sábado, janeiro 03, 2009

sondagem_ “Pede um desejo para 2009”

Passados que vão três dias do início do ano 2009 e mais de 200 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A proposta era:
“Pede um desejo para 2009”

E os resultados são:
1. + Justiça _33%
2. + Saúde _15%
2. + Fé _15%
4. + Amor _15%
5. + Esperança _ 9%
6. + Paz _ 7%
7. + Cultura _ 3%
8. + Dinheiro _ 1%
9. + Descanso _ 1%
10. + Diversão _ 0%
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pequenas considerações:
Hoje ainda faço menos considerações que na anterior sondagem. O assunto é demasiado pessoal e tem tudo a ver com os sonhos, desejos, problemas e dificuldades de cada um. Com certeza cada um pediu aquilo que maior falta lhe faz. Porém, é intressante perceber o que as pessoas mais desejam.
  1. Realço que foram valores cristãos o mais pedido. A metade inferior da tabela não se refere a valores e acabou por ficar constituída por “cultura”, “dinheiro”, Descanso” e “diversão”.
  2. Fico com alguma alegria ao verificar que o “dinheiro” e a “diversão” não são consideradas como essenciais para 2009. E embora se fale tanto em crise económica, os meus penitentes preferem outros bens mais essenciais.
  3. Não consigo perceber o porquê da justiça ter ficado em primeiro lugar. Pode ter-se dado o caso de ter havido alguém que votou várias vezes nela. Mas isso não se considera agora. Pensarei que se trata de um pedido para que haja mais igualdade de oportunidades.

Hoje surge nova sondagem, ainda a pensar no ano 2009. Enquanto na anterior sondagem, a proposta prendia-se a coisas pessoais, a desejos e anseio pessoais, esta prende-se, de uma forma altruísta, aos outros. Tendo em atenção que a Igreja Católica somos nós, o conjunto dos católicos, e não somente uma estrutura organizada hierarquicamente, que desejas, anseias e sonhas, ou gostarias que melhorasse ou mudasse na nossa Igreja em 2009? Por isso desta vez surge a seguinte proposta:

Pede um desejo para a Igreja Católica em 2009

terça-feira, dezembro 23, 2008

O Natal de dois mil e cinquenta

Apreensiva a leitura que fiz há dias. Que em dois mil e sete Portugal registou um valor do índice de fecundidade de 1,3 filhos por mulher. Que tem vindo a diminuir substancialmente e que, se acaso esta situação não melhorar, em dois mil e cinquenta chegar-se-á a uma situação insustentável, com uma idade média acima dos cinquenta anos e um rácio de idosos sobre população activa superior a 0.6. A previsão lógica é que acabem as pensões de reforma ou os activos se revoltem com os impostos e taxas que terão que pagar. Dá que pensar. Deu-me que pensar.
Também não foi há muitos dias que fui visitar o lar. Faço-o de vez em quando. Quando o faço, quase sempre regresso a casa com algo para pensar. Os lares são locais propícios para pensar a vida. A época do Natal é propícia igualmente para pensar a vida. Porque Ele também quis viver como nós. Mas não foram estes os meus pensamentos desta visita. A manhã estava fria, mas tinha um sol a vislumbrar-se ao longe. Um pouco longe. Depois de falar com os utentes do lar sobre o amor que Deus nos tem, um amor tão grande que O obriga a tornar-se o mais próximo de nós possível, assumindo uma vida igual à nossa, com sofrimentos e tudo, sentei-me para almoçar ao lado deles. Enquanto dava voltas ao bacalhau, lembrei como vou juntar a minha família, nesta consoada, à volta do bacalhau. Por isso, e por curiosidade, perguntei quantos utentes iam passar o Natal a Casa. Informaram-me que seriam 10 % no máximo. Como achei aquilo absurdo, insisti se não tinham filhos? A resposta deixou-me ainda mais espantado. Praticamente todos.
E foi nesse momento que fiz contas à vida. Por este andar, em dois mil e cinquenta os velhos vão ser em número muito superior aos novos e os pais aos filhos. Se já hoje os filhos não dão o mínimo de atenção aos pais, pior será quando o número de filhos for menor. Em dois mil e cinquenta passaremos o Natal sozinhos nos lares de terceira idade. Praticamente todos.
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Aproveito a ocasião para desejar a todos os "penitentes" e amigos um Natal que nos faça sentir o valor e importância da Vida, uma Vida dada por Deus para sermos felizes!

sexta-feira, dezembro 19, 2008

sondagem_ “Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?”

