Sentada à minha beira para me sussurrar e não ser ouvida senão por mim e por Deus, dizia que rezava pouco e que gostava mais de falar com Deus. Que gostava de falar com Ele, pedir-lhe coisas, contar-lhe coisas, agradecer-lhe coisas, falar-lhe como se falasse com a vizinha Amélia. Às vezes o meu marido diz que eu não estou boa da cabeça. Insistia que não rezava muito, pois gostava mais de falar com Deus. Interrompi-a duas ou três vezes para lhe dizer que isso era rezar. E como me parecia que ela não entendia o que eu queria dizer, enchi um pouquinho mais a boca e o tom de voz para dizer. Reza mais quem fala com Deus como se estivesse a falar com a vizinha Amélia do que quem diz orações sem falar com Ele.
17 comentários:
Bom dia,
"Reza mais quem fala com Deus como se estivesse a falar com a vizinha Amélia do que quem diz orações sem falar com Ele."
Não tenho por hábito falar com os vizinhos para além dos cumprimentos de circunstância, mas percebi o que escreveu.
Na semana passada um amigo meu que também é o padre da minha paróquia foi submetido a uma delicada intervenção cirúrgica.
Deparei-me com uma questão daquelas que me deu, deveras, a volta à cabeça.
No dia anterior à intervenção conversámos durante cerca de uma hora.
Dei comigo a terminar a conversa com a afirmação "Rezo e rezarei por si", dei-lhe dois beijinhos abracei-o e fui embora.
Na hora de deitar deparei-me com o que tinha prometido, e agora? eu não tenho fé não sei rezar, sinto-me vazia e afastada de Deus? Como faço para cumprir a minha promessa, não tanto pela fé (que eu não sinto) em Deus, mas pelo meu amigo?
Peguei no terço e não consegui abrir a boca, olhei para a cruz e disse-LHE que não entendia nada de nada, mas gostava de ser fiel ao que prometera ao meu amigo.
Imaginei o meu amigo presente e comecei a falar com ele.
Disse-lhe que gostava muito dele, que queria que a intervenção corresse bem, que recuperasse tão rápido quanto possível.
Falei-lhe do vazio que estava a sentir e pedi-lhe desculpas por não conseguir rezar de uma forma eficaz.
Disse-lhe que estava com ele e que lhe faria companhia com o coração, que não conseguia dar-lhe mais.
Acenderia e acendi, uma vela recitaria o texto seguinte:
Bem sei que uma vela sozinha não reza, e eu não sei rezar, mas sei que tu meu amigo gostas da luz que emana desta e de todas as velas, ofereço-te a luz que não está em mim, mas que também neste preciso momento me ilumina para que se cumpra na tua vida conforme os desejos do seu coração.
Que seja plena a Tua recuperação.
Estou consigo terminei.
Obrigada por esta partilha.
Levou-me a pensar que o que atrás descrevi será também uma forma de oração.
Gostei muito.
Li há dias um pensamento atribuído ao filósofo grego Sócrates, que dizia:
'Vive com os homens, como se Deus te estivesse a ver; fala com Deus, como se os homens te ouvissem'.
É um pensamento curto, mas de uma profundidade e acertividade fora de série.
Como as nossas vidas e as nossas orações seriam diferentes...
LPS
Boa tarde confessionário.
Já faz algum tempo que não comento nenhum dos textos publicados, mas sou uma visitante diária. Este blogue continua a encher-me as medidas.
Mas sobre o tema deste não posso deixar de dar a minha opinião.
Sempre me fez confusão a maneira como as pessoas usam a oração para falar com Deus,como se de uma central telefonica se tratasse...
Se o assunto é saúde marque 1 (e la debitam uma oração que julgam apropriada)... se o assunto é família marque 2 (e outra oração diferente) e assim sucessivamente...
Devo dizer que muitas vezes a minha oração é um sorriso para Deus. Tão somente isso.
Paro um pouco, apercebo-me da Sua presença em mim e sorrio.E sempre tenho a clara certeza de que o mesmo me é devolvido. Há poucas pessoas que tenha conhecimento que o façam regularmente e estou certa que essa é uma maneira de rezar que agrada a Deus.
Farto como deve estar de caras torcidas.
Beijos.Maria Ana
Tenho pensado sobre isso. Só, mas só, se quiser espreitar...
http://pasmesequempuder.blogspot.pt/2014/02/para-mim-oracao-e.html
Eu sei que é por bem, mas a Igreja inventou tantas jaculatórias, que fica difícil falar com Deus!
Maria Ana,
rezar é como namorar... e às vezes basta um sorriso!
Anónima de 05 Março, 2014 12:50
Para mim,o que fizeste foi oração... Mas algo nela me intrigou: tu falavas com o Senhor Deus ou com o sr padre amigo?
Anónimo de 06 Março, 2014 13:07
Concordo contigo. Às vezes é necessário procurar Deus no meio de tanta coisas que temos na Igreja!
