sexta-feira, março 31, 2006

Ambos entraram no céu carregados pelas mesmas mãos, as de Deus

Foi à mesma hora, que não havia outra maneira. Nisto esti-vemos de acordo. Dois funerais em um. Até aqui nada de anormal, que o caso é sempre melindroso. Nem mesmo a cerimónia teve o seu quê. Ambos homens. Ambos com o mesmo nome. Se não fosse funeral e momento de dor para alguns, a coincidência dava para sorrisos. Não sorri. Que me custa fazer funeral que seja. A dor dos outros provoca um mal estar que não consigo explicar, apesar do hábito, que isto tem sido, como diria alguém, às dúzias. Mas no final deu-me que pensar. Saí a correr com o peso dos pensamentos às costas. Explico. Para transportar os corpos é costume termos duas opções. Ou vai à mão, que o cemitério é perto. Ou vai na carrinha funerária. Não obsto nunca, pelo menos ali que, como afirmei, o cemitério é perto. A Igreja estava cheia, como sempre se enche em ocasiões idênticas. Muitos homens. E o caso aconteceu assim, tão simples como conto. Um dos caixões foi transportado por vários homens, em número de seis. O outro foi pela carrinha, e até lá, apenas pelo cangalheiro e por um senhor da família. E havia lá mais homens vigorosos, digo eu.
Fui para casa sem jeito, porque eu costumava dizer que nesta hora todos somos iguais, não há ricos nem pobres. E hoje fiquei com dúvidas. A única certeza que me resta é a de Deus. Que ambos entraram no céu carregados pelas mesmas mãos, as de Deus. Com o mesmo amor, o de Deus

26 comentários:

BLUESMILE disse...

Muito bonito este post, padre,,, obrigada pela partilha.

Não, nem na hora da morte somos iguais..

Mas talvez o sejamos nos braços amorosos e maternos de deus...

NaSacris disse...

O padre tem que fazer, no dia-a-dia, coisas tão dispares. Às vezes acontece de acabar um batismo e logo a seguir fazer um funeral. A chegada de um novo ser e a despedida de outro. É complicado. É um "choque térmico" de sentimentos que, por vezes, é difícil de gerir. Compreendo por experiência.
O mais complicado é ver que, em questão de classes, nem a morte nos iguala.

Pe.T.C. disse...

"Coloquei-te" a concurso... visita-me e vota!

Confessionário disse...

António, vou-te contar dois segredos.
O primeiro é que não entendi à primeira o que pretendias. Depois cliquei e não redireccionou para o teu blogue. Valeu a pena a tentativa, porque encontrei-te. Não estava mesmo a perceber... Mas olha que estas coisas costumam fazer-se pedindo aos autores! Ai ai. Não vou zangar-me contigo. A ideia até é engraçada. Embora, enfim...
Mas, e agora vem o segundo segredo. Tu pedes para votar no que gostam mais de visitar, não é?Mas é que assim vou perder votos. Pois que terei de votar naquele que mais gosto de visitar. Não costumo visitar a minha residência. Ahahah. Mas, pronto, pelo menos colocaste lá aquele que deveras me agrada mais visitar e faz parte das minhas visitas diárias, ou quase. Vou votar.

Confessionário disse...

Ah, e vou-te linkar,amigo.

Anónimo disse...

Qual era o rico no funeral, qual era o pobre no funeral?
Não faz diferença nenhuma.

O funeral é uma experiência dos vivos.

Dulce disse...

Gostei muito do que disse bluesmile: os braços maternos de Deus. Que Deus é Pai, sabemos todos. Mas Ele é também Mãe! O que se me afigura maravilhoso....

Sonhadora disse...

Concordo com o palheirense.
Dizem que só existem dois momentos na vida em que somos todos iguais: ao nascer, e ao morrer.
A diferença neste caso não foi na morte, essa é igual para todos. O que foi diferente foi o funeral, e o funeral é um ritual dos vivos, tantas vezes sem nenhum significado para os que o assistem...
Deus já os tinha recebido, e isso é o que importa.

Pe.T.C. disse...

Pois... podia e devia ter pedido autorização! Bem é simplesmente um passatempo e alguma publicidade! Obrigado pelo link. Até breve. Este post... fantástico!

Anónimo disse...

Não será bem assim, senhor reverendo (não lhe posso chamar padre pois pai há só Um). Sabe se os dois senhores tinham Jesus Cristo no coração? Eram eles crentes, convertidos? A certeza da Salvação vem da pela Graça do Senhor Jesus Cristo, por meio da fé. Não pela sacristia ou pelo baptismo.Atentamente. Raquel

Dad disse...

Uma bela reflexão, este texto...Gostei muito Confessionário,
Entraremos todos de mãos vazias e quem dera que seja de coração cheio...

Carla Santos Alves disse...

Olá amigo...

o funeral é a parte que menos importa..o importante é sermos recebidos pelo amor de Deus!...e aí somos todos ricos!

Bjs

Carla

mi disse...

mais uma vez, muito intenso...

1gota disse...

Nessa hora todos somos iguais...
Mas mesmo nessa hora uns são mais iguais que outros.

Andre Moa disse...

Esta história de todos serem iguais depois da morte, faz-me lembrar uma pessoa típica da minha Terra, que dizia, era eu ainda criança, já lá vão cinquenta e tal anos: "depois de morto, cevada ao rabo". É isso, depois de morto, tanto dá sermos ou não iguais. Devemos é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, para que se alcance a maior igualdade possível entre os seres humanos, em vida. Porque, depois de morto,como dizia o tal conterrâneo, cevada ao rabo.Esta história de se exaltar a igualdade depois da morte só serve para criar pessoas tristes, amarguradas, resignadas. E de resignados está o mundo (este mundo infernal) cheio.

