Sagrada Família de Nazaré. Sugiro-me falar das alterações que a família tem sofrido nas últimas décadas. Grande homilia. Ultrapasso os dez minutos habituais. Há um baptizado também na missa. Penso que estão atentos. Falo à vontade. O assunto interessa-me. Falo da realidade que, apesar de não se coadunar com todas as famílias, é bastante geral. Mais divórcios, separações. Recasados, uniões de facto. Filhos com 4 pais e meios-irmãos. Que vão conhecendo uma série de namorados ou namoradas aos pais. Que estudam fora ou deixam os pais cedo para arranjar emprego que ali não há, nem emprego nem estudos. Que casam mais tarde porque a vida assim o impõe, perdem uns saborosos anos para ter filhos, e depois já não há muita pachorra para os aturar. Filhos de gente que não está casada. Pais que têm poucos filhos, de preferência apenas um - embora seja aconselhável ter um animal de estimação por causa da solidão -, o que impede alguma consistência familiar. Só convém ter filhos quando a vida se ajusta ou dá jeito, isto é, quando as condições económicas, profissionais, governamentais, habitacionais, etcetera e tais, as ideais, existirem, e hoje isso é quase impossível. Pouco tempo que os membros de uma família têm uns para os outros porque todos regressam tarde, têm de levantar cedo e deitam cedo. Pouco tempo que sobra das refeições. Quando as há em comum, é com televisão ligada. Passam mais tempo fora que com os de casa. No emprego, na escola, na ama, no café. Filhos que recebem dos pais esta ausência de relação, de encontro e assim continuam fora de casa a mesma forma de viver. Ou então procuram encontrar esse espaço em outros que podem não ser os melhores companheiros ou companhias. Casa-se a Vamos ver se dá.
Valorizei as famílias de acolhimento, os pais adoptivos, os lares que funcionam como uma segunda família, ou as casas para estudantes, ou a possibilidade de uma paternidade mais responsável com o acesso à informação que hoje existe. Digo eu que existe. Ou a possibilidade que os jovens têm de conhecer melhor a sua esposa ou esposo, dado que trocam com frequência e experimentam muitos parceiros.
Falei, com argumentos da Escritura, da importância da Família para Deus. De que era o berço da sociedade. Falei que ela resolveria a maior parte dos problemas que nos aparecem. Que era nela que se deviam concentrar os esforços, as instituições, os governos, as campanhas. E no final da missa, dando os parabéns aos pais da criança baptizada, à própria criança, aproveitei para deixar no ar a ideia vocacional do sacerdócio. Noutras palavras. Que o Joãozito possa ser um grande homem, quem sabe um sacerdote. Não que o sacerdote tivesse de ser necessariamente um grande homem. Pergunto aos pais se gostavam ou se deixavam. E eles acenam ao mesmo tempo, quase premeditadamente, não. Pronto. Encolhi-me. Já na sacristia, diz-me o pai. Para malhar no pessoal, já chegam os que há. Não foi o que fez há pouco?!
Valorizei as famílias de acolhimento, os pais adoptivos, os lares que funcionam como uma segunda família, ou as casas para estudantes, ou a possibilidade de uma paternidade mais responsável com o acesso à informação que hoje existe. Digo eu que existe. Ou a possibilidade que os jovens têm de conhecer melhor a sua esposa ou esposo, dado que trocam com frequência e experimentam muitos parceiros.
Falei, com argumentos da Escritura, da importância da Família para Deus. De que era o berço da sociedade. Falei que ela resolveria a maior parte dos problemas que nos aparecem. Que era nela que se deviam concentrar os esforços, as instituições, os governos, as campanhas. E no final da missa, dando os parabéns aos pais da criança baptizada, à própria criança, aproveitei para deixar no ar a ideia vocacional do sacerdócio. Noutras palavras. Que o Joãozito possa ser um grande homem, quem sabe um sacerdote. Não que o sacerdote tivesse de ser necessariamente um grande homem. Pergunto aos pais se gostavam ou se deixavam. E eles acenam ao mesmo tempo, quase premeditadamente, não. Pronto. Encolhi-me. Já na sacristia, diz-me o pai. Para malhar no pessoal, já chegam os que há. Não foi o que fez há pouco?!
17 comentários:
Olá Amigo!!!
