chega a Deus de muitas formas, sei-o eu. Isso não se discute. Mas todos os cristãos temos o dever de ajudar a perceber melhor o que é essencial na fé e no caminho para Deus.

Deixo-te um exercício para pensar: imagina a tua casa com velas desse género. Podes até gostar muito delas, e respeitar quem goste delas. Mas gostava sinceramente de saber como reagirias, ou que pensarias!

abraço amigo