Veja o que me aconteceu, padre. Os seus olhos estavam vermelhos. Notava-se que tinha estado a chorar. Vinha da Capela do Santíssimo. Tenho de contar-lhe, padre. Sentámo-nos. Tentei esconder a minha preocupação. Trata-se de uma mulher sofrida. Viúva. Nova. Trabalhadora. Imaginei o pior. Com este estado do país bem poderia ter perdido o emprego. Ontem a Sara fez anos, padre. A Sara tem oito anitos. Ainda conheceu o pai, mas já não se lembra das suas feições porque ele partiu há mais de cinco. O que terá feito desta vez a Sara, perguntei-me. Era minha acólita. Apesar de irrequieta, está sempre atenta na missa. Não é propriamente uma garota desvairada.
A história que a mãe contou começou há uns meses. À noite a Sara costuma ajoelhar-se à beira da cama para falar com Jesus. Aprendeu na missa que rezar é falar com o Jesus que se ama. Eu costumo dizer que rezar é um diálogo de amor entre dois namorados, nós e Deus. Uma conversa que pode ser com palavras feitas, com frases comuns e com olhares. Ela optava por simplesmente falar. Contava a mãe que a Sara queria uma bicicleta. Como ela não podia comprar-lha, decidira pedir a quem fosse mais poderoso que a mãe, isto é, Jesus. A mãe tinha-a apanhado a pedir a Jesus que lhe oferecesse uma bicicleta no dia de anos. E contava-me que lhe tinha faltado a coragem para a demover do pedido. Depois notou que a conversa era quase sempre a mesma todas as noites e começou a ficar preocupada. E ontem, padre, ontem não houve bicicleta. Eu bem tentei poupar. Mas não houve. E à noite lá estava ela de bruços sobre a cama. Eu pensei que ela chorava. Abeirei-me, afaguei-lhe a cabeça e perguntei: Estás zangada com Jesus por Ele não te ter respondido, minha filha? E sabe que respondeu ela? Disse-me que não e que Ele lhe tinha respondido. Que lhe tinha dito que não. Que não podia dar-lhe a bicicleta. Fiquei perdida, padre. Já agradeci a Deus. Não agradeci a bicicleta que ela queria, mas a filha que me deu. Tinha de contar-lhe isto, porque tinha de o contar a alguém e a alguém que me percebesse, que percebesse a minha alegria. Afinal o padre está sempre a dizer que é bom pedir na oração, mas que esta não deve ser um negócio com Deus. De facto é bom pedir, porque significa reconhecer as nossas limitações, os nossos limites e confiar n’Aquele a quem pedimos. Mas não podem ser fórmulas mágicas de compra e negócio com Deus. E eu que pensava vir por aí mais um problema para resolver, recebi uma alegria para me encher de Deus. Depois que a mãe me deixou e logo que tive oportunidade, dei um beijo enorme e repenicado à Sarita, que estava por ali perto a tratar da sua alva.
A história que a mãe contou começou há uns meses. À noite a Sara costuma ajoelhar-se à beira da cama para falar com Jesus. Aprendeu na missa que rezar é falar com o Jesus que se ama. Eu costumo dizer que rezar é um diálogo de amor entre dois namorados, nós e Deus. Uma conversa que pode ser com palavras feitas, com frases comuns e com olhares. Ela optava por simplesmente falar. Contava a mãe que a Sara queria uma bicicleta. Como ela não podia comprar-lha, decidira pedir a quem fosse mais poderoso que a mãe, isto é, Jesus. A mãe tinha-a apanhado a pedir a Jesus que lhe oferecesse uma bicicleta no dia de anos. E contava-me que lhe tinha faltado a coragem para a demover do pedido. Depois notou que a conversa era quase sempre a mesma todas as noites e começou a ficar preocupada. E ontem, padre, ontem não houve bicicleta. Eu bem tentei poupar. Mas não houve. E à noite lá estava ela de bruços sobre a cama. Eu pensei que ela chorava. Abeirei-me, afaguei-lhe a cabeça e perguntei: Estás zangada com Jesus por Ele não te ter respondido, minha filha? E sabe que respondeu ela? Disse-me que não e que Ele lhe tinha respondido. Que lhe tinha dito que não. Que não podia dar-lhe a bicicleta. Fiquei perdida, padre. Já agradeci a Deus. Não agradeci a bicicleta que ela queria, mas a filha que me deu. Tinha de contar-lhe isto, porque tinha de o contar a alguém e a alguém que me percebesse, que percebesse a minha alegria. Afinal o padre está sempre a dizer que é bom pedir na oração, mas que esta não deve ser um negócio com Deus. De facto é bom pedir, porque significa reconhecer as nossas limitações, os nossos limites e confiar n’Aquele a quem pedimos. Mas não podem ser fórmulas mágicas de compra e negócio com Deus. E eu que pensava vir por aí mais um problema para resolver, recebi uma alegria para me encher de Deus. Depois que a mãe me deixou e logo que tive oportunidade, dei um beijo enorme e repenicado à Sarita, que estava por ali perto a tratar da sua alva.
