quarta-feira, maio 28, 2014

Os Migueis e as Saras das nossas catequeses e paróquias

O Miguel anda no sétimo ano e também anda na catequese. Há dias a catequista convidou o seu grupo a participar na Eucaristia após a catequese. Os miúdos já estavam no corredor quando o Miguel disse Eu não vou. Era o que me faltava. Só se me obrigarem. Eu ia a passar, ouvi e meti conversa, perguntando-lhe porque é que não queria ir à missa, ao que me respondeu. Eu vou, senhor padre, senão a catequista pode marcar-me falta. Sorriu com ar de malandro. Eu também fiz o mesmo sorriso. Anda. E foi, mas foi como foi.
A Sara anda no sexto ano e também anda na catequese. Em conversa confidenciou-me que gostava muito de ir à missa, mas que a mãe não queria e quase não a deixava ir. Ela insistia, pedia, mas a mãe tinha mais que fazer. Fez um olhar triste. Eu também fiz o mesmo olhar, mas mais compreensivo que acusador.
Há muitos Migueis e Saras nas nossas catequeses e nas nossas paróquias. E questiono-me que adianta termos catequeses assim, termos paróquias com cristãos assim. E questiono-me se a catequese serve ou não para levar as pessoas à fé. E questiono-me se devemos andar a alimentar paróquias assim. E questiono-me o que Deus se questionará. E mais não quero questionar, porque senão deixo de ser eu para ser a questão.

10 comentários:

Bruno disse...

Tal como a Sara, também a Jacinta queria e não podia. Naquele caso, queria comungar (ela que até já tinha comungado diretamente das mãos do Anjo), mas a igreja não lho permitia porque era muito nova... em 1917 passou-se assim. Tal como o Miguel, também o Francisco (por volta de 1200 em Assis) e o Agostinho (por volta do ano 400) não ligavam muito a Deus na sua juventude.
Pode não nos parecer que a catequese adiante de alguma coisa. Pode-nos parecer que as paróquias não recebem o alimento. Mas basta que uma ovelha receba a palavra de Deus e, como terra fértil, dê muito fruto, para já ter valido a pena plantar a seara inteira (ok, ficou confuso com a mistura das parábolas, mas acho que se percebe).
Nós (padres, catequistas, leigos, cristãos em geral) somos apenas trabalhadores da seara, a quem no final do dia será pago 1 denário. A nossa missão é apenas mostrar aos outros Jesus vivo em nós e o que sair dali, Deus o aproveitará da melhor maneira. Em jeito de última comparação, de quem não percebe muito da vida agrícola (e portanto, posso estar a dizer um grande disparate), não é a olhar para as uvas que se sabe se o vinho vai ser bom.
Fique bem

Anónimo disse...

Bom dia,
Sou mãe de um "Miguel", fez no domingo passado a profissão de fé, não estava muito convicto de querer fazê-la, a catequese não o preenche antes pelo contrário afasta-o acima de tudo pela falta de disciplina que se verifica dentro da sala... o meu "Miguel" tem um coração do tamanho do mundo, mas não quer continuar a caminhada da fé nem ser acólito porque os colegas chamam-no de anjinho e por aí fora. No entanto os olhos dele brilhavam quando recebeu a vela do baptismo acesa e enquanto pegava nela eu lhe murmurava ao ouvido para cuidar de que nunca se apagasse.
Sou catequista de muitas Saras e de outros tantos Miguéis são 27 alunos do sétimo ano de catequese.
Pavorosa a atitude destes jovens dentro da sala.
Vinham habituados a fazerem o que lhes apetecia (literalmente) e não consigo "domar" aquele bando de pardalitos ariscos.
Não atendem o telemovel na sala de aula, eu também não o faço, sentam-se de costas direitas pois não estão no café ou em cima de uma toalha de praia, também não usam palavrões, tem algumas outras regras de educação que são para cumprir... e comigo cumprem, porque depois de me testarem ao limite perceberam que não seriam mais um grupo de insubordinados, mas... este "mas" é que me corta o coração, criaram uma barreira e a mensagem não passa sinto-o... vivo-o de uma forma muito intensa, nem como grupo nem individualmente aderiram a nenhum dos projectos propostos ao longo deste ano... e choro muitas vezes pela minha incapacidade de lhes tocar o coração.
É uma frustração angustiante, mas há uma coisa da qual eu não arredo pé, não permito a falta de educação dentro da sala, nem que à custa disso eu seja apelidada de general alemão.
Vejo a catequese como vejo Deus, na vida.
A catequese deveria servir para levar as pessoas não à fé, mas à descoberta de uma relacionamento pessoal com Deus.

