A comunidade é pequenina, é certo. Tem poucas mais pessoas que os dedos das mãos. Vou lá poucas vezes por ano, mais ou menos as mesmas que os dedos das mãos. Vou, mas vejo-me lá numa confusão interior de tamanho que não tenho palavras para dizer, dado que ninguém comunga naquela missa, porque, dizem, é melhor só la para a Páscoa. Havia pouca gente, é certo. Mas fazemos um banquete com o Senhor e dizem-nos Lá para a Páscoa, senhor padre. Como se Deus tivesse querido que só uma vez houvesse Páscoa. Como se o sacrifício que é a Eucaristia acontecesse só na Páscoa. Eu bem lhes perguntei como ficariam se, convidado para as suas casas numa festa, onde, como é tradição em Portugal, há sempre uma boa mesa, repleta, um bom presunto, um bom queijo e um bom naco de pão, e eu dissesse que só comeria na Páscoa. Encolheram os ombros e repetiram Lá para a Páscoa, senhor padre. Sabe, não estamos confessados. Então vamos lá confessar-nos. Dispus-me a fazê-lo logo ali e no momento. Porém, insistiram Lá mais para a Páscoa, senhor padre. Passei toda a celebração a pensar que só devia voltar àquela terra para a Páscoa.
18 comentários:
Uma prima minha, não se confessava há uns 15 anos ou mais. Um dia pedi-lhe que me acompanhasse numa ida à rua fazer umas coisas, mas tinha outros planos. Nessa noite havia cinco padres a confessar numa igreja. Disse-lhe olha vamos só ali num instante à igreja, acho que estão lá uns padres, queria confessar-me. Eu não me vou confessar!_ disse ela de imediato. Está bem, ficas só a ver. Sentamo-nos entre muitas pessoas que esperavam. Entretanto fui-lhe dizendo, lembras-te de quando há anos íamos lá na terra à igreja…? Que tempos! Não te confessas deste essa altura?_ perguntei (mais de trinta anos)…Não, tive de me confessar para ser madrinha de casamento da Rita. Ah foi? Etc etc …Então podias confessar-te agora. Eu ficava tão feliz se tu te confessasses!!!… ela começou a ficar nervosa, pronta para sair da igreja. Vou lá fora fumar um cigarro_disse. Pensei que não voltasse. Não ia ser fácil. Voltou! Voltei à carga como quem nada quer. Entanto ia fazendo contas entre o diálogo e o tempo que demoraria a chegar a nossa vez. Que pecados tens tu afinal? Tens vergonha de dizer ao padre que andaste com um homem casado? (sentia que esse era um dos seus medos). Há milhares de pessoas que já fizeram isso, isso é mais que banal (procurei desvalorizar), achas que ele liga a isso? O importante é que isso acabou! E se ele me perguntar pormenores?_ diz. Ele não te vai perguntar pormenores _ respondi. Como é que sabes? Sei! Acho que não consigo! Claro que consegues, olha é tão rápido que nem notas, ele dá-te a bênção e pronto. Mas se for o lá de cima (o pároco dela) não vou! Se for esse que te calhe vou eu primeiro. Tá bem…! Ai, meu Deus, diz ela nervosa. Mas para que é que eu me vou confessar? Eu ficava MUITO contente!! _ Reafirmei (acho que ela sentiu o peso da responsabilidade que tinha pelo meu momento de felicidade). Mas acho que não sei dizer o acto de contrição. Não tem de se dizer o acto de contrição? Vê lá se é assim: “Meu Deus que sois tão bom, ajudai-me a nunca mais tornar a pecar”. Esse chega_ disse-lhe. Tinha chegado a nossa vez. Vai! disse-lhe. Ela foi. A seguir fui eu. O meu confessor, (seu pároco) tinha um hálito a vinho que me acelerou a confissão. Ela demorou mais, veio de lá vermelha como um tomate e contou-me ao pormenor a confissão e eu a ela. Gostou da forma como o padre dirigiu a confissão. Começou por dizer, estou aqui porque a minha prima quis que me viesse confessar. Mas gostou. Disse-me: “Obrigada! Vim de lá mais leve! Nunca pensei esta noite confessar-me”. Quando chegamos a casa disse contente que se tinha ido confessar. Mas noutro dia depois talvez de reflectir, é que disse: “Tu é que me apanhaste, hum!?” Desde aí nunca mais deixou de se confessar e comungar até hoje.
Dá que pensar... que andamos nós a fazer?
Qual é o nosso testemunho de vida Cristã?
