Acercou-se a coçar barba. Olhou-me de esguelha. Tipo, não sei se é este! Mas deve ser, pelo jeito. E disse baixinho, como se não conviesse que mais alguém ouvisse: “Senhor padre, prometi uma missa em acção de graças à Senhora do Ó. Quando é que o senhor padre a podia ir lá dizer à capela?” Para entender melhor, esta capela é um local afastado da paróquia. Em primeiro lugar não sei se alguém se disponibilizaria para ir lá ouvir-me ou ver-me. Só costumo lá celebrar uma vez por ano, na altura da festa. Ele queria por força que fosse lá celebrar. Num tem uma meia horita? Não é essa a questão. Há uma pastoral organizada e um local apropriado para celebrar as eucaristias. Se fosse aceder a este tipo de pedidos, não fazia outra vida. Tinham de inventar-se muitas mais capelas!
Mas o pior é que eu não posso ser obrigado a cumprir as promessas dos outros. E disse-lhe: Então a sua promessa é para ser cumprida por mim?
Essas promessas são mesmo boas. São para os outros.
Mais grave ainda foi aquela senhora que há uns anos me veio dizer que tinha uma promessa a cumprir. Uma procissão de velas. A rir, para que também não se assustasse muito, disse-lhe: Minha senhora, pegue numa vela e comece a dar a volta à paróquia. Ela fez olhar de desconfiada. E acrescentei: Então a senhora quer que toda a paróquia cumpra a sua promessa!
Nunca gostei muito de promessas e cuido que Deus também não gostará. Porque é que não prometemos, pura e simplesmente, ser melhores?
Mas o pior é que eu não posso ser obrigado a cumprir as promessas dos outros. E disse-lhe: Então a sua promessa é para ser cumprida por mim?
Essas promessas são mesmo boas. São para os outros.
Mais grave ainda foi aquela senhora que há uns anos me veio dizer que tinha uma promessa a cumprir. Uma procissão de velas. A rir, para que também não se assustasse muito, disse-lhe: Minha senhora, pegue numa vela e comece a dar a volta à paróquia. Ela fez olhar de desconfiada. E acrescentei: Então a senhora quer que toda a paróquia cumpra a sua promessa!
Nunca gostei muito de promessas e cuido que Deus também não gostará. Porque é que não prometemos, pura e simplesmente, ser melhores?
33 comentários:
Nunca ouvi falar em Nossa Senhora do Ó ... existe?
Também não gosto de promessas...mas deve ser mais fácil faze-las do que fazer um esforço por ser uma pessoa melhor...acho eu...! Promessas nunca fiz, mas tentar ser melhor, isso sei que é dificil...tem dias que...meu Deus...é mesmo dificil!!! E nesses dias acho que era mais fácil levar umas velinhas...ora se era...!
Maria João
Eu prometo tentar ser melhor. E vou tentando. Nem sempre conseguindo.
Só para deixar um link para essa Nossa Senhora: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_do_%C3%93.
Eu tinha esta ideia, que seria assim uma Nossa Senhora grávida, mas não estava certa... Afinal tem a ver com a gravidez,sim.
Uma que a mim me faz confusão é a Nossa Senhora da Boa Morte. Devia ser a da Boa Sorte, padroeira do Euro-Milhões.
Padre, sugiro que vá ao meu blog e leia o post "O pecado em forma de gente". Para não estar aqui a repetir-me.
Agride-me. Ainda hoje me agride, essa imagem da mulher como fonte e "montra" de pecado.
Desculpe a usurpação do espaço desta caixa de comentários. É só hoje, o abuso é só hoje.
É verdade! É mais fácil "comprar" os favores de Deus, ou apaziguar a consci~encia prometendo uma simples acção exterior do que (com)prometer(-se)a seguir Aquele que Se apresenta como Caminho, Verdade e Vida!
Também costumo desafiar as pessoas com essa proposta e sei como nem sempre as pessoas entendem ou estão dispostas a essa "conversão2. Mas há que continuar pois evangelizar também passa por ajudar a acolher o verdadeiro rosto de Deus - Amor gratuito que se acolhe em liberdade e que gera uma profunda alegria: "A minha alma glorifica o Senhor, porque olhou para a sua humilde serva"...
Continuação de Santa Páscoa.
P. João Maria
Não quero ser atrevido e muito menos ferir alguma susceptibilidade, apenas ser sincero num reparo.
"Já algum tempo que teus textos me fazem crer que na realidade és evangélico".
Descobri agora este blogue - Deus o abençoe, padre, por esta presença, que nos traz A Presença!