37 comentários:
Olá, amigos.
Regressei do retiro. O copo encheu-se de novo. Reconheço que devia fazer isto mais vezes durante o ano.
Quanto à MJG, continua em coma, umas vezes com melhores sinais vitais, outras vezes com piores. Vamos com calma, como Deus gosta que sintamos as Suas coisas.
Quanto à Sara, se ainda for a tempo e se assim o entender, gostaria que fosse permitida a solidariedade dos que por aqui passam para se conseguir comprar a biciclete.
Palheirense
grande relato... as vezes ele responde nos mesmo...e nós damos conta que devemos fazer a suavontade..um dia destes alguem me dizia, alguem com muitos problemas na vida : Cansei de pedir a Deus.... peço, peço e Ele nada..naao diz nada, nao responde.... n sabia k dizer..era uma pessoa que vi logo nao conhecia Deus..esperar que ele falasse????? nao.... expliquei que ele fala..por sinais, por factos..
E depois perguntei: pedes, pedes..e algum dia agradeceste por estares vivo apesar de todos os teus problemas???
Que bela lição nos deu "a pequena grande Sara". É caso para cantar de alegria dizendo (plageando Jesus Cristo): ..."Eu te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes deste mundo e as revelastes aos pequeninos"...
Abraço forte no Pai.
Obrigada Confessiorário, por tão GRANDE texto. Eu sou daqueles que passam por aqui diariamente mas nunca escrevem, mas hoje sinceramente este texto tocou-me profundamente! Como é possível nós adultos não conseguirmos ter a confiança plena em Deus? Ele que está sempre atento às nossas necessidades e aos nossos anseios e apesar de tudo só sabemos "pedir, pedir, pedir" e "exigir, exigir, exigir" quase como de uma troca comercial se tratasse - eu rezo e Tu dás-me o que pretendo.
Ainda estou sem palavras para expressar o forte sentimento que me assolou quando lia este texto. É bonito, simples e é uma ENORME CATEQUESE. Vale bem mais do que os 60 minutos que possamos estar a falar com as crianças. Esta menina claramente "já tem a missa toda" como se costuma dizer, ela sim é que nos devia "dar catequese", pelo menos para mim deu-me a catequese de hoje, obrigada Sara...
O que acham? concordam ou nem por isso?
Enfim, coisas da vida ...
(já agora tive a ousadia de colocar o teu texto no meu blog, não há problema, certo?)
Quase que chorei a ler este teu artigo, como sempre, simples mas tocante no fundo da alma. Se tivesse mais possibilidades, eu proprio mandaria o dinheiro para ela no Natal ter a bicicleta.
É por estas partilhas que este cantinho é um autêntico bebedouro. Tanto que aqui se aprende! Que esta àgua nunca nos falte e que as lágrimas que neste momento me correm pela face nunca sequem...
São de louvor a Deus.Abraço
Filó
Uma história poderosa, que deixa qualquer um sem comentários... portanto, mais vale recorrer ao que é divinamente inspirado:
"E traziam-Lhe também meninos, para que Ele lhes tocasse; e os discípulos, vendo isto, repreendiam-nos.
Mas Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a Mim os meninos, e näo os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus.
