Tinha Intenção de Missa marcada. Ouviu o nome da sua esposa e de mais alguns familiares. Sentou-se de forma cansada. Impaciente. Ouviu a missa. Era missa com imposição das cinzas que a Quaresma está à espreita. Sentou. Levantou. Não ajoelhou. Não veio para isso. Esteve lá, mas não inteiro. Explicada a cerimónia da imposição das cinzas, veio a tomada de consciência da conversão. Quem quer, quem veio, quem está, vem até ao altar receber das mãos do ministro as cinzas que abrem o espírito da Quaresma. Ele ficou no lugar. Aquilo é mais para as mulheres. Ou para os outros. O padre que era eu, apercebeu-se daquele estar que não estava, que não queria estar. E embora não querendo julgar, o padre que era eu pensou que alguns não devem querer nada com a Quaresma, ou lá o que seja essa coisa de quarenta dias para preparar aquela outra coisa que é a Páscoa.
Pena que não foi o único a ficar no lugar. Pena que não foi o único a quem a Quaresma não chegou.
64 comentários:
Às vezes tb nao sei para que serve a Quaresma...
Boa tarde,
infelizmente é verdade. Mas o pior não é não saberem, é também não o não quererem saber.Porque se tentassem, se calhar até gostavam e lhes fazia bem... mas assim, com a desculpa que não sabem ou não querem saber, é menos um compromisso. Pois o problema muitas vezes é que as pessoas tem medo de assumir. E vão á missa porque é uma coisa que não custa muito, normalmente demora pouco tempo e quando acaba a missa está a missão cumprida.
Tenho muita pena que realmente as pessoas (ou essas pessoas) não se esforcem um pouco mais, mas nunca é tarde e Deus lá está, e concerteza não se esquece destes casos. Mais vale tarde que nunca.
Bjs
Só Deus sabe a quem chega a quaresma. ia dizer que há outros para quem não chegou, como para Dom José Policarpo, mas arrependi-me, para ele há-de ter chegado mais do que para nós.
Confessionário anónimo, não me surpreendeu o “episódio”, o que me surpreende é a surpresa perante aquilo que nos deveria trazer o coração inquieto! Será que já meditamos alguma vez sobre os resultados até agora alcançados com as enumeras “quaresmas” já celebradas nas nossas comunidades! Afinal o que buscamos nessas paragens que nos impomos em busca de um tempo onde “parece” que o essencial é a “re-conversão”que leva por arrasto a mudança de vida que implicitamente terá ou deveria ter efeitos na forma como as comunidades passam a viver e a comportar-se nos meios onde se enraizaram! Sejamos sinceros, cremos mesmo na verdade que aos olhos dos que nos observam mudamos mesmo alguma coisa! Depois desses 40 dias que alteram as nossas rotinas espirituais com uns rituais mais piedosos carregadas de promessas de mudanças acham que se sente ou nota-se algo novo que desperte alguma perplexidade e agite os de “fora” e também os de “dentro” esses que na verdade sempre estiveram fora, muitos como essa alma que partilhas-te e que na verdade procuram os locais sagrados como se fossem supermercados dos sacramentos “aviando-se fartamente” não se inibindo ainda por cima de reclamar para no fundo alimentarem as suas certezas e afugentarem os seus medos quando confrontados pela realidade que se projecta no “acontecimento” (morte ou outros!) dos mais próximos e que os despertou para a verdade da fragilidade e nudez humana! Eu percebo a necessidade vital de fazermos paragens, mas… bom não vou falar mais, melhor ir orar!
Anónimo de 13 Março, 2014 18:54
Mais do que a Quaresma, chegou-lhe a Páscoa!
Anónimo de 13 Março, 2014 19:41
Eu já não me surpreendo. Apenas me inquieto cada vez mais.
Nas minhas paróquias fartei-me e tenho-me farto (entre aspas) de dizer que todas estas sugestões para viver a Quaresma nos devem sair de dentro e para nos transformar alguma coisa por dentro... senão não valem de nada!
Infelizmente há muitas pessoas que acham que são umas semanas chatas que a esposa faz peixe às sextas feiras e que a Páscoa é a festa dos coelhos e dos ovos de chocolate...Que Deus lhes dê muita Luz e Amor
Anónimo 13 Março, 2014 19:41
Não quererias dizer o coração quieto? É que o nosso coração não se devia agitar tanto com aqueles cujos hábitos nos espantam indevidamente. Surpeende-me sempre que nos achemos capazes de ajuizar posturas certas ou erradas, quando nada sabemos do interior de cada um. Custa-me que se julgue que sob pretexto de normas e de comuns procedimentos se possa achar que há almas que procurem igrejas como supermercados, quando na realidade a nenhum deveria caber pronunciar-se a forma quando se chega e como se está, como se vive, a quaresma ou a Páscoa ou a missa ou o que seja. Surpeende-me que se diga... "esses que na verdade sempre estiveram fora, muitos como essa alma que partilhas-te…" como se fossemos donos da verdade… e depois fala-se dos de fora estando dentro e estando mais fora do que dentro ou mais dentro do que fora, dependendo do que se julga ser o fora e o dentro! Admiro-me, que o dono do supermercado não se queixe, mas sim os empregados, quando o seu único propósito é trabalhar, mais do que procurar dizer ou pensar… e só faltava agora quererem saber, ou palpitar sobre o que cada um vai fazer à igreja ou à missa, ou quando entra ou quando sai, se senta ou se levanta, ou …. se é porque teme a morte ou se apenas passou por ali, ou se abre a boca ou se fecha, ou se come demais… Mas era só o que faltava acharem isso é que é quaresma!
*partilhas-te (partilhaste)
“Mas era só o que faltava acharem isso é que é quaresma!”
14 Março, 2014 23:32 parece-me (sem nenhumas certezas!) que acabas por cair no juízo também! È que as palavras “soltas” podem-se tornar letais ou dar vida, perceberás concerteza do que falo!
Quanto ao conteúdo da tua intervenção, fiquei intrigado, em que mundo e que Igreja vives?!
Percebo que a forma de viver o AMOR não está sujeito nem depende de “normas e de comuns procedimentos” e concordo plenamente quando dizes que não somos donos da verdade, tenho consciência que a nós jamais nos foi dado a liberdade de aferir o outro pelo seu estar ou agir, mas amigo(a), factos são factos por mais pecadores ou santos que sejamos, mas isso quem te pode descodificar melhor é o Confessionário, ele é quem vive diariamente esses encontros e desencontros!
Antes de partir, não quero deixar de pedir aqui perdão a alguém que se tenha sentido julgado pela minha intervenção, partilhei apenas porque amo, jamais para julgar, quem sou eu, um barro para falar de outros barros! Sinto muito!
14 Março, 2014 23:32, já agora, encontrei este artigo num outro blog muito bom também como este espaço, se tiveres algum tempo procura lê-lo, perceberás facilmente que o barro que nos levou a estes diálogos (sou a mesma pessoa das 13 Março, 2014 19:41 e 15 Março, 2014 12:04) é o mesmo como terás oportunidade de constatar:
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/luis-larcher-temos-ai-muitos-bispos-no-estado-civil-nunca-na-vida-seriam-alguem/pag/-1
anónimo de 15 Março, 2014 14:57
Não retiraste isso de um blogue (muito bom, ainda por cima), mas de um jornal! lol
15 Março, 2014 12:04
Antes de comentar o que disseste gostava de perceber o que queres dizer com: Quanto ao conteúdo da tua intervenção, fiquei intrigado, em que mundo e que Igreja vives?! Não estou a atingir francamente, explica lá melhor.
Vou ler! entretanto se me puderes clarificar, gostaria também de te explicar posteriormente o meu ponto de vista.
Confessionário desculpa o erro pela desatenção! Retirei sim de um blog (tribo de Jacob) não o texto, mas o link que um comentador ali partilhou! Desculpem a trapalhada!
Bom Domingo.
15 Março, 2014 22:58 o texto que te passei explica muito do que quis dizer nessa frase…
"Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos"
VICTOR HUGO
Na missa. A compasso: Senta. Levanta. Fica. Anda.
E se Ele estiver sentado ali ao meu lado? E se eu estiver recolhida n’Ele e não me quiser mexer?
Ou, se Ele, nesse dia, não se me fizer presente?
Levanto, ajoelho, fico ou ando?!