gralha disse...

Como catequista, confirmo que há infelizmente vários Migueís e Saras. Mas, graças a Deus, também há muitos outros meninos que querem ser boa semente, que dão e recebem, que fazem com que a catequese seja um espaço rico de amor e de Fé. Temos de continuar caminhando e esperar que o Espírito Santo vá ajudando a reencaminhar os que se afastam.

Febe disse...

A comum declaração do Papa Francisco e do Patriarca de Constantinopla,fez-me surgir uma nova dimensão nas palavras de Cristo:EU SOU A VERDADE...não é mesmo só Ele que nos interessa ?...Ele o Emanuel, DEUS feito homem...o mais são tradições respeitáveis sim,mas que não impedem a união em volta do brilho da ÚNICA VERDADE:ELE!

E não será tb isso na catequese.Não nos perderemos muito nas doutrinas ? Dantes nem se dizia que íamos encontrar o Pai,o Filho,o ES...era dito que íamos "à doutrina".Esse sedimento perdura...

Rafael Crivelli, seminarista disse...

A mesma coisa aqui no Brasil.. Em alguns lugares tentam todo tipo de estratégia para atrair catequizandos e pais às Missas, mas se vão à catequese é muito. Onde a Missa é obrigatória, os pais deixam as crianças na porta da igreja e perguntam ao padre que horas termina a Missa... Outros tentam inserir teatros de fantoches, brincadeiras, músicas mais animadas, distribuir doces...
No fim, passada a primeira comunhão, quase ninguém volta.

Anónimo disse...

As nossas catequeses, por mais que nos custe a aceitar tal realidade, carregam ainda muito as dinâmicas das madraças! O ritmo é o de decorar ao mesmo tempo que se enfia à força apoiados nos medo que vamos atirando nalgumas frase soltas em jeito de ameaça, como exprimiu esse miúdo do post sobre a sua catequista, um pacote de doutrinas nos miúdos, enquanto desperdiçamos a oportunidade de ouro que temos, (ainda vão chegando às Igrejas e salas de catequese, até quando!), de levar-proporcionar o Encontro entre Jesus e a criança-jovem-adulto! As coisas não são assim tão lineares nem a preto e branco! Julgo que deveríamos começar por perceber aquilo que receberam e fizeram nos seus tempos de catequese, aqueles que são agora catequistas! Tenho sérias dúvidas se há mesmo interesse em mudar, porque pelo que verifico, as inúmeras reuniões e formações sobre o tema catequese, não passa e não consegue libertar-se desses ritmos encerrados em si mesmos, ao jeito da roda dos hamsters! Fala-se de tudo, mas nada muda!

Anónimo disse...

Como catequista, sinto que a falta de aproveitamento dos cateq. depende também muito de nós. Será que eu antes de falar de Deus aos meninos, falo a Deus dos meninos? Tenho uma vida de oração, rezo a cat. que vou tranmitir?...
Não queria ser só como pensa o Miguel, vou à missa para não ter faltas, mas vou à missa, para me encontrar com Jesus.
Aí receber força para a minha vida.
Bom dia.

Anónimo disse...