Tentei fazer um comentário numa 'confissão' de Dezembro e não consegui... julgo que por uma questão de data. Vamos lá a ver se agora vai!
"Se não fosse pecado, deixáva-o!"
Tanto quanto me parece,não é, de facto, pecado! Mas esta mulher vai muito mais longe do que pôr-se ao abrigo do pecado: ela abraça a Cruz! Ela podia continuar a ser fiel ao marido separando-se, mas assim,ela está a ser fiel a Deus que, por razões que ignoramos, lhe pede uma coisa tão dura! Ela está a ser fiel a um sacramento do qual esperamos - e legítimamente - alguma felicidade neste mundo... e isso torna tudo muito mais difícil! Bem como difícil é, também, prescindir de uma felicidade que se julga ter encontrado fora do casamento... quando ouço católicos falar em 'refazer a minha vida' lembro-me da parábola da pérola preciosa - aquela que, para comprarmos, nos leva a vender tudo o que temos! Deus pede-nos coisas que, por vezes, parecem (e estão!) muito acima das nossas forças - mas nunca - nunca - nos nega as graças necessárias para lá chegar: ele quer mesmo dar-nos o Reino! (acredite, padre, que sei do que falo!).
Quanto às promessas... se o impulso inicial é idiota (negociar com Deus...) o resultado final pode ser bom - se a promessa é rezar, e a oração nos transforma, venham as promessas... o Senhor sorri, aceita a promessa, e o preço que lhe estamos a pagar volta para nós multiplicado por mil...negócios de Deus... Todo Ele é Dádiva!!!
anónima p.f.
Caro Pe, passei a visitar o seu blog (após sugestão de uma amiga que também é sua), e achei desde logo delicioso, apesar de nunca ter comentado.
E a musica que têm... uma delicia! Por vezes venho até aqui só para a ouvir... e fica assim a tocar durante mt mt tempo...
Estou a atravessar uma fase de descoberta na minha vida... estou a (re)descobri-l'O, e tem sido mt bom...
Quanto a promessas, sou 200% contra, Ele não haveria de querer que as pessoas sofressem ou que fizessem algo só para que Ele os atenda...
Passarei por aqui...
Um abraço em JC
Ora bem, hoje sinto mesmo vontade de participar nos comentários. Este texto fez-me lembrar aquela expressão de "assobiar para o ar". Mas afinal quem meteu na cabeça destas pessoas que o caminho correcto é esse? O das promessas, por vezes da "auto-flagelação", do "diabolizar" as coisas boas, da compra das bulas. É difícil pretender meter estas coisas na cabeça das pessoas, muitas delas hoje idosas e com alguma resistência (natural) à mudança e depois, de um momento para o outro, dizer-lhes que esqueçam isso tudo, que afinal não era bem assim, e tal... É certo que muitas pessoas têm uma imagem deturpada do mundo que as rodeia (não só nas questões da Fé mas em tantas outras coisas), mas isso foi-lhes imposto desde cedo. Até lhes era negado o conhecimento de outras realidades e a simples crítica do modelo então vigente.
Admiro a sua nobre intenção de mudar, mas não leve tão a peito estas atitudes. Se calhar não tem idade suficiente para ser culpado mas outros que o antecederam foi isso que ensinaram. E acredite que essa influência é muito duradoura, pois essas pessoas na casa dos 50, 60 e 70 anos já educaram novas gerações com um ou outro "tique" doutros tempos. Mesmo as mentes mais jovens e abertas acabam sempre por sofrer essa influência. E, acredite, essas pessoas não tiraram o dia para chateá-lo. Creio mesmo que julgam estar a agir da forma mais correcta.
Para concluir repito a ideia já aqui deixada: é muito mais fácil acender uma velinha e exigir-lhe uma missa na capela do que prometer ser melhor. "Ser melhor" não é tão tangível para servir de moeda de troca, daí que as pessoas acabem por nem se lembrar dessas coisas pois não estão à vontade com estes conceitos abstractos (basta ver as dificuldades com a Matemática e vemos como o abstracto assusta as pessoas).
Espero ter ajudado a aprofundar a questão!
Uma religião que se diz monoteísta devia pensar muito a sério em acabar com essa proliferação de Senhoras e Senhores disto e daquilo. E fazer o mesmo com a adoração/veneração de vísceras como sejam os corações sagrados ou imaculados. E também dos santos, que não passam de deuses menores.
No fundo, as palavras "santo" e "veneração" sãomeros eufemismos para "Deus menor" e "adoração".
Na prática, a tradição greco-romana de deuses para tudo e todos foi continuada pelo catolicismo. Há patronos para as profissõs, para os lugares, situações e por aí fora.