Vou daqui a pensar...
A minha mãe tem épocas. A maioria delas foge dos padres. As outras são benesses que Deus me dá, aquelas em que não foge e até vai à missa. Era Páscoa, mas nem ideias de se confessar. Eu confesso-me a Deus_ diz. Agora estar ali a contar a minha vida aos padres, era só o que faltava. Eles são homens, não são Deus. Mas Deus age pelo padre! Pois, deve agir por isso é que… e tem um rol de argumentos… Há outro problema, a minha mãe nunca se ajoelha, o que limita a possibilidade das hipóteses e das estratégias. “Mãe, é neste Natal que te vais confessar? Olha que não podes andar a comungar sem te confessares!”, “ Eu confesso-me uma vez por ano”. Mas não é verdade, deve ter havido anos que a confissão não passou por ela. “Pois, é bem verdade o que dizes vais então confessar-te antes do Natal de 2013 e depois confessas-te na Páscoa de 2014, é uma vez por ano!”, “ Sim, Sim”_ responde! “Eu não tenho pecados!” Rio-me, enquanto conspiro alguma estratégia luminosa. Tu é que tens de te confessar e todos os dias. Aliás tu tens é de te confessar várias vezes ao dia. Eu digo que sim. “Tu não tens pecados?”_pergunto. Tu nem dizes asneiras! Não, diz ela. Tu nem discutes com a tua filha_ Não, diz ela. Tu nem dizes mal de ninguém_ Pois não, diz ela. A última vez que se confessou foi pela Páscoa de há dois ou três anos? Foi uma espécie de milagre. Disse hoje vais confessar-te aqui ao padre. Toda a gente se confessa aqui tranquilamente. Olha tem uma enorme vantagem para ti, o padre confessa numa cadeira. Não foi mérito meu, quem conhece a minha mãe como eu sabe que nenhum argumento meu a poderia levar a confessar-se senão a graça de Deus. Quando saiu da confissão disse: “cheguei lá e disse: vim confessar-me porque a minha filha quis, mas eu não tenho pecados”. “E o padre”_perguntei. “O padre teve uma conversa comigo. Conversamos”. E eu fiquei a pensar, mas será que isto foi uma confissão? Será que as minhas estratégias são politicamente correctas? Mas como, o Sr padre diz, o sacramento vale mais… e por isso, eu não paro de repetir o que aprendi… Deus tinha todo o tempo para agir.
Confesso: sou um confesso-dependente. Mas, tal como a mãe do nosso estimado Confissões, faço-o dirigindo o meu pensamento, directamente ao Criador do Universo, àquele que é omnipresente, omnisciente e omnipotente. E se não o fizesse da forma que faço, estaria intimamente a negar essas três qualidades Divinas.
Então, nestas circunstâncias, aquilo que coloco em causa, é a verdade, a autenticidade, a naturalidade, com que me dirijo ao Criador e lhe digo: Pai, sabes que agi de uma forma que não acho ter sido correcta, não sei porque raio me deu para ali, mas peço-te que me perdoes e me ajudes a não repetir a gracinha. Como creio plenamente no seu amor por mim e por todos os meus irmãos, sejam eles de que zona geográfica forem, de que religião forem, que lingua falarem, que hábitos e costumes sejam os seus, fico ciente de que Ele entendeu a minha confissão e a genuinidade do meu pedido. Se assim não for, dado que sou um pecador confesso, acumularei uma carrada tão grande de culpas na minha consciência que nem 50 padres a confessarem ininterruptamente durante um ano, absolveriam.
E prontes, é tudo o que tenho pra dezer àcerca do axunto!
Padre, porque é que o comentário de 13 Setembro, 2013 00:20 foi removido? Pode-se saber? Fiquei curiosa?! lol
Pode-se saber sim... Longe de mim matar alguém de curiosidade. :);)Esclareço-a cara anónima que sendo uma msg pessoal para o reverendo padre, pedi-lhe que a retirasse.
Padre, penso que, pelo menos, essa comunidade tem o mérito de não comungar sem reunir as condições necessárias para o fazer condignamente. Há tantas e tantas pessoas que vão comungar sem que se confessem à muito tempo, às vezes, à dezenas de anos porque, afirmam, não têm pecados visto que não roubaram nem mataram. Outras há que deixaram de o fazer porque na última confissão o padre fez muitas perguntas.