A missa para que possa ser comunidade, tem de ser, primeiro, intimidade. E essa relação pessoalíssima que se estabelece com Ele, permite, até, momentos de inércia e alheamento, como os que descreve. Mesmo durante a missa. Até durante a missa. Entre amigos, não temos que fingir que estamos quando não conseguimos estar, mesmo que queiramos estar. Por vezes, faltamos ao encontro. Até quando estamos nele. Não se perde, por isso, a amizade.
Para esse senhor, estar de corpo presente na “sua” missa, Padre, foi um sacrifício. Quaresmal. Nem tudo ficou perdido, segundo os cânones da igreja.
Ainda assim, não vejo na Quaresma um tempo de sacrifício, mas de alegria autêntica, vivida no amor e no despojamento.
Mas isso sou eu, que sou perdida por aleluias.
Anónimo 16 Março, 2014 10:50
Ainda não consegui responder, acho que o comentário daria um livro!
Contudo estou com uma dúvida importante, procurei e não consegui encontrar na net. O Pe Luís Miguel deixou de ser sacerdote em que ano? De repente veio-me à mente um episódio pessoal. Se for o mesmo que penso e com quem um dia estive a falar, saí de lá dizendo-me: este padre vai deixar de ser padre. Facto é que entre 1 a 2 anos ele deixou de ser padre. Se for este, então não irei fazer qq comentário particularmente ao que li do link. Fa-lo-ei contudo às tuas palavras. Esse padre não deixou de ser padre há talvez uns 7 anos a sua ultima paróquia foi a igreja de Miraflores em Algés? Tudo bate certo excepto a foto em que não o estou a reconhecer...? Tiras-me essa pequena dúvida, agora pessoal?
17 Março, 2014 22:25, noto que “foges” a imensas questões que esse Padre (não possuo outros dados) levantou que resumem muito do que levantei na tal frase, tudo porque nos teus “juízos” ele “deixou de ser padre” confirmando uma “certeza” tua no passado! As emoções turvam-nos o pensar! È pena, o tema da sua saída é importante e gostava de ter mais dados, é claro, mas quanto terreno para lavrar nas palavras deste homem que, não esqueças, privou com os recantos mais inacessíveis da instituição! Podemos querer ver apenas um lado mais espiritual da questão mas o facto é que a Igreja é feita de homens e mulheres cheios de barro como tu e eu e isso é o que a faz acontecer! Assumir fazer parte de uma comunidade carrega responsabilidades …! Já agora, pf. poupa-me ao “livro”, preciso mais de viver a realidade diária de homem mesmo que seja pisando o barro que me reveste do que divagar perdido em rumores de anjos de um céu que ainda preciso primeiro de pisar aqui na Terra ao lado dos meus irmãos sejam eles barro ou não! Deus contigo…!
Embora perceba perfeitamente a reacção do Confessionário, a minha é um pouco diferente perante o episódio relatado. É que a mim faz-me precisamente perceber porque é que existe a Quaresma. Aquele senhor é a razão de ser da Quaresma. Mesmo que não lhe tenha chegado a Quaresma, a verdade é que a Quaresma veio para ele, por causa dele. Para o libertar da indiferença, ou da frieza, ou do endurecimento do coração.
O tal senhor não estará pronto para a Quaresma. Mas tinha mesmo de estar pronto para ela? Era obrigado a estar pronto? Há, de facto, urgência na conversão; mas podemos marcar hora ou dia para que isso aconteça? Ou temos sempre que deixar espaço para o ritmo da pessoa e as vicissitudes da sua caminhada de fé, tal como temos de aceitar que o Espírito sopre onde e quando quiser, sem que saibamos como.
E no entretanto, ele questiona-me sobre a minha Quaresma. Porque é que fui receber as cinzas? Podia ter ficado sentado como ele. Porque quis começar a Quaresma? Não sou obrigado a vivê-la. Vou mesmo aproveitá-la? Que tenho a ganhar? E se a minha Quaresma for ganhar um irmão que nem quer saber da Quaresma?...
Uma nota a um ou outro comentário:
É certo que devemos evitar juízos precipitados ou definitivos sobre as outras pessoas. Mas não vamos cair no extremo oposto de não nos importarmos com o que os os outros fazem ou deixam de fazer. Isso é tomar a apatia ou a indiferença por virtudes.
Também é verdade que "quem vê caras não vê corações", que nem sempre as atitudes são demonstrativas do que vai lá por dentro. Mas não podemos adoptar o pressuposto de que esta dicotomia é permanente e de que não podemos inferir os sentimentos dos outros a partir das suas acções e posturas, senão torna-se impossível qualquer relação.
Por fim, aquilo que alguns parecem não compreender: o específico da religião é o comunitário, o colectivo, a fraternidade. Não se opõe a uma busca pessoal/individual por Deus, dita filosófica ou espiritual, mas visa algo maior: o congregar múltiplos "eus" num único "nós", múltiplas buscas numa mesma viagem ou peregrinação. O que significa que cada um é chamado a adaptar o seu ritmo pessoal ao ritmo dos outros, até que haja um só respirar, um só coração.
É por isso que, sim, na missa há compasso: senta, levanta, fica, anda. Ao mesmo tempo. Juntos. Todos. A rezar com as mesmas palavras, a cantar o mesmo cântico. Uma só voz, um só corpo.
Não falta gente a revoltar-se contra isto, a achar que é atentatório da sua liberdade individual, que é um condicionamento inaceitável da sua personalidade única e irrepetível, que é apenas a expressão de um seguidismo acéfalo e autómato. E até se percebe quando essa revolta surge na idade da adolescência, quando se põe em causa instituições e tradições, e se busca a afirmação pessoal (misturada, paradoxalmente com o desejo de blending in e de culto dos ídolos e da moda). Mas é suposto a adolescência ser uma fase transitória da vida...
Anónimo 18 Março, 2014 09:58
Estás a puxar-me pela língua e talvez não da melhor forma. Há pouco tempo determinei-me a não voltar,pelo menos temporariamente, no blog do confessionário, um dos motivos é as minhas palavras nem sempre serem suaves, e coisa que eu não faço é fugir de nada, e por isso procurarei responder-te brevemente tentado fazê-lo na linguagem que tu mais preferes,menos dos anjos e mais do barro.
18 Março, 2014 20:47 depois do que disse JS no seu comentário anterior (18 Março, 2014 15:51), penso que é inútil arrastar o tema, a forma como JS esclarece o tema que carrega muito do que quis significar na minha participação ficou suficientemente claro! Por outro lado, sou gente de paz, dialogo no intuito de abrir com os outros caminhos sem me encerrar em certezas, estou consciente que o Senhor ainda não acabou a sua obra redentora em mim e é nisso que devo “gastar” as minhas forças, não em discussões que carregam sempre a nossa visão das coisas esquecendo que temos uma visão turva, fruto das nossas limitações! Paz e Bem!
A fraternidade, para existir, não exige, como pressuposto, a religião.
O mesmo poderemos dizer relativamente à vida em comunidade.
Aliás, é possível viver fraterna E comunitariamente, prescindindo, em absoluto, da religião.
O que dizer, então, do "colectivo"?!
Podemos encontrar uma só voz, um só corpo, um só respirar, em regimes como os de Pyongyang.
Nem é preciso viajar para lugares tão remotos para fazer essa constatação.
Basta uma incursão no Estádio do Benfica, em dia de jogo.
Sendo benfiquista, mesmo sem estetoscópio, ouço as batidas de um só coração!
Sou chamada a adaptar o meu ritmo pessoal ao ritmo dos outros!
A cantar o mesmo cântico!
A chutar a bola na mesma direcção! Sou levada pelo colectivo, por aquela comunidade, a agir identicamente.
Em última análise sou livre de o fazer, ou não. Esse é o reduto da minha liberdade.
Mas o entusiasmo contagia-me.
Sigo os outros. Identifico-me com eles. Revejo-me neles.
O movimento aqui é mais exterior, do que interior.
Penso que a minha relação com Deus, e com os outros, a partir dele, deve ser muito mais do que isto. O inverso. O movimento deve desenrolar-se do interior para o exterior.
Primeiro a intimidade, depois a exterioridade.
A exterioridade como projecção da relação de interioridade.
Caso contrário, ao exteriorizar, estou a exteriorizar... O QUÊ???
Não deve a minha relação pessoal com Deus, sobrepor-se à própria religião (ainda que sem a excluir)?!
Não poderão ambas ter ritmos diferentes?!
Ou têm que dançar sempre ao som da mesma música?!