Isso é, sem dúvida, orar! :)
Boa tarde,
mais um belo texto que me agrada profundamente.
O principal motivo é que aquilo que eu mais faço quando estou "sozinha", o que infelizmente me acontece muitas vezes, apesar de estar rodeada de pessoas, é "conversar" com Ele. Ás vezes dou comigo a pensar, que se alguém soubesse, diria que pareço uma criança a falar com o seu amigo "invisível".
Mas faz-me tão bem, tão bem, que só eu sei. Sinto-me muito bem com isso, apesar de nunca o ter dito para ninguém, pois acho que a maior parte das pessoas não
perceberiam..., mas o que me importa é que Ele sabe, tenho a certeza.
Obrigada.
Bjs
"tu falavas com o Senhor Deus ou com o sr padre amigo?"
Falava comigo mesma. São episódios semelhantes que me levam a acreditar que estou a perder a sanidade mental.
Não sabendo com quem falar acerca destas coisas e ainda numa derradeira esperança que desta forma Lhe chegue ao coração falo muitas vezes não me ouço mas falo todos os dias.
Mas estaria a falar com o meu amigo. Não é fácil escrever aceca de uma pessoa a quem não tratamos por "tu", por diversos motivos começando pela idade, tem cerca d setenta anos. Talvz daí venha a explicação para os trocadilhos mal aplicados.
Peço desculpa pela confusão.
Parabéns pela música escolhida, pelo novo banner e pela nova paleta de cores.
Gostei muito da mudança.
É um espaço renovado, neste tempo renovador da Quaresma...
Bem-haja, sobretudo, pelas tuas partilhas!
LPS
Se assim não fosse, eu não rezava "nunca"!
Então, não é o Pai Nosso um diálogo com Deus?
Costumo dizer aos jovens, que quando dizemos, "desculpa, Senhor, mas agora não tenho tempo para rezar", já rezámos!
Um abraço amigo do
Joaquim
O problema com o post é que retrata um mundo em desaparecimento. No novo mundo, a última frase já não faz sentido. Simplesmente porque as pessoas não conhecem orações, não as aprenderam, não as sabem dizer. Pouco adianta, pois, fazer crítica (plenamente justa) de hábitos de oração meramente mecânicos e exteriores. Esses hábitos (quase) não existem.
Temos de voltar atrás e de valorizar a repetição mecânica das orações. porque só assim elas são aprendidas, decoradas, conservadas na memória e no coração. As fórmulas são, de facto, âncora e guia da oração. São elas que fazem ligação à tradição eclesial, são elas que permitem a oração comunitária. São elas o ponto de partida de um verdadeiro caminho de oração, onde haverá também lugar para um "falar com Deus" espontâneo e informal, mas sem correr sérios riscos de se andar a iludir com solipsismos.
JS
a repetição mecânica das orações é boa apenas para as pessoas que sabem rezar; de resto será ou seria apenas mais uma coisa aprendida porque sim.
Para mim essas orações são imensamente importantes. São a forma de insistir comigo e com Deus.
Tb acho que devemos insistir na aprendizagem delas, mas só depois de as pessoas terem percebido o seu sentido.
De resto, não fiz propriamente uma crítica: relatei um facto que, como vês, nem todas as pessoas sabem! Por isso, antes do aprender de cor, que venha o saber o que é rezar!
Pois não estou muito de acordo contigo, Confessionário.
Para mim, a repetição mecânica das orações não é para as pessoas que sabem rezar mas é a maneira certa de as pessoas começarem a saber rezar. É o básico da oração.
E para mim, primeiro está a aprendizagem da fórmula, e só depois o seu sentido. Isso de saber o que é rezar é o mesmo que querer explicar às pessoas o que é andar de bicicleta: no limite, um absurdo.
Os discípulos não foram ter com Jesus perguntar-lhe: "Senhor, o que é a oração?"; o pedido foi outro. É claro que Jesus deixa muitas pistas sobre o que é para Ele rezar: a atitude de confiança radical, o rezar no "quarto", a ligação com o cumprimento da vontade de Deus, o evitar palavreados, a união dos lábios com o coração... Mas a pedra de toque é "Rezai assim:"
Js, entendo o teu raciocínio e concordo em muito com ele.
No entanto, acho que falamos de mundos diferentes e em perspectivas diferentes. Tu falas de um mundo (como começaste por dizer) que quase já não sabe rezar nem conhece as orações ditas mais tradicionais; e eu falo do mundo que conhece de cor muitas, ou pelo menos algumas, dessas orações, e é capaz de as dizer sem qualquer sentido.
Tu achas que aprender e decorar essas orações ensinam a rezar, e até certo ponto é verdade e pode acontecer; eu digo que se elas não forem mais que palavras não são oração... se não forem diálogo com Deus, não são oração.
Uma coisa é certa: a história foi verídica... e a resposta que dei penso que era a necessária no momento.. ou não?
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