Passados que vão quase dois meses da última sondagem e 583 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado esquerdo, no sidebar. A questão era:
“Como classificas de uma forma geral as homilias que tens ouvido?”

E os resultados são:
1. Medíocres _44%
2. Péssimas _22%
3. Óptimas _13%
4. Boas _11%
5. Razoáveis _ 9%
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pequenas considerações:
Hoje não faço grandes considerações. Cada um as fará como entender.
  1. Apenas faço a constatação de que em Portugal ou nos países onde estão os “meus penitentes” não há homilias razoáveis. Ou são acima do bom ou acima do mau.
  2. Também não quero esquecer que uma homilia será sempre boa ou má dependendo da pessoa que a ouve, daquilo que precisa ouvir e da interpretação que fizer daquilo que ouve.
  3. E ainda realço que 66 % das respostas evidenciam homilias abaixo do razoável e 24 % acima do razoável, o que significa que acima do razoável é quase um terço do abaixo do razoável.

Hoje surge nova sondagem, a pensar no ano 2009, um ano que se aparenta difícil. Talvez seja oportuno tentarmos descobrir o que para nós seria mais necessário. Por isso desta vez não surge uma pergunta, mas a oportunidade de fazer um pedido.

Pede um desejo para 2009

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Deus e o telemóvel da Ana

O telemóvel da Ana pifou. A Ana ia pifando. Ó padre, ele há coisas, contava-me porque eu sou o padre e porque precisava de desabafar com alguém que entendesse a relação de Deus com as suas coisas. O meu telemóvel pifou de todo. Prova disso é que, para além de não se ligar, quando ontem saí da missa retirei-o do bolso e verifiquei que ele estava a carregar. Não estava ligado à electricidade, mas estava a carregar. Já tinha ouvido dizer que a missa era um momento para "recarregar baterias" mas sempre pensei que fosse uma metáfora. A Ana é muito divertida. Faz-me lembrar a simplicidade e o humor de Deus na forma como ela encontra sempre algo divertido para explicar como Deus se relaciona com as suas coisas. Aproveitei a oportunidade e meti-me da mesma forma divertida com ela. Então a menina também leva o telemóvel para a missa? Não me diga que espera alguma chamada importante nessa hora? Ou faz parte do grupo daqueles que, colocando-o em silêncio e a vibrar, obrigam depois o pessoal a procurar, afinal, quem tem o bolso a tremer? Não deixei que ela sequer respondesse. Queria levar a melhor na brincadeira. Se calhar é por isso que o teu telemóvel pifou. Deus não deve gostar disso. Ao que ela, com ar de quem ia vencer a brincadeira e dar a martelada final. Ó padre, ainda não acabou a minha história. Veja como Deus sabe da necessidade que tenho do telemóvel. Acabei de receber, há coisa de uns vinte minutos, uma chamada dos Escuteiros a dizer que a minha frase foi seleccionada e que ganhei um telemóvel. Já nem me lembrava que tinha participado naquilo. Ora veja como Deus, dado que não conseguiu carregar bem a bateria, decidiu premiar-me com uma novinha e com o embrulho todo atrás. Já desconfiava, mas hoje aprendi que é mesmo Deus quem nos dá as prendas no Natal.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

O céu e o inferno, parte II

E continuou. Isso não explica que o céu seja uma coisa e o inferno seja outra. Nem explica a necessidade dos dois. O pai do Diogo era inteligente. Há muito não via tamanha inteligência interessada e participativa num encontro de preparação de qualquer sacramento que fosse. Geralmente as pessoas questionam pouco, poucas dúvidas lançam, porque assim a reunião é mais curta, porque têm receio de dizer algo que os coloque mal, porque quase sempre não estão seguros das suas convicções ou ciências, porque os outros podem olhar de lado, porque o padre se pode chatear e a igreja não gosta que se façam perguntas. Mas o pai do Diogo tem a inteligência à flor da pele. Por isso pergunta e por isso eu deixo que a forma como sinto o céu e o inferno sejam transpiradas para aquela reunião, mesmo que alguma parte dessa forma de sentir possa ser contra o Magistério da Igreja.
Para mim tudo tem a ver com a proximidade (continuo a dizer que não é física) que temos com Deus. Quem estiver mais perto, ficará mais satisfeito. Quem estiver mais longe não consegue senti-l’O tão bem e fica muito insatisfeito. Esta insatisfação leva ao desalento e à dor. Aliás, o facto de estarmos lá mas não estarmos perto é que torna tudo mais difícil. Porque se lá não estivéssemos não ia custar tanto. Se não sentíssemos esse afastamento não ia custar tanto. Tudo tem a ver com aquilo que se sente ou não se sente. O afastamento é o inferno e a proximidade o céu.