Notas de uma adolescente problemática
19 Março, 2014 13:27
as comunidades que se pressupõe sejam as nossas comunidades cristãs não são bem como as que referes. Tratam-se de comunidades onde supostamente se vive o mandamento principal e onde cada um, no seu interior, mais cresce.
É só uma observação, para que não hajam erros. A nossa fé é uma questão particular, de cada um, mas para ser autêntica precisa de existir em comunidade!
Sei bem que as comunidades cristãs, não se confundem com outras, embora possam ter pontos de contacto com algumas de idêntica índole. Não com aquelas a que me referi, obviamente.
Mas a questão colocada, nem sequer foi essa.
O que quis dizer, é que para "ser" comunidade (cristã), precisamos, em primeiro lugar, de nos sentir tocados interiormente por Deus.
Ainda que apenas consiga ver Deus, no outro(s) – e, “outro”, por noção, é alguém que está fora de mim – sei que tal só me é possível, se tiver essa predisposição interior.
Senão o outro, será, para mim, apenas “outro”, sem vislumbre de Deus.
A fé realiza-se em comunidade. Vive-se em comunidade.
Mas para que se ABRA PARA a comunidade e NA comunidade, necessita de interioridade.
A comunidade cristã, para que o possa ser verdadeiramente, tem de ser uma congregação de indivíduos com fé. E o seu fazer, um fazer com fé e sentido. Também para cada um dos seus elementos.
Pertencer, com fé.
E assim, voltamos à tal questão particular, a da interioridade da fé.
Por isso digo que a interioridade precede a comunidade. Não digo que lhe leva primazia. Não digo que exclui a comunidade. Digo que a comunidade cristã para ser um corpo, exige previamente uma relação de intimidade com Deus. Vivida tu a tu.
Digo apenas que para pertencer a essa comunidade, tenho que estar previamente conectada com Ele.
Senão não me é possível formar um corpo único.
Senão, estaríamos perante uma mera comunidade, um colectivo, como tantos outros.
E de ritualizações, sem sentido.
E, por isso, penso que a comunidade deve abrir espaço para a individualidade.
Deixá-la respirar.
E respeitá-la.
Sob pena de deixar de ser comunidade. Pelo menos, cristã.
Mas trata-se apenas de uma mera opinião. Particular.
Caro anónimo, a entrevista do Sr. Pe Luis Miguel, para mim, não tem ponta por onde se lhe pegue. É tão claramente lamentável que quem lhe dê crédito e a leve a sério está a meu ver, fora do que é Igreja e certamente a seguir um caminho similar ao dele, só por isso pode justificar-se não ser verdadeiramente crítico à mesma. Para me certificar das minhas apreciações gosto de consultar outras pessoas, foi o que fiz, entre padres e jornalistas a visão foi unânime, para não dizer pior que a minha. Não posso comentar à séria, uma vez que também frequentei a sua paróquia, assisti às suas celebrações e falei com ele pessoalmente, ao contrário do anónimo que tão cativo ficou das palavras de uma pessoa que pelos vistos nem sabe quem é, o que enquadra de alguma maneira uma entrevista. Depois, não poderia fazer uma crítica tão fiel quanto pública. Não é porque o Sr. padre, teve passagem pelo Vaticano e ocupou o cargo descrito que, se vê no direito de avaliar tudo e o que viu e que julgou ver, pois que a avaliação pessoal dos factos varia muito de uns para outros e conforme as conveniências. Os assuntos ali salientados não são novidade nem outros não referidos, por isso não vi originalidade, nem mesmo notícia, mas discrepâncias e incoerências, bem como oportunidade de críticas públicas. O mau gosto é contínuo, desde falar de Dom José Policarpo que faleceu dia 12.04.2014 às 19h 50m e sair uma referência a ele com um conteúdo desadequado e absurdo a 14.04.2014 (devia obviamente ter alterado a entrevista... podia ter solicitado ao jornalista para não colocar o comentário ou alterar a frase, nem que fosse por cortesia, se bem que me pareça que o deveria ter feito por inteligência) a tudo o mais como é pensado e dito. É verdade que a boca fala do que abunda no coração e algum pouco proveito que poderia haver perde-se para a maioria pela génese da questão (…). Também parece que ele procurou “mudar de identidade” deixou (o/a) Cruz pelo caminho, se assim é porquê? A pergunta é retórica.
Que contra senso, para quem diz que casar, em tese, é uma questão, na prática é impossível, a seguir diz que deseja que se discuta na Igreja a questão, muito ao tipo de argumentação política, do dizer sem dizer nada. Se errou na primeira, receio que não acerte na segunda (“serviço às pessoas, na política ou na Igreja”). Se percebi a respeito dos nomes num processo crime da autarquia de Oeiras, ver nessas andanças um padre um padre é sempre triste. Não tenho ideia de ouvir falar sobre a honestidade dessa equipa. Mais triste é o Pe Luís não se abster de dizer puras bacoradas quando fala dos seus colegas como “os tais padrezinhos formais, que fazem as suas missinhas, que querem mandar na comunidade, que não tiveram nenhuma preparação humana... Alguns prevaricaram, são pedófilos. E mesmo cá, aquele vice-reitor... Que raios, nomeiam um tipo daqueles, como é?” Mas o que é isto, uma anedota??? Se são pedófilos apresente os nomes em queixa crime, pois se tem provas para o dizer, deve ter para os nomear. Não posso dizer que fiquei decepcionada com este padre. Na verdade não é novidade para mim que o seria não por muito tempo, mas fico triste, mais por ele do que por nós, ou por Deus. Conheço razoavelmente este tipo de padres, já falei com alguns… Há tempos estive sentada com um que me chamou p’rá mesa do café. Também se casou, também tinha descoberto a pólvora, como se um dia se lhe tivessem aberto os olhos. Esteve mais de três horas a falar quase ininterruptamente da igreja, do Vaticano, dos colegas etc… Mal. Cada um fala do que lhe está atravessado. Entretanto mudou para outra igreja. Tem de exercer o sacerdócio. Quer publicar um livro contra a Igreja católica, só não vê é que é contra. Se não o deixarem vai publica-lo fora. Mas passa-lhe pela cabeça que um dia ainda consiga sair da outra igreja, onde ainda está a caminhar para ser pastor e voltar para a católica na condição de casado que agora é. Ora só posso achar que certos padres, que abdicam, sofrem de uma insanidade mental ou espiritual temporária, quero crer que é temporária, talvez advinda do trauma por não terem conseguido viver entre outras exigências o celibato. “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra” e por isso algumas pessoas bem como as palavras engenhosas das mesmas não podem ter mais do que 0% do meu crédito.
JS
É inevitável não inferir os sentimentos dos outros a partir das suas acções e posturas, mas vê que os comentários do anónimo 18.04 às 09.58 E por vezes até do confessionário vão mais longe… um assunto que me parece bastante importante. Eles falam claramente em Resultados. A nós não nos devem interessar os resultados. Estar preocupado com os resultados nem sempre é bom. O que faz o Semeador? O semeador atira a semente. Ele não se importa onde cai, ele semeia. A função de qualquer um é semear, depois os resultados hão-se ser potenciados. Querem ver resultados? Não há resultados. Muitos orientam-se por coisas palpáveis e visíveis, mas os mais perspicazes reconhecem que toda a realidade decorre no invisível, num subterrâneo por cima do qual há uma realidade que não é a realidade, é a aparência da realidade, a realidade está funda. Teresinha nem se importava com os resultados das suas orações, era tudo dado “como perdido”, mas tudo como ganho. Se precisamos de ver resultados, são para nós ou para Deus? É que os de Deus não se vêm, mas os nossos dão-nos prazer. Mas os que nos dão prazer podem perder-se logo, mas os que não se vêem estão entregues a Deus. E no entanto podemos ficar contentes, e podemos não ter feito nada. Não realizado nenhuma mudança senão a aparente que alimenta e engana o amor próprio. Por isso Teresinha era sumamente inteligente ao não se deter no valor das suas execuções. Uso repetir que para mim, Deus conclui o que o não cabe ao homem. A menos que desejemos saber o que Deus faz com o que nós iniciamos. Que Lhe perguntem ..!? Penso que não. A nossa vontade longe de ser limitada em e por Deus, é ilimitada, o obvio que muitos porém não chegam a compreender ou a permitir-se descobri-lo. Depois acho que isto pode também prender-se com um outro assunto talvez não menos importante… E o sacerdote sabe que “tomará água santa num vaso de barro” (Números 5:17). Assim como os dedos dos seus pés, em parte são de ferro e em parte de barro, também por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil (Daniel 2:42). É nessa fragilidade que cabe a ambição de ser capaz de ir mais além por si mesmo, de ver melhor, de ser mais capaz, de argumentar interiormente... Mas a certa altura, argumenta-se exteriormente por Deus com Ele, ou por Deus sem Ele? (É que se é sem Ele, não há limites). Todos os assuntos são bons, todos os assuntos são discutíveis, todos podem fazer avançar a humanidade, mas desde que sejam com Ele. E há muitos, que em Seu Nome andam, como vemos e percebemos, já só pelo seu próprio pé, de barro... Será porque a certa altura se sentem limitados nas exigências e na observância da vontade de Deus, temendo a anulação da sua personalidade e da sua vontade própria, sentindo frustrações indevidas, também por se entrarem nesses Resultados, para si? Pergunto-me.
anónimo de 19 Março, 2014 23:48
Encantado com as tuas palavras.
