sábado, setembro 23, 2006

O amor é a melhor cabeceira para resolver os problemas

A cara dele não me era estranha. Mas parecia. A cor do sorriso habitual dera lugar ao estranho mundo amarelecido de uma foto. Tinha sido escolhido, sabe-se lá como ou porquê, ou por quem, ou se tinha escolhido o seu coração. Não perguntem. Estas coisas não se explicam. Era um verdadeiro pai, apesar de adoptivo. Sei-o. E levava Jesus a sério, o que o abonava em grande favor, para se dedicar com verdade. O moço tinha sido abandonado ou abandonara-se à vida pelos pais biológicos. Um, porque não dava, e o outro porque sim, porque ele próprio tinha achado melhor. E a única muleta fora o tal substituto. O tal que levava Jesus a sério. Nem vale a pena contar a história porque é muitas e não apenas uma. A asneira tinha sido feita umas semanas antes. O substituto, agora afectivamente verdadeiro, berrara. Esgotara-se a tentar compreender. Soltara o que havia nos olhos para soltar. O jovem, ali, de rosto enrugado, pesado. Eu diria doente, mas não digo. Recordo apenas que combinava com o amarelecido estranho da foto. A escolha era errada. Porém, ele preferia errar mais uma vez. De facto, às vezes não se entendem os jovens. Sabem o caminho da felicidade, mas preferem ser como os outros. E os outros até nem são como eles pensam. Mas é a mania dos outros, a mania desta sociedade que se impõe inconscientemente. Porém, o que conto não tem a ver com este. Tem a ver com o “afectivamente verdadeiro”. Esse que desabafou comigo a confusão. Não posso dizer que fosse confusão espiritual, como ele apresentou. Pois foi dizendo que sabia que não podia fechar a porta. Nem da Casa nem do seu coração. Dois dias a seguir aos berros, haviam conversado novamente, e o “verdadeiro” abria mais uma vez o coração. Como o de Deus. Para ajudar era mais fácil que o moço não fosse abandonado de novo. Sabia que poderia perder. Mas que valia a pena que o moço não perdesse também. Tudo, desta vez, de certeza. Valia a pena mostrar que o amor verdadeiro continua na ausência, na perda, na forma cristã de ser diferente. O moço continua no erro. Mas levou a certeza de que o “seu pai” ia estar com o coração aberto, se ele precisasse. Este pai chorou ao contar-me mais tarde. Tinha a certeza de que valia a pena sofrer. Assim amou Jesus na cruz, dizia. Na confusão interior, nascera a certeza de que o amor é a melhor cabeceira para resolver os problemas. Era assim que Jesus resolvia.

5 comentários:

Grilinha disse...

A vida sem amor não tem sentido. Amar é gostar incondicionalmente...e quem´para além de amar, ainda é amado...é a melhor das vitórias. Beijos

PDivulg disse...

Verdadeiro Pai é aquele que tudo perdoa, mesmo se essa decisão acarreta sofrimento, mas não é fácil pois a sociedade grita outros valores onde aqueles que estão fora do sistema são marginalizados...

Carla Santos Alves disse...

....


Bjs

Carla

Anónimo disse...

Como cristãos temos o exemplo de Jesus,nos amou incondicionalmente, é o que temos que fazer...

Vítor Mácula disse...

... e Se revolvia ;)

Amar é terrível... acrescentamos ao medo, dor, anseio, etc por nós próprios... o medo, dor, anseio etc pelo outro. E evidentemente também a confiança, prazer, alegria... E crescemos, pois, na tensão da vida e da alteridade.

Abraço.

PS: Wilkommen! - ou lá como é que se diz em alemão... :)