domingo, dezembro 07, 2008

O céu e o inferno, parte I

Num encontro para preparar baptismos, e quando explicava a forma como Deus queria salvar todos e como não fazia grande sentido esperar que o Baptismo fosse o nosso bilhete para a salvação, mas sim a prova de que nós queremos a salvação, o pai do Diogo pediu-me licença para perguntar e perguntou. Para que é que Deus nos quer salvar? Como faz para nos salvar?
Sem parar os raciocínios que ia fazendo, fui respondendo com o Reino de Deus, a Ressurreição e afins. Claro que as palavras que utilizei estavam demasiado gastas pelo magistério da Igreja e não me fazia propriamente entender. Dei conta porque ele pediu nova licença para perguntar e perguntou. Pode dizer-me o que é essa história do céu e do inferno?
Quando estudava teologia no Seminário havia muitas definições ou teorias que achava difíceis de compreender. Mais ainda de explicar. Sem dúvida que uma delas é a do céu e o inferno. A sua existência. A sua forma.
Que ninguém pense que o inferno é um lugar de muitas chamas e muita sede e que o céu é um jardim paradisíaco, fui dizendo. Já na altura dos meus estudos ficara claro que não eram espaços, que não os podíamos imaginar ou recriar como um espaço físico para onde se vai depois de morrer. Por isso não podemos confundir o céu azul e bonito que vemos por cima de nós com o céu de Deus. Mas se não são locais para onde se vai, porque se diz que se vai para lá?
Sabia que não era fácil explicar-me, mas avancei que Não é o espaço que nos faz estar, mas nós, a nossa pessoa. O ir para lá é uma forma de lá estar. Eu posso estar num sítio estando noutro deveras, porque o meu sentir está noutro lado. Também posso estar com alguém sem estar ao seu lado. Posso estar com Deus, a seu lado, sem ser um estado físico, mas um estado de sentir. É apenas uma forma de estar. E de certeza que estaremos com Deus depois da nossa morte, no céu ou no inferno…

quinta-feira, novembro 27, 2008

Quer ser padrinho

O António vai a crismar porque quer ser padrinho. Foi à Catequese porque queria ser padrinho. Nunca foi de faltar muito porque queria ser padrinho. Sabe de cor os sete sacramentos que a catequista lhe ensinou porque quer ser padrinho. Sabe que o crisma confirma o baptismo e por isso se chama Confirmação, porque quer ser padrinho. Sabe inclusive que é mais do que uma confirmação. Disseram-lhe que tinha a ver com a maturidade da fé. Aprendeu os dons do Espírito Santo que, dizia, curiosamente também são sete, porque quer ser padrinho. Porta-se bem nos últimos encontros de preparação para o crisma porque quer ser padrinho. Vai-se confessar porque quer ser padrinho. Vai a crismar com um padrinho ao lado porque quer ser padrinho. Mas quando lhe pergunto porque quer ser padrinho, não sabe porque quer ser padrinho.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Será que os animais vão para o céu?

