Oito andores à minha frente cheios de flores, pesados. Um mar de gente por todos os lados com roupas novas e óculos de sol. Está calor. Vou debaixo do pálio. Mas o calor insiste em entrar por debaixo da sombra, por debaixo da alva e da estola. Uma banda filarmónica faz por abafar o barulho que a multidão faz. É festa. A festa de um santo que agora não me lembra, porque são muitos os santos que vão nos andores. É festa porque o barulho é de festa. A multidão ri, conversa como se estivesse na rua e está, atende telemóveis, faz da procissão uma feira de pessoas que no aparato da coisa esquece que uma procissão não é bem uma feira. São assim as nossas festas religiosas. E ali vai um padre atrás de oito andores…
Se queres ser tu a decidir o rumo desta história, então o "(in)completa 3" é para ti. Tens oportunidade de imaginar o final do texto e seres o seu autor. O melhor final será publicado como post. As regras são simples:
- Para participar, deves enviar o teu texto como "coment"
- deves dar um nome ao texto (com maiúsculas)
- deves repetir a última frase na íntegra, retirando as reticências.
- deves assinar no final, mesmo que seja com pseudónimo
- deves esforçar-te por não alongar muito o texto (no máximo 600 caracteres, isto é, cerca de 125 palavras)
- deves respeitar o espírito e personalidade do "Confessionário dum Padre"
- se o texto for, de alguma forma, abusivo, não será publicado
- podes participar com o máximo de 3 textos
N.B. Também poderás comentar nos coments os textos dos participantes.
24 comentários:
Bom dia!
"imaginar o final do texto e seres o seu autor.", bem que me sinto tentada mas como a minha imaginação está um pouco abalada não o farei.
Não lhe daria um final feliz para os homens.
"E ali vai um padre atrás de oito andores… " Confessionário, esta expressão arrancou-me um sorriso, é como quem diz mas que remédio eu tenho senão ir atrás desta gente toda ou imagino a expressão do seu rosto que traduziria mais ou menos "mas que faço eu aqui no meio desta gente que parece não ter consciência do que é ou do que deveria ser uma procissão.
Gostei muito deste post.
PR
Confessionário, permita-me copiar o seu texto até "oito andores…" e publicá-lo no facebook sob o titulo "Desabafo de um Padre" não colocarei mais nada apenas o texto e a imagem de uma procissão.
Só o farei depois de me confirmar.
E ali vai um padre atrás de oito andores, atrás do padre, oito mil andadores e atrás destes, oito séculos de adoradores.
Juntam-se o profano e o religioso a recordar-nos que somos matéria e espírito, que marchamos e adoramos, que falamos e escutamos.
E o padre, autoridade religiosa, cumpre também ele os rituais, sofre os rigores do estio. Talvez sinta no esforço, a compensação que a penitência oferece. Talvez os passos que vai dando o igualem ainda mais aos que o antecedem e aos que o precedem, não deixando de ser a ponte que os une. Não o caminho mas o instrumento, não a certeza mas a busca, não a pessoa mas o Ser.
E prontes, padre. Terminada a procissão, cumprido o religioso, lavada a alma, que venham os "morfes" e os tintos e que a banda não se canse de tocar, cas moçoilas e os moçoilos estão mortinhos por ir dar ao pé.
;))))
… DOS FILHOS PRÓDIGOS QUE AINDA NÃO REGRESSARAM…!
“Oito andores à minha frente cheios de flores, pesados. Um mar de gente por todos os lados com roupas novas e óculos de sol. Está calor. Vou debaixo do pálio. Mas o calor insiste em entrar por debaixo da sombra, por debaixo da alva e da estola. Uma banda filarmónica faz por abafar o barulho que a multidão faz. É festa. A festa de um santo que agora não me lembra, porque são muitos os santos que vão nos andores. É festa porque o barulho é de festa. A multidão ri, conversa como se estivesse na rua e está, atende telemóveis, faz da procissão uma feira de pessoas que no aparato da coisa esquece que uma procissão não é bem uma feira. São assim as nossas festas religiosas. E ali vai um padre atrás de oito andores…”
E ali vai um padre atrás de oito andores tentando silenciar o coração que navega nas marés agitadas salpicadas de suores que lhe ensopam as humanidades, e que tentam abandonar também essa barca que corre o risco de naufragar nesses tumultos das interrogações nas ondas dos sussurros orantes que clamam por ajuda a todos os santos ali representados e também os ausentes, enquanto tenta conter esses transbordares interiores de perplexidades pelas almas que saborearam um dia a outra festa do Filho Pródigo que se reflecte em cada rosto presente, e que agora não conseguem encontrar os braços do Pai para aquietar esses ruídos da alma que se perdem no arraial da materialidade humana!