Numa religião monoteísta há só um Deus. Ponto final. Nem mesmo há lugar para o demónio que, em boa verdade, representa a divindade do mal.
Concordo,
não temos um Deus que se vende... Temos um Deus que se dá! Completamente...
E por isso é difícil perceber estas promessas...
Bom Tempo Pascal.
Talvez porque ser melhor é bem mais dificil do que pedir ao padre para celebrar uma missa?
Em horas de aflições as pessoas fazem promessas. Não tenho nada contra, embora às vezes tenha esse ar de negócio - Prometo fazer isto a Deus se Ele me der de volta. Não concordo com as promessas quando estas envolvem terceiros, do tipo - se tudo correr bem prometo ir eu e tu subir a escadaria...
Um abraço
Amigo!!
Pois, as promessas, eu pessoalmente não concordo, negócios com Deus, que nos ama, no amor não há negocios, com Deus também não os deveria haver...mas, enfim, "cada cabeça sua sentença", ainda mais promessas em que os outros têm que participar, haja paciência!
Estiveste muio bem nas tuas respostas, talvez assim as pessoas pensem um bocadinho!
beijinhos!!
Estou certo que Deus não pretende que andemos a danificar o nosso corpo para cumprir promessas. O nosso corpo é templo de Deus. No que toca às promessas em Fátima por exemplo, acho que as pessoas se devem precaver nos joelhos para não se aleijarem gravemente. Em relação às promessas em si, penso que cada um é que sabe o que tem para oferecer. Há quem goste de fazer esse precurso, há quem goste de fazer outro tipo de promessas. Uma delas pode ser muito bem, ser uma pessoa melhor. É bom que as promessas sirvam para fortificarmos a nossa fé e não apenas para nos safar de um momento de aflição, para depois não querermos saber mais nada de Deus.
Em relação às imagens que se vendem e aos cultos, penso que só uma pessoa mal informada é que considera uma estátua ou santo, algo com poder próprio, ou um deus menor. O único que tem o poder para fazer milagres é Deus. Há que ter cuidado sim com os exageros que nos possam afastar de Deus para concentrarmos apenas a atenção no tal santo. Para isso há solução. Uma boa catequese.
Abraço.
Olá, bom dia, caro padre
Tenho que dizer-lhe que as suas respostas foram boas respostas. Realçou o importante.
Sobre as promessas, eu acho que há coisas de que as pessoas se esquecem. Eu também sou contra... E também já as fiz... Porque as promessas, muitas vezes, não são formas de comprarmos Deus. É uma maneira de tentarmos fazer alguma coisa quando na realidade somos impotentes para mudar o que quer que seja (basta pensar em problemas graves que nos ultrapassam, de saúde, por exemplo). Mas assim, parece que estamos a tentar e, talvez, fazer alguma diferença.
Um abraço
Palmas! Clap!clap!
Acabar com as promessas! Excelente ideia fazer com que o pessoal aceite a ideia de um Deus que não é comprável por o que quer que seja.
Como é dificil imaginar o amor, a força, o poder,a humildade sem termos que comprar nada, vá de se inventar um Deus cobrador e uma humanidade pagadora...
Há cada uma...
Até parece impossível em pleno sec XXI!
Beijito,
Promessas e eu não nos damos muito bem!
Nunca fui muito a favor desse tipo de negócios. Ainda mais quando sou eu que fico a faltar à promessa.
Aprendi a lição uma vez quando não consegui cumprir totalmente, e mais não era propriamente uma promessa, era mais como que uma intenção. E Deus cumpriu a sua parte. E eu falhei na minha.
Ele dá sempre de graça. Nós é que temos a mania de negociar!
Que Ele nos valha nas nossas necessidades, pois só Ele nos pode valer, nós só temos que nos abandonar a Ele e confiar!
Começo pelo fim: "porque não prometemos simplesmente ser melhores"?
De facto, essa devia ser a verdadeira promessa, mas custa muito!
E uma promessa que visasse a ajuda aos outros, também custa muito!
Dar velinhas, ir em procissões, ou oferecer Missas, etc., são promessas fáceis de realizar, onde está ausente o propósito de melhorarmos algo em nossas vidas, pelo esforço e perseverança.
Portanto, também para Deus não devem ter valor algum.
Mas o pior é realmente quando se fazem promessas que são literalmente para os outros cumprirem.
Até dá vontade de rir, e espanta-me, de certa forma, ver que há pessoas cujo raciocínio é tão limitado!
A propósito, uma colega minha contou que a sogra, algures de uma terra transmontana, fez uma promessa de a nora fazer uma toalha em crochet para o altar.
