Depois de sentados, convidaram-me a rezar. Costuma ser função minha quando janto fora. Desta vez não convidara e fora convidado. A estranheza maior veio de seguida. Mas, senhor padre, temos uma forma de rezar diferente. Se não quiser, passamos à oração dita normal. Foram exactamente estas as palavras. Respondi que estava ali para jantar com eles e era com eles que queria jantar do princípio ao fim. Olhe, padre, antes de rezar propriamente, fazemos um pequeno exercício. É como um exame de consciência. Todos têm de contar o que de mais negativo e o que de mais positivo lhe aconteceu ao longo do dia. Começou o pai. A mãe fez algumas perguntas. Pediu algumas explicações. Depois foi a mãe e o pai fez as perguntas. Ficaram a saber o dia um do outro. Depois os filhos que contaram, alegres, o seu dia. Era-lhes mais fácil descobrir o que gostaram mais do que o que não gostaram muito. Reservaram-me o último exame. Falei com à vontade. Foi isto e isto. Deixaram-me à vontade. Não fizeram perguntas. Mas expliquei-me na mesma. Deu-me vontade. No final agradeceram a Deus o que tinha sido aquele dia. Não sei se a comida ainda se mantinha quente. Também não foi importante, porque o melhor de um jantar em casa de paroquianos é estarmos bem.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
A oração antes do jantar
Depois de sentados, convidaram-me a rezar. Costuma ser função minha quando janto fora. Desta vez não convidara e fora convidado. A estranheza maior veio de seguida. Mas, senhor padre, temos uma forma de rezar diferente. Se não quiser, passamos à oração dita normal. Foram exactamente estas as palavras. Respondi que estava ali para jantar com eles e era com eles que queria jantar do princípio ao fim. Olhe, padre, antes de rezar propriamente, fazemos um pequeno exercício. É como um exame de consciência. Todos têm de contar o que de mais negativo e o que de mais positivo lhe aconteceu ao longo do dia. Começou o pai. A mãe fez algumas perguntas. Pediu algumas explicações. Depois foi a mãe e o pai fez as perguntas. Ficaram a saber o dia um do outro. Depois os filhos que contaram, alegres, o seu dia. Era-lhes mais fácil descobrir o que gostaram mais do que o que não gostaram muito. Reservaram-me o último exame. Falei com à vontade. Foi isto e isto. Deixaram-me à vontade. Não fizeram perguntas. Mas expliquei-me na mesma. Deu-me vontade. No final agradeceram a Deus o que tinha sido aquele dia. Não sei se a comida ainda se mantinha quente. Também não foi importante, porque o melhor de um jantar em casa de paroquianos é estarmos bem.
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
O Mário que errou
A resposta saiu-me tão pronta como toda a conversa do Mário e eu não sabia na altura se ia dizer algo de jeito. Agora tenho quase a certeza que a pergunta do Mário foi respondida pelo próprio Deus.
Deus não está preocupado com o que fazemos mal, mas com o bem que não fazemos.
sábado, fevereiro 12, 2011
Como reages à notícia que revela o aumento de 1,4% de padres?
Li ontem esta notícia que coloquei em destaque. Gostava de a propor à reflexão. O objectivo é fazer uma opção na sondagem que está no sidebar, e depois comentar neste post a referida opção.
Vaticano revela aumento de 1,4% no número de padres
Ordenações superam falecimentos e abandonos pela primeira vez desde 1999
Cidade do Vaticano, 11 Fev (Ecclesia) – A nova edição do Anuário Estatístico da Igreja Católica revela um aumento de 1,4% no número de padres em todo o mundo entre 1999 e 2009, adiantou hoje o Vaticano.
O volume, que vai ser apresentado nos próximos dias, elenca 410 mil sacerdotes, dos quais mais de 275 mil diocesanos e cerca de 135 mil de ordens e congregações religiosas.
O «Annuarium Statisticum Ecclesiae 2009» é redigido pelo departamento central de estatística da Igreja e publicado pela Livraria Editora Vaticana. Segundo os dados adiantados esta sexta-feira pela Rádio Vaticano, o número de padres ordenados em 2009 ultrapassou o dos sacerdotes que faleceram ou abandonaram este ministério, situação que não acontecia desde 1999. Na Europa, contudo, o número de mortes continua a ultrapassar o das ordenações sacerdotais.
O novo Anuário Estatístico da Igreja mostra que o número de padres e de católicos aumenta na África, Ásia e América Latina, caindo na Europa e América do Norte.
sexta-feira, fevereiro 04, 2011
O primeiro, segundo ou terceiro
quinta-feira, janeiro 27, 2011
A barriga cheia fala mais que a barriga vazia
O padre José, que está a oeste das minhas paróquias e que dista delas cerca de vinte quilómetros, foi operado. Os seus paroquianos há dias que não têm missa. Ele não pode. Os médicos e a recuperação não deixam.
