quarta-feira, novembro 30, 2011

O andar que não sabe para onde anda

O carro anda de um lado para o outro. Eu faço o mesmo. Dentro e fora do carro. Ando de um lado para o outro. Dentro e fora de mim. E as pessoas. As pessoas andam de um lado para o outro. Todos andam, como se caminhar fosse a essência de quem não quer ficar parado. Na vida, no tempo, na história. Nas nossas histórias. Nas vidas que a nossa história tece. A vida começa de manhã e descansa pela noite. E deambula todo o dia numa busca de fazer o que tem de ser feito. Os trabalhos, as refeições, as relações, as horas de estar em pé. As pausas para o aroma do café e para uma ida à casa das intimidades. E tudo anda. E se te sentares num banco do jardim a olhar um ponto fixo do horizonte, provarás que o ponto está lá, mas tudo mexe à sua volta. Porque a vida não pára e nada pára. Olha depois em redor e conta cada passo de cada transeunte. Não param os passos nem as pessoas que olhas discretamente. Toda a vida rola. E chega o final do dia da vida e perguntamos. Porque é que não pensámos antes que a vida é muito mais que este andar de um lado para o outro? E porque é que não definimos que o caminhar é sempre um caminhar nalgum sentido maior? E hoje, que ainda é só de noite, pois ainda não veio o fim do dia da minha vida, deixai que pergunte ao Senhor que é o meu Deus. Porquê? E repito. Porquê, meu Deus? Porque é que o mundo anda tanto e não sabe para onde anda?

17 comentários:

maria disse...

Olá, moço.

parece-me que não é um bom ponto de vista, colocarmo-nos "acima" ou "de "fora" do mundo. Se é que acreditamos que na presença do divino em toda a realidade. Por mais obscura que aos nossos olhos julgadores possa parecer. Não estou a dizer que não existem sombras. Mas também reconheço que os nossos olhos são bem capazes de nos criar ilusões. E como precisamos delas para continuarmos vivos e mentalmente saudáveis.

Se quiseres dar uma espreitadela a esta reflexão do Padre Vitor Gonçalves...:

http://www.ecclesia.pt/cgi-bin/comentario.pl?id=549

Beijinho

Anónimo disse...

Tenho saudades de esse andar com Sentido!

Pois para mim, neste momento já nada faz sentido e a minha vida perdeu todo e qualquer significado.

Também eu ando sem saber para onde vou e também eu me pergunto, porquê meu Deus? Porque te afastas-Te de mim, ou será que fui eu que me afastei de Ti?

Porquê?! Não sei!
Não Te consigo ouvir...

Rosa disse...

A vida,é um andar de um lado para o outro, fazendo tanta coisa, que nem nos apercebemos,é preciso que toda essa correria nos leve ao essencial, que é praticar o bem ,para que ao longo do tempo se verifique que todos trabalhamos numa comunidade, ajudando a construir e não a destruir.Quando nós estamos nalgum sitio onde se pode observar todo o vai e vem, é que nós nos apercebemos que também fazemos parte, do andar,sem saber para onde andar.

Anónimo disse...

Olá Conf.

Gostei destes pensamentos!
Fizeram-me bem, e tambem me fizeram lembrar de outros momentos que eu parei de andar, e apenas olhei o andar dos outros.
Lembro-me de um em especial. Sei que era verão, não sei qual o mês. Levantei-me com as galinhas e fui para a varanda. Não imaginas os bons dias que dei,não imaginas o que eu imaginei da vida daqueles que passavam na rua.
Hás vezes nós temos tanta necessidade de parar... temos tanta necessidade de sabermos para onde vamos...

Um abraço, ALEXANDRA

Anónimo disse...

Ahah! Padre, esta é pra si.
Maritimo - 2
Benfica - 1
Adeeuus taça de Portugal, temos pena eheheh.
Abraço

Confessionário disse...

Por isso mesmo é que andamos sem saber para onde... hehe

Anónimo disse...

O mundo tem leis que o fazem andar para um determinado sentido. As pessoas nascem preparadas para seguirem esse sentido , mas ao serem educadas pelo medo e pelas leis dos homens que não são iguais para todos, ficam confusas e perdem-se sem sentido neste mundo !
A sociedade actualmente é um campo de concentração sem paredes , com muitas estradas e caminhos minados, onde o sofrimento e a dor são impostos.