Peregrino menor
E ali vai um padre atrás de oito andores –eu padre me confesso!! o que me apetecia, muitas vezes, era, deixar-me embrenhar no perfume das verduras espalhadas pelo chão. Era fazer parte da feira. Também o cheiro a leitão ou a cabrito, acabadinhos de assar, fazem-me lembrar e até desejar uma mesa cheia de filhos, sobrinhos, irmãos, cunhadas. Mas é por pouco tempo. Muito rápido, começo a desistir. Os exageros, o vinho. No meio de tantas farturas, comida e bebida, há sempre conversas que caem mal! umas vezes aos que bebem de menos, outras vezes aos que bebem de mais (ás mulheres as conversas com vinho á mistura, quase sempre lhes caem mal , não fosse a loiça por lavar, e o mais certo era virar as costas a tanta festa). Eu Padre, solidarizo-me com as mulheres, deixo de sonhar e vou tendo certezas. O que mais gosto nas festas, nem são as procissões!! são as vésperas (o sonho de famílias reunidas, as limpezas mais profundas das casas, o cheiro a chanfana que paira no ar, o som dos gaiteiros e os primeiros foguetes que estoiram). Eu Padre, reflicto, (não importa mesmo a que santo) mas é preciso alguém que reze, para que tanta festa, comece e acabe sem zangas e reclamações de maior – em dias destes, oração, só mesmo o Padre (meio protegido), debaixo do pálio. Mas afinal a procissão até correu bem, parecia que não ia haver gente para levar tanto andor, mas vindos do café ou da missa, os andores saíram todos em procissão. Para o ano á mais. Pior ou melhor que esta, só a procissão do próximo Domingo, na terra ao lado.
SÃO MUITOS OS CONVIDADOS
E ali vai um padre atrás de oito andores, e de repente apercebo-me que falta o mais importante, Jesus não foi convidado. Como ainda estamos perto, tiro a alva e a estola, entrego-as a um dos homens que segura o pálio e vou à igreja buscar um crucifixo, aquele que me deram na comunhão para o meu quarto e que me tem acompanhado nas minhas paróquias. Volto, a procissão continuou e, sem a alva, ninguém se apercebeu que eu saí e poucos se aperceberam que voltei. São assim as nossas festas religiosas, convida-se toda a gente, mas nem sempre há tempo para convidar Deus
E ali vai o padre atrás de 8 andores,perguntando a si mesmo se é esta a melhor forma de celebrar a Fé...se não estará de alguma forma envolvido em alguma espécie de idolatria...mas continua a pensar que em tempos bíblicos de antanho a arca da aliança também era conduzida processionalmente,que é uma maneira de mostrar ,se bem que não a melhor,que não se deve ficar a crença escondida nas sacristias...e lá continuou,debaixo daquele calor arrasante atrás dos 8 andores, concluindo que há muito a fazer e a pregar para que a Fé se purifique e Jesus seja aceite como único Salvador.
O paganismo católico
E ali vai um padre atrás de oito andores. Andores, flores, roupas de Verão, óculos de sol, música de festa de aldeia, telemóveis a tocar, gente que fala, com os telemóveis, com o vizinho do lado, que grita para se fazer ouvir ou porque viu alguém conhecido ao longe.
E o padre pergunta: onde está Deus?
Difícil encontrá-Lo no meio daquela algazarra. Bem, há alegria. E Deus é alegria. Mas será aquela alegria?
Sente-se um pastor impregnado do cheiro das suas ovelhas. E isso é bom. Mas hesita quanto ao seu papel no meio deste rebanho.
E o santo. Em principio, toda aquela festa, em honra de um determinado santo, deveria ter obviamente como fim o apelo à santidade. Faz-se sentir esse apelo? Alguém ali sente algum apelo à santidade?
