segunda-feira, janeiro 17, 2011

A cama

Ontem levei para a cama a Arminda, uma empregada lá do Centro que tem problemas graves de saúde e dependência. Anteontem levei o João e a Alexandra que se zangaram e querem deixar de namorar sem isso acontecer. No dia anterior levara a Diana que continua com aquela doença e teve uma recaída. No outro dia foi aquela catequista que não quer mais dar catequese pois não se entende com a outra catequista. E no outro foi a zeladora que se insinuou para aqueloutra. Nesse mesmo dia também levei os mordomos da festa de Santa Eufémia que querem de uma maneira e eu preciso de outra. Já houve um ou dois dias que levei o Bispo comigo. Agora que penso, já o levei mais vezes. Porque não me ouviu. Porque me calou. Porque não me lembro agora. Não quero. Reconheço que também já levei Jesus. Porém levei-o não para me sossegar, mas para lhe perguntar coisas, desânimos, situações. Durmo só. Mas é raro o dia que não leve mais alguém comigo para a cama. Alguém que não me deixa dormir logo. Alguém que prolonga a minha vida de olhos fechados. Alguém que faz meu coração palpitar porque não sabe como resolver aquilo que precisava ser resolvido, mas não é fácil. Queria entregar tanta coisa a Deus. Leva-os Tu contigo. Leva-os para a Tua cama. E mesmo que leve, não dou conta, porque as pessoas continuam a ir comigo e a fazer com que me sinta um instrumento de Deus que não sabe como usar as suas forças. São quase duas horas. Vou-me deitar. Ainda não descobri quem levarei hoje. Mas pressinto que é outra vez a Arminda.

15 comentários:

Canela disse...

Ser pai/mãe, é levar continuamente os seus filhos "para a cama", dentro do seu coração!

Beijinho fraterno.

Ab imo corde disse...

Postagem sensível.

Anónimo disse...

Uma mulher levou à igreja duas velas acesas: pôs uma na imagem de S. Miguel e a outra na imagem do Diabo. Vendo aquilo, o padre repreendeu-a:
— Que está fazendo, mulher? Não vê que é ao Diabo que está alumiando?
— Pois que importa, senhor padre? É bom ter amigos em cima e em baixo, porque não sabemos aonde iremos parar!

Anónimo disse...

Olá Confessionário!
Este post está fantástico de humano que é!...Deus Te abençoe.
Desculpa. Não quero perturbar. Não resisto a deixar aqui mais esta. Muito inocente. Para dispor bem...antes de ires prà cama com a bênçao do Cunhado!...


Numa igreja, onde havia um presépio, uns garotos estavam a admirá-lo. Em dado momento, o mais pequeno partiu um boneco. O padre perguntou quem o tinha partido, mas todos se calaram, até que o mais pequeno diz:
— Fui eu, senhor prior.
— Então tens que pagar o boneco — diz o padre.
— Mas eu não tenho dinheiro.
O padre: Não faz mal. Paga o teu pai.
— Mas eu não tenho pai.
O padre: Pois paga a tua mãe.
O garoto: Mas eu também não tenho mãe.
O padre: Então tu andas só, cá neste mundo?
— Tenho uma irmã.
O padre: Então paga a tua irmã.
— Ela não tem dinheiro! Ela é freira.
O padre: Não é freira que se diz; diz-se esposa de Cristo.
O garoto: Então o meu cunhado que pague.

JS disse...

Bem, o segredo é saber desligar. Não é fácil. Às vezes é mesmo impossível. E há o risco de se cair no outro lado, na insensibilidade. Mas só assim se consegue sobreviver para um outro dia de trabalho e serviço.

É mesmo de entregar nas mãos de Deus essas dores e aflições enquanto se descansa um pouco. De manhã retomar-se-ão. E normalmente, tudo parecerá um pouco melhor.

Mafalda disse...

Querido Padre, que bom saber que se preocupa, que nos leva consigo mesmo quando se vai deitar.
Deixo-lhe um texto do P. Tolentino Mendonça que responde a algumas das nossas questões:
«A vida, Senhor, é um mistério tão grande!Porque há o tempo?Por que existimos nós?Por que se ama? Por que se chora?Por que há a noite e o dia , o silêncio e o som?Porque buscamos todos coisas que não encontramos? Diante do enigma da vida, tantas questões permanecerão sem resposta!E contudo,Senhor, sei que ressoa em mim, desde sempre, a presença do Teu amor.Antes que tudo fosse, Tu eras.Desde sempre me viste.Escutaste os meus primeiros balbúcios como se fossem palavras.E ainda hoje, quando o meu ser continua o caminho da sua maturação, com que desvelo me proteges, com que esperança Tu embalas o meu coração.» Abraço, querido amigo.E continue sempre aí!
Mafalda

Th.M. disse...