Pois, estiveste muito bem!! O que fizeste foi o retrato da sociedade actual, claro que, como em tudo há excepções, mas em larga maioria é isso...quiseste alertar as pessoas, que elas tomam-se consciência do estado das coisas... e para espanto meu ao "pai do Joãozinho" acentou-lhe que nem uma luva! :(
Porque
"os tristes acham que o vento geme...
os alegres acham que ele canta!"
Ajuda o Joãozinho, e os pais...
Beijinhos!!!
:))
Assunto de grande interesse, muito bem escrito e abordado.
Mas, nestas coisas, tal como entre marido e mulher, a culpa não é só de um lado. Será que a Igreja Católica tem feito um esforço sério para acompanhar os tempos?
Lembro-me dos tempos em que tinha lições de equitação. O mestre repetia a todo o momento: "a culpa nunca é do cavalo, que tem um cérebro muito pequeno, é sempre do cavaleiro"...
«A familia, comunidade de pessoas, é, a primeira "sociedade" humana.» João Paulo II - Carta às Familias
«O homem torna-se imagem de Deus não tanto no momento da solidão quanto no momento da comunhão.» João Paulo II - catequese em 14.11 1979
«A familia é o local priveligiado onde cada pessoa aprende a dar e a receber amor.» Bento XVI - Valência
«Na origem de todo o ser humano, não existe acaso ou casualidade, mas sim um projecto do amor de Deus.» Bento XVI - Valência
Abraço em Cristo
deprofundis, pois nisso a Igreja está mais avançada que qualquer outra isntituição. Foi intuído há muitos anos pelo Papa que fez umas encíclicas a propósito. Foi intuído por aqueles que criaram os CPM, Curso de Preparação para o Matrimonio (não vou discutir se precisam alterações ou não), As equipas de Nossa Senhora e agora as de S. Isabel, as casas de apoio a Mães solteiras e as isntituições de apoio à família. Em quase todas as dioceses há um serviço de apoio à família, Jornadas familiars ou sobre a família, entre outras... Já para não falar no que em cada paróquia se faz...
Por isso acho que a Igreja ainda vai à frente. Há dias o D. Clemente dizia algo parecido na Rádio. Eu ouvi enquanto ia de missa para missa. Foi no Domingo. E concordei...
Acho que não é ouvir o que já sei, o que gosto mais de ouvir na missa... e se fosse eu, também não tinha gostado nada da homilia. Na minha paróquia foi bem mais interessante: falou-se do Amor, como deve uma familia amar, respeitar, honrar, etc O padre deu dicas interessantes para que uma familia viva mais harmoniosamente.
Contou-nos um caso de um casal que estava prestes a divorciar-se e um padre com umas simples palavra - façam carinhos um ao outro - conseguio reconcilia-los. O que o confessionário disse, é realmente verdade, uma triste verdade...mas será que é isso que as pessoas queriam ouvir?
Maria João
Maria João, não é para me justificar, mas eu tb apresentei alternativas, e sobretudo tentei que as pessoas reflectissem na forma de estar da sua própria família. Esse tipo de homilia já fiz outros anos. Agora, e pensando muito nas dificuldades das famílias e da Família achei oportuno. Só que falar de coisas duras, doi. Vale mais ser mansinho. Eu tb sou a favor de uma Igreja e de uma homilia pela positiva. Mas, às vezes, para se chegar lá, é conveniente fazer o ponto da situação... Não achas?
Desculpa, mas é que começei a imaginar a tua homilia e achei-a realmente uma grande seca. Gosto mais que apresentam alternativas do que andem a homilia toda a "bater no ceguinho". Mas é necessário abrir os olhos para as tristes realidades que a nossa sociedade vive actualmente...mas se ouviram tb alternativas...ainda bem.Bjs
Maria João
É... as realidades são duras de ouvir! No entanto, penso que fizeste bem e que isto "mexeu" com eles e os vais fazer pensar! Mas no momento de ouvir as coisas como são, custa!
Não penso que seja melhor ser mansinho... Mas, muitas vezes também não sei como falar às pessoas de certas realidades! Parece que quando se é "manso" tudo passa ao lado e quando se é "duro" as pessoas ficam chateadas... Enfim, cada pessoa é um mistério! O problema é que na homilia fala-se para muita gente e não para cada um em particular, o que seria mais fácil! Assim acabam sempre alguns contentes e outros chateados...