Por isso, no Domingo passado, o senhor Alecrim, que é seu paroquiano, entrou pela sacristia de uma das minhas paróquias, uns minutos antes da eucaristia. Estávamos em amena reinação ou cavaqueira. Sorrisos e gargalhadas. Temos esta maneira de sustentar a boa disposição para nos dispormos com alegria a celebrar. O Alecrim já me conhece e cumprimentou-me. Contou do seu pároco. Recordámos o padre António. Veio a propósito falar da idade média avançada dos nossos padres. A maioria está acima dos setenta. Observámos que as paróquias do José e do António estão sem missa. O António ainda é novo. E às tantas deixei cair o desabafo para o saco. E ainda há por aí quem se queixe. Referia-me aos meus. Porque o horário da missa não é o que mais agrada. É cedo. É tarde. O padre foge, no final, para correr de uma missa para outra. E vem outra vez a missa vespertina. E uma Celebração da Palavra com o presbítero ausente.
Queixas com as razões do comodismo. Pensei-o, mas não o disse. Apenas deixei cair o desabafo no saco. Em saco roto. Foi este o meu pensamento. No entanto o Alecrim chegou para mim e para todos. Sabe, padre, queixam-se de barriga cheia. E repetiu. Queixam-se de barriga cheia. Cuide-se para não ir à cama também. Não corra muito. Faça só o que pode. E não dê importância a quem se queixa de barriga cheia. Quem nos dera que o nosso padre pudesse correr fosse a que hora fosse. Quando não tiverem, darão valor ao que tiveram. A barriga cheia fala mais que a barriga vazia.
sábado, janeiro 22, 2011
Esta Igreja é uma treta
segunda-feira, janeiro 17, 2011
A cama
quinta-feira, janeiro 13, 2011
Até que ponto confias em Deus?
terça-feira, janeiro 11, 2011
A Maria do Céu
E há dias, ao entrar, por acaso, numa das minhas igrejas, ela estava lá sentada. Observei-a durante alguns minutos. Ela não deu conta da minha presença. Pensei que ela estivesse dormitando. Mas não. Parecia bem atenta ao que estava a fazer. Não estava a rezar, pensei. Pois habitualmente murmura muitas palavras na sua oração. Até durante a missa. E ouve-se. Hoje não a ouço. Mas a curvatura da cabeça indiciava-me que estava a olhar para a cruz. Fixamente. Não se mexia. Eu já não conseguia deter nem os pensamentos nem a posição das costas e das pernas. Estava nestes preparos quando me recordei daquele aldeão, em Ars, a paróquia do João Maria Vianney, que passava horas em frente ao sacrário. Um dia o santo perguntou-lhe que fazia tantas horas naqueles preparos e o aldeão respondeu-lhe. Eu olho-O e Ele olha-me. A Maria do Céu olha-O e Ele deve estar a olhá-la. Um e outro não se devem ter distraído comigo. Vou embora. Um dia ainda hei-de saber rezar assim, na simplicidade dos que se amam.
sexta-feira, dezembro 31, 2010
O instante que passa num instante
E é nesse instante que a vida passa na nossa frente cheia de desejos, de intenções, de vontades, de promessas, de esperanças. Não temos tempo suficiente para pensar na vida, mas cuido que ninguém ousa passar este instante sem pensar na sua vida. Recordo que no ano em que a minha mãe faleceu, passei vinte minutos em silêncio numa varanda aberta para as luzes da noite. O silêncio natural das lágrimas. Era com a minha mãe que costumava passar aquele instante famoso do agora é um ano e agora já é outro. Já lá vão umas décadas. A pele ainda era macia. Ainda não tinha sido endurecida pela vida. A penugem começava a parecer-se com uma barba. Devia ter uns dez, onze, doze anos. Já andava no Seminário. Já sabia muitas coisas e faltavam-me saber milhares. Mas levava tudo a sério. E recordo que na passagem de ano toda a gente lá de casa saía para a noite. Conhecia o significado da noite, pois também saíra algumas. Mas na passagem de ano não. Ficávamos apenas eu, meu pai e minha mãe. Uns minutos antes da hora marcada para mudar de ano, já a minha mãe estava na cama, sentada, passando as contas do terço. Nalgumas dessas ocasiões o meu pai também estava com ela. Eu vestia o meu pijama verde-claro, entrava dentro dos seus lençóis, e sentava-me a seu lado. Pegava no meu terço, igualmente verde-claro, aquele que no escuro ficava iluminado, e contava ave-marias com minha mãe. Passávamos aquele instante com a oração do terço. Não imaginam o que eu sentia. A alegria que era poder partilhar aquele instante com Deus e com a minha mãe. Parecia que o ano seguinte se enchia deles os dois. E com eles, os desejos, as intenções, as vontades, as promessas, as esperanças tornavam-se certezas.
Com os anos, aquela forma de passar aquele instante passou ao esquecimento, porque as passas dos amigos caíram-me nas mãos e deixei-me levar pela corrente do engole passas, berras naquele segundo, bates nos tachos, beijas toda a gente, ligas aos mais chegados, e ponto final.
Por isso hoje não vou pegar nas passas. Vou pegar nos amigos que estiverem ao meu lado. E vou levá-los comigo a rezar uma pequena oração. Talvez o Pai Nosso porque gosto muito dele. Preciso de um ano cheio de certezas.