Rezei com e a partir delas, na esperança de que o fizesse por Deus com Ele!
Obrigada
Peço realmente desculpa se estiver a ver mal...
Vou dizer só mais uma coisa, e mais uma vez posso estar errada, suspeito que Alguns religiosos que se afastaram por determinados motivos, viverão uma duplicidade com que terão de lidar da melhor ou da pior maneira que conseguirem. Parece-me por privar com alguns que não são por inteiro nem da fé, nem da política nem de outra área, porque parece que vivem divididos, semelhantes a imigrantes em si mesmos, sem pátria fixa. A mim faz-me pensar que não se adaptarão porque existe neles o Fragmento inquieto, que em certa altura preteriam, prescindiram, rejeitaram?!.(não porque abdicaram atenção) e que lhes retornará ao coração das mais diversas formas, mas que a todo o custo terão de integrar, sem alternativa, mais ainda porque além de como todos nós, vindos D’Ele (ref. Jó 33.06), foram/são estruturados, marcados, mais ainda que a maioria e misturaram-se com Ele. Essa duplicidade, quase como uma espécie de “ um reino dividido” haverá nela sempre a essência de Deus (ref. A Daniel 2:41). Por isso eis a esperança. Nem tudo está perdido. Pois embora possamos ter visto o ferro misturado com barro (estava a lembrar-me do caso do sacerdote da entrevista), porque se misturam com semente humana, não se ligarão um com o outro (ref. a Daniel 2:43), mas apesar dessa incompatibilidade o Oleiro, pode tornar a fazer dele outro vaso, conforme o que Lhe parecer bem aos Seus olhos“ (Ref. a Jeremias, 18:4). Muitos que vivem caminhando para encontrar o equilíbrio, têm de atirar algumas pedras, é preciso que o façam (…), precisam disso para eles, para encontrar forma de existir. Outros, para encontrar a Verdade que tiveram e nunca conheceram ou perderam. Outros porque não A suportam. Outros, infelizmente, porque não suportam outros conflitos em que vivem, desistem de o viver. Bom, mas no meio disto tudo o que me ficou é a preocupação, o ponto de viragem em que no interior de cada um começa este processo sem retorno… não terá isso a ver com a atenção mais voltada para nós do que para Deus? Não de toca isto com o desejo demasiado de resultados? Se assim é, devemos deixar de lado o desejo de obter certos resultados…
20 Março, 2014 00:23, a vida espiritual é feita de dinâmicas individuais que acabam sempre por resultar no fim ou a meio dos caminhos-encontros em dinâmicas comunitárias! A espiritualidade vive-se como um todo, e nisso, a própria corporalidade expressa-verbaliza um estar-sentir que quando vivenciado com o grupo(comunidade) lhe dá uma tonalidade-identidade muito própria, e que nem por isso anula a comunhão com outros grupos por causa dessas diferenças de tonalidades, a diversidade é e sempre foi e será uma riqueza, nela o corpo renova-se e transforma-se sempre! Ora, se somos um corpo, (arrasto aqui à memória as palavras de Paulo aos Coríntios (ICor 1,12-27)...!), porque estranhar quando ele (ou um pedaço dele) “reage” quando um “membro” se comporta de uma forma estranha ao viver desse corpo! Imprudência seria o corpo “calar” e “fingir” que tudo vai bem! Certamente que como expressou o Confessionário: “A nossa fé é uma questão particular, de cada um…” assim como também completou e bem, que ela “… para ser autêntica precisa de existir em comunidade! Como posso eu desresponsabilizar-me da minha pertença a uma comunidade só porque primeiro está a minha individualidade interior! Então porque busco eu uma comunidade! Certamente que a caridade no acolhimento está sempre em primeiro lugar sim, mas há uma identidade dessa comunidade e quem a imprime é Cristo, não é por acaso que alguém de “fora” a procura, e não é porque deixou de ter oportunidade de viver a sua individualidade sagrada! E sabemos todos que falta sempre alguma coisa, esse elo entre Deus e ela e que é sempre o irmão(â)… não há relação com o Pai se ela não passar primeiro pelo outro, isso acontece sempre no Encontro que leva a outros encontros daqueles que buscam pisando o chão do Evangelho diariamente! Sabes certamente que quem o “pisa” não escapa a quedas e muitas delas são completamente desastrosas… mas o que importa é levantar-se e seguir em frente nas etapas da caminhada que acaba por imprimir a identidade do corpo, calça os pés da alma dos que por ali se cruzam nesses encontros diários dos “bons samaritanos” que começam a formar-se em nós! Comunidade que deixou de parecer-se como um “monte” de bons samaritanos é tudo menos comunidade! Alma anónima, esses são os únicos “resultados” que me preocupam, essa é a comunidade que procuro construir também com o meu barro e na qual ponho todo o meu coração, o resto deixo com Deus, sei há tempo suficiente que a Igreja é do Pai: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam…” Sl 127,1
Por fim, 20 Março, 2014 00:23, sobre as questões individuais que levantas sobretudo no último texto, descodificando nas tuas “literacias” os comportamentos ou atitudes de outros, não entrarei por esses terrenos, é arrojo que não me atrevo, quem anda pisando terrenos movediços das almas alheias acaba sempre por ficar também atolado neles com a sua alma…(as “desculpas” as tuas, as minhas, não reparam os danos feitos, mas sim, deixam o coração aberto à reconciliação connosco próprios e com os outros!) Estranhei o teu percurso aqui sobre as “pedras”! Bom, lá saberás porque chegastes a essas “certezas”, não sei se já pesastes ou mediste a força de arremesso dessas “pedras” que descreves nos outros, mas ficou-me a impressão que as sentes pesadas, porque será não sei, só desejo que alguma delas não te tenha deixado irremediavelmente ferida no teu coração! Orarei por ti, ora por mim também, sobretudo, oremos pelos outros que aqui chamamos há recolecção das nossas incertezas feitas certezas e que o Pai tenha misericórdia de todos nós!
Anónimo de 20 Março, 2014 10:51
Olha está a dar-me vontade de rir a sério, nem sei se deva, mas posso dizer-te que o que li tem foi Completamente chinês para mim e é que não tem rigorosamente a ver nada com o que disse... não te preocupes que eu também não. A mensagem já foi passada para quem devia ser, portanto esse alguém estou certa que entendeu-a. Eu também não faço intenções de entender tudo o que me dizem, fiquei a zeros, acho que me devo rir.. é saudável.
Anónimo 20 Março, 2014 10:52, estás completamente ao lado do que eu disse, tão longe que nem te entendo. O que quiseste dizer com Estranhei o teu percurso aqui sobre as “pedras”!...? Fiquei curiosa uma vez que me diz respeito devo reflectir sobre isso, mas para tal é preciso que o entenda. Não entendi a tua observação sobre as pedras. Está-me a parecer agora que te estás a sentir atingido com qualquer coisa que eu desconheço...?!!
Confessionário, por favor tu faz-me entender isto... não estou a entender o que a pessoa disse, mesmo nada, tendo em conta as nossas conversas anteriores, só me passaram pela cabeça as tuas palavras... sei que não tem lógica mas parece-me que só tu com alguma coerência poderias dizer "Estranhei o teu percurso aqui sobre as “pedras”!...?" se bem que poderíamos sempre falar disso, mas não foste tu que o escreveste pois não? Se foste eu aceito e até te peço que me faças ver melhor, mas se não foste não sei de onde possa ter vindo tal ventania... agora sinto-me confusa... talvez te possa enviar um email...
amiga de 20 Março, 2014 11:41
eu costumo escrever como "Confessionário". Não faz sentido escrever anonimamente.
