quinta-feira, setembro 26, 2013

Cristãos de funerais que não acreditam

Andavam na vindima, e nas vindimas há tempo para todas as conversas. Uma senhora querida, que vai sempre à missa e até faz parte do grupo dos cantores, aproveitou a ocasião para evangelizar, que é assim que os cristãos autênticos deveriam fazer. São palavras dela, que eu assumo, mas para as quais prefiro usar a expressão Testemunhar a Fé. Mas foi em vão, contou-me ela. Só faltou enxovalharem-me. Estava lá um senhor de bigode, aqui da terra, que nunca vem à missa, e que me disse assim. Vossemecê julga que por ir à missa e cantar na missa vai para o céu? Vai tanto como eu, porque não há céu. E ela que lhe respondeu com outra pergunta. Então se não há céu, que foste fazer à missa do funeral do teu irmão? E o senhor, com uma mão nos cachos e outra a alisar o bigode, não tardou com a resposta na ponta da língua. Tem razão, e olhe que não fui lá fazer nada. E depois é o que se vê, senhor padre, disse-me ela no final da missa. Eu contei as pessoas que cá vieram, e só estávamos oito pessoas na missa.

16 comentários:

Anónimo disse...

"se não há céu, que foste fazer à missa do funeral"
Pois é nem a morte escapa ao cinismo das pessoas.

Bartolomeu disse...

Padre, se Maomé não vai à montanha... que tal ir o padre de vez em quando, ajudar a vindima?
É que; o gajo do bigode, à dama de sacristia, respondeu-lhe assim. Mas, e se a conversa tivesse sido directamente com o padre? A gente do campo que conheço muito bem, está habituada a saber o tempo e a conhecer-lhe o corpo pelos sinais, as sementeiras e as mondas, do resto, entender pouco e o escuro da noite assim como as sombras que o fogo da lareira lhes projecta nas paredes, leva-os a acreditar nas superstições. Por isso, precisam de um padre, um homem como eles, mas que seja "tu cá, tu lá" com o Criador. Alguém que possua autoridade (ia escrever eclesiástica mas opto por, cristã) para os guiar no caminho da fé, ensinando-os a acreditar tanto naquilo que vêem, como naquilo que os corações lhes ditam.
;)

Anónimo disse...

Pois até para testemunhar a fé é preciso saber. Nem todos sabem, mesmo querendo muito. Por muito boas intenções que não coloco em causa a frase da senhora não foi das melhoras para o objectivo pretendido. O homem também não seria dos mais sensíveis, no entanto, quando se fala ao coração de alguém só uma pedra muito fria não cede. Pelo menos este homem tinha tempo para ouvir e responder. Para mim, missas com pouca gente o principal responsável é o padre.

Unknown disse...

Olá Padre, é verdade que a maior parte das vezes o funeral é católico ou por uma questão de tradição ou até mesmo porque há poucas hipóteses de o velório se realizar num local que não a Igreja.
Porém, também na evangelização é necessário escolher o momento adequado para o fazer, pois, de outra forma, poderá ter o resultado contrário.
Nos funerais, tal como em outras manifestações como, por exemplo, baptizados e casamentos, a grande maioria das pessoas realiza-os por questões sociais ou de tradição o que leva a que os participantes também o façam pelas mesmas razões havendo,pois, uma certa dose de hipocrisia.
Mas, não se trata apenas de uma situação actual, pois desde sempre assim tem acontecido.
Um abraço
Ruth

Anónimo disse...

Não entendo porque este post nao tem comentários! Será que as pessoas andam nas vindimas, ou o padre foi ajustar contas com o do bigode?
Agora a sério, este assunto é comum em Portugal, pois há quem se diga cristão e não ponha os pés na missa e há quem não tenha fé e vá lá...

Confessionário disse...

olá, amigo/a anónimo/a de 28 Setembro, 2013 21:41
eu estava ausente, e por isso não aprovei coments... sorry. Mas estou a pensar em falar com o senhor de bigode, que não sei bem quem é, porque há lá mais que um homem de bigode... lol, estou a brincar

Confessionário disse...

Acho que é essa mesmo a questão, Ruth.

Confessionário disse...

Anónimo/a de 27 Setembro, 2013 23:21

O padre é um dos responsáveis, mas não sei será o principal ou se será sempre o principal. Atenção que não estou a tentar justufucar-me. Mas posso esclarecer uma realidade que já vivi, que é ter no mesmo dia uma paróquia com a Igreja a abarrotar e outra com poucas pessoas!
Mas claro que a forma de ser do padre pode ajudar ou complicar!

Anónimo disse...