Vitor

Anónimo disse...

Você pode não saber para onde anda, pois é tipico dos benfiquistas, ahah
Eu cá sei para onde ando, para a vitória!
Spooorting sempre!
Padre a inveja não é um pecado capital? hehehe

Joana disse...

Concordo consigo!
Eu propria muitas vezes caminho sem saber para onde.
Principalmente nesta época natalicia. Em que existe uma correria nos centros comerciais, esquecendo o que é essencial.
Todos temos consciência disso, mas continuamos a consumir e a deixar de lado o verdadeiro significado do Natal.
Em tom de brincadeira, vou pegar na sua anedota, a vaca e o burro foram levados, mas o esencial do presépio está lá, o menino. Portanto o presépio não devia ser cancelado, mas sim exaltado, pois afinal fica Quem realmente importa.
Mas damos tanta importancia aos outros figurantes, que sufocamos e esquecemos a figura principal.
Contra mim falo.
Mas, como alterar esta forma de pensar e agir, nós humanos, somos animais de hábitos, como alterar e mudar ideias que estão "entranhadas" há tantos anos na nossa sociedade, em nós mesmos?
É dificil, todos temos consciencia que está mal, mas é dificil mudar, não temos a força e vontade necessárias para tal.
Mas...
Também penso que apesar de dificil, não é impossivel.
Este ano vou tentar, vou começar por mim, irei alterar alguns maus hábitos, talvez aos poucos, se consiga caminhar sabendo para onde :)
bjinhos
Joana

Anónimo disse...

É uma grande verdade padre! Quantas vezes pensamos nos passos que damos, onde nos levam, para onde queremos ir, para onde devemos ir. A resposta é para mim apenas uma, ir ao encontro de Jesus! Mas o pior nisto tudo é que não sei a direcção a seguir. E agora indo um pouco atras, a um dos post anteriores, era aqui neste sentido da vida de cada um, que devia entrar o sacerdote, aquele que foi chamado por Deus, e melhor nos poderia orientar. Falo por mim, sinto essa necessidade, de ter um orientador, mas não me atrevo a procurá-lo. Falta-me a confiança, e os meus medos, receios ou outros, nao quero que sejam os alvos de risotas ou mesmo anedotas que vão sendo contadas como os de outros que por confiarem ficam expostos. Perdoe-me padre, acredito que há padres íntegros, mas os que conheço, ou não conheço, penso que sao padres por profissão. Quando lhes coloco uma questão, é tatada como uma banalidad, a que não devo dar importancia. Fico triste com tal prepotencia. É pena, porque nem são felizes, nem desenvolvem correctamente o que lhes foi confiado. Cumpimentos e gostava de um dia dizer, que o padre é um verdadeiro representante de Cristo

Porthos disse...

Caro Padre:

E se o próprio andar for, muitas vezes, a finalidade, já que o medo do inanimismo obriga a tal?

Olha, pelo menos a mim 80% do meu tempo serve para andar de uma lado para o outro... às vezes só por andar... Os restantes 20% são passados a tentar que os restantes 80% tenham sentido para mim, primeiro e para os me rodeiam, depois. E é nestes 20% que sinto dedo invisível de Deus a unir todas as pontas soltas e todos os pedaços de realidade que a mim me escapam...

Abraço.

Anónimo disse...

Fomos criados para viver ,mas não tem sido assim que as Civilizações o têm feito,desde que o homem começou a evoluir.Hoje em dia as pessoas são escravas de uma sociedade consumista.Para manter um certo equilibrio é preciso desertar de vez em quando,se fosse possível preferia ter vivido na pré-história...rsrrs(Alma Rebelde)

Anónimo disse...

