terça-feira, maio 21, 2013

Fui buscar ao baú das recordações com uma lágrima

Fui ao baú das recordações buscar uma lágrima. Vieram duas. Depois três, mas mais pequeninas. São pequenos sinais que desenham as faces, e me recordaram aqueles que o Senhor tinha para mim já lá vão dois anos. Recordei muitos dos seus rostos e a primeira lágrima veio do baú para mim, não porque esses rostos estivessem longe ou se tivessem perdido já no meu esquecimento. As segundas vieram apressadas para me recordar que as saudades são apenas formas de amar quem não está aqui ao lado, mas pode estar por dentro. As outras três vieram para me fazer sorrir, e dizer que ainda não houve um adeus, e que os que estão hoje connosco são os que amamos tanto como os que tivemos outrora. São aqueles que Deus nos deu para amar, ontem e hoje. Mas como fui ao baú, reescrevi, quase a papel químico, o que escrevera e deixara por lá, debaixo de umas mantas: Uma, duas, três lágrimas. Perco-lhes o conto. Tenho os olhos fechados, mas olho para trás. Olho para o tempo. E prefiro pensar que este partir não é senão um até já. Prefiro dar mais valor ao tempo que foi do que ao tempo em que acaba. Se me perguntassem se era o que eu queria ou desejava, eu teria sempre de honestamente responder que não, porque afectivamente o meu coração iria sempre pedir para ficar com aqueles que amo. Mas é assim a vontade de Deus. E deve ser essa a vontade que os padres devem seguir. Foi para isto que me ordenei. Para dizer Sim a Deus quando e onde Ele quisesse. Foi assim há muitos anos e espero ter forças para o fazer todos os anos da minha vida. Mas o coração aperta tanto. E queria dizer Não. Queria que as lágrimas não se soltassem. Queria recuar no tempo e fazer de conta que ainda falta um ano ou que estamos noutro tempo, noutro ano. E mesmo assim, olho o tempo e dou graças a Deus. Aliás, é esta a forma mais cristã, mais altruísta e mais honesta de ver as coisas. Mais do que ver esta situação como um fim, uma partida, é olhar para estes anos e vê-los como uma graça que Deus nos concedeu a todos, a mim e a vós. Afinal um dia em que se diz adeus não pode apagar os tantos anos em que se construiu tanta coisa bela.

12 comentários:

Teresa disse...

Numa frase padre:

É um sentimentalista nato e de grande coração...
Bjs :)

Anónimo disse...

Tenho muita dificuldade de aceitar a partida dos que amo. São pedaços de mim que abalam. Tranquiliza-me a ideia de um dia ir ter com eles.

Ana Melo disse...

(As portas estreitas de Deus Pai)

Tenho a certeza, que o não ter ficado, lhe trouxe muito mais do que lhe roubou.As boas recordações estão em si, e estão nos que ficaram também, eles/as também não o esquecem , também eles/as, de vez em quando deixam saltar uma lagrima.

Anónimo disse...

Que rico sítio que o Senhor Padre tem para guardar as lágrimas. Dentro de um baú! Quem mais se ia lembrar de uma dessas?! Eu cá sou mais precavida, guardo sempre as minhas no frigorífico, na prateleira dos ultracongelados. É a melhor maneira que há para ter sempre à mão (eu só choro em casa) lágrimas fresquinhas. E, agora, vem aí o Verão, até sabe bem. Podem-se comer sob a forma de gelados. Pessoalmente aconselho o consumo como corta-sabores, entre refeições. São ligeiramente salgadinhas, um apetite. A ultracongelação de lágrimas tem ainda outras vantagens. Impede que escorram tanto. Está também demonstrado clinicamente, que o uso e abuso destas lágrimas faz com que os olhos apresentem um aspecto desinchado e mais descansado. Ficam, por isso, muito mais apetecíveis. Mas atenção, os olhos não são para ingerir, só as lágrimas! Pelos motivos expostos, aconselho vivamente a todos os interessados este maravilhoso processo de conservação de lágrimas pelo frio. Acho que vou registar a patente. Acabei de criar um slogan: “Lacrigelo®, o choro que não derrete”. (Esta, não lhe é dirigida senhor padre, mesmo sério, mesmo sério, apenas não resisti a utilizar o seu espacinho para fazer um bocadinho de publicidade, perdoe-me!). Assim, o Senhor Padre já pode chorar à vontade, por uma módica importância! O mais que lhe pode vir acontecer é ficar triste, muito triste ou muitíssimo triste (cuidado que não há uma sem três, daí os três tristes tigres e as suas três lágrimas)! Fica ao critério. A minha recomendação ficou feita.