Outro dia estava caminhando em direção ao trabalho observando sempre as mesmas coisas, muita gente caminhando pelas ruas, outros parados á espera de "transporte", outras andando às pressas com destino ao trabalho, alguns tristes, outros alegres, alguns chegando da bebedeira, outros jogados ao relento pela desigualdade sócio-econômica. Devo dizer que fiquei preocupado com a quantidade de pessoas e comecei a refletir sobre o que cada um poderia estar pensando, a história de cada indivíduo e suas angústias.
Mas dentre essas tantas coisas, uma me chamou muita atenção. Uma mãe com seu filho, que provavelmente tinha uns seis anos, caminhando a passos ágeis, pareciam estar atrasados para algo, seja para o trabalho da mãe, seja para a escola do garoto, mas o que chamou mesmo atenção foi o diálogo entre os dois: O menino todo angelical, com aquela voz que enche nossos ouvidos de emoção e alegria, vira-se para sua mãe e deixa ecoar de sua boca, uma palavrinha apenas:
- "Mãe!"
E a mãe docemente e com a delicadeza que só uma mãe tem, responde:
- "Oi, meu filho!"
E o diálogo prosseguiu. Infelizmente não tive tempo de continuar ouvindo o diálogo poético entre mãe e filho, mas só isto bastou para o meu dia tornar-se ainda mais reflexivo, sobre o poder do vocativo "Mãe!", no sentido sentimental que gira em torno do contexto "pai" e Mãe". Mais ainda fez-me refletir sobre a verdadeira influência da família na reconstrução da sociedade. Como a família é importante! Parecia até um conto de fadas, Eu ouvindo aquilo! Quem diria que um mundo cheio de violência, violências que marcaram nossa linda cidade do Rio de Janeiro nas últimas semanas, brigas, guerras, desencontros e de busca excessiva e ambiciosa pelo poder poderia ser abafado por essas simples frases!!!
Padre amigo, Parabéns pela sua homília, se sentiste vontade de falar sobre o assunto "família", assunto esse muito importante sem sombra de dúvidas, passar os minutos da homilia, nunca esqueçamos que Jesus fala-nos por ti!
Um beijo da sua amiga!
Fátima - Rio de Janeiro
Penso que as pessoas não gostam de ser confrontadas com a realidade quando ela não é boa.
Também é verdade haver momentos em que estamos tão desiludidos com a vida que achamos melhor adiar as reflexões para mais tarde.
Tenho a impressão que
um grande número de pessoas não quer mesmo pensar (fazem como a avestruz).
Outros tantos são desprovidos de pensamento. (desculpem a arrogância)
Outros vão pensando e tentando e enquanto as coisas não mudam, vão-se arrastando pela vida fora na esperança que o amanhã o seja melhor.
Alguns descobrem repentinamente que andaram a dormir anos com um(a) estranho(a)e toda a vida familiar se desmorona.
Muitos têm a mente ocupadissíma com a sua imagem fantástica. Temos de parecer todos muito modernos, de acordo com os padrões de beleza actuais.(Não é que eu gostasse de ter buço, mas será mesmo importante ter airbags tamanho 40 ainda por cima pagos a crédito. Talvez assim o meu marido não olhe para as da vizinha.(O mercado está muito competitivo - vale tudo!)
No caso das cerimónias religiosas, acho que muitas pessoas não têm qualquer interesse em ouvir o que quer que seja que o padre tenha para dizer. Estão todos cheios de fome. Querem é comer.
Acho que foram muitos os padres que durante anos comportaram-se de uma forma pouco aberta e tolerante (e ainda os há). Este pormenor ficou marcado na memória das pessoas e os que actualmentam tentam ter uma abordagem diferente "levam muita lenha". Vai levar o seu tempo.
Quanto ao comentário do pai da criança pareceu-me pertencer ao grupo dos esfomeados.
Teodora
olá, passei por cá, já me habituei a passar, sinto-me bem aqui, k giro, por cá também houve Baptismo, mas o miúdo já era crescidito, é que nos habituamos a ver os bebés,a ser Baptizados, gostei muito, porque ele é que segurou na vela, e isso é muito significativo, e como eu estava a acolitar, podia ver o rosto do miúdo, e ele estava muito feliz!