Irmão Sol. Irmã Lua. Irmã árvore. Irmão pintassilgo. Irmão cão. Faz sentido gostar do que Deus criou, como faz muito sentido gostar e tratar bem dos animais. Um amigo meu gosta do que habitualmente dizemos ser o melhor amigo do homem, os cães. Digo-o sem segundos sentidos. Relaciona-se bem com eles. Eu também me relaciono bem com eles, mas apenas quando estão presos. Fora disso é só uma espécie de respeito. Eu gosto de lhe chamar respeito. Porém, o meu amigo gosta tanto deles que um dia, numa conversa daquelas em que costumamos reflectir assuntos ou passar algum tempo à procura de assuntos para reflectir, saiu-se com esta. Será que os animais vão para o céu? Fiquei de pernas e mãos atadas no sentido mais intelectual da expressão. Nunca se me havia deparado semelhante questão. Não imaginei sequer que um dia pudesse ser questão. Comecei por dizer aquilo que era mais fácil, o Olha pró que te deu. Não me podia desarmar e por isso passei para o Ora bem, eu penso que. E depois de pedir ajuda a Deus, se é que Ele pudesse estar interessado em ajudar-me, fui raciocinando em voz alta. Ora bem, eu penso que eles são capazes de se relacionar, mas não são capazes de amar no verdadeiro sentido da palavra, porque amar é algo gratuito, desinteressado. Os animais amam quando recebem algo, quando se habituam. Há pessoas assim, mas isso não interessa para esta nossa discussão, disse para amenizar ou aliviar o diálogo. Por este motivo não devem conseguir estabelecer relação de amor com Deus, não achas? Ora bem, eu penso que se não estabelecem relação de amor com Deus, não tem sentido pensar que eles possam ir para o céu. Disse mais umas três ou quatro vezes palavras parecidas com pensar e possam e ora bem eu penso que, porque não sabia o que dizer mais. Mas para mim o céu, apesar dessa ideia fenomenal de ser um paraíso, não precisa de tanta criatura bela. Só de imaginar que podia haver cães no céu à solta…

sábado, novembro 15, 2008

O meu retiro

Estava no meu décimo segundo ano, prestes a ingressar em teologia. Um passo decisivo. Éramos mais que dez, mas não lembro o número ao certo. Não foi isso que me marcou. O nosso Director Espiritual agendara um retiro a que chamava de decisivo. A entrada em teologia era um passo importante. Modelo de Santo Inácio. Pequena introdução à reflexão com os passos a seguir. Depois uma hora de meditação individual. Foi uma semana de grande silêncio. Ainda recordo o tinir dos pratos às refeições e o chilreio dos pássaros. Passei uma tarde sentado no monte, apenas com Deus, uma sandes e uma maçã. Conversei muito com Ele e comigo. Às tantas o padre pregador ensina uma técnica. Desenhem numa folha duas colunas. Na primeira enumerem as razões pelas quais devem ir para padre. Na segunda as razões para não irem. Foi um grande debate interior. Enchi a folha, tanto de um lado como do outro. Penso agora que escrevi mais na primeira que na segunda. Mas às tantas, parei bruscamente. Assaltou-me um pensamento. Melhor, um sentimento. Deus ama-me tanto! E repetia-o. A repetição não saía de dentro de mim. Recordo que estava na Capela, sozinho, a um canto. Era um final de tarde. O lusco-fusco salientava a luz que alumiava o Santíssimo. Atirei a folha ao chão. Não havia necessidade dela. O amor de Deus bastava. Fiquei a olhar a luz que pousava na folha. Era a luz que vinha do sacrário. Deus ama-me tanto! Uns anos mais tarde, antes da minha ordenação, ainda sentia esta repetição. Hoje ainda vou buscar forças a este retiro, a esta repetição. Engraçado como não foi amor a Deus que me tornou sacerdote, mas o amor de Deus.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Nem pensar

O Tiago é um miúdo esperto. Tem treze anos. Vai sempre à missa. É meu acolito. Tem um sorriso do tamanho de Deus. Enquanto segura na vela junto ao Evangelho, espreita para acompanhar a sua leitura. Penso que é um miúdo que Deus já tocou de maneira especial. Por isso penso também que poderia ser chamado de forma especial para o sacerdócio. De vez em quando insisto qualquer coisa como Bem poderias ir para padre. Davas um bom padre. Já te imaginaste meu colega? Desde pequenito que insisto. Hoje deu-me para falar de novo. A mãe estava presente. Ela ficaria contente, de certeza. Estavam mais duas pessoas na sacristia. A missa terminara, e eu insisti. Bem que podias ir para padre. Nem pensar, respondeu convicto. Um dos presentes lembrou que assim não podia casar. Todos os presentes pensámos no celibato e no casamento. Mas o Tiago acrescentou. Não tem nada a ver com isso. Então, porque não hás-de ir para padre, perguntei. Nem pensar. Já viu o que os padres passam, o que os padres têm de aturar?! Nem pensar.
Calou-me a insistência. Calou o palpite dos presentes. Calou aqueles que procuram respostas quase científicas para a falta de vocações consagradas. Falou daquilo que muitos sentem, partindo daquilo que vêm e ouvem, quando lhes é feito o convite.