Numa perspectiva meramente profissional, diria que deves acautelar-te com o «Síndrome de Burnout».

Do ponto de vista da tua vocação de Padre dedicado ao povo que te foi confiado, digo-te: cuida-te em dormir bem e continua na dedicação a quem se confia à tua competência de coração com inteligência.

E o teu Bispo paciente contigo, te oiça, não te mande calar, e seja para ti uma boa memória capaz de te suscitar a vontade de o recordar também nas noites em que te deitas com a solidão.

Agradecido, acompanho-te!

Anónimo disse...

Pe.partilho consigo este artigo do Nuno, e ao mesmo tempo é uma homenagem ao jovem de 39 anos que faleceu brutalmente num acidente...e já agora antes de se deitar faça uma limpeza mental e deixe-se envolver pelo Manto Maternal de Nossa Senhora para o embalar no sono...
Surpresas
Hoje estive a pensar sobre o que são as surpresas…
Os dicionários, na generalidade dizem, antes de mais que é um nome feminino, e depois que pode ser: um acto ou efeito de surpreender; aquilo que surpreende; espanto; sobressalto ou perturbação; facto imprevisto; prazer inesperado.
Na verdade, não anulando todas estas definições, mas ordenando as mesmas, podemos dividir as surpresas em boas e más.
Claro que todos gostamos das boas e até sorrimos perante estas. Neste caso não há nada mais a dizer, o estado de êxtase é tanto que nem precisamos de saber mais nada, nem o porquê. Dispensamos qualquer tipo de justificação para tal.
E as más? Como é que reagimos nos casos de problemas e adversidades da vida, e num expoente máximo, como é que encaramos o grande mistério da morte? Sorrimos ou ficamos atemorizados?
A verdade é que a vida é sempre feita de grandes surpresas, que passam por situações de grandes mistérios, de grandes incógnitas, de grandes dilemas, de grandes opções, de grandes decisões, de tudo menos do que estávamos à espera.
Uma surpresa é isso mesmo, algo que não esperávamos. Quando é boa, é boa, mas quando é má começa a toar na nossa cabeça
Porquê eu? Porquê a mim? Porque é que foste tu?
A verdade é que devemos sempre aceitar nas nossas vidas o bom e o mau. O bom dispensa apresentações e comentários. O mau é uma grande provação quando de facto aceitamos tamanha surpresa.
Poderia enumerar uma série de casos, bons e maus aleatoriamente, surpresos: uma gravidez “fora de época”; um emprego; a morte de um ente querido; um casamento; uma doença; um aniversário; e assim sucessivamente.
Quase a finalizar, vou deixar aqui um poema que o grande amigo Luís Roque partilhou num grupo da rede social facebook, em homenagem ao sempiterno amigo Zé Vieira (02.09.1971 - 11.01.2011) e que demonstra que nunca conseguimos viver tudo aquilo que desejaríamos viver …

“Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas que eu pensava que nunca me fossem decepcionar,
mas também decepcionei alguém.
Já abracei para proteger, já sorri quando não podia,
fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas.
Já chorei ao ouvir músicas e a ver fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
apaixonei-me por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tantas saudades
e tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder)!
Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida...
e tu também não deverias passar.
Vive!!!
Bom mesmo é ir a luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é MUITO para ser insignificante ”.

In memoriam de todos aqueles nossos (meus e teus que agora lês) que já partiram, familiares e/ou amigos.
Seguindo a linha, que já partilhei convosco, de aceitar as coisas menos boas da/na vida, essa é a grande provação humana no plano Divino.
E passa precisamente por aceitarmos a morte e sorrirmos com e pelos que já partiram…porque das duas uma: ou não sabiam ser, estar e agir em sociedade, ou eram tão bons que o seu testemunho e mensagem estavam transmitidos e Deus quis chamá-los de novo a Si.
Com surpresas boas ou más sorriam sempre, pois mesmo os que partem não gostam de vos ver senão com esse semblante sorridente.
A minha vontade é de continuar a escrever este post mas não sei até onde me levaria. Agora, mesmo para finalizar, partilho uma frase de um conterrâneo, que tem duas filhas com algumas anomalias e dificuldades: “estas filhas que eu tenho, foi desígnio de Deus, para me ‘testar’ até que ponto eu era capaz de amar”. Grande frase e grande homem que raramente se vê caído.

laureana silva disse...

Meu querido amigo o seu texto, tal como de outras vezes deixa-nos sorrir e leva-nos a reflectir sobre o amor a Deus e ao próximo.
Gostei de o ler e como sempre fiquei a pensar.
Mas hoje às duas da manhã por favor...não leve ninguém, eheheh.
Abraço fraterno em Cristo.
Maria

laureana silva disse...

