quinta-feira, outubro 11, 2007

Uma Confissão uma lição

Ainda era seminarista, mas não esqueci mais. Foi uma lição.
Estava em Fátima e, como muitos outros, aproveitei para me confessar. Abundam padres em Fátima. Mas isso não vem ao caso. Pelo menos que sirvam para nos encontrarmos de novo com Deus através da Confissão. A sala das confissões tem fila preparada, confessionários preparados. Chegara a minha vez porque a luz verde tinha acendido para mim. Entrei. Ajoelhei. Não olhei o padre, que este é apenas o intermediário. Quem perdoa é Deus. Olhei Deus através do padre e inclinei-me para me recolher e para que os pecados a apresentar fossem mesmo os meus e os que mais me doíam. Feitas as orações prévias, comecei o desenrolar dos pecados. Quase como um desfiar do rosário. Não precisei dizer mais que dois ou três que me perturbavam para que o padre iniciasse um rol de perguntas. E isto? E aquilo? As perguntas eram mesmo daquelas que não se esperavam. Salvo erro, estava no último ano de Seminário e estas coisas já não eram novidade para mim. Porém, não abri mão. Deixei-o perguntar e, com ares de malvadez, respondi afirmativamente às suas perguntas. Que sim. Também tinha feito isto. E mais aquilo que o senhor padre não se lembrou e nem lhe passa pela cabeça.
Pequei. Pequei porque inventei pecados. Dos piores que me vieram à memória. Dos mais escabrosos. Ora digam lá se não tinha razão. Afinal, a pessoa que se confessa, se estiver verdadeiramente arrependida e porque custa assumir o nosso pecado perante outrem, não estará também sofrida? Não precisará que um padre, por melhor que seja a intenção, faça perguntas desmesuradas. Quando muito que as fizesse com medida e com a única intenção de ajudar o penitente.
Não gostei daquela confissão. E já ouvi muito boa gente que também não gostou da confissão a, b ou c, daquele padre que faz ou fez perguntas desmesuradas, exactamente porque desmesuradas, despropositadas e inconsequentes. Não entendo porque um padre precisa de saber mais coisas, quando Deus é que precisa de as sentir arrependidas. Por isso ainda pequei mais. Terminei a confissão dizendo que era sacerdote, o que aumentava – digo eu – a responsabilidade dos pecados, e que não achava justa aquela forma de apresentar a misericórdia de Deus. Levantei-me. Saí e coloquei-me de novo na fila. Quem me visse, diria que eu não estava bom. E não estava mesmo. Não quis ensinar nada àquele sacerdote. Mas não consegui evitar. Não sou propriamente santo.
Eu é que aprendi uma lição. Nunca fazer perguntas durante a confissão, a não ser que a pessoa peça, e restringir-me sempre àquilo que se pode chamar faltas de amor a Deus, ao próximo e a si mesmo.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Uma certa liberdade

Não vinha com o lenço preto e apertado a esconder as faces. Trazia o cabelo arranjado, lábios escurecidos pelo batom. Perfumada. Arejada. Ares de nova e de trabalhadora. Mas todo o rosto dava azo a imaginá-la com um lenço preto apertado, cabeça inclinada para a frente para esconder o rosto e para deixar apenas ver as pálpebras dos olhos. Mãos sem saber onde se colocar. Padre, não sei como ser mais perfeita. Eu bem tento. Cumpro ao máximo todos os preceitos. Sabia o que eram! Rezo. Mas tenho tanto medo que Deus não me salve. Dizem que Ele vê tudo e eu vivo com medo que ele me interprete mal, que Ele não goste do que faço e digo. Tenho medo de errar. Tenho medo dos castigos de Deus. Mas cumpro. Faço tudo o que me ensinaram que devo fazer.
Não usei a mão para lhe levantar a cabeça. Mas ela levantou-a. Porque faz, afinal tudo isso? Ó padre, porque Deus quer. Porque aprendi que tem de ser assim.
Só por isso? Retornei. Baixou de novo e cabeça. Posição inicial. E não chega, padre?
Foi quando lhe contei que Jesus morreu para nos libertar e não para nos oprimir ou condenar. Foi quando lhe expliquei que se a fé nos faz prisioneiros dos nossos actos, ela pode não ser verdadeira. Foi quando lhe falei que o cristão vive na liberdade e que por isso vive na alegria. E que o sermos cristãos nos faz felizes porque nos liberta de tudo, até da morte. E que tudo o que fazemos como cristãos deve ser consequência da nossa vida entregue a Deus e não como exigência de Deus para a nossa vida. E que Deus nos ama como somos e não como achamos que Ele gosta. E que a Páscoa liberta. E que se não somos livres na fé, então a nossa vida está aprisionada numa crença e não está fundada no Amor de Deus.
Disse ainda mais umas frases que queriam dizer exactamente o mesmo. Por isso não repito agora. Ela agradeceu. Não mudou a posição do rosto e da cabeça, mas disse que ia pensar.
Quando cheguei a casa, abri o armário onde está o espelho, inclinei também a cabeça levemente, e pensei. E eu? Será que eu sou livre na minha forma de ser padre?