O padre continua a caminhar debaixo do pálio. E as pessoas a caminhar com ele. Caminham todos. E o Amor caminha com eles. É isso o mais importante.
TRADIÇÕES
E ali vai um padre atrás de oito andores a presidir a mais uma jornada etnográfica, mais um dia de festa e continuação das tradições.
É impressionante como o conjunto dos cristãos católicos se deixam absorver pela tradição e o que manifestam publicamente, não tem nada a ver (ou tem muito pouco)com o âmago da Igreja. Os santos dos andores foram exemplos (de heroísmo, de bondade, de altruísmo...), imitadores do Santo-Dos-Santos, o Jesus de Nazaré. Onde se encontra Este? A multidão parece que nem O conhece... A festa está rija, é disso que o meu povo gosta.
Cisfranco
TRADIÇÕES
E ali vai um padre atrás de oito andores a presidir a mais uma jornada etnográfica, mais um dia de continuação das tradições.
É impressionante como o conjunto dos cristãos católicos se deixam absorver pela tradição e o que manifestam não tem nada a ver (ou tem muito pouco)com o âmago da Igreja. Os santos dos andores foram exemplos (de heroísmo, de bondade ...), imitadores do santo-dos-santos, o Jesus de Nazaré. Onde se encontra Este? A multidão parece que nem O conhece... A festa está rija, é disso que o meu povo gosta.
A religião diz ao povo aquilo que ele gosta de ouvir, como os políticos...
Estive ausente, mas já cheguei e agora já podem tb deixar a vossa opinião sobre os textos que continuaram as reticências.
Ao anónimo de 18 Junho, 2013 11:36
informo nque permito. Seja por Deus...
abraço a todos e podem continuar a escrever o resto da história
"Seja por Deus..."
Perante este remate não sou capaz de o fazer.
Acho mesmo que não deveria ter tido esta ideia.
De qualquer forma obrigada.
Olá, amigo/a
Não tem mesmo problema! Eu quis dizer que se faça tudo em e por vontade de Deus!
Muito obrigada!
Fica a ligação da publicação.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=534760866586422&set=a.471066262955883.108772.100001575419073&type=1&relevant_count=1
OREMOS!
E ali vai um padre atrás de oito andores, remoendo festas e feiras, e outras dores.
Sabores de romarias, festejos, santinhos populares; ou mesmo que sejam comunhões, sermões e outras pregações; são sempre, e por todo o lado, das mesmas sinfonias, alegrias, calores, ventanias, rumores e alergias de certos paroquianos e foliões, que acabam por deixar amargos de bocas a quem a isso se expõe.
Ora bem… oremos bem. Que este mundo precisa de muitas, repetidas e fervorosas orações.
Oremos, pois, sem desfalecer, que ainda há muito caminho a percorrer.
Esqueci-me de assinar o texto...
mas como estou identificada talvez me safe! :)
Boa noite e um bom domingo( dia do Senhor).
Interessante , o texto sobre a procissão e as manifestações religiosas populares .
Gostei muito, faz-me lembrar uma canção de António L. Ribeiro (se não me engano)cantada por João Villaret «Procissão»
Não tenho comentado, mas tenho lido todos os seus texto com muito interesse,padre .
Um abraço.
Luz
E ali vai o Padre atrás de oito andores...
Estamos numa procissão, claro.
Duma das muitas romarias que se fazem uma vez no ano, aos padroeiros dessas muitas ermidas brancas, no alto dos montes do nosso País, ou a partir do adro das igrejas paroquiais.
Dominam as cores das opas e das vestes domingueiras, a estrear, das nossas gentes. Normalmente domina o sol no horizonte que ruboresce aqueles rostos tintos, novos e velhos, que transpiram alegria sadia.
Há foguetes a estralejar no céu, largando tiros que não estrondam a guerra. Mas são de festa. De alegria virgem.
Há andores ao alto, com todos os santos e Senhoras do Céu, com vestes largas e luzentes, acetinadas. Parecem cascatas de jardins em flor, das mais bonitas.
Há tapetes feitos de pétalas vivas, tão bem bordados, como arraiolos...
Há arcos erguidos, em volta ampla, duma berma à outra, tão frequentes, parecem dosséis de cor. Clamam hossanas em letras gordas de tinta, a Nosso Senhor.