Apesar de já ter deixado o meu post, em geito de acréscimo ao que disse o último penitente, direi que conheço muito bem alguém que tem, não um, não dois, mas três filhos com uma doença mental grave.
Essa pessoa acha que foi a maneira que o Senhor arranjou para a pôr à prova todos os dias da sua vida.
Paz e bem!
Maria

Teodora disse...

ó padre

quando comecei a lê-lo...que susto, padre! credo, afinal esta criatura dos meus sonhos, ser oculto, homem que eu sempre imaginei não passar de um platónico e que não padeceria dos males do corpo envolvido em semelhante longametragem!

é pró cumbibio, num é padre?!

Teodora disse...

e outra coisa padre

já comprou “No tengas miedo al sexo” do seu colega capuchinho Ksawery Knotz?

Finalmente alguém mais habilitado do que eu defende o meu ponto de vista.

Sabe padre eu e o meu manel tínhamos uma relação muito física mas também muito metafísica. quero eu dizer que quando na parte metafísica eu verbalizava que há algo de divino no sexo ele dizia-me sempre: ó mulher não metas Deus nestas coisas! e eu argumentava ó manel... e ele por fim resignava-se e terminava com um pronoto tábém!

note-se que o meu manel, embora fosse um homem das engenharias e com maior apetencia para os números, pertencia aquele geração que sendo homem dos números dominava muito bem as letras, as palavras e o pensamento.

quando ele me levava para a cama - mas só ia eu e ele, que pouca vergonha essa de irem às ordas para a cama! - e do mais fundo declarava (muitas coisas sendo o que interessa para aqui) que algo de superior fez com que estivessemos juntos. tinha de ser... uma história que quem sabe se resolverá numa outras reencarnação... ele era algo místico, mas orgasmo com Deus ele nunca achou. ... era um homem conservador, daí a dificuldade de ver Deus num orgasmo... é padre... desculpe se algum dos seus penintentes se sentir abalrroado com esta minha "penitência" mas a vida tem destas coisas. ainda bem que tem! foi Deus foi Deus e também háde voltar a ser, se Deus quiser!

pronto padre, agora tenho de ir desligar a máquina do pão. acabei de fazer um pão de cereais e a máquina não para de apitar!

Anónimo disse...

há gente na igreja que apoia invasão da europa (e até já dizem interculturalidade em vez de multiculturalismo) :


«A Igreja Católica pediu hoje ao Governo para não recuar no II Plano de Integração de Imigrantes e reclamou uma “atenção permanente” aos problemas dos estrangeiros que vivem em Portugal.

“Importa não recuar na aposta interministerial do Plano de Integração de Imigrantes em curso, na atenção permanente a novos problemas entre a população imigrante, como idosos indocumentados e abandonados e a promoção da diversidade e da interculturalidade”, lê-se nas conclusões do XI Encontro de Formação de Agentes Sócio Pastorais das Migrações, que hoje terminou em Fátima.

O documento, que considera “exemplar” para outros países da União Europeia a política nacional de acolhimento e integração de imigrantes, sublinha, contudo, que a chegada das primeiras vagas de imigrantes a Portugal “nem sempre encontrou projectos de acolhimento e integração estáveis e adequados às suas características”.

O texto final do encontro, que discutiu “a primeira década de uma nova era nas migrações”, alerta ainda que “os imigrantes também são vítimas da crise económica e social”, que os coloca “em situação de maior vulnerabilidade” e expostos “a tensões sociais nos países de acolhimento pela crescente procura de todos os postos de trabalho”.

Prometendo dar “particular atenção aos imigrantes destituídos de direitos” e procurar “garantir protecção social para todos, sobretudo os que, por causa da perda do emprego, vêem a sua situação de regularidade ameaçada”, os participantes comprometem-se ainda a promover a interculturalidade, cumprindo o desafio “primeiro” do acolhimento: “Conhecer o outro sem generalizar conceitos ou preconceitos”.

O documento adverte igualmente que “os fluxos migratórios não são suficientes para resolver o problema português do rejuvenescimento da população e das lacunas no mercado de trabalho”.

Embora reconhecendo que os imigrantes assumem “um importante papel de ajustamento demográfico”, as conclusões deste encontro sublinham que o equilíbrio demográfico deve resultar de “políticas públicas e privadas de protecção à família e incentivo à natalidade, a acontecer num quadro de transformação de valores colectivos e comportamentos pessoais”.

O encontro, que reuniu cerca de uma centena de pessoas, foi uma organização da Agência Ecclesia, Cáritas Portuguesa e Obra Católica Portuguesa de Migrações.»

http://www.publico.pt/Sociedade/imigracao-igreja-catolica-pede-ao-governo-para-nao-recuar-no-plano-de-integracao_1475537

Anónimo disse...

ó anónimo [20 Janeiro, 2011 18:54], porque não rezas por essa causa? ou então leva-a para a "cama".

Joana ;) disse...

Outro texto que me dá novamente razão!
Obrigada por tudo...
Bjs