A minha vidinha anda assim meia para o desbotado. Hoje é um daqueles dias sem cor. Isto é só uma fase, digo eu, há já vários dias. Ando à espera que passe. Parada. Zanguei-me com a minha vidinha, e ela deu nisto, a fresca. Não tem razão nenhuma. A culpa é dela. Primeiro, andava sempre atrasada, fartei-me de esperar por ela. Depois, a mal agradecida, disparou à minha frente, em correria louca (sei lá eu em direcção a quê!) e deu-se ares de querer mandar em mim. Os desaguisados entre nós começaram precisamente neste ponto, devido às nossas diferentes velocidades e às minhas frequentes insubmissões. Mas não foi só. Como não gosto de diminutivos, nunca quis ter apenas uma “vidinha”. Não é que tenha a mania das grandezas, porque não tenho, por exemplo, também não gosto de superlativos, nunca sonhei em ter uma “Vidona”. Mas duma “Vida”, com “V” maiúsculo não prescindo. Inclusive, quanto a isto, bato o pé. Por isso, comecei a pensar onde é que podia arranjar uma “Vida” nova, boa e em conta, que aquela já não dava para mim.
(continua)

Anónimo disse...

(Continuação)
Fui ao melhor armazém das Vidas ver o que por lá havia. O homem das Vidas novas, boas e em conta, perguntou-me de chofre, “Que tipo de Vida é que quer?”, porque como eu já sabia, há umas vidas mais aceleradas e outras mais atrasadas, umas com o nariz mais empinado e com a mania que mandam e outras mas doces e obedientes. Eu disse-lhe que queria uma Vida que andasse sempre a meu lado, e não atrás e à frente, nem uma vida que se pusesse a mandar em mim, ele acenou que sim com a cabeça e depois perguntou-me: “E que modelo de Vida é que quer?”, é que ao que parece também há umas vidas para viver mais sozinhas e outras para viver mais acompanhadas, vim para casa pensar no assunto, que para mim é dilema de difícil resolução, pois embora não me dê muito com a solidão, até gosto de vidas sozinhas. Ainda assim, cheguei à conclusão que queria uma vida das mais acompanhadas, para não ter outra vez uma vidinha, e disse-o ao homem das vidas, então, ele desta vez perguntou-me: “Para onde é que vai com a Vida?”, não é que também há umas vidas que vão em direcção à luz, outras à meia-luz, outras à sombra, e outras à escuridão total? Bolas! Esta é brava! Saber o fim à partida! Para despachar logo ali o assunto, ainda lhe disse que estava disposta a levar a vida comigo para todo o lado onde eu fosse, mas o estupor disse logo que não passava garantia a uma Vida que não soubesse exactamente para onde ia. E as vidas, mesmo as mais em conta, ainda são caras! Fui lá outra vez, no dia seguinte, e disse-lhe que queria uma Vida para ir em direcção à Luz, ainda que tivesse que atravessar algumas sombras e sítios escuros (não ia gastar um dinheirão numa vida fotossensível!), então ele perguntou-me: “E qual é o caminho?”, é que ainda há umas vidas com mais pedalada para fazer ziguezague e outros com mais endurance para fazer sobe-e-desce. Ufa! Esta do caminho eu sabia! Suspirei de alívio, que já estava farta daquilo, de andar de um lado para o outro, a pensar por causa duma Vida que até queria simples, e disse logo alto e bom som toda segura de mim: Quero uma “Vida” nova, boa, em conta, que ande sempre ao meu lado, que não mande em mim, para viver mais acompanhada, em direcção à luz… que siga por um caminho fácil, sempre a direito! O homem berrou: “NÃO TENHO!” e virou-me imediatamente as costas. Vim para casa, com o rabo entre as pernas, ter com a minha “vidinha” de sempre, com quem também estou de costas voltadas. Nunca mais voltei ao homem das vidas. Mas agora já sei que para ter a Vida que quero, tenho que dar corda aos pés e seguir por um caminho difícil, que se faz nem sempre direito. Mas a verdade, é que ainda não dei sequer um só passo em frente. Falta de pedalada para a empreitada. Assim, de mal com a vidinha e sem Vida, estou com a vida a andar completamente parada. Apesar de parada, oiço e sinto trepidação deste forte e constante chocalhar por dentro, a gritar: sua cobarde, AVANÇA!

Confessionário disse...

Última anónima, gosto muita da forma como escreves...

Anónimo disse...

Nunca escrevo. Excepto aqui, porque os teus textos são óptimos e dão excelentes contracenas!
Abraço

Confessionário disse...

Fico contente, então... e aptece-me dizer Lol