Ainda assim, apesar de todas as suas múltiplas vantagens, não é preferível o senhor padre viver esta vida que Deus lhe deu com sentida e exuberante alegria?! Já a sabemos tão curta (a vida)! Não seja chorão! O melhor, melhorzinho, é o Senhor Padre enxugar já essas lágrimas todas (não o faça com o papel químico, por favor!).

Por falar em papel químico… nem sabe o intenso cheiro a mofo que aqui me chegou com o (re)escrito que o Senhor Padre tirou com o dito cujo! As mantas estavam húmidas das lágrimas, com certeza… repassou! Tudo explicado! Nunca se misturam lágrimas com mantas. Isto é para o senhor padre aprender que é muito feio copiar! Novas situações impõem novas soluções! Nada se repete, sobretudo o tempo!

Ah! E, já agora, embora esteja já a exceder manifestamente o meu tempo de antena (desculpe o abuso), vou terminar com um outro conselho, este também muito importante: Senhor Padre, Senhor Padre! Acerte os ponteiros ao relógio! No meu são agora exactamente 13h38 Não vale a pena andar com ele atrasado, nem adiantado: o tempo que a gente tem é o tempo que a gente sente! Sem o relógio acertado, nunca vai acerta as agulhas à vida. Xiii! São agora desoras de almoço… Tenho mesmo que terminar. Espero não lhe ter roubado nenhum bocadinho. Inté já (se tiver tempo venho chateá-lo à hora do lanche, que o senhor padre está a precisr muito de amigos)!

PS- P.f. não se zangue comigo… estive só a pintar a manta!

Anónimo disse...

O prometido é devido, aqui estou eu, para lhe dar mais uma forcita (almocei tarde, lanchei tarde!). O senhor padre já está mais bem disposto?! Ficava mais contente! Perdi 1/3 da minha hora de almoço a tentar animá-lo! Deixe lá, comi a rir-me! Como ainda me diverti um bocado a escrever um comentário doido, saltaram-me umas lagrimazitas de mel (já agora... "LACRIMEL - as lágrimas que servem de farnel" - aproveito para afixar mais uma publicidadezita gratuita, num espaço em que se acredita). Por isso, ia eu a dizer, não rapei assim tanta fomita, foi uma happy-meal! (snif!snif!snif!).

E o senhor padre, seguiu ao menos a minha recomendaçao, ou ainda usa Lacrimex (as lágrimas que se limpam com um kleenex)?!

Sonria padre, sonria! Compreendo a sua tristeza, mas temos que chutar a bola para a frente!

PS - Já agora, vamos lá ver... na torre da igreja da minha terrinha bateram agora 19h15, o seu relógio confere?

Anónimo disse...

... Embora o tempo não esteja para graças, temos que Lhe dar graças, como muito bem diz o senhor Padre, por isso façamo-lo com algum humor!

Anónimo disse...

Vai deixar-nos Sr Padre???????????? O confessionário vai encerrar????

Confessionário disse...

Olá, para já nao tenciono fechar o "Confessionário" (para já... nunca se sabe!)

Mas tenho de ser preciso para quem lê este texto sem saber do contexto. Convido-vos a reler alguns textos de Setembro, Outubro, Novembro de 2011,data da minha saída das paróquias onde me encontrava na altura.

PR disse...

O Hoje é a "consumação" do ontem.
Verdade "as saudades são apenas formas de amar quem não está aqui ao lado", e quando a saudade se faz sentir vêm as lágrimas, e com lágrimas se expressam sentimentos que não encontram tradução fiel nas palavras.

Anónimo disse...

Comovedor, senhor padre! São raros homens, e até padres, com tantos sentimentos! Fiquei comovida.

Anónimo disse...

Já estavam devidamente guardadas num bau todas as minhas recordações. E estou a ficar cada vez, com mais e mais recordações devidamente registadas, para análise futura, por gente especializada. Nunca estamos sozinhos, nestes nossos recordares...

Anónimo disse...

Sente-se que o senhor padre neste momento está a precisar de Amigos, com letra maíscula, aqueles que prolongam o seu trabalho!
Bem-Haja por ser como é!