Parece-me que, no caso desta comunidade, estão demasiado entregues a eles próprios, sem incentivos ou empatias,capazes de os motivar a uma prática mais activa. Estão como que adormecidos e a Páscoa, será, provavelmente, a altura do ano em que são mais lembrados e aí há como que uma
colaboração.
Mas, como em tudo, tem havido situações limite que nos seus extremos correm o risco da ineficácia. Enquanto que antigamente era quase comum a confissão corresponder a uma devassa, na actualidade há sacerdotes que, ainda que a pedido do penitente, se recusam a ajudar com perguntas.
Enfim, não os abandones para que se consciencializem e comecem a praticar duma forma adequada.
Beijinho
Ruth
O problema é mesmo o habito ou tradição: pois confissão que se preze (diriam) é na Páscoa e só.
Todas as vezes que lá vou, insisto... mas
... continue a insistir...
Já lá diz o ditado:
"Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura."
Não desista...
bjs ;)
Um dos motivos por eles não acreditarem na tua realidade, é porque tu acreditas na deles. Quando dissestes "Então vamos lá confessar-nos" quase apostaria que eles leram na tua cara e nas tuas palavras precisamente o oposto. Primeiro acredita, depois faz acreditar. Eu não tenho dúvidas, se tu quiseres, se tu souberes, não há tradição que se imponha. Se eu fosse homem mascarava-me de padre e provava-te isso lol
Assim de repente, diria que, ao menos essa comunidade conhece os mandamentos da igreja católica, pelo menos o 2º "confessar os pecados (ao menos) uma vez por ano" e o 3º "comungar pelo menos por altura da Páscoa" - pus o "ao menos" entre parêntesis de propósito.
Se calhar essa comunidade (e talvez um pouco todos nós, como já foi referido em alguns comentários e num post anterior do blogue) tem algum receio do tipo de confissão que vai encontrar e, como devemos comungar por altura da Páscoa e para comungarmos corretamente devemos de estar confessados/reconciliados, acabam por preferir apenas cumprir o preceito (a obrigação).
Não sei se será apenas uma questão de tradição (embora me admire de não falarem no Natal, mas apenas na Páscoa), já que pelo menos comigo acontece sentir mais obrigação de me confessar nos tempos fortes, do que no resto do ano (talvez no meu caso até seja por tradição, pois era quando havia "datas para confissões" quando era pequeno). De qualquer maneira, este é um sacramento em que temos de ser nós a "tomar a iniciativa", isto é, somos nós que temos de abrir o coração e a alma a um padre (em vez de ser o padre a dizer-nos o que temos de fazer), somos nós que temos de refletir sobre a nossa conduta, etc. e se for possível não termos de pensar muitas vezes nos erros que cometemos... melhor (e sendo só uma vez por ano, pode acontecer de já nos termos esquecido da maior parte e dos que nos lembramos, não foi nada de mais para estar a considerá-los como pecado).
Não deixe de ir a essa comunidade, como diz o Evangelho deste domingo, há que deixar as 99 ovelhas e ir atrás da outra, porque "há mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa, do que por 99 justos que não necessitam de conversão" e se se sentir desanimar, pense no exemplo do padroeiro dos sacerdotes, que quando chegou a Ars tinha a igreja vazia e acabou por a encher, não só com as pessoas da aldeia, mas também com gente de toda a Europa que o procurava para se confessar.
Um conselho, que não sei se resultará. Não fale de confissão (isso, garanto que não resulta, pelo peso que a palavra tem), fale antes da reconciliação com Deus, da partilha com um Amigo nosso e se, ao só quererem aproximar-se de Deus pela Páscoa também estão a dizer que só querem que Deus se aproxime deles pela Páscoa (ou seja, que comecem a rezar "ajuda-me a ultrapassar esta dificuldade... pela Páscoa"). Eu sei que o Amor de Deus é o Ágape que está descrito na carta aos Coríntios, que não se importa se há reciprocidade porque nos Ama à mesma, mas não me parece muito honesto pedir um favor a Deus, se não estamos dispostos a aproximarmo-nos dEle.