Em verdade vos digo que, qualquer que näo receber o reino de Deus como menino, näo entrará nele."
Lc 18:15-17
Como eu queria ter a fé da pequenita Sara.Não será o fruto da semente que vais semeando na tua paróquia? Obrigado por partilhar-lhes connoscos estes momentos de reflexão.Que bom sentires o copo cheio, somos tantos com sede!
Um abraço em Cristo
se eu tivesse dinheiro até lhe oferecia uma bicicleta com pedais e tudo...o padre ja fez a sua boa acção...dê-lhe uma bicicleta...mas com selim...
É incrivel que se continue a tentar falar de Deus explorando os sentimentos das pessoas. O pietismo às vezes só estraga... concorda comigo sr.Padre?
Grande lição de Fé e de vida ...
Depois da sementeira vem a colheita. O nosso problema é semearmos pouco...
Estou certa que o Deus Menino ouvirá a Sara e a bicicleta irá aparecer. Se for preciso eu colaboro com Ele:)
Parabéns aos Pais e ao Padre!
Bjs
Fá
Hoje é relamente impossível passar por aqui, conhecer a "pequena grande Sara" e não nos emocionarmos. Chorei com o texto, falou-me muito e remeteu-me direto a minha infância, lembrei-me criança ainda, minha mãe criava-nos, eu e minha irmã, com muita dificuldade e eu tb desde pequenina, entendia que não era possível a bicicleta e/ou a boneca tão sonhada...
Beijos a querida Sara e sua mãe.
... porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6:19-21).
Que bom!
Depois duma palavra dificil, soou uma facil e belissima!
Uma grande liçao para nós adultos que teimamos em não entender e escutar os designios de DEUS.
Com as crianças temos muito que aprender e por isso JESUS disse;
deixai que as criancinhas venham a MIM. EU gosto de todas elas porque são simples.
É o que eu penso, elas são um verdadeiro tesouro!
Muitas vezes nem sempre as entendemos, mas elas dão-nos grandes liçoes, e vejamos esta!!!
A proposito fez- me lembrar uns srs. que todos nós elegemos para orientar as nossas aldeias,ou cidades,
e não deixavam as crianças jogar a bola, melhor dito brincar no recinto central,onde toda a populaçao se encantava ao ver e recordar os velhos tempos,
argumentando que ali não era um campo de bola,e que estagavam as flores dos jardins.
Ora bem, uma especie de campo está situado num ermo, e nao é proprio para crianças que a tardinha depois da escola, se juntam ali para brincar.
Ainda bem que as coisas mudaram por aqui,
e felizmente que a nossa terra tambem cresceu significativamente em termos de crianças,
adoro ouvir os seus gritos alegrar as nossas populaçoes envelhecidas.
Sempre fui contra esta opressão e mantenho a a minha opinião;
AS CRIANÇAS , SÃO AS FLORES VIVAS DAS NOSSAS COMUNIDADES.
Sigamos os seus exemplos.
um abraço amigo a todos os que fazem deste espaço um lugar de evangelisaçao.
Como tudo seria diferente se houvesse muitas "pequena(s) grande(s) Sara(s)" no mundo!
bjts
A história de vida da pequena Sara tocou-me no mais fundo de mim.
Tenho "uma pequena Sara" sem mãe e o que mais peço a Deus é que Lhe dê sempra a capacidade de Agradecer o pouco que tem.
Ou seja, fazer o que por vezes eu não consigo fazer.
A pequena Sara deu-me uma grande lição, e vou aproveitá-la para a dar aos meus meninos da catequese, ainda para mais agora que nos estamos a aproximar do Natal e que o mundo é tão consumista.
No primeiro ano que estive na catequese, com um grupo do primeiro ano, havia uma menina que era mais velha do que os outros e tinha sentido de responsabilidade e postura totalmente diferente dos restantes; um dia disse á outra catequista do grupo, que falava todos os dias com Jesus e que tinha pedido: ver pais juntos; nesse ano ele fez primeira comunhão e estava felicissima, nesse dia os pais estavam juntos com ela.
nunca mais a vi na catequese, mas nunca mais a esquecerei.
existem muitas Sara's e ainda bem que assim é..