Respondeu-lhe a nora: ora essa, faça você a toalha! Então faz uma promessa para ser eu a cumprir?
A senhora, ao que parece, ficou com um ar algo estupidificado e não respondeu.
E ainda se diz que o ser humano se distingue dos outros animais pela racionalidade!
Onde está a faculdade de pensar, em algumas cabeças?!
Dulce, já la fui...
Bemvindo, colega João Maria. É sempre bom ouvir vozes de colegas! Um abraço...
Tito, eu entendi o que pretendeste afirmar. Eu prefiro que penses que sou mesmo do Evangelho de Jesus! ...De onde devemos todos beber!
Tenho alguns amigos evangélicos;
mas, realmente, sou católico... com alegria.
Euseinadar,honestamente não estou muito longe dos teus pensamentos.
Acreditem em mim quando digo que não sou, de todo, contra as promessas. Até as haverá conscientes e com alguma utilidade. Eu posso prometer algo a Deus numa perspectiva de melhorar a minha vida, tipo: eu vou-me esforçar por perdoar duas ou três pessoas com quem ando para que me ajudes a ser mais altruísta; ou, eu vou deixar de fumar nesta quaresma para aumentar a minha austeridade! (são apenas exemplos!). Depois tb tenho para mim que existem pessoas que fazem promessas no meio de uma fraquesa enorme (não é desculpa... porque tudo deve vir de trás; mas tb temos de lembrar isto!).
No entanto, sou contra qualquer tipo de negócio com Deus que não seja gratuito.
Deprofundis, há um só Deus. Eu tb concordo que devemos centrar-nos Nele. Mas tb existem muitos corações, formas de amar e de sentir. Cada um sente de maneira diferente. E é essa diferença que origina essa proliferação. Pode não ser bom, mas tb pode não ser mau. Depende da forma desprendida como fazemos essa veneração.
.... De profundis, o pescador tb disse coisas que dão para pensar.
Obrigado a todos. Já devem ter reparado que não tenho vindo muito, quer pela utilização de arquivos, quer pela ausência de respostas nos comentários. Já estou quase pronto a voltar cem por cento. Não foi só a Páscoa com as suas cerimónias. Foram os meus afazeres e responsabilidades extras nesta época e nos próximos tempos.
Nem consegui dar um abraço pascal a todos os amigos nos seus blogues.
Faço votos de que, pelo menos, os tenham sentido.
Somos tentados, hoje em dia, a ser pouco complacentes para com este género de devoção, mas Deus, mesmo do mal tira bens para nos dar - e todos sabemos o valor que tem uma missa... O homem que fez esta promessa está a tentar obter alguma coisa com pouco esforço, mas tem a intuição de que há coisas que estão nas mãos de Deus, e só de Deus! Apesar de tudo há uma atitude de entrega, de reconhecimento de que, em última análise, a nossa vida Lhe pertence.Julgo que Nossa Senhora, em Fátima, não fica indiferente perante os milhares de peregrinos que, de joelhos, de rastos, ou de pé, lhe vão agradecer a sua ajuda em alguma aflição por que passaram! Um abraço em Cristo
Joana
Sentido, sim e claro... com sentido ;) Abraço, padre
concordo...creio que mais vale mostrarmos a Deus a nossa fé atraves dos actos de bondade para com o proximo por exemplo, em vez de fazer promessas e depois disso esquecermos a nossa fé...nunca fui muito de promessas e quando as faço é algo que sei que ficara só por minha conta, nao vou pedir a outro que pague as promessas que eu fiz...
qualquer dos casos, devemos sempre pensar bem no que prometemos, pois a promessa é nossa e nao devemos comprometer os outros!
Há quem goste de prometer para conseguir e depois se esqueça de pagar.
Porque será que nós queremos sempre ir pelo caminho mais fácil? Até nas promessas queremos safar-nos depressa, e como diz a história, queremos que os outros a cumpram por nós. Somos uns malandros. Mas Deus ama-nos na mesma.
Ora aí está! Com o devido respeito por quem faz prommessas, mas devíamos mudar esta tradição. A melhor promessa é cumprir a Palavra de Deus que se resume no amor ao próximo. Jesus prefere a misericórdia ao sacrifício. Já a Bíblia o diz.
Tantas coisas.
Mas fico pelo tópico "não gosto muito de promessas" (do blog, e repetido pela Maria João, pela Cátia, pela Elsa...
Posso sugerir que façamos todos uma "proposta" (é uma palavra tão mais moderna do que "promessa"):
- Cristo, nós deixamos de fazer promessas e tu ficas livre para não cumprir as Tuas.
(ou as Dele já valem a pena?!
abraço
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