Início da Quaresma, como todos os anos, com a Quarta-feira de Cinzas. Cerimónia obrigatória da Imposição das Cinzas nas paróquias. Bastante gente, que aqui ainda há gente. Cerimónia simples e interessante. Explico. Benzem-se as cinzas feitas com os ramos de Domingo de Ramos do ano anterior. Benzem-se. Depois impõem-se sobre a cabeça de cada pessoa, dizendo “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. Ainda se podem dizer outras coisas. Mas digo esta enquanto coloco sobre a cabeça um pedaço de cinza. Explica-se a cerimónia depois da homilia. Aí vem o pessoal todo. Nem uma pessoa só fica sem vir até ao padre ou até ao ministro receber a dita imposição. O senhor António também. Até é dos que pratica. De vez em quando comunga. Avistei-o ainda ao longe, umas três ou quatro pessoas atrás. Geralmente baixam a cabeça para a imposição. Ele levantou-a bem. “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. Eu disse, e dispus-me a deixar cair a cinza sobre a sua cabeça. Mas não. Ele não se mostrava interessado. Língua de fora e Ámen. Era a sua hora da Comunhão. Esboço um sorriso. Pisco-lhe o olho. Para dizer que não tinha mal o hábito ou distracção. E impus-lhe as cinzas.
29 comentários:
:-)
O que eu gosto de pessoas distraídas! O que eu gosto de quem comete gaffes impossíveis!
(sorriso)
Não deixa de ter graça...e eu nessas situações nunca consigo disfarçar o sorriso!
Bjs
Carla
:D
que cómico!!!
Se calhar queria mesmo comer as cinzas... Uma nova forma de comunhão!
:)
ui... isso seria perfeitamente possivel passar-se comigo... já parei em semaforos com eles verdes... ja meti gasóleo sem ter levado dinheiro comigo... enfim.. a distracção em pessoa...
ehehehehe!! :)
Fartei-me de rir aqui sozinha!!!
Estou a imaginar a cara de envergonhada do senhor antónio! :P
Para um padre deve ser um consolo ver a assembleia unânimemente em acção. NInguém a ficar para trás...
Talvez haja aqui a oportunidade de fazer alguma alteração à matéria do rito. Pelo menos, a minha mãe, quando queria apelar à minha conversão, prometia encher-me a boca de pimenta... :o)
olha a mim já me aconteceu melhor...eu dizia..."lembra-te que és pó...e um velhote respondeu...deixe lá depois eu lavo a testa
engraçado :)
Muito interessante este blogue. Vou voltar cá com frequência. Isto é desde que não se importe com as visitas e comentários de uma agnóstica confessa a quem as diversas religiões interessam muitissímo.
És bemvinda, muito bemvinda, Castafiore... e não tenhas receio de dizer o que pensas e o que sentes.
Pois é que pena que muitos que andam pelos templos andem distraidos...
ola... vim através da Carlinha... gostei muito do que li... não sei se sou crente... sei apenas que umas vezes sou...outras não... por vezes custa-me aceitar que hajam tantas injustiças no mundo... sempre pensei em deus como um Salvador... contudo, é no silêncio da igreja que por vezes vou buscar o meu consolo... sinto uma paz indescritível, uma vontade de chorar tudo, de deitar tudo cá para fora... saindo depois aliviada, em paz comigo... não consigo, por mais que tente fazer isso sem ser numa igreja... Gostei muito do seu blog... vou voltar... sempre que puder... se não se importar com os meus comentários mais ou menos crentes... e desculpe a maçada...logo na primeira confissão...:)
SoldeInverno, todos os comentários são bemvindos, todas as confissões são bemvindas, todos as pessoas são bemvindas...
Um abraço ao confessionário e a todos nós aqui! E um sorriso a esta história!
Pena que nem todos conheçamos na perfeição o porquê de alguns costumes, porque por vezes é isso que nos basta para sentirmos as coisas de forma diferente! ;)
Há tantos Antónios ... ;)
Mesmo assim não deixo de sorrir, não só neste "post" mas em tantos outros... quanto mais não seja perante o realismo das narrativas...
Quem anda nestas mesmas lides sabe que a vida é mesmo feita (também) destas porMaiores...