Bom dia,
"Tenho sérias dúvidas se há mesmo interesse em mudar,"
Penso que não existirá um interesse genuíno na mudança por parte de alguns membros das hierarquias da igreja católica e de alguns catequistas.
A mudança dá muito trabalho incomoda desinstala e põe-nos em constante agir.
A mudança obriga-nos também a rever e reajustar constantemente a nossa forma de viver, falo por experiência própria.
Posso afirmar a partir da minha vivência que todo aquele que se encontra com a doutrina de Cristo e a interioriza não fica indiferente a esse apelo urgente de mudança.
É preciso muita coragem para ousar fazer a mudança e ser mudança, penso também que o Cristão tem a obrigação de ser catequista a tempo inteiro na vida do dia a dia.
Frequentei mais um curso de catequese e bem sei que a maior parte dos participantes cerca de 30, estavam mais interessados em apontar o dedo a outras congregações e denominações do que em absorver o essencial da doutrina de Cristo e dos métodos aconselhados para se tentar chegar aos catequisandos, sejam eles quem forem.
Enquanto se aponta o dedo aos outros esquecemos-nos ou desviamos a atenção de nós, foi o que eu disse em voz alta numa das sessões.
O formador ficou branco a seguir corou acabou por se sentar sem se pronunciar.

"As nossas catequeses, por mais que nos custe a aceitar tal realidade, carregam ainda muito as dinâmicas das madraças!"
Concordo plenamente com esta afirmação e vou um pouco mais além...
Sei que sou uma pessoa pouco convencional mas deste lado do oceano atrevo-me a desafiar cada catequista a fazer a mudança na sua própria vida, ninguém, mas mesmo ninguém fica indiferente a um “coração” o mais puro e sincero possível.
Um “coração” assim fica um coração sábio prudente e livre que obedece apenas a uma regra que é a regra do Amor universal – Amar a Deus em primeiro lugar e ao próximo como se de nós se tratasse.

Anónimo disse...

a catequeze hoje para a maioria dos Pais ,,, é como o batizado faz parte do album de fotografias é bonito fazer estas festas em sociedade é lindisssimo ...agora ja nem é so uma madrina e um padrinho sao 2 , 3 ,4 madrinhas e padrinhos ESPETACULO..a catqueze e a mesma coisa depois da 1ªcomunhão tá feito....ir a missa para os miudos é uma seca os pais não vão os Padres por vezes esquecem que deviam falar para as cianças --o meu neto vai obrigado por a avó paterna tipo militar ...mas diz-me assim que eu for grande nunca mais vou a misssa vó...eu fico muito triste...mas o avó Paterno disse que eu não dvia ir a missa onde vão os meninos porque foi avó mulher dele que os lá meteu ....eu desde os meus 12 anos que vou a missa akela igreja ..enfim a menina fez a comunhão teve uma festa inorme e eu foi as escondidas no meio das pessoas com vergonha para ninguem me ver porque sou pobre....RETALHOS DA VIDA

Anónimo disse...

Extraordinários os comentários do Bruno e do anónimo de 30 maio 12:22

A catequese, no meu tempo era de facto de tipo militar e muito pouco apelativa para as crianças. Hoje vejo a minha geração da catequese (os pais do presente) na sua maioria afastada da igreja...

Não me parece que um(a) catequista possa ter a pretensão de educar ou impor disciplina. Jesus deve ser apresentado e VIVIDO em primeiro lugar pelos pais e não pela catequista. Um professor dificilmente consegue ter sucesso sem um envolvimento dos pais na aprendizagem dos filhos... O mesmo parece suceder com um catequista.

As crianças de hoje serão os pais de amanhã, o que deixa antever o futuro da catequese se as coisas se mantiverem.

No entanto, tal como disse o Bruno
" ...basta que uma ovelha receba a palavra de Deus..." e se no meu tempo a catequese era pouco apelativa, não consigo deixar de reconhecer que alguns dos seus ensinamentos me ajudaram no encontro com Cristo já na fase adulta.

SL