Há perfumes de ervas dos rios, de tantos matizes, que até embriagam...
Há coros lindos, já tão antigos, cantam louvores...enchem os ouvidos e nunca cansam...
Há preces a Deus, em vozes uníssonas, tão bem timbradas, tão bem sentidas, que nem Ele resiste...
E há uma banda de música, com instrumentos de sopro, flamejando ao sol. Marchando certa, ao som dos tambores, bastariam eles para fazerem a festa...Tocam tão bem, como se fosse uma orquestra, mestria sem escola, melodias clássicas e modas de igreja, nos fazem vibrar.
E atrás de todos, vem um palácio de panos, de brocardo d’oiro, suspenso do céu, pelas mãos de gigantes com opas.
Ali vai o Santíssimo...o nosso Criador...irradiando a Fé e a bênção, como se fosse o sol...
Benditas sejam estas romarias todas que, pelos meses de verão, põem o povo em festa e, bem no fundo, dão sentido à vida...
Roses, 7 de Julho de 2013
6h58m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Caros amigos,
não se aflijam que ainda aqui estou. Só estou em stand By, em pausa...
E quando não estou em pausa, não me sobra tempo para o blogue.
abraços a todos...
QUEREM DAR UMA AJUDA E DIZER-ME QUE (IN)COMPLETA ESCOLHERIAM, das que já estão aqui?
Bom dia!
Fico feliz por saber que ainda está por aí.
Não nos deixe.
Os seus escritos fazem a diferença.
Para terminar esta incompleta eu escolheria a da FÁ MENOR.
PR
Olá a todos!!
Os meus votos vão, um para a Fá Menor e outro para o Joaquim Gomes...
bjinhos :)
Ali vai um padre atrás de 8 andares na sua tão própria solidão. E esquecendo-se que nem sempre está sozinho, que talvez alguém rezasse no meio do barulho, dos risos, da musica... Talvez alguém sentisse que valia a pena percorrer aquele caminho pedindo por si, pelos seus familiares e pelo mundo, a Graça, a Luz, a orientação. Talvez alguém se abstraísse o suficiente do calor, da sede e das próprias dificuldades da procissão. Afinal nao é fácil rezar numa procissão, doem os pés, transpiram as costas, cansa-se a cabeça ... E muitas vezes até se ouvem opiniões menos cristãs.
E assim o Padre continuou rezando e pedindo também para desta vez, pelo menos desta vez, não estar só.
Dulce
E ali vai um padre atrás de oito andores, a pensar: Valerá a pena fazer alguma coisa? É certo que não se trata de uma procissão de Semana Santa, nem seria de esperar aquela serenidade típica das procissões de velas; mas um pouco mais de solenidade e respeito não fariam mal a ninguém.
Talvez fosse questão de colocar o assunto na próxima assembleia pastoral. Pelo menos, ficaria o padre a saber se há alguma sintonia de pensamento.
Talvez para a próxima se marcasse um encontro com os responsáveis pelos andores. Podia ser ali no café da tia Zita. Pedia-se-lhe que fizesse uma panela de moelas e umas pataniscas. E no meio do convívio, falar-se-ia de promessas, das devoções, dos familiares que até virão de longe para ajudar a transportar os andores; e também da importância de dar bom exemplo aos que assistirem à procissão, e de manifestar de uma forma digna a fé que nos anima.
Talvez se pudesse preparar um folheto para distribuir antes da procissão. Podia descrever a história da festa, referir os santos cujas imagens serão levadas em procissão, sugerir alguma orração para fazer em privado ou em família, e deixar o convite a participar com uma atitude piedosa e respeitadora.
Talvez...
Você aprende a gostar de você,
a cuidar de você e, principalmente,
a gostar de quem também gosta de você.
A vida me ensinou ,
que amar vale em qualquer circunstancia,
em todos minutos da nossa existência.
Quando a tristeza invadir sua alma
haverá sempre alguém ,
que um Dia você plantou sementes de bondade
essas irão a seu socorro dizendo:
Hoje venho trazer rosas , que você plantou
com carinho .
Agora sou eu , que acarinho sua alma chorosa.
Deus abençoe seu final de Domingo.
Uma abençoada semana.
Beijos no coração carinhos na sua alma.
Evanir.
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