Podes enviar mail, como quiseres.
Eu tenho gostado muito de ler estes textos todos, embora podessem ser mais simples e estarem com alguma identificação (pois é complicado perceber ou acabar por perceber quem é quem; podia ser apenas uma letra, para a gente se referir à pessoa X ou Y e não ao anónimo das tantas horas que depois ja nao sabemos se é o mesmo das outras horas! lol).
Sinceramente, penso que estais ambos a tentar defender uma ideia que não é contraditória uma com a outra. Parece-me que um diz: o mais importante (embora lado a lado) é o interior; e o outro diz que é impossível esse interior existir sem a comunidade. E depois fazeis um arremesso ou outro menos... não sei explicar... e pronto. Meteis outras questões pelo meio que nem eu entendo muito bem porque aparecem aqui. Falais de resultados, quando eles são necessários em tudo, embora não condicionem nem devam condicionar nada (ou melhor, não devem ser o principal guia das nossas acções). parece-me tb que o teu ultimo texto fez referência a pessoas que deixaram o seu sacerdócio, e talvez a referência às pedras venha daí. mas isso não posso confirmar...
“Muitos que vivem caminhando para encontrar o equilíbrio, têm de atirar algumas pedras, é preciso que o façam (…), precisam disso para eles, para encontrar forma de existir. Outros, para encontrar a Verdade que tiveram e nunca conheceram ou perderam. Outros porque não A suportam. Outros, infelizmente, porque não suportam outros conflitos em que vivem, desistem de o viver. Bom, mas no meio disto tudo o que me ficou é a preocupação, o ponto de viragem em que no interior de cada um começa este processo sem retorno…” (Anónimo 20 Março, 2014 00:23)
Anónimo 20 Março, 2014 11:32, não estás a brincar pois não! Ou já não te dás conta daquilo que escreves! Este trecho é parte da tua última intervenção dos 3 textos que deixaste em cascata aqui! Já agora, sou atingido por muitas pedras sim, mas ignoro-as, elas só podem fazer dano aos que as arremessam, bem ao jeito dos outros do templo que acabaram por sair dali sem palavras nem pedras arremessadas perante as palavras de Jesus!
Realmente esta coisa de assinar como anónimos dá confusão mesmo vou passar a assinar sim Confesionário! O texto a que me refiro vem assinado como anónimo e a ele(a) que me dirijo! Não dei conta que JS tinha entretanto escrito no meio do nossos últimos diálogos e por isso o meu erro sobre o 3 textos em cascata! Que grande confusão, vou mas é comer uma sopa e arejar!
Cara anónima (suponho eu) do 19/03 às 23:48
Percebo o que dizes sobre os resultados.
E a evocação da parábola do semeador. Sobre isto, poderás achar bastante estimulante, ou desconcertante, o que irás escutar no evangelho do próximo domingo.
Mas isso não significa que possamos dispensar o discernimento, a avaliação, a análise crítica sobre o caminho que vamos fazendo, como indivíduos, e também como comunidade. Ou seja, sobre nós e sobre os outros, sobre os progressos e sobre os desaires.
E é claro que nos servimos daquilo que é palpável, visível, as exterioridades, mesmo sabendo que são apenas uma porção de tudo aquilo que é a Realidade, como a ponta de um iceberg.
Mas não podemos desvalorizar essas exterioridades como se fossem meras aparências, resvalando para um espiritualismo desencarnado. Não podemos confundir a ponta do iceberg com o iceberg em si. Mas a ponta é também iceberg; e é a ponta que fala da existência do iceberg, que o revela, que indica a sua localização.
Cara anónima do 19/03 às 13:27
Falas da existência de fraternidades e comunidades que nâo exigem ou prescindem da religião.
O que eu tinha dito antes era diferente: que a religião exige comunidade, existe para criar comunidade. E se é verdade que existem comunidades fora da religião, também é certo que não existe nada mais forte que a religião para criar e manter comunidade. De tal forma que outras colectividades (como o regime de Pyongyang, que mencionavas) de natureza ideológica se estabelecem como religiôes alternativas - religiôes seculares é a expressão técnica. Ou copiam muito do imaginário e da simbólica religiosa, como é o caso do futebol, que também referias.
De relance, acabas também por chamar a atenção dos perigos que a colectivização transporta. E tens razão. Essa imensa força e poder que a religião tem de congregar e unir pode ser usada para o bem e para o mal. Gosto muito de uma frase que define bem esta questão: "a religião é um veneno; mas é também o antídoto".
Penso que a maior confusão está em fazeres equivaler o binómio indivíduo/comunidade ao interior/exterior. Como se a busca individual por Deus só acontecesse no íntimo da pessoa, sem se manifestar externamente; ou os gestos e acções comunitários fossem apenas realidades exteriores, sem terem suporte ou sem gerarem algo de autêntico no interior das pessoas.
Mesmo que quisesses considerar a ritualidade, na sua faceta exterior, repetitiva, automática e inconsciente, não a poderias aplicar exclusivamente à vivência comunitária.
Quanto a discutir o que está primeiro (o interior ou o exterior, o indivíduo ou a comunidade), isso é como a história do ovo e da galinha. Por norma, há que os considerar a par, em nome da autenticidade e da plenitude do ser.
Se bem que, se atendermos à questão da socialização, em alguns casos a comunidade é um dado primeiro. Nascemos para uma família, sem sabermos ainda o que isso significa ou qual será o nosso papel; nascemos para um país ou uma comunidade linguística, sem termos interiorizado essa pertença; muitos de nós fomos introduzidos numa comunidade cristã sem termos consciência da existência de Deus ou da razão de ser dos vários rituais; fomos frequentando o sistema escolar mesmo sem sabermos verdadeiramente para que é que nos serviria... A interiorização foi sendo feita paulatinamente a posteriori, acabando por ratificar escolhas que outros fizeram por nós, ou levando-nos mais tarde a fazer outras opções. E é claro que só aí é que a relação comunitária se torna plena.
Para esta questão da interioridade e comunidade, aconselho a leitura da Evangelii Gaudium especialmente nos nºs 87-92.
abraço
Anónimo 20 Março, 2014 12:26
Disse-o e reafirmo-o. Em que parte é que te sentiste mais tocado? É que é nessa precisamente onde se encontra a tua fragilidade.
Não me aprece nada que as ignores, pelo contrário e se estivesses a ser mais claro falaríamos de forma a nos entendermos melhor. Após o “alerta” do confessionário:” parece-me tb que o teu último texto fez referência a pessoas que deixaram o seu sacerdócio, e talvez a referência às pedras venha daí, mas isso não posso confirmar...” Pensei que talvez possas ter as tuas razões para te sentires apedrejado, especialmente se estiveres na condição de sacerdote que abdicou (ou outra; até podes ser o Pe Luís. Tudo é possível. Mas isso não tiraria nada ao que eu disse, só poderia era acrescer). Não me admiraria que o fosses, mas normalmente os sacerdotes têm mais interioridade do que reactividade, excepto alguns (não sei se já reparaste que eu falei sempre de alguns, tu é que te inseriste neles). Da tua interioridade pouco posso falar, mas a reactividade está à vista, o que me deixou apreensiva… acabaste de me esclarecer em parte quando disseste que sentes essas pedras. É uma pena que as sintas, porque significa que o que foi dito, mais do que o que eu esperava, te assentou.
Caro JS
Teu comentário de 20/Março/2014, 17:14
Suponho que não andamos assim tão desencontrados como isso. Neste tempo, mas noutras coordenadas geográficas, talvez estivéssemos num áshrama internáutico, moderados por um guru carismático, a discutir a relação entre fé e prática hinduísta. O meio, não elimina a autonomia individual, mas tem força para vergar um homem. Para o bem e para o mal. É claro, que sem a comunidade, o homem sentir-se-ia completamente desenraizado. E perdido. Não se realizava na sua humanidade.
Mas o mesmo sucederia se não lhe fosse reservado espaço para viver a sua individualidade em consciência.
Por isso, acredito que a busca de Deus é intimidade, que me obriga a retirar, mas não a viver retirada. É, pois, essa própria intimidade que me impele à exteriorização, uma vez que só é passível de se realizar, em relação, através da mediação dos outros. A exteriorização DESSA intimidade.
