quinta-feira, novembro 04, 2010

Água benta

Ó padre, deixei cair o meu frasquinho de água benta e agora preciso que me dê alguma. Pedia com lágrimas nos olhos e o rosto envolvido pelas minhas mãos. Para que precisa dela? Perguntei. Olhe que não é para bruxarias. É que já me caiu um pedaço da chaminé e eu não queria que caísse mais. Ande lá, senhor prior. Preciso dessa aguinha em minha casa para Deus me abençoar o lar. A senhora Carma, que é viúva há quase trinta anos e mora sozinha no cimo da paróquia, fez-me lembrar a Carina. A Carina era uma jovem que tinha muitas dores de barriga e se queixava imenso delas. A gente dava-lhe um copo com açúcar dissolvido. E a coisa passava.

22 comentários:

Anónimo disse...

Esse é o lado da fé que quase roça a superstição...
Não me espanta que ainda se trate a água - benta como um amuleto...
Mas se por um lado pode denunciar uma relação estranha com o Criador, por outro lado, também é demonstrativa do temor e do reconhecimento do poder de Deus...
Para essa senhora, o frasquinho de água-benta é como ter o Senhor em sua casa para lhe segurar a chaminé...
Mas afinal, Ele não era carpinteiro?

Abraço
Zu

carla santos disse...

Ha ha ha engraçada essa historia Padre.
As pessoas de idade sao mesmo assim!A fe delas é muito grande,entao para que a chaminé nao lhe caia ela precisa de água benta em casa,para se sentir protegida por Deus.A lá muitas dessa na paroquia do meu padrinho.Acho imensa piada.Que Deus lhe dê força e sabedoria

carla santos disse...

O video do Sr sem mãos e sem pés esta extraordinário,comoveu-me imenso.bjs

Anónimo disse...

Já viste que a revista sábado andou a vasculhar o teu blog para fazer um artigo??? É de valor! Admiro-te muito pela pessoa que és. Vitor Sousa, priest

rafael disse...

Parabens pelo blog

Anónimo disse...

Gostava de partilhar, e pedir o comentário do confessionário, que durante toda a minha infância andei com um fio onde tinha uma chave e não percebia o porquê. Perguntava vezes consecutivas o porquê à minha mãe e ela só me ordenava que nunca a tirasse "Não a podes tirar para nada" Na escola começaram a perguntavam-me a razão e eu não sabia explicar e quando interprelava a minha mãe, ela simplesmente dizia para não tirar. Na adolescência tirei-a e, passado alguns meses, a minha mãe descobriu que eu já não a tinha. Disse-me que eu não sabia o que estava a fazer e que podia ser muito mau o que tinha feito. Disse-me que eu era suspectivel a espiritos, que tinha a morada aberta, e que sem a chave estava desprotegida. Ainda hoje adulta, penso muitas vezes se não fiz mal e quando passo alguns episodios piores penso se não estou desprotegida. Afinal qual o valor daquele objecto que um padre me colocou ao pescoço? Superstição?

Confessionário disse...

Olá, última anónima

Eu sou muito céptico em relação a muitas coisas. Essa é uma delas. Pode haver motivos, como são os afectivos ou que fazem denotar algumas ligações, é óbvio. Quando dás um fio a alguém, ele tem um significado para ti. Mas não significa que signifique algo para a fé. Se usas um fio com uma cruz isso tb pode ter um significado para ti e para a tua fé. Mas o que te pode proteger é a tua fé e não a cruz do teu fio. Quando ligamos um sinal a algo que tenha a ver com superstições (embora não lhe chamemos isso), para mim não passam disso.

Ainda há umas duas horas se atravessou um gato preto na minha frente quando ia para o meu carro. E não significou nada para mim. Provavelmente para muitas pessoas significaria.

Percebes??? se calhar posso nao me ter feito entender bem! Mas se quisres que te explique melhor ou se quiseres tb expor melhor essa tua situação, diz.

Eu não daria muita importância ao facto. As coisas não acontecem por causa de uma chave que se traz ou não ao pescoço. Acredito em milagres. Acredito que Deus nos protege. Mas não me parece que uma chave nos protejá Só Ele.

JS disse...

Caro Confessionário:

Penso que com a referência à Carina estás a tentar descrever o efeito placebo. Não é exactamente a mesma coisa que se passa com a senhora Carma, em quem está implícita uma certa atitude mágica, de quem vê a agua benta como um amuleto e não propriamente no seu significado de sacramental.

JS disse...

Partilho uma história contada e comentada por Tony de Mello.

Dizia ele: "O homem está sozinho e perdido neste vasto universo. E com ele estão os seus temores.
uma boa religião torna-o destemido. Uma má religião aumenta-lhe o medo que já tem".

E conta: "Certa mãe não conseguia que o filho voltasse para casa antes do pôr-do-sol.
Resolve meter-lhe um susto dizendo que o caminho que ele fazia no regresso a casa, ficava cheio de assombrações, depois que o sol se punha.
Após esta ameaça, o problema acabou: antes de o sol se pôr, já o filho estava em casa.

Mas com a idade, ele ficou medroso; temia tanto o escuro da noite, as almas do outro mundo ou pesadelos, que, após o entardecer, já não saía de casa.
Então, a mãe deu-lhe uma linda medalha e disse que, enquanto ele a usasse no peito, as almas e assombrações não lhe fariam mal.