Vítor Mácula disse...

Caro confessionário.

São sempre tantos funerais em cada um...

Os mortos, iguais; os vivos é que se agitam na diferença e na separação.

Abraço, nessa única certeza.

Henrique Santos disse...

É lá que somos verdadeiramente iguais. Este blog, padre, é importante, para uma renovação permanente da nossa caminhada e para uma evangelização mais alargada. Bem haja por isso.
Um abraço Ricky

xana disse...

"São sempre tantos funerais em cada um..."

ena, gostei tanto desta frase do Vitor Mácula..

Anónimo disse...

agora mesmo estou a projectar (exercicio académico apenas) uma igreja com centro paroquial, casa para o padre e duas capelas mortuárias. então todas as informações sobre os rituais e celebrações me são uteis para definir estratégias, implantação e desenhar o espaço. No meu projecto coloquei as capelas num espaço sob a igreja ao qual se acede a partir de escadas (embora esteja a pensar colocar um elevador, para o caso de ninguém querer levar o caixão em mãos para a igreja). E a respeito disto não sei até que ponto será funcional...

Se pudesses flar-me um pouquinho da tua experiencia e daquilo que achas que está mal projectado nas igrejas por onde tens passado... agradecia!

o meu mail é ccristianacarvalho@gmail.com

Jorge Oliveira disse...

É muito triste ninguém se importar connosco, mesmo na altura da partida, mas normalmente isso é o resultado da maneira egoísta como vivemos a nossa vida.

Só há "um jeito" para ficarmos na presença eterna de Deus é enquanto vivermos aceitar pela fé o sacrifício expiatório do único Mediador: Jesus Cristo.

Anónimo disse...

Bom dia , hoje é a segunda vez que venho visitar o seu blog e estiu a gostar cada vez mais. Em relação ao funeral de haver distinção de ricos e pobres, nesa hora já nada importa, mesmo que seja o rico a ir em braços não sei se teria sido ele a alcançar mais depressa a presença do senhor. O que importa é o que fomos para os outros em vida, é o que penso. Por isso eu digo que com certeza a minha mãezinha do coração assim que fechou os seus olhinhos elevou-se até ao senhor, uma vez que ela era tão boa. E como ela me dizia tantas vezes o que nós fazemos de mal ou queremos aos outros nós pagamos nesta vida com sofrimento.
Bem haja sr. Prior.

Anónimo disse...

Na minha maneira de ver a questão principal aqui não é a dos defuntos... mas a das pessoas que estão vivas. De facto, nas mãos de Deus não há medidas que não seja a régua do amor. Mas para aqueles que ficam, que ainda continuam a sua vida neste mundo, em que as ráguas são as do dinheiro, ou as do poder, ou outras ainda mais caducas, a essas importam estas pequenas coisas, afinal tratam-se dos restos mortais de algúem que lhes era querido... E quanto ao encontro com Deus... Ele saberá... como e de que somos feitos... e será sempre o pai que de braços abertos acolhe o filho casmurro...

Anónimo disse...

interessante... tantos são os homens que passam e continuam a passar... tantas são as vidas e as mortes em cada um de nós... tanta evolução...e... continuamos sem aprender.. nunca aprendemos não é... nunca deixaremos de ser estes humanos humanizados e que somos...

resta-nos a esperança de que o Espírito Santo nos vá guiando por aqui e por ali... em carrinha ou a pé pelo nosso caminho até às mãos amorosas do Pai!!

abracinho a todos

Anónimo disse...

è a primeira vez que escrevo ao Padre, embora já acompanhe o seu blog há algum tempo...e gosto imenso.

Relamente o que importa é que nessa hora somos todos iguais, embora aqui na terra o mesmo não se passe e custa-nos sempre assistir a este tipo de situações..

Andreia N

Beijinhos

Confessionário disse...

Cristiana, peço desculpa por não atender rápidamente ao pedido. pode ser por mail? Entra em contacto comigo por mail. De qualquer forma, ando extremamente ocupado... depois colaboro. E sempre podem colaborar os meus amigos aqui do confessionário...

Anónimo disse...

Duas considerações:
- Vai sendo cada vez mais frequente os sacramentos serem vividos e celebrados de uma forma individualizada, isto é, reservados à família e a pessoas amigas, definhando-se assim o sentido de comunidade cristã, com os seus valores de partilha e solidariedade. Claro que uma celebração particular tem as suas vantagens, mas dá também azo a momentos como o referido no post: até há gente que pode ajudar, mas que não avança por sentir que se vai intrometer...
- Por essa razão (entre outras), as comunidades vão precisando de leigos que possam funcionar como mestres de cerimónias ou formem equipas de acolhimento, atentos a pormenores falíveis. Dantes, podia-se contar com os membros das confrarias; ou bastava que o padre desse dois berros...
Muitas vezes, tal papel é assumido pelos funcionários das funerárias; mas nem sempre eles possuem a necessária sensibilidade. E, se calhar, as dificuldades até começam aqui: as pessoas esperam que as funerárias tratem de tudo, pois é para isso que são pagas. Mas a verdade é que nem todos podem pagar um bom serviço.
Talvez nas missas de defuntos se teha de deixar de ler tantas leituras de S. Paulo, e dar mais publicidade à piedade de Tobit...
JS