Pois é...
E têm pais que não conseguem dizer "não"!
Isso também ajudaria muito a nos educar para não negociar com Deus!
Paz & Bem!!!
Zé Luiz.
Jesus revela-se muito através das crianças.... Devíamos estar mais atentos. Rezo para que ela continue assim.
beijos em Cristo
Olá Padre, como vai? muito embora entenda que seus afastamentos deste blog se dão por razões justas/nobres/necessárias, eu, assim como a maioria dos seus penitentes(tenho certeza), sentimos muita falta deste blog, que é uma benção em nossas vidas.
Quanto á pequena Sara, ela é a prova viva (como se precissamos) de que Deus em sua imensa sabedoria e misericordia, age em nossas vidas todos os dias.Dê um grande e estalado beijo na pequenita. Abraços em Cristo para você.
Aproveito para dizer que a MJG já saiu de coma. Está a descansar. Precisa de recuperar. Mas Deus está do lado dela, de certeza. Eu sinto-o.
Tenho a certeza de que esta Sara ouviu "mesmo" a voz de Deus! Abençoada!
E dou graças por MJG estar melhor, com Deus...
Que lindo.
Muito edificante seu blog.
Que Deus o conserve assim... profundo, luz!
Oi ,
legal o seu Blog.
Temos um Blog coletivo.
Quem sabe vc visita nossa casa!
Vai aí dois textos meus: acho que o problema hoje é que muitos já tiveram suas decepções com líderes evangélicos . Eu, por exemplo, senti na pele quando enfrentei dificuldades com Vistos, grana e missões.
Abraços,
Roger
Há uns dias que me apetece comentar esta entrada. Hoje decidi-me. A história sobre a Sara fez-me recordar a catequese que nos era ensinada antigamente. Um Deus castigador,tinhamos que ser subservientes, aceitar tudo o que Deus nos mandava, não contestar nada senão eramos castigados, etc, etc.
Eu prefiro acreditar que a Sara tem perfeita consciência da situação económica da mãe e por isso teve essa reacção.
Para mim Deus torna-nos livres, independentes e decididos.
O tempo do fatalismo e da subserviência já lá vai.
Desculpem-me o meu desabafo.
Leonor
Obrigada pelas notícias sobre a MJG
Concordo com o Zé Luíz. Tantos de nós que não temos coragem de um não aos nossos filhos mesmo quando isso representa um sacrifício financeiro que muitas das vezes não conseguimos suportar. Ele é as roupas e os ténis de marca, as consolas...
Mas a pequena Sara é um exemplo de confiaça no amor do Pai. Quem sabe não se oferecia a bicicleta à menina. Deus precisa de instrumentos...de Samaritanos
Desculpem a pergunta... a resposta parece-me obvia, mas não li referância concreta de que a bicicleta esteja já com esta menina. Gostaria apenas de uma confirmação!?
Olá, caro amigo anónimo.
A resposta é Não. Ainda não tem, mas já houve quem se oferecesse por contribuir nesta situação concreta. Ando para falar com a mãe dela. Já estive quase. Mas não é assunto fácil. Não está esquecido. Mas esta gente geralmente melindra com isto. Vou tentar sem explicar como se consegue...
Um abraço e obrigado pela preocu
Diga-lhe apenas que Jesus mandou uma senhora dar-lhe a bicicleta, isso não lhe bastará?
E a Sara quererá ir escolhe-la?
Desculpe escrever novamente... não sei de que localidade é a Sara!
Olá anónimo. Isso tb seria revelar demasiado, não achas?
Na realidade padre, pareceu-me que a localidade não era superior à generosidade... queria apenas saber se era alguém de perto de Lisboa de forma a tornar viável o seu desejo tal como o havia referido. Desculpe-me se a resposta quebraria as confidencialidades.
Interior, amigo. Interior!!!
Padre, utilizei o seu texto para o meu blog, espero que não se importe!
Não importo, não. Mas qual é o seu blogue?
mariajudapt.blogspot.com
Já falei com a mãe sobre uma proposta... e dirijo-me áqueles que sabem!
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