O meu filho mais velho estava aterrorizado com a ideia das cinzas.
Após insistência , lá questionou:
- Mas donde é que vêm as cinzas?
Expliquei que devem ser cinzas normais, da lareira.
- Ufa, Pensei que eram cinzas de pessoas mortas...
Mas tinha razão o míúdo - com tanta referência á morte e ao simbolismo da morte na cerimónia das cinzas...
Bluesmile, não sei em que paróquia resides nem posso garantir a forma como um padre aborda esta questão das cinzas. Mas:
1. Estas cinzas são feitas a partir doos Ramos do Domingo de Ramos do ano anterior, os ramos que lembram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: "Bendito o que vem em nome do Senhor!".
2. Não me recordo de ter falado da morte nesta ocasião (por acaso até falei de vida aos meus); nem falei de tristeza (até falei que a Quaresma deve mostrar a nossa alegria... ao lado do recolhimento próprio de quem reflecte).
3. Essa história do "és pó e ao pó hás-de voltar" tem a ver com o facto de nada sermos, ou melhor, sermos muito frágeis... ocasião que nos mostra a necessidade de Deus. Tudo depende Dele e não de nós!
Essa de comer as cinzas está bem apanhada!
Abençoada distracção!...
Não percebi: Tem mal falar na morte na ocasião das cinzas?!!!
Então também os padres querem esconder de nós que um dia (quem sabe se bem cedo?!) vamos morrer!
Eu pensei que o rito de cinzas nos lembrava isto mesmo e que é preciso estar preparado para ressuscitar para a vida...
Desculpe a duplicação, pois saiu-me mal o endereço.
Não percebi: Tem mal falar na morte na ocasião das cinzas?!!!
Então também os padres querem esconder de nós que um dia (quem sabe se bem cedo?!) vamos morrer!
Eu pensei que o rito de cinzas nos lembrava isto mesmo e que é preciso estar preparado para ressuscitar para a vida...
Pois, o rito, Contracorrente1, até te pode lembrar isso. E é certo que começamos com este rito uma caminhada para a Páscoa. Mas acima de tudo, lembra-nos que precisamos de Deus na nossa fragilidade. Realcemos o "que és pó" e não tanto o "ao pó hás-de voltar", caramba. Até porque não voltamos ao nada. Voltamos a Deus na ressurreição.
Escreve muitissimo bem!
Um abraço,
Daniela
Aqui lhes deixo uma pequena reflexão que o meu Pai nos deixou quando nos deixou.
A MORTE NADA É
Eu estou apenas noutro lado
Eu, sou eu, tu és tu.
Aquilo que éramos um para o outro
continuamos a ser.
Chamem-me como sempre me chamaram.
Falem-me como sempre me falaram.
Não mudem o tom da vossa voz,
Não façam ar solene ou triste.
Continuem a rir daquilo que juntos nos fazia rir.
Brinquem, sorriam, pensem em mim,
rezem por mim.
Que o meu nome seja pronunciado em casa como sempre foi:
Sem qualquer ênfase
Sem qualquer sombra.
A vida significa o que sempre significou.
Ela é aquilo que sempre foi.
O “fio” não foi cortado.
Porque é que eu
estando longe do vosso olhar
estaria longe do vosso pensamento?
Espero-vos, não estou muito longe,
somente do outro lado do caminho.
Como vêm
ESTÁ TUDO BEM
que lindo, Jtb! Mas o mais importante é que foi dito por quem sabe o que é morrer!
Exactamente Sr Padre, e o meu Pai sabia que ia morrer, e nunca se queixou, e nunca nos mostrou o quanto sofria.
No dia da sua morte de manhã saiu de casa, almoçou com alguns dos 9 filhos e com alguns dos 36 netos, viu o Ténis na Televisão, e depois morreu serenamente sem a mais pequena queixa. Dizia-nos sempre em ar de graça " No meu velório quando virem que o ambiente começa a ser de cocktail arranquem com um terço ou com umas musicas (alguns dos netos fazem parte de um coro da nossa Igreja) , e assim foi toda a noite a rezar e a cantar, e ele no caixão estava com um ar felicissimo. Para nós foi muitissimo reconfortante.
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