segunda-feira, janeiro 15, 2007

Os donos da Igreja

Falou-me um colega de um paroquiano que queria endireitar umas pedras no chão, atrás do altar da Capela, que estão tortas. E que já estava decidido com o outro. Consciente dos procedimentos normais, o colega achou que este pequeno arranjo dispensava outras decisões, projectos, memórias descritivas, orçamentos, Conselho Económico, aprovações superiores. Consentiu o que já estava consentido. Decidido. E mais se era para endireitar. De endireitar precisava o colega na paróquia. Porém, dias mais tarde, o telefone tocou para dizer que não podia marcar missas na Capela porque estava em obras. O colega logo ao telefone não consentiu. E lembrou dos procedimentos. Resposta pronta. Mas eu é que estou aqui a trabalhar. E porque quem trabalha é que manda, o padre tinha é que trabalhar se queria mandar. Imagina as obras, contava-me. Reboco interior da Capela retirado. Estilo artístico alterado. Pedra desnudada. A pedra talhada artisticamente, sem arte agora. E ainda a mesma voz do telefone, orgulhosa do feito, a perguntar-me que achava do feito artístico, desinteressado e gratuito. Insisti nos procedimentos e agora na arte descaracterizada. Que isso aprendera nos estudos de Arte Sacra. De orgulho ferido e sem o agradecimento esperado, o paroquiano tornou-se agressivo. Outros, os que ajudavam a bendita obra, justificaram que achavam que tudo era normal e do meu conhecimento.
Sem mais que saber, o colega dirigiu-se aos Serviços Centrais para solucionar a coisa. O processo começou pelo fim. E foi aconselhado a cumprir os tais procedimentos. E que sendo aquele um membro do Conselho Económico, não podia continuar sendo. Bom, dizia. A reunião da despedida foi… quase nem foi, senão de insultos e acusações. Você anda com o diabo. Tem de se confessar. E Ainda o desplante. Mandou a conta da obra para ser paga.
Que achas que devo fazer, perguntou-me. Deixei tudo em “banho-maria”, para a paz. Deixei-o Ministro Extraordinário da Comunhão. E ouço continuamente piadinhas indirectas. E directas. Que devia reconhecer os meus erros. Que tinha interditado a Capela. A sua capela.
Sabes, o problema está neste artigo ou pronome, sei lá: “sua”. E então respondeu ele por mim. São assim muitos cristãos. Querem servir-se da Igreja em vez de a servir. Querem liberdade sem responsabilidade. E que se lhes agradeça. Que a dita Igreja faça comunhão com eles, mas não fazem comunhão com a Igreja. São os “donos da Igreja”. E ai do Padre se lhes opõe!
Eu ainda ia para lembrar que também há padres que parecem os donos da Igreja. E ai do Padre se lhes opõe! Ou do leigo! Que faziam sem cumprir os procedimentos. Mas de facto, tenho em ponto de mira muitos, mas muitos paroquianos assim. E, além disso, este não era, de todo, o caso. Por isso guardei esta conversa para mais tarde.

14 comentários:

Anónimo disse...

Que título sugestivo! Cheguei a pensar que estávas a falar de cá da Igreja, pois por aqui também há donos, são os "que mandam" acho que até mandam no padre, se não mandam vão mandando, embora ele diga que ele é que manda, mas as confusões já foram tantos que eu não acredito, ele muitas vezes parece ser um simples empregado desses tais "donos". Mas depois das tempestades costuma vir a bonança...e é que veio mesmo, veio a bonanaça para os "donos"...e veio também para mim...que me sinto completamente desmotivado...



José

Sandra Dantas disse...

Pois é...
Tudo está, não na posição que ocupamos ou no cargo, mas na atitude que temos diante das pessoas e das coisas. Quando queremos tudo possuir tudo se nos escapa. Quando desejamos tudo oferecer gratuitamente, tudo possuímos! São os paradoxos da vida!
Quando pensamos ser "donos" das coisas estragamos a vida, a nossa e a dos outros! É um caso complicado!

Ver para crer disse...

pensei que esses eram já problemas do passado. Mas pelos vistos...!

mafaoli disse...

Tal como aí, também aqui e ali.Isto parece-me que existe em todas as paróquias, numas mais do que nas outras. Todos se esfarrapam por chegar ao topo, Conselho Económico, Ministros Comunhão, Catequistas, Conselho Pastoral, Coros, Leitores. E todos se consideram os melhores, os "donos da coisa".Não sei de quem é a culpa do padre? dos leigos?... Mas o que sei é que comportamentos destes muitas vezes afastam aqueles que servem a Igreja e não se servem da Igreja.
E deixo o comentário da desculpa do costume: "A Igreja é feita de homens"

Vítor Mácula disse...