Penso que me percebeste mal, quando dizes que interpreto os gestos e as acções comunitárias apenas como realidades exteriores, insusceptíveis de realizar algo autêntico no interior das pessoas. Isso seria de uma insensibilidade total, da minha parte. Mesmo quem não é crente, deixa-se muitas vezes tocar por essas manifestações. Pela sua beleza e genuinidade. E sei, proporcionarem conversões. Estou-me a lembrar do caso de Paul Claudel.
Mas, se essas acções em algum momento não me tocam? Se o meu espírito não se lhes conforma? Se aquele não é o meu lugar, nem o meu momento? Se não estou interiormente presente?
Tu, sei que vais, e esperas pelo que há-de vir.
Eu fico!
Deveria ir? Ficaria melhor, se fosse? Era essa a vontade de Deus, para mim?
No meu entender, não se trata de me excluir de Deus ou dos outros. A minha vontade não é a de apartar-me de uma comunidade a que pertenço. Refiro-me simplesmente ao seguir. Seguir por seguir. Seguir determinadas acções ou comportamentos ritualizados, certamente tidos como válidos e autênticos por quem os está a praticar e pratica. Ou pelo menos, por parte. Mas que para mim, por princípio ou contingência, nada me dizem.
Quanto à velha história do ovo ou da galinha, não sei porquê, nunca entre o galo.
A anónima de 19/Março/2014, às 13:27
Lara, (21 Março, 2014 12:53), insistes numa espécie de diálogo que não nos leva a nada, quando muito pode encher-te mais um pouco do teu ego cheio de certezas sobre o outro a quem teimas em desenhar-lhe o rosto, ou talvez, quem sabe, encher mais um pouco as tuas estantes carregadas de obras incompletas sob as vidas de Padres e outras almas…!
Paradoxo, quando foi da tua parte que partiu a perplexidade por eu ter, na tua visão sobre as minhas primeiras palavras no inicio dos comentários sobre este post, reagido (“reactividade” não é uma palavra inócua dentro do terreno dos preconceitos…!) quando me apontavas mesmo que de uma forma velada, gerador de juízos sobre posturas alheias!
E porque hei-de eu temer a fragilidade que assumi e assumo plenamente! Eu sei que há ainda quem sustente e afira a sua “força” e “felicidade” a partir da condição do outro, e nela se realize como pessoa que acedeu a patamares que julga acessíveis apenas para os “fortes”, nessa espécie de quem se entregou como pessoa para passar a ser um holograma clonado pelas regras da metrópole religiosa… vejo que te moves com “fluidez” por entre tais fluxos humanos!
Porque buscas com tanta avidez disfarçada ver-conhecer o meu rosto! Será que precisas também dele para o teu mostruário da condição humana que guardas como colecção das vidas que um dia conseguiste invadir! Parafraseando-te, “tenho pena”, essa calçada que pisas na tua caminhada de vida sente-se que lhe faltam já muitas pedras, quem nela te encontra e busca a tua mão para caminhar ao teu lado, acaba por senti-las encerradas em si mesmas, frias e inacessíveis ao toque de tão carregadas que estão desses seixos que ainda te restam para atirar… mas eu acredito que um dia essas mãos acabarão por abrir-se um dia à misericórdia, e aí, as pedras cairão finalmente nos solos da tua existência para que o Toque aconteça!
Esqueci-me de assinar no meu comentário a Lara 21 Março, 2014 12:53:
JS
Quando aos resultados já falei o que tinha a dizer. Sobre o evangelho já o li aquando da tua observação e não sei em que ponto achaste que pudesse ser estimulante ou desconcertante para mim, nada vejo que contrarie o que disse, sobressaiu-me especialmente a frase: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra”. Mas talvez queiras referir-te a alguma interpretação sobre o semeador? Se quiseres deixar o teu ponto de vista dessa análise. Repito-te e já o tinha dito, concordando contigo que “É inevitável não inferir os sentimentos dos outros a partir das suas acções e posturas “ mas parece que não leste isso. Só que a nossa opinião difere, quanto ao que chamas de análise critica. Não se devem confundir duas coisas distintas. Uma é o iceberg, uma importação da teoria estrutural da mente, nos seus diferentes níveis de consciência, reportando-se mais ao próprio do que à visão do outro. Outra completamente diferente é a percepção, avaliação e juízo (também conceitos diferentes na prática diária) de mim para com o outro. De facto podemos percepcionar comportamentos, atitudes, mas uma vez que a vocação sacerdotal se pauta pela rectidão moral, não deve caber nela ajuizar a intenção desse comportamento especialmente de forma desfavorável, no que toca à intenção dos mesmos, era o que estava inicialmente o que estava em causa antes de resvalarmos para outras problemáticas.
Anónimo 20 Março, 2014 17:14
Houve aqui uma grande confusão, é notório. Cada um falou do que mais o inquieta no fundo da alma. Posso garantir que em nenhuma altura me referia ao sentido de comunidade nem contra nem a favor e que tudo o que escrevi estava longe desse conceito ou tema. Disseram “como o regime de Pyongyang, que mencionavas”, (acho que te referias a mim) nem sei onde possa ter mencionado algo que desconheço. Até talvez tivesse gostado de ter chamado a atenção dos perigos que a colectivização, mas nunca pensei nisso… “fazeres equivaler o binómio indivíduo/comunidade ao interior/exterior.”: esta afirmação mostra bem como é possível interpreta-se um texto das mais diversas formas, projectando nele o que está no nosso coração … nunca pensei ou escrevi sobre isso. Por fim para comentar a frase: “Quanto a discutir o que está primeiro (o interior ou o exterior, o indivíduo ou a comunidade),” nunca falei disso mas posso falar agora, não há nem primeiro nem último aqui, cada um tem o seu lugar bem definido. Não vejo porque um tenha de se sobrepor ao outro.
Anónimo 20 Março, 2014 17:14
Houve aqui uma grande confusão, é notório. Cada um falou do que mais o inquieta no fundo da alma. Posso garantir que em nenhuma altura me referia ao sentido de comunidade nem contra nem a favor e que tudo o que escrevi estava longe desse conceito ou tema. Disseram “como o regime de Pyongyang, que mencionavas”, (acho que te referias a mim) nem sei onde possa ter mencionado algo que desconheço. Até talvez tivesse gostado de ter chamado a atenção dos perigos que a colectivização, mas nunca pensei nisso… “fazeres equivaler o binómio indivíduo/comunidade ao interior/exterior.”: esta afirmação mostra bem como é possível interpreta-se um texto das mais diversas formas, projectando nele o que está no nosso coração … nunca pensei ou escrevi sobre isso. Por fim para comentar a frase: “Quanto a discutir o que está primeiro (o interior ou o exterior, o indivíduo ou a comunidade),” nunca falei disso mas posso falar agora, não há nem primeiro nem último aqui, cada um tem o seu lugar bem definido. Não vejo porque um tenha de se sobrepor ao outro.
Anónimo , Não posso deixar de dizer-te por palavras mais concretas que acho que ninguém tem legitimidade para afirmar “os de “dentro” esses que na verdade sempre estiveram fora “ (até parece que és Deus … !) ou “que outros vão a locais sagrados como se fossem supermercados dos sacramentos aviando-se fartamente”. Porque achas que tens com o facto de se alguém vai à igreja para afugentar medos, ou ainda afirma-lo como se fosse depreciativo? Como isso me indignou, comentei. Até porque parece-me algo da total responsabilidade de Deus. E depois acrescentaste ainda a referência: acham “na verdade” que aos olhos que nos observam mudamos alguma coisa? Primeiro é a tua postura que não está correcta (variando conforme a tua situação, leigo… etc ) Depois perguntei-me de que olhos falavas, eu estou entre esses que observam, e achei que também falaste em meu nome, porque se há quem não acredite na mudança és tu, não eu. Quem está carregado de promessas és tu, mas por outro lado deixaste-te abater antes de tempo. E estás a divulga-lo a outros, como sendo uma verdade. Mas é a tua verdade, ou será antes a tua angústia? Talvez por vezes nem sempre se consiga ter Deus no centro e por isso, essas afirmações que reflectem mas os nossos desejos, receios, medos, decepções. Mas seres um leigo, um padre no activo, ou não, faz toda a diferença para chegar à totalidade da tua intervenção.