Pois, o nosso padre também falou desses assuntos, que desagregam as famílias, que complicam a vida de nós jovens (não é o meu caso, tenho até uma família bastante conservadora), mas é o caso de muitos colegas meus, e sei o que eles sofrem! Por isso nunca é demais reflectir nesses assuntos, fizeste muito bem em falar neles, ainda mais no dia da família! Parabéns!
Bjs
mariana
O comentário da Teodora fez-me vir em defesa das avestruzes, que não fizeram mal a ninguém e andam nas bocas do mundo. Que mal tem se enterram a cabeça na areia? Eu também preferia não ver certas coisas. Só não enterro a cabeça na areia porque não suporto areia nos ouvidos. Já tentei, portanto :))...
E ainda a propósito do comentário da Teodora, sobre que descobrem subitamente que andam a dormir com um estranho, posso contar uma anedota?
Possa ou não, eu conto:
Conversa entre duas cobras:
- É pá, desde que fui ao oftalmologista, a minha vida sexual melhorou drasticamente!
- Como?
- Descobri que dormia há 3 anos com uma mangueira.
oi
passei, li o teu post, e cheguei á conclusão que como eu não vou à missa o meu amigo padre, dá-me a missa em privado, pois um dia desta semana ele falou exactamente desses assuntos que tu referiste, calhou em conversa, ou pelos vistos ele fez calhar, estes padres têm cá uma astúcia, por acaso gostei da conversa com ele, como sempre, e é engraçado porque depois qd vou para casa e estou sozinho, fico a pensar sempre nas coisas que ele me diz, e vejo que ele tem razão, embora eu às vezes não lhe a dê. Já o conheço há tanto tempo e nunca fui á missa, qualquer dia faço-lhe uma surpresa, que achas Confessionário?
Fica Bem!
ricardo
Dulce, o bom humor faz sempre bem. heheh
Ricardo, Não vás a Missa para lhe agradar, mas para corresponder à Vida que ele te tem ensinado! Essa que dá sentido...
oi,Confessionário,
sabes que eu não iria á missa para agradar ao meu amigo, até porque como ele me conhece tão bem, nunca me sugeriu que eu fosse..eu é que ando com uma certa curiosidade, chamemos-lhe assim, entendes?
fica bem!
ricardo
Penso que o comentário desse pai, se deve muito ao facto de as pessoas fazerem uma associação, que desde já admito estar errada, entre o Amor de Deus e desleixo.
O raciocínio é simples mas nós, católicos, não estamos isentos de culpas. Antes era-nos apresentado um Deus que era poderoso, que nos fulminava com um olhar, que nos condenava ao suplício eterno se mastigássemos a Hóstia Sagrada, que nos enviava a ser fustigados milhares de vezes se pensassemos uma vez que fosse em sexo.
Veio o Concilio II e a Igreja tentou fazer comunidade. Muitos sucessos, muitos fracassos mas acima de tudo muitos mal intendidos.
A imagem de Deus que não mais que Amor, foi transformado num Deus vazio e sem chama porque perdoa tudo. A maior mensagem de amor filial na parábola do filho pródigou passou a ser vista como um ideal não na prespectiva do arrependimento, conversão e perdão mas antes do fazer tudo porque afinal Deus é Amor.
Em última instância, as pessoas deixaram de pensar no bem comum, o amigo não é aquele que diz a verdade mas aquele que diz aquilo que queremos ouvir, a Igreja tem que ser o queremos e não o que tem ou pode ser.
Urge parar, ouvir o que diz o mundo nas entrelinhas e avançar confiando na sua acção.
Boa reflexão, Confessionário mas infelizmente os nossos ouvidos não querem ouvir os profetas do presente!
eu gostei muito do post,
principalmente do ponto de situação que fizeste das famílias da nossa sociedade,
porque estas situações "anómalas" já não acontecem só aos outros,
porque cada vez mais tenho amigos cujos pais se separam com os filhos adultos,
porque na minha família não há divórcios mas há separações e muita solidão,
porque às vezes é preciso chamar os nomes às coisas...
quanto ao joãozinho, acho que fizeste bem em "puxar a brasa à tua sardinha",
provavelmente o "tio-gestor" quer que ele seja gestor e o "pai-médico" deseja que o filho seja médico, e não há mal nenhum nisso, penso eu.
eu gostei muito, gostei não porque sou imune mas por que a luva me assenta em algumas zonas e é importante que me aperceba disso.
fizeste-me reflectir, mais uma vez, muito obrigada!
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