quarta-feira, outubro 03, 2007

O lado de cá e o lado de lá da janela

Ultimamente tenho aprendido muita coisa. Afinal, um homem está sempre a aprender! Quando era seminarista, não entendia porque muitos padres se refugiavam no seu cantinho. Não davam améns a ninguém. Tornavam-se frios e distantes. Apareciam como quem tem toda a autoridade. Como a última palavra na paróquia. Apareciam como os donos do sagrado. Se por ventura comiam fora de casa, que fosse com gente que podia interessar. Achava que era um erro. Tinham de ser gente sofrida. Gente sem braços para amar. Só para o serviço e o zelo pastoral. Pensava eu que não devia ser nada saudável ficar por detrás de uma janela, fechada, a olhar para lá das nossas paredes. Hoje, fazendo a experiência, continuo a sentir que as janelas foram feitas para abrirem. E que as portas se inventaram para se poder sair e entrar consoante as necessidades. Mas, e há sempre um mas. Nem que seja para entender a perspectiva do outro. Mas a chuva cai lá fora. E molha. O sol bate fortemente e não se suporta. O vento agita como se nos arrastasse. Pode vir um carro e atropelar-nos. Não sei. Deste lado da janela não tenho de ouvir desaforos, faltas de compreensão. Não me sujeito tanto. Posso falar sozinho que ninguém me interpreta mal. Não tenho de ser ofendido. Não tenho de escutar o que dizem por lá das coisas que faço ou devia fazer ou entendem que devia ser. É mais esquisito, mas não dói tanto esta cruz. E pergunta um penitente. Porque dizes isso hoje? E respondo. Porque não consigo viver sem me dar realmente, sem sentir os outros, sem amar o próximo, sem conversar, conviver, brincar, rir com os outros, aproximar-me de quem precisa ou quem preciso, estar com os outros, ser eu próprio. Ser o padre, o amigo, o homem, o Cristo… O padre é apenas um padre. Mas é mais fácil fazer como aqueles que avistavam o mundo do lado de cá da janela. É esta a minha oração de hoje.

sábado, setembro 29, 2007

Como é que o stor aguenta?

A aula estava, como sempre, em rebuliço. Eram miúdos complicados, mas gostavam de aprender a vida. Demoravam a sentar nas cadeiras. Demoravam a assentar o silêncio. Porém, passados que fossem cinco minutos, prestavam atenção ao que eu falava. Só que mais não fosse, para me poderem confrontar e questionar. Para me medir o pulso. Hoje em dia os jovens são muito assim. Dispersos, mas com sede de perceber a sua vida. E no meio de uma situação normalíssima de uma aula de EMRC o Luís soltou descaradamente a pergunta. Ó stor, não lhe custa essa coisa do celibato? Como é que o stor aguenta? Não tinha absolutamente nada a ver com o assunto da aula. Mas respondi no segundo seguinte, como resposta à sua pergunta, que ainda era novo. Todos franziram as orelhas. Pois, por isso mesmo, stor, disse outro. O stor ainda é novo. Quando for velho é que vai ser mais difícil, acrescentei. Ó stor, retornou o Luís. Atão mas agora, que é novo, não será mais difícil?! Os olhos estavam todos à espera que explicasse. Não tinha sentido algum a minha afirmação. De novo é que a gente tem as hormonas aos saltos! Deixei que a sala parasse. Virei costas e escrevi no quadro, enquanto perseguiam o barulho do giz: Quando tivermos menos forças, será mais difícil encontrá-las.

