domingo, dezembro 15, 2024

Chegou a Hora do meu pai...

Chegou a hora do meu pai. Chegou a hora de passar da condição mortal à condição de imortalidade na vida eterna. Quero dizê-lo com H grande e digo, aproveitando para colocar outra maiúscula no meu pai. Chegou a Hora do meu Pai. Não quero esconder os dias difíceis que atrasaram os meus afazeres, mas não atrasaram o meu coração. Muito pelo contrário. Acompanhei os últimos tempos do seu sofrimento, para que lhe pesasse um pouco menos. Ele ficava mais tranquilo quando eu estava, e estive tanto quanto me deixaram estar. E eu também tranquilizava. Esgotei-me por dentro e por fora. Porém, em tudo consegui ir vendo o dedo de Deus. A festa da partida foi muito bonita. Foi uma grande festa de acção de graças. Não tinha ainda contado aqui, mas meu pai era diácono permanente. Por isso, o meu bispo acabou por presidir à Eucaristia. A homilia foi minha. As leituras da minha família. O canto dos meus amigos. Igreja cheia. Cheia com antigos e novos paroquianos. Cheia de testemunhos de gente que, como diziam, fora meu pai que os levara à fé. Chorei tanto quanto consegui. E sorri ainda mais. Quem nos conhece e conhece a relação de pai e filho que tínhamos, sabe que éramos muito cúmplices. Sempre o fomos. Entretanto, a partida da