Anónimo depois da tua intervenção final quero dizer-te ainda... Anónimo, não diria certezas (sobre o outro) teria outro nome, mas isso não seria importante para ti. Não vejo o que possa levar alguém a não assumir a sua identidade, mas possa por outro lado sentir-se tão agredido e contudo não ver o quanto as suas são despropositadas, ora aí justificar-se-ia perceber o porque de ter necessidade de o fazer. Verifico que tiveste oportunidade de fantasiar a meu respeito de uma maneira quase megalómana dos meus superpoderes e das minhas obras sobre a vida dos padres, ou será mais dos padres na minha vida? Mas numa coisa tens razão, serão sempre obras incompletas… Não venhas a descobrir que afinal a tua história se cruza com a minha mais do que tu te possas lembrar.
(mas estás enganado, não sou nada do que pensas)
A observação da reactividade não é um preconceito é observável e não recorre a qualquer juízo ao contrário (sim dos referentes a posturas alheiras). Reages porque te sentes. Diz-se que quem não se sente não é filho de boa gente, não te preocupes…
Passa-te pela mente que eu possa sentir-me forte e poderosa com as tuas fraquezas? Continuas numa análise fiel a ti mesmo? Estava mesmo alheada de que estavas aí escondido num buraco do blogue… nada era para te beliscar.
Voltas na mesma msg, ao mesmo assunto… isso ficou-te aí… foste tu é que despertaste a minha curiosidade. Quando algo me chama a atenção, gosto de ir até ao fundo da questão. Esse teu interior não anda bem… não é para como dizes me contentar… a outros níveis sou igualmente fraca como tu. Tu o disseste, tu e eu, eu e tu.. barro…. Não é avidez, nem disfarçada, passou a uma curiosidade assumida, primeiro por mim, depois por ti. Afinal és uma pessoa… que pode ocupar um lugar na minha estante… (estou a meter-me contigo claro).
Olha que invadir é uma palavra forte para mim e para ti. Para mim, porque é ofensiva …fizeste-me pensar, quem sabe isso está a acontecer aqui pela net… não na vida real, onde pelo contrário as pessoas vêm ter comigo… Por ti, porque te sentes invadido, mesmo na condição de anónimo, como consegues/consegui isso? A última frase era suposto ser o teu remate final, aquela que me feriria mais fundo? Olha não percebi mesmo o significado da frase. Mas como falaste de Misericórdia só te posso dizer que isso bastou. És certamente um meu irmão em Cristo e não te amo menos que a qualquer outro.
Digo-te que antes desta confusão toda me lembrei da tua mensagem de onde me ficou a palavra AMOR em maiúsculas, enquanto estava no hospital, inclusive escrevi um post onde introduzi esse pormenor. Estou certa que depois das pedradas que atiramos um ao outro, poderemos sarar as feridas.
Dona Lara:
A nota do evangelho a que me referia era aquela em que Jesus menciona a iminência da ceifa (versículos 35-36).
Tu falavas do semeador; e Jesus aparece desta feita a pôr a tónica no ceifeiro. E tu podes imaginar a cena: o pessoal do povoado a vir ao encontro de Jesus; e este a dizer aos discípulos: "Levantai os olhos e vede os campos prontos para a ceifa" Os resultados, ali, têm significado...
Ou então, imagina-te a pertencer a uma comunidade que têm catecúmenos. Imagina-os à frente da assembleia, para os escrutínios deste domingo. E imagina-te agora a escutar o evangelho, a ouvir Jesus: "Levantai os olhos e vede os campos prontos para a ceifa..." Até dá um arrepio na espinha.
Ainda para a Lara:
Eu usava a imagem do iceberg num sentido mais filosófico, aplicado à percepção da realidade.
No que dizes sobre o percepcionar o outro e ajuizar sobre ele, creio que se mantém alguma confusão.
Vamos a um exemplo: uma pessoa que comete um roubo. Estás em condições de observar esse comportamento ou ter dele notícia verídica. E estás em condiçôes de emitir um juízo (moral) sobre esse comportamento. Mesmo que o faças no meio de muita prudência, pois certamente não conhecerás as razões por detrás daquela acção concreta.
Por outro lado, mesmo nâo conhecendo os motivos daquela pessoa em particular, tu estarás a par de várias motivações usualmente invocadas como razão para roubos. E poderás utilizar esse conhecimento para, de forma genérica, balizar o juízo moral efectuado. Claro que, mais uma vez, será necessário manter a reserva, porque as tais razões usuais podem não corresponder à razão daquela pessoa em particular. Mas até podem.
O que estava inicialmente em causa: alguém presente numa acção comunitária cujo comportamento se caracterizou pelo alheamento, apatia, recusa de participação num momento-chave.
Há um juízo que é feito: do ponto de vista da comunidade (de quem dirige uma, ou de quem faz parte duma), é um comportamento que se lamenta. E é feito de forma legítima, mesmo que, há que reconhecê-lo, não se esteja a par propriamente dos motivos concretos daquela pessoa. Esse juízo é formulado pelo Confessionário e partilhado por outros.
Há depois um anónimo (o "barro") que desenvolve legitimamente esse juízo, considerando motivações na generalidade já conhecidas, e incluindo aí as próprias acções comunitárias. Poderá ter falhado na parte da reserva ("muitos como essa alma"), mas tal não significa que esteja errado.
Por fim, apareces tu, defendendo com acérrimo e legitimamente essa parte de reserva e de prudência que seria necessária na hora de ajuízar a pessoa e o caso em concreto; mas acabando por advogar a ilegitimidade ou a imoralidade de todo e qualquer juízo.
E seguiu-se a discussão...
Ainda para a Lara
Quanto ao teu comentário do dia 21, às 14:43, e no seguimento de outros:
É bem possível que eu esteja a cometer um erro crasso, ao tentar explicar-te algo que não estás (ainda) em condições de compreender, dada a busca que iniciaste e a sua focalização.
O melhor mesmo que posso fazer é respeitar a tua busca e deixar que a prossigas, esperando que, quando chegares ao fim da linha, não te dês por perdida e consigas encontrar o caminho de regresso.
Digo isto, não pela presunção de conhecer o teu íntimo, mas por aquilo que foi a minha caminhada pessoal. A certa altura da minha vida, comecei a ansiar por águas mais profundas, a rejeitar aquilo que via como conformismos, a racionalizar os dados da fé, a desejar a emoção ardente nos rituais. O resultado, vejo-o hoje claramente, foi um progressivo afastamento e uma progressiva insensibilização. Só a novidade me preenchia: quanto mais uma missa fosse diferente e surpreendente, mais me sentia tocado. Tinha de ser música diferente, o estilo do padre diferente, as partes da missa diferentes. O próximo domingo diferente do domingo anterior. Era como uma droga. Até que a novidade deixa de ser novidade e descobres em ti um tremendo vazio. Estive a ponto de perder a fé.
Como já terás percebido, o meu retorno fez-se pela ritualidade, renunciando a questioná-la por razões ou finalidades, ou exigindo dela emoções em carne viva. Deixando-me simplesmente imergir no seu ritmo, na sua linguagem. Rendendo-me. E foi assim que, muito lentamente, se começou a fazer luz...
Um abraço.
1º (Eu não sou a anónima de 21, às 14:43, nem concordo sequer que a comunidade cristã para ser um corpo, exige previamente uma relação de intimidade com Deus; a pessoa em questão parece-me ter inquietações totalmente diferentes das minhas ). Tu o anónimo e eu baralhamos essa intervenção já atrás que não foi minha. No entanto quando ao que disseste por último, pensando que era para mim, gostei! Ora chegamos ao ponto. Um ponto que não era ponto inicial, mas que pautou a minha participação aqui, sem que tu ainda o tivesses dito ou revelado. E não és o único a sofrer (ter sofrido desse mal) “ comecei a ansiar por águas mais profundas, a rejeitar aquilo que via como conformismos, a racionalizar os dados da fé, a desejar a emoção ardente nos rituais. O resultado, vejo-o hoje claramente, foi um progressivo afastamento e uma progressiva insensibilização” Gostei bastante desta tua intervenção. É neste ponto que tenho batido desde início, mas sei que estou longe de que me possam entender. Essa tendência que se verifica em alturas da vida em certos sacerdotes é que pode ser a morte do artista. Era nessa linha que falava para o outro anónimo, que falava do Pe Luís e que chamava a atenção ao Confessionário, se bem que ele não me entenda. Mas não me importo, estou contente, afinal não estou louca lol. Mas isso prende-se com outros pontos… mas já não vou falar deles.
PS- Quero clarificar que não tenho nada a desfavor do Pe Luís. Tinha qualidades, era simpático, era amigos dos jovens, era dinamizador, era esforçado… mas… e por isso… e na altura ... e agora… (talvez tenha estado demasiado só e entregue a si mesmo na sua luta, talvez lhe tivesse faltado uma voz, quem sabe... (A postura actual acho-a incorrecta).