Mas que hipocrisia…?? Acaso está escrito que aquele que participa de um funeral tem de ser católico? Tem de crer em Deus? Ele vai para se despedir da pessoa e apoiar os familiares. Cada um vai pelas razões que quer. Muitos moralismos, pouca bondade.

Anónimo disse...

Se há sítios onde naturalmente haverá mais frequência, há outros onde haverá maior necessidade de uma intervenção mais activa. A postura não abrange somente a forma de ser, estar ou fazer do padre. Trata-se de um conjunto articulado de todas elas. É isso que penso diferenciar e fazer um bom sacerdote. O esforço é sempre único para cada situação, não é um formulário aplicável a todas as pessoas, que se espera que resulte e se não resulta, mede-se simplesmente o resultado por outro sucesso (exp. outra paróquia). É uma avaliação errada, mas a única para por exemplo padres que apenas se limitam a celebrar a missa à hora certa, sem qualquer trabalho extra. Ora se a missa é feita para as pessoas, as pessoas são tão importantes que a missa. Logo o padre tem essa missão.

Moçambicano disse...

Olá, Caro Amigo P.e Confessionário.
Olá a Tod@s.

Antes de mais, penso que o "Anónimo de 28 Setembro, 2013 22:46" tem uma certa razão: não deveríamos talvez misturar a fé de cada um e as razões pelas quais participa num funeral. Uma Pessoa pode não ser crente (e até pode ter razões para ter deixado de o ser), e isso não significa que não tem valores - nomeadamente o da solidariedade.

Obviamente, no caso retratado, o "senhor do bigode" foi ao funeral do irmão por por uma questão de tradição, porque "assim é que parece bem". Mas certamente não será o único a fazê-lo, e neste "saco" poderemos "enfiar" também alguns "frequentadores de missa" - vão, por tradição.

Este "Post" tem alguma ligação com o anterior - "Três formas de lidar com a morte".

Eu sei que, Graças a Deus, o nosso Amigo P.e Confessionário "sentiu"/"sente" aquilo que disse à Viúva:
"Ou encaramos a força do caminho de rosto descoberto, com a naturalidade que brota da Fé, e que nos faz viver ainda mais a beleza desta vida que passa e desta vida que permanece."

Mas ele também sabe que eu sei (e não sou o único a saber) que nem todos os Padres, Bispos, Cardeais, ... pensam assim.
Uns, possuem (presumo) uma bagagem teológico-espiritual tão "avançada" que o "comum dos mortais" - que carrega tantas vezes a custo a sua cruz -, não os consegue "acompanhar". Para eles, a "vida eterna" é algo que se vive já nesta vida, mesmo que seja um calvário infernal.
Outros, pelo desencanto a que as desilusões da vida por vezes conduz, procuram esconder o melhor que podem a sua falta, ou as suas crises de fé, tentando compensar o peso do seu "público" celibato (por vezes estéril) com outras "fraquezas", bem mais desumanizadoras.

Perante estes "evangelizadores", não é de admirar que no/na "comum dos mortais" vá sendo cada vez mais difusa uma descrença em "Verdades Fundamentais da Fé" como a Ressurreição de Cristo, primícia da nossa, ou o Amor Criador e Re-Criador de Deus Pai-Mãe, que nos criou para ser Felizes, agora e para sempre. Daqui à descrença na existência de Deus, "vai um passo".

Como seria Bom que em toda a Igreja Católica se fizesse eco das palavras do Papa Francisco, na sua recente Entrevista à "Civiltà Cattolica" (pode ler-se on-line no site da Broteria), em que ele vê a Igreja como um "Hospital de Campanha depois de uma Batalha"...

Cristãos convictos (não fanáticos)e misericordiosos - Consagrados/as e Leigos/as -, precisam-se!

Um forte abraço a Tod@s.

Moçambicano.

Moçambicano disse...

Algumas palavras de Um Pensador que sabe duvidar e de UM CRENTE QUE SABE CONFIAR.

" A Igreja? Um hospital de campanha…

Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de todo o resto. Curar as feridas, curar as feridas… E é necessário começar do básico.

A Igreja por vezes encerrou-se em pequenas coisas, em pequenos preceitos. O mais importante, no entanto, é o primeiro anúncio: “Jesus Cristo te salvou". E os sacerdotes da Igreja devem ser, acima de tudo, sacerdotes de misericórdia. O confessor, por exemplo, corre sempre o risco de ser ou demasiado rigorista ou demasiado laxista. Nenhum dos dois é misericordioso, porque nenhum dos dois toma verdadeiramente a seu cargo a pessoa. O rigorista lava as mãos porque remete-o para o mandamento. O laxista lava as mãos dizendo simplesmente “isto não é pecado” ou coisas semelhantes. As pessoas têm de ser acompanhadas, as feridas têm de ser curadas.

Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora. Os sacerdotes devem ser misericordiosos, tomar conta das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, anima o seu próximo. Isto é Evangelho puro. Deus é maior que o pecado. As reformas organizativas e estruturais são secundárias, isto é, vêm depois. A primeira reforma deve ser a da atitude. Os sacerdotes do Evangelho devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas, de saber dialogar e mesmo de descer às suas noites, na sua escuridão, sem perder-se. O povo de Deus quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado. Os bispos, em particular, devem ser capazes de suportar com paciência os passos de Deus no seu povo, de tal modo que ninguém fique para trás, mas também para acompanhar o rebanho que tem o faro para encontrar novos caminhos.

Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fez, às vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem.". (Papa Francisco)

Serão estas palavras escutadas?

Um Abraço a Tod@s.

Moçambicano

Anónimo disse...

"Será que as pessoas andam nas vindimas, ou o padre foi ajustar contas com o do bigode? "
Pensei o mesmo :) , só que não tive a coragem de o escrever.

Anónimo disse...

Gostei muito dos seus comentários Moçambicano. Concordo.

Moçambicano disse...

E porque é mais fácil "ver um cisco no olho do outro do que um argueiro no nosso", eu pecador me reconheço nesta "Inquietação" de José António Pagola:

"¿Somos creyentes?

esús les había repetido en diversas ocasiones: “¡Qué pequeña es vuestra fe!”. Los discípulos no protestan. Saben que tiene razón. Llevan bastante tiempo junto a él. Lo ven entregado totalmente al Proyecto de Dios; solo piensa en hacer el bien; solo vive para hacer la vida de todos más digna y más humana. ¿Lo podrán seguir hasta el final?

Según Lucas, en un momento determinado, los discípulos le dicen a Jesús: “Auméntanos la fe”. Sienten que su fe es pequeña y débil. Necesitan confiar más en Dios y creer más en Jesús. No le entienden muy bien, pero no le discuten. Hacen justamente lo más importante: pedirle ayuda para que haga crecer su fe.

La crisis religiosa de nuestros días no respeta ni si quiera a los practicantes. Nosotros hablamos de creyentes y no creyentes, como si fueran dos grupos bien definidos: unos tienen fe, otros no. En realidad, no es así. Casi siempre, en el corazón humano hay, a la vez, un creyente y un no creyente. Por eso, también los que nos llamamos “cristianos” nos hemos de preguntar: ¿Somos realmente creyentes? ¿Quién es Dios para nosotros? ¿Lo amamos? ¿Es él quien dirige nuestra vida?"

(continua...)

Moçambicano disse...

continuação:

"La fe puede debilitarse en nosotros sin que nunca nos haya asaltado una duda. Si no la cuidamos, puede irse diluyendo poco a poco en nuestro interior para quedar reducida sencillamente a una costumbre que no nos atrevemos a abandonar por si acaso. Distraídos por mil cosas, ya no acertamos a comunicarnos con Dios. Vivimos prácticamente sin él.

¿Qué podemos hacer? En realidad, no se necesitan grandes cosas. Es inútil que nos hagamos propósitos extraordinarios pues seguramente no los vamos a cumplir. Lo primero es rezar como aquel desconocido que un día se acercó a Jesús y le dijo: “Creo, Señor, pero ven en ayuda de mi incredulidad”. Es bueno repetirlas con corazón sencillo. Dios nos entiende. El despertará nuestra fe.

No hemos de hablar con Dios como si estuviera fuera de nosotros. Está dentro. Lo mejor es cerrar los ojos y quedarnos en silencio para sentir y acoger su Presencia. Tampoco nos hemos de entretener en pensar en él, como si estuviera solo en nuestra cabeza. Está en lo íntimo de nuestro ser. Lo hemos de buscar en nuestro corazón.

Lo importante es insistir hasta tener una primera experiencia, aunque sea pobre, aunque solo dure unos instantes. Si un día percibimos que no estamos solos en la vida, si captamos que somos amados por Dios sin merecerlo, todo cambiará. No importa que hayamos vivido olvidados de él. Creer en Dios, es, antes que nada, confiar en el amor que nos tiene."

Crer em Deus é, antes de mais, Confiar no Amor que (Ele) nos tem...

Fácil de dizer, difícil de fazer, sobretudo nestes tempos em que a Desconfiança é "Rainha".
Ajudemo-nos mutuamene.

Um forte Abraço a Tod@s.

Moçambicano