quinta-feira, setembro 20, 2007

A chaveira

Eu já disse que os santinhos têm de vir para aqui, refilava comigo. Era a chaveira, termo inventado por mim para quem têm as chaves das capelas para mais ou menos tomar conta delas, dar uma visitinha de vez em quando, fazer uma limpeza aqui e outra ali. Moram perto da mesma e quase sempre encontram afinidades com ela. O pior é quando a afinidade se transforma em posse. É a fronteira entre a responsabilidade e o poder, o serviço e o uso. Acontece muito. Quero aqui as imagens, já disse. Elas tinham sido retiradas por motivos óbvios. Primeiro porque havia sido indicação do especialista de arte sacra que tinha recuperado o altar e as imagens, insinuando que a morada destas era desadequada. Segundo porque o Conselho Económico decidira levá-las para um local mais adequado. Bastava esta, desde que sensata. Perguntei-lhe com que autoridade fazia aquela exigência. Ia sorrindo e tentando que as palavras não fossem ofensivas. As delas também, reconheço. A senhora esforçava-se para não fazer alarido. Perguntei-lhe se eram dela as imagens. Se sabia que antes de ali estarem haviam estado noutro local. Roubaram-mas, repetia. Olhe que eu deixo de tomar conta da capela. Depois da exigência vem a chantagem. Depois da chantagem, muitas vezes, a desistência para que os outros não pensem que somos fracos. Não entro nessa. Respondo que eu não funciono dessa forma. Apesar dos esforços, os decibéis iam subindo. Havia gente por perto. Tínhamos acabado a Eucaristia. Alguns davam-me os parabéns, pois fazia anos de sacerdócio. O ambiente estava estranho, bom e pouco bom. Num dos poucos segundos de silêncio, esbocei um desejo a Deus. Livra-me rápido desta. Estás distraído? Logo hoje. Nem hoje.
Uma pequenita, contaram-me depois, estava atenta, muito atenta, à batalha das palavras e dos gestos da senhora. Eu explicava o papel das chaveiras quando, às tantas, vi uma mão pequenita levantar-se quase acima das ancas da senhora, insinuar no rosto um gesto de força, e zás que já levaste uma palmada. Para que se calasse e deixasse o senhor padre em paz. Quem estava atento riu à brava. Rodearam-me com as gargalhadas. Até a senhora riu. Deixámo-nos a seguir. Afinal Deus não estava distraído.
Pena, ou talvez não, que duas semanas depois a senhora tenha entregue, através do marido, a chave da capela.