Quando observo um comportamento primeiro tenho de saber que comportamento se trata.
Vejamos, dizes que estás em condições de emitir um juízo moral com prudência. A meu ver se não conheces essas razões e motivações, de maneira nenhuma generalizáveis, muito menos banalizáveis! e nunca em situações de grande imprecisão e abstracção, não podes, não deves efectuar um juízo. A reserva está em não o fazer, tão somente, tanto mais quando ele não serve a nada nem é utilitário ou necessário. Dizes que um juízo pode corresponder ou não à norma, vistas bem as coisas, nunca corresponde na sua exactidão, uma vez que a situação são não só as razões as razões usaualmente invocadas (supondo que assim fosse) mais toda a bagagem pessoal de um indivíduo de uma vida, única e indecifrável senão por Deus. Ora se eu estivesse na prática da advocacia, interessar-me –ia sob outro ponto de vista a respeito do alheamento, da apatia, e ainda assim estes comportamentos só me interessariam se fossem enquadrados numa acção censurável socialmente, (como um roibo) o que não é o caso e não equiparável, mas como falamos como cristãos, dentro de uma comunidade cristã, que supostamente se deve reger por valores e pincípios de tolerância, despenalizando e não penalizando, devo refrear o meu juízo. Postura sempre mais desejável para o sacerdote (que dirige) do que os que fazem parte da comunidade, pelo que não é equiparável. Claro que é um comportamento que a meu ver, no sentido último do desejável, não se pode, nem se deve lamentar. Imagina numa aula um professor depreciar o aluno apático, sem nada com isso fazer. Não ele vai saber, ele vai intervir, para isso pode ajuizar, mas não é necessário sequer divulga-lo. Se o aluno pode ter um défice de atenção, o homem pode estar doente, pode ter mil motivos, e ainda que não os tenha, o padre deve conceder-lhos, queremos padres santos! Quanto à legitimidade que lhe vês e da qual falas do anónimo eu não as vejo, especialmente da forma como foi colocada. Além disso visando os resultados ou não (continuo a achar o mesmo sobre os ditos resultados, e embora a conversa vá longa se continuarem posso depois falar de como vejo a questão da ceifa) acho forte oh Confessionário dizeres que “Pena que não foi o único a quem a Quaresma não chegou.” Claro que te preocupas, que pode parecer, mas pode não ser, e assim sendo mesmo para textos de blogue, estes nunca serão os primeiros… mas desabafas, está bem.
http://papa.cancaonova.com/salvacao-e-dom-para-se-receber-com-coracao-humilde-diz-papa/
Lara
Olha que as tuas últimas palavras do teu comentário às 20:22 se parecem exactamente com um juízo formulado sobre o Confessionário. Talvez o consideres uma excepção que confirma a (tua) regra. Ou seja então simplesmente essa contradição insanável daqueles que defendem a abstenção do juízo e que acabam por ajuízar sobre aqueles que não a praticam.
Voltando aos exemplos, e pegando no que sugerias: um aluno apático e não-participativo numa sala de aula. Evidentemente que há aqui espaço para um juízo objectivo. Tal comportamento não é correcto, não é adequado, não é aceitável, é de lamentar. Independentemente das razões subjectivas que provocam tal comportamento, e que poderão servir de atenuante (ou de agravante) ao juízo formulado, o juízo em si é legítimo: é um comportamento errado, que manifesta a existência de algo errado.
É depreciar o aluno? Trata-se de avaliar um determinado comportamento, sabendo que ele não diz tudo sobre a pessoa em causa, mas sem cair no extremo de achar que ele não diz nada. A pessoa não será definida por um comportamento unicamente considerado; mas esse comportamento entra na definição da pessoa.
"Sem nada com isso fazer". Aqui, estou na dúvida, se te estás a referir à inacção do professor (ele não agiu em conformidade com o juízo, não procurou saber as causas, não se interessou por alterar a situação), ou se queres dizer que a existência/formulação do juízo é prejudicial para o aluno em causa, acabando por piorar a situação.
É certo que a um juízo deve seguir-se uma acção, senão ficar-nos-emos pelo criticismo que nada constroi. Por outro lado, há realmente que atender à sensibilidade das pessoas, sabendo que se consegue mais com mel do que com vinagre. E que, também no educar comportamentos, a discrição é a alma do negócio.
Mas nenhum dos casos leva a que se possa considerar ilegítimo o juízo em si mesmo. Pelo contrário, a recusa em emitir um juízo é que torna impossível qualquer acção, e confunde compreensão com indiferença.
"mas não é necessário sequer divulgá-lo". Se a intenção fosse unicamente de apoucanhar a pessoa (ou a instituição), estamos de acordo. Mas achas mesmo que é o caso? Será que o professor não poderá conversar com os colegas sobre o assunto da apatia nas aulas, recorrendo a uma situaçâo concreta para abertura do diálogo/discussão? Ou com os alunos de determinada turma? Ou achas que é desnecessário dialogar/discutir sobre este tipo de assuntos? Ou que o assunto só deveria ser discutido em abstracto?
"o padre deve conceder-lhos, queremos padres santos". Concordo que qualquer cristão deve ser compreensivo, tolerante, optimista, que deve procurar ver o irmão como Deus o vê. Mas isso não significa fechar os olhos perante uma situação errada, optando por desculpabilizar ou desresponsabilizar automaticamente as pessoas, ou simplesmente ignorando os seus actos no pressuposto de estarmos a respeitar a sua intimidade e liberdade.
Perante a tua perspectiva, não vamos chover no molhado, o assunto esgota-se com perspectivas diferentes, tu a tua, eu a minha. ;)
Caríssimo JS
Apesar do equívoco na identificação do destinatário, e da embrulhada que por aqui vai quanto ao quem escreveu o quê, a anónima de 21/Março/2014, às 14:43 (eu própria, a autêntica!) lá bateu com os olhos no teu comentário de 25/Março/2014, às 15:53.
Como também me é dirigido, penso não ser intromissiva ao responder a este teu comentário, apesar do meu não vir no seguimento dos outros e não meter sementes, foices, nem ceifas e ceifeiros, apenas histórias de ovos e galinhas, onde nunca entra o galo.
Até porque, já quanto à descrição que fizeste acerca do conteúdo da evolução da tua experiência pessoal, não quero meter o nariz. Nem uma snifadela. Porém não posso deixar passar totalmente em branco as linhas que escreveste, porque me tocou o seu carácter testemunhal. Achei-o autêntico e enriquecedor e, também, mas nem só por isso, muito útil.
Gostei também do modo como, ao que depreendi, encaras aqueles que optam por seguir por caminhos diferentes dos teus. Aí está uma liberdade que nem sempre é reconhecida, muito menos concedida. Também acho, que cada qual tem que fazer o seu próprio percurso, escolher o que melhor se lhe adequa, mesmo que segundo a minha perspectiva - necessariamente subjectiva - aquele ou aquela tenha uma opção errada. Apreciei a partilha de experiência, sem imposição.
Acode-me a propósito, uma história muito badalada: a do filho pródigo.
Ainda em vida, o pai, de coração partido, entrega ao filho mais novo a parte da sua herança, e deixa-o seguir com a sua vida, como bem quer. Longe de casa, depois de perder todos os bens - e ao que parece não eram poucos, porque este menino era dos tais que havia nascido em berço de ouro - numa vida de libertinagem e devassidão - talvez aqui esteja a exagerar um pouco - o filho tem um baque, cai em si, e regressa a casa com o rabinho entre as pernas verdadeiramente arrependido.
Caso aquele filho tivesse permanecido sob a previdência do pai, teria vivido confortavelmente e o património familiar teria sido conservado intacto intacto, e, talvez, até aumentado.
Mas vivendo na revolta da sua vontade contrafeita, ter-se-ia ele, algum dia, verdadeiramente encontrado consigo e com os outros?!
Deixar que o outro siga o seu caminho é também abrir mão e saber esperar. Vigiar, com os braços abertos e as pernas prontas a ir ao encontro. Perder, por vezes, significa obter melhor e maior ganho.
Foi o que me aprouve dizer. Obrigada por te teres disposto a ir ao meu encontro e a trazeres da tua luz.
Abraço
http://oinsecto.blogspot.pt/2015/02/o-estar-na-missa.html#comment-form
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