Agora o rapaz sai de casa, mesmo à noite, mas sai sempre com a medalha apertada ao peito".

Comentário final: "Uma religião má reforça a sua fé apenas na medalha. Uma boa religião convence-o de que não existem fantasmas".

concha disse...

Pois é Confessionário.Tenho a certeza que se perguntasse na igreja quem era supersticioso, a grande maioria diria que não, nem pensar.No entanto a realidade é que a grande maioria no dia a dia tem atitudes ou usa objectos como protecção.Porque é que se confia tão pouco em Deus,mesmo se se acredita nos milagres de Fátima e outros?Afinal nós catóilicos acreditamos em quê?
Um abraço

Teodora disse...

eu ainda era adolescente. numa tarde de inverno, estava eu à janela com o meu pai, ambos em silêncio. o meu pai falava muito pouco, mas quando falava era sempre num tom afetuoso e gentil. ambos observávamos a forma elegante e segura com que um gato passeava no beiral dum telhado, quando o meu pai perguntou-me se eu sabia por que o gato nunca caía abaixo dos muros e telhados. eu respondi-lhe que o gato tinha muito bom equilíbrio. o meu pai corrigiu-me dizendo que a verdadeira razão era nunca pensar que poderia cair.

Anónimo disse...

Ola Confessionario:Achei muita piada a este texto,mas fiquei a pensar naquela parte "olhe que nao e para bruxarias" porque se ha coisa que me choca e ver em pleno sec.XXI pessoas que ate participam habitualmente na Eucaristia,recorrerem ate com alguma frequencia a "bruxas"e "adivinhos". Costumo lembrar a essas pessoas que a Cruz e parte integrante da vida do cristao.Porque me parace que quando a vida lhes corre bem sao de Deus porque Ele e amigo,quando faz pesar a cruz entao vao a correr pra bruxa que as livre do peso,a seu ver injusto,da mesma cruz.Creio que se resolveriam muitas destas crendices se houvesse da parte de Igreja mais espaços de debate sobre estes e outros temas.

JS disse...

Ser-se cristão é um processo de conversão permanente, o que implica também uma catequese permanente.

O desconforto, ou reprovação, que possa gerar uma atitude como a relatada, e a intenção que lhe subjaz, não deverá ser extendido à própria pessoa em causa. O seu sofrimento e angústia são verdadeiros e merecem todo o respeito, por muito ilógico ou irracional que seja o medo que lhe deu origem. Infelizmente, a crítica da superstição acaba por ser também (ou é sentida como) uma desvalorização do sofrimento por que a pessoa está a passar; o que acaba por espoletar uma reacção negativa e bastas vezes agressiva.

A luta não é, pois, contra a superstição, mas contra os medos que a alimentam. E este é um trabalho onde tem de reinar a paciência.

Concretamente, de pouco valeria negar à pessoa um pouco de água-benta. O mais certo é ela ficar revoltada e ir procurar outros padres até que tenha obtido o que pretende. Ou então ir "roubar" água benta às pias da igreja, o que costuma levar depois muitos senhores padres a mandar retirar a água das pias e a fazer algumas críticas públicas, e que nada resolvem.

Eu, pessoalmente, sugeria que a pessoa fosse atendida com cordialidade. E que se lhe desse, junto com a água benta, uma folhita com o salmo 27: "O Senhor é minha luz e salvação", ou com aquele poema "Se me envolve a noite escura". O azar é se a pessoa não sabe ler...

Anónimo disse...

Hoje a religião ou se aprofunda ou se superficializa... As pessoas querem "milagres" fáceis e rápidos. A Fé é aceitação! Convicção e Compromisso. A água benta é sinal... mas muito mais há para realizarmos! Um abraço
www.milagresleiria.com

JS disse...

Já agora, não se confunda a água benta com a dita "água milagrosa", que tem que ver com o lugar donde é proveniente (Lourdes, Fátima, rio Jordão...) ou a que se atribui propriedades (pseudo) científicas medicinais...

Eu.. disse...

Que emporta se a agua e milagrosa ou nao??

Se a fazia sentir mais protegida...ou mais perto de Deus...porque nao?

=)

JS disse...

Também não deixa de ser curioso como há tanta gente que faz pouco caso deste tipo de crendices, que se associa à prática da religião, e, vai-se a ver, são os primeiros a encomendar a "pulseira do equilíbrio" e outras coisas no mesmo género...

JS disse...

Ó Eu.., a questão não está propriamente no "porque não?", tipo "o que não mata, engorda".

Usar a água benta da forma como foi relatado é como comprar um carro para se abrigar da chuva.
É desconhecer (ou não reconhecer) todo um conjunto de potencialidades muito mais valiosas associadas a esse instrumento.

Maria Teresa disse...

http://www.tradicaoemfoco.com/

Moisés Sampaio disse...

Belo blog...
Faz falta muita formação ás pessoas, junto com a Água Benta que "não é para bruxarias", o Padre poderia também dar o contacto de alguém que pudesse arranjar a chaminé á senhora...

Abraço
Moisés Sampaio
sampaio.1982@hotmail.com

Anónimo disse...

Triste um padre que não acredita mais nos sacramentais.

Confessionário disse...

Vai uma grande distância, infelizmente, entre o valor das coisas em si, e a forma como elas são usadas, caro anónimo de 17 Junho, 2011 23:07