quarta-feira, setembro 12, 2007

A Rosária

É o que se chama um ponto no sentido mais cortês que lhe conheço. Basta-me olhá-la, o seu rosto desmazelado mas honesto, e a vontade de sorrir surge espontânea. A última aconteceu antes da missa da semana. Estava apressado pelo relógio da pontualidade. Mas insistia na oração que me queria ensinar. Ensina orações a toda a gente. Percorre a vila de lés a lés com orações ou jaculatórias nos lábios, contam-me. Para cada ocasião tem uma. Na sua ingenuidade e simplicidade, aquela forma de dizer orações é a forma de se encontrar com Deus. Não me repugna, porque é genuína. Porque é verdadeira nesta forma de ser cristã. Custa-me aceitar, mas a Deus não deve custar. É uma forma engraçada de O amar. Não é hipócrita. Só é genuína. Noutra pessoa acharia uma hipocrisia tamanhas peregrinações de orações ditas para serem ditas ou ouvidas. E tem de ser, senhor padre. Está bem, diga lá. E vai uma enxurrada de palavras lindas dirigidas à virgem Maria. Gostei. Já não é a primeira vez que lhe peço para as escrever para a posteridade. Mas o castiço foi quando no meio da referida oração surge a palavra “penhores”. Ups, pensei. E ups perguntei: Sabe o significado dessa palavra? Não, senhor padre. Ensine-me. É que foi rir. Ela também riu. Então nem sabe o que está a dizer!? Mas é tão linda, senhor padre. Lá está a beleza das suas orações. São lindas porque são para serem ditas de forma linda. Um vaso também não se torna bonito porque as flores são bonitas, perfumadas ou coloridas. Depende de quem e do como se faz o arranjo das flores e de quem e do como se olha o vaso.
Não avançámos mais na conversa, que estava na hora da missa e o pessoal estava à espera. Mas enquanto me paramentava ia rindo à brava por debaixo da casula. Um dos acólitos ainda me perguntou se não encontrava o buraco da casula. Eu não conseguia era esquecer o rosto da Rosaria. E mais me lembrei daquela ocasião em que, aqui na paróquia andaram a fazer umas filmagens para um filme. Um dos actores vestia a pele de padre e uma batina. A Rosaria não perdeu tempo. Irrompeu no meio das filmagens para pedir um favorzinho ao senhor. Olhe, já que aqui está, não me podia confessar?

sexta-feira, setembro 07, 2007

De rabo para o ar

Fazia-se silêncio. Uns para me ouvir e outros para descansar da noite mal dormida. Os olhos na direcção do ambão, na minha direcção. Eu falava, falava, pregava. Já lá iam uns bons cinco minutos. A coxia estava desimpedida, como é normal. O fundo da Igreja repleto. Os bancos cheios. Mas tudo em silêncio. Agora imaginem o que é avistar, no meio deste cenário e deste silêncio, uma senhora dos seus setenta anos ajoelhar-se a meio e no meio da coxia depois de descalçar o chinelo para tentar acertar numa lagartixa que teimava em ouvir a homilia e que não sossegava, ao contrário das pessoas, percorrendo os espaços livres que lhe deixavam! E vai uma chinelada. E vai outra. Como a lagartixa insistia em fugir, a senhora coloca-se de gatas, rabo para o ar, e toca de gatinhar atrás da lagartixa batendo e batendo com o chinelo nas pedras da coxia. Do meio da coxia quase chegava ao cimo, nunca se perturbando com o aparato da situação. Parei. Poisei os olhos sobre ela. Poisámos todos. O silêncio trocou-se pelas gargalhadas. Tapei a boca para controlar as minhas. Não era possível. A lagartixa havia escapado. Entretanto, a senhora levanta a cabeça para mim à espera que eu aprove, compreenda e perdoe a posição de rabo para o ar. Pedi-lhe para acalmar. Pedi a todos. Mas foi difícil prosseguir a homilia, pois no meio da Palavra de Deus teimava em aparecer-me aquele rabo virado para o ar. São aquelas situações que nos fazem recordar o humor de Deus!
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Voltei, amigos, depois das férias e de ter estado a meio gás. Não resisti a contar esta situação caricata que me aconteceu nesse período. Obrigado pelas visitas e pela amizade.

quinta-feira, julho 26, 2007

Fui usado por Deus

Caros amigos:
Depois de um ano de labuta intensa, chegou a hora de fazer uma pausa. Ultimamente não poude vir como desejaria, bem o repararam. Estive ainda mais ocupado do que o hábito que já costuma trazer muita ocupação. Mas fez-me bem estar ocupado, pois neste momento, após um ano de canseiras, sinto missão cumprida. Sinto que fui usado por Deus para a Sua Messe. Cansado, mas bem usado por Ele. Obrigado Senhor. Vivam as férias! Até breve!