Pensei melhor e percebi que quando achamos que conseguimos algo, essa capacidade nem sempre é nossa. Daí, por vezes realizações fácies se tornarem difíceis e cheias de obstáculos e realizações difíceis se tornarem admiravelmente fáceis ao ponto de reconhecemos que por nós mesmos não teríamos essa possibilidade, o que nos obriga a olhar para Aquele que foi/é capaz de o realizar. Quando eu dizia, faça assim, faça assado, a responsabilidade era colocada na sua execução, mas a minha vontade provinha de Deus. Então a sua vontade não será menor do que a minha. E se Deus é capaz de tudo realizar é necessário pedir-lhe sempre e mais. A reforçar-me isto, abri hoje um texto de Santa Teresinha que me lembrou esta tua exposição. O texto é grande…: “ Num dia em que pensava no que podia fazer para salvar as almas, uma palavra do Evangelho deu-me uma viva luz. Outrora Jesus dizia aos seus discípulos, mostrando-lhes os campos de trigo maduros: “levantai os olhos e vede como os campos já estão loiros para ser ceifados”, e um pouco mãos tarde:” Na verdade, a messe é grande e o número dos trabalhadores é pequeno; pedi pois ao dono da messe que envie operários”.
Que mistério!... Não é Jesus Todo-Poderoso? As criaturas não são d’Aquele que as fez? Porquê pois Jesus diz: “Pedi ao dono da messe que envie trabalhadores? Porquê?... Ah, é que Jesus tem por nós um amor tão incompreensível que quer que tomemos parte com Ele na salvação das almas. Ele não quer fazer nada sem nós. O Criador do Universo espera a oração de uma pobre pequena alma para salvar as outras almas resgatadas como ela pelo preço de todo o Seu sangue.
A nossa vocação não é ir ceifar nos campos de trigo maduros. Jesus não nos diz:”baixai os olhos, olhai os campos maduros. Jesus diz: “baixai os olhos, olhai os campos e ide ceifar”. A nossa missão é ainda mais sublime. Eis as palavras do nosso Jesus:”Levantai os olhos e vede”. Vede como no meu Céu há lugares vazios, toca-vos a vós enchê-los, sois os meus Moisés orando no monte, pedi-Me trabalhadores e Eu enviá-los-ei, não espero senão uma oração, um suspiro do vosso coração!... (Eu consigo vê-la adaptada a situação do texto).
O bruno disse que "este é um sacramento em que temos de ser nós a "tomar a iniciativa", isto é, somos nós que temos de abrir o coração e a alma a um padre (em vez de ser o padre a dizer-nos o que temos de fazer), somos nós que temos de refletir sobre a nossa conduta, etc." No entanto sendo Deus que toma sempre ou quase sempre a iniciativa tb o sacerdote muitas vezes a toma em Seu nome. Ou Ele a toma por seu intermédio.
Mandei-te um mail com o link para criares o formulário para os contactos, não sei se chegaste a ler. Eu criei hoje no separador contacta-me no meu blogue, se quiseres ver, acho que era dentro deste género que pretendias também no teu, ou não?
Não tenho tido tempo para isso e, depois, quem quiser contactar-me tem meu mail à disposição...
Mas muito obrigada pela preocupação
Boa tarde!
"Lá mais para a Páscoa"
Reflexo de uma falta de conhecimento da doutrina de Cristo, numa comunidade que provavelmente até cumpre todas as formalidades da igreja católica.
"...que andamos nós a fazer?..."
Também eu me questiono desta forma, o que andei eu a fazer ao longo destes anos.
Fábula do mendigo quase cego e pedinte...
Fiz um espantalho de farrapos velhos
Que tinha no sótão.
Pu-lo prantado à entrada da porta da rua.
Veio o carteiro de mota
E o saco bem cheio de cartas e notas.
Olhou para ele.
Sorriu. Torceu o nariz e andou.
Veio a padeira, vermelhusca,
De canasta à cabeça.
– Minha nossa senhora!
- Temos o fim do mundo, mesmo à porta!
Veio um padre,
Vestido de preto
E sapato em verniz a brilhar,
Pisando no chão.
Olhou o macaco.
Fez uma cruz do tamanho do braço
E partiu orando ao céu.
Veio um ferreiro sardento
E carroça de burro,
Com a forja em brasa.
Fitou o boneco, dos pés à cabeça.
Tirou-lhe o boné
E continuou o caminho.
Mas o burro malhado,
Piscando seus olhos redondo,
Zurrou profundo
E descarregou um montão de excremento.
Veio um pedinte-mendigo,
Quase cego dos olhos,
De cabeleira comprida,
Coberto de manta sem cor
E um saco de serapilheira vazio.
Parou confundido
Diante da porta.
– olá, meu irmão
Que passaste a noite
Gelado ao frio, sozinho,
Toma um pedaço do manto
E cobre ao menos o peito,
Enquanto teu dono não chega
E te abre a porta...
Mafra, 19 de Setembro de 2013
16h12m
um grande abraço de penitência...
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