Olá, Confessionário.

Os termos soam-me um pouco difusos… Que queres dizer com « não fazer comunhão com a Igreja » ?... Não seguir certos trâmitos administrativos ?... Não aderir a todos os enunciados magisteriais ?... Usar a estrutura comunitária para engrandecer-se na soberba em vez de crescer no amor?...

Um abraço em Igreja ;)

Anónimo disse...

olá Confessionário,
pois esta gente é mesmo assim, e ao que parece é por todo o lado um pouco, as pessoas não entenderam ainda a Mensagem de Jesus...ai! Se ele viesse hoje à terra...


bj

mariana

joaquim disse...

No meu tempo, quando eu era novo, era o sacristão o "dono" da igreja.
Lembro-me bem de problemas com sacerdotes que vinham de novo para as Paróquias terem grandes dificuldades em implantar as suas ideias.
Verdade seja dita que se há casos em que os leigos se querem tornar "donos" da igreja, também há casos de sacerdotes que acham que o são.
E o que é curioso é que às vezes nem o bom senso chega para resolver os conflitos.
É que muitas vezes queremos "servir" a Igreja, mas é naquilo que eu quero e me agrada e não naquilo que me pedem e é necessário.
Oração e paciência, muita paciência.
Abraço em Cristo

Elsa Sequeira disse...

Olá Amigo!!!

Pois, há pessoas assim...
sabes acho que deveria fazer parte integrante da Liturgia, a Carta de S.Paulo aos Coríntios - 1 Cor.12, 14-31 - talvez no final... só quando as pessoas entenderem esta carta, e se dispuserem com humildade a trabalhar e a deixar os outros trabalhar é que "os donos da Igreja" poderão ser irradicados!!

Beijinhos!!!
:))

Anónimo disse...

Desculpa Confessionário...

Mas gostei tanto de algumas frases tuas neste post que vou ter de as colocar no meu post!

Espero que não te importes...

Abraço e Deus te Abençõe.

Confessionário disse...

Víctor, será mais a última, sobretudo repensando que a Igreja somos todos. Isso não, obsta, calro quem representa todos. Mas penso que terá mesmo a ver com aquilo que devia ser do senso comum e acaba por ser do senso de um, independetemente da sua posição, função ou missão.

Anónimo disse...

Desculpem lá, mas não se deve dar confiança ao povo!

Muita democracia dá nisto!

Cada macaco no seu galho.

Teodora

Vítor Mácula disse...

E a questão é: como e o que e a partir de que morada de vida e sentido, se determina e orienta a posição, função e missão de cada qual?...

A questão da representação é muito problemática, cristologicamente falando. O cristianismo, sendo uma proposta vital e existencial, requer acções internas e externas do sujeito, coisa que ninguém pode fazer por ele.

Há Aquele que age em todos, resistamos nós ou não à sua acção.

Perante Deus, ninguém representa ninguém excepto a si próprio.

Mas claro que as comunidades de vida e sentido se organizam mundanamente, e nisso constitui a religiosidade. Penso no entanto que não convém divinizar a organização (não é esse o sentido do corpo místico;) Há sempre o risco do ícone se tornar ídolo, a porta ficar sem chave ou sequer fechadura.

Não se trata da oposição pessoal/comunitário, mas sim de não haver comunhão cristã sem a conversão interior e pessoal de cada qual adentro dessa mesma comunhão.

E já devo ter fugido completamente ao teor do post;)

Abraço, bom dia.

Anónimo disse...

A história é sempre a mesma.
Por um lado, faz falta potenciar o sentido de posse/pertença para comprometer as pessoas; por outro...
Por um lado, faz falta confiar nas pessoas, dar~lhes autonomia, desafiá-las a tomar a iniciativa; por outro...
Recomendações de um ignorante: que se aprenda com os erros; que se vá conhecendo as pessoas; que se persevere, apesar das desilusões; e que Deus a todos dê paciência.

Confessionário disse...

Víctor, tens razão no que afirmas, desde que se acrescentemos que a questão, embora deva ser colocada para todos e cada um, padres, leigos, Tratar-seá sempre de algo que tem a ver com uma comunhão com todos. Nem pode o padre, nem pode o leigo fazer o que quer sem dar satisfações. No caso em causa (gostei deste trocadilho) o padre parte com a vantagem de que tem um conselho económico, igualmente representativo da comunidade, onde se apoia e aonde procura a melhor solução.

Claro que tudo isto partirá de uma conversão pessoal ao verdadeiro Cristo!