domingo, julho 15, 2007

Sinto-me uma pecadora

Veio numa hora sem movimento. Uma hora tardia. Não foi directa no assunto. Mas as palavras eram directas. Contidas, mas directas. Não sei por onde começar. Continuei em silêncio. Deixei que ela escolhesse as palavras. Se veio ao meu encontro, já tinha encontrado a força necessária. A mais difícil. Agora era uma questão de tempo e de palavras. E no meio de umas tantas deambulações, soltou quatro. Traí o meu marido. E não me sinto bem em relação a ele e em relação a Deus. Sinto-me uma pecadora. Quero ser forte. Mas o meu coração recorda a outra pessoa. Amas ainda o teu marido, perguntei. Respondeu que sim. Mas que não sabia como lidar com a situação. Ele perdoava, mas ela não se sentia capaz de se sentir perdoada. Até porque não esquecia os momentos com a outra pessoa. E eu encontrei-me a louvar a sua honestidade. Senti que isso era ainda mais importante que a traição. E desejei-lhe muita força. Nós, cristãos, somos tão santos como pecadores. Tão fortes como tão fracos. Sinceramente, penso que uma das nossas vitórias é podermos assumir que somos fracos. Como Jesus. Assumir as nossas fragilidades com humildade. Fui mais longe quando disse Não te envergonhes de ser frágil. Quanto à tua fragilidade, leva-a nos ombros apenas como isso, uma fragilidade. As paixões são muito descontroladoras e muito superficiais. São rápidas a consumir e a desaparecer. São fruto e consequência de desejos. O amor é mais profundo. Mais doloroso. Mais difícil. Complicado… mas mais interessante. A paixão resulta do desejo inato de prazer. O amor do desejo natural de ser feliz. Tens de fazer esta distinção. Se te sentires fraquejar, descobre a tua força interior e percebe à tua volta como o que tens neste momento é belo. Procura dar-lhe novo sabor. À tua relação com o marido. Procura dialogar. Demonstrar o que sentes e deixar que ele faça o mesmo. Deita-te nos braços dele e sente como é bom ter quem nos aconchegue com verdade. Ainda que com rotina. Não há nada melhor que termos com quem partilhar-nos totalmente... E não só sexualmente…

quarta-feira, julho 04, 2007

Afinal isto é Dele e não meu

Hoje é um daqueles dias em que se berra com Deus. Li há tempos que também era rezar. Mas não me apetece chamar-lhe assim. Busco dentro de mim respostas e forças para o que tem de ser, mas o cansaço não me permite encontrá-las. O estômago anda às voltas. Os berros surgem para os que me surgem. Ou se não surgem, surge o rosto desesperado que leva a perguntar que tenho. Não é costume. Amar não cansa. Cansa é amar desta forma. Ontem deitei-me já hoje, mas pouco depois da uma hora. Levantei-me passada outra hora, porque o sono que pesava não tinha força suficiente para lutar contra os pensamentos, os raciocínios, as imagens, as resoluções. Tem acontecido. Por isso tenho acordado mais cansado que quando me deito. Mas levanto que há muita coisa para ser feita. Com os amigos falo a correr ou corro com eles. Não há tempo. Por isso Lhe berrei de manhã, perguntando o motivo de me ter feito assim, padre, nesta época das correrias e dos stresses, assim, a cumprir com demasiado zelo o que acho que tenho de cumprir e que pode até nem ser o essencial. Mas é essencial para mim, ou para os outros, através de mim. Sosseguei um pouco mais à tarde já. Uma vez que Ele não parecia ter os ouvidos bem abertos aqui em casa, saí para a sua melhor casa cá no sítio, o Sacrário. Falei, falei, falei. De vez em quando parava para sentir a resposta. Não ouvi, mas pareceu-me que algo acontecia porque sossegava. Rezei-Lhe a minha vida, as minhas correrias, os meus cansaços. Pedi que não me deixasse ir abaixo que havia quem precisasse de mim. Pedi que fosse Ele a fazer através de mim. Agradeci o que me tem dado e as capacidades que me deu para aguentar e ainda fazer. Saí porque o telemóvel tocou como uma sirene para ir fazer o que tinha de ser feito. Pelo menos saí a sorrir. Afinal isto é Dele e não meu.