sexta-feira, agosto 31, 2012

Os meninos da Primeira Comunhão

Quando entrei na Igreja Paroquial para a cerimónia, os meninos da primeira comunhão estavam, como se costuma dizer sem maldade, tolinhos de todo. Ele era barulho misturado com psits. Ele era rostos com um sonoro sorriso do tamanho do mundo. Ele era um mexer para aqui e para acoli no banco, que eu pensei Onde me vim meter. Os pais ainda faziam mais ruído que os filhos. Estava toda a gente desmesuradamente entusiasmada, de tal forma que corriam o risco de deturpar a festa. No final foi mesmo essa a minha sensação. Que toda aquela gentinha, dos mais pequenos aos maiores, se perdera na socialidade da festa. Fui para casa com o rosto cansado das corridas do dia e da confusão a que me soou aquela cerimónia da Primeira Comunhão. No Domingo seguinte chamei para ao pé de mim, junto ao altar, todos os meninos que haviam feito a festa para, com mais serenidade, perceberem o mistério que tinham vivido pela primeira vez. Só estavam mais ou menos metade dos que tinham feito a festa. Gostei muito daquele momento em que fizeram perguntas, viram o interior do cálice, pegaram nele, comungaram com olhinhos de felicidade e ficaram ali ao meu lado, a experimentar Jesus tão pertinho. Mas ao mesmo tempo, dado que não estavam todos, no final da Eucaristia dei por mim a pensar com pesar no assunto. A comunhão ou a Primeira comunhão é mais um daqueles sacramentos que estão a esvaziar-se. Porém, na semana seguinte uma das catequistas mostrou-me umas folhas com umas letras terríveis para decifrar. Era a letra dos nossos meninos que respondiam ao pedido da catequista. Diz o que sentiste na tua festa da Primeira Comunhão. Corei de alegria. Entre uma série de frases menos felizes, havia estas que não resisto a transcrever literalmente, sem critérios. Quando entrei na igreja senti que Jesus me foi acompanhando até ao banco e sentou-se ao meu lado. Quando comunguei, senti que Jesus me estava a abraçar com toda a força dele. Quando comunguei senti-me feliz e senti que Jesus entrou no meu corpo. Quando comunguei Jesus entrou no meu coração e fez com que ele arrebentasse de alegria e fiquei muito mais leve. Quando acabei de comungar nunca mais me senti sozinha. Quando comunguei pela primeira vez senti que Jesus cresceu no meu coração. Fui comungar e senti que a partir daquele momento iria seguir Jesus. Fui comungar e senti o meu coração aos pulos. O meu coração ficou gigante.
Não há palavras para descrever neste preciso minuto o tamanho do coração deste pobre padre que, de vez quando, se cansa com o esvaziar dos sacramentos e se esquece que Deus é ainda maior que os sacramentos.

13 comentários:

Peregrino disse...

Já vi e percebi que tenho que orar mais por ti Irmão Padre…. Nem é tanto pelas tuas dores de coração pelo que vais aqui partilhando, acredita nem é… há muito que aprendi que a obra é de Deus… por isso, andeca… olhar em frente e fazer o melhor que podemos e como podemos…

…mas a minha oração agora é mais pelo que ai vem…. acho melhor preparares o coração porque Deus tem coisas muito fortes para ti… vá lá, não te assustes... confia e caminha… não foi Ele que disse que estaria connosco até ao fim dos tempos… então… prepara a lenha e o forno porque não tarda muito e sairá bom e delicioso pão dessa fornada que o Espírito Santo tem para te servir à Mesa da Comunhão com todos que caminham por aí…

Que o SENHOR te abençoe e te guarde; faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda a graça; que o SENHOR volte para ti o seu rosto e te dê a Paz.

Confessionário disse...

Não te percebi, amigo Peregrino! Não, não... Será bom? Será mau? Que será?

Anónimo disse...

Fiquei tão feliz! Mesmo FELIZ! Lança as sementes e descansa:)

F.

Anónimo disse...

Eheheheh

Sorriso de orelha a orelha... e sabe porquê, não sabe?

O Pai Celeste precisa de "si", mas no entanto é Ele mesmo, quem tudo faz!

A ideia de levar os "piquenos" para junto de si, marcá-los-à de forma positiva. Jesus, era tão próximo dos pecadores... sentava-se à mesa com eles, porque há tantos a colocá-LO tão distante?

Que N. Senhor o continue a abençoar!

Saudações fraternas.

Ana Melo disse...

"pegaram nele, comungaram com olhinhos de felicidade e ficaram ali ao meu lado, a experimentar Jesus tão pertinho"

Que dizer! por muitas fases que todos passemos , à ternuras que nunca se apagam.

Joana disse...

Amei :D

Joana disse...

Este sim... ternurento!!!

Caminhei em regresso ao passado...
Bons e saudosos momentos!!!

Bjs :)

Anónimo disse...

Olá conf!

Gostei desse teu coraçãozinho gigante.
Aposto que te esqueceste de todos os outros porquês.
São esses momentos que tornam a vida de um sacerdote tão especial.

Um abrajinho.
Alexandra

Rosa disse...

Sem palavras...Amei de todo o coração.
O Confessionário Lança a semente, Deus fará crescer o fruto segundo a SUA Vontade,ELE está dentro de nós sempre atuando.
Amei,mesmo muito.

Anónimo disse...

Bom dia!
Hoje não me apetece trabalhar, não é por preguiça.
Entrei aqui na desportiva para entreter a mente, nunca pensei é que fosse o coração a ficar deliciado com "...viram o interior do cálice, pegaram nele, comungaram com olhinhos de felicidade e ficaram ali ao meu lado, a experimentar Jesus tão pertinho. ..."
Padre seja lá quem for, você é de facto especial para DEUS, na forma como transmite a PALAVRA ao Homem.
Com este Post fez-me lembrar a minha primeira comunhão... eu era uma criança do meio rural, humildemente vestida, para não dizer mal vestida... mas estava "emocionada".
Lá na aldeia cada mãe fazia questão de que fosse o seu filho/filha a sobressair pela beleza do que levavam vestido.
Sei que no final da Eucaristia o padre, um homem já com muita idade, pegou em mim ao colo, talvez por ser a mais frágil, a mais pequena, a mais leve... disse-me que o Amigo que tinha acabado de "comungar" era um Amigo para toda a vida e abraçou-me.
Há pormenores que esqueceram mas este gesto ficou.
Não sou uma cristã exemplar, mas o que faço faço-o em verdade e em união de Espirito com Aquele que desde muito cedo me fala ao coração.
Ah! Quando comunguei "...Quando comunguei, senti que Jesus me estava a abraçar com toda a força dele. ..."

Obrigada Padre Muito obrigada por este magnifico post.

Permita-me ainda que lhe diga que os sacramento jamais se esvaziarão de significado para aqueles que tiverem verdadeiramente Jesus no coração e também para aqueles que tendo Jesus no coração, tiverem a sorte de se cruzar com sacerdotes como o confessionário.

Gostava de lhe poder deixar uma foto com a expressão do meu filho depois de comungar,(é impossivel)mas a mim (que sou suspeita) parece-me que o rostinho dele irradia uma LUZ branco azulada, uma LUZ divina.

Ao chamar aqueles pequeninos ao altar, estava a semear no coração deles e de todos os que assistiram à cerimónia, a semente de mudança, aquela mudança que a igreja católiva terá que operar em si mesma, se quiser continuar a ser portadora da mensagem de Jesus Cristo, a mudança que começa de "dentro para fora".
Muita Força para si confessionário.


Porthos disse...

Meu caro:

Se te pudéssemos atribuir estrelas pela forma como esses mais pequenos expressaram o sentir... o firmamento não chegava!

Descansaste-nos das desinquietudes [p/ o Peregrino] do post anterior.

Aquele abraço.

D. R. disse...

Lindo... <3

Anónimo disse...

Caro Padre
Ao ler o seu post, não pude deixar de recordar o dia da minha 1ª Comunhão. Dado que meu pai era ateu e minha mãe não praticante, esse dia foi como que o culminar de uma vitória que obtive, já com 12 anos e através da aula de "Religião e Moral"; senti-me feliz e conversei e prometi muito a Jesus mas, no dia seguinte (domingo), foi com tristeza que percebi que nada tinha mudado. E, assim foi, durante alguns meses. Consegui, no entanto, a inscrição na catequese paroquial, em Outubro seguinte, e continuar o percurso habitual da época, não obstante a resistência de meu pai; consegui, entretanto, interiorizar que meu pai, afinal, estava a ser coerente com os seus princípios. Fui catequista durante alguns anos e aí, sim, senti que, muitas vezes, nem as crianças interiorizaram, ou não lhes foi conseguido transmitir pelos catequistas, os valores
inerentes e as famílias, na sua maioria, encaram os sacramentos como uma etapa da vida, como qualquer outra e com a devida comemoração social. Porém, eram tempos em que havia um maior distanciamento entre os fiéis e os sacerdotes e em que era impensável uma atitude de proximidade como a que teve. Por certo, muitos coraçõezinhos ficaram mais próximos de Jesus e terão, talvez, continuado o percurso desejado.
Que o seu coração inquieto continue a encontrar as soluções para o esvaziar de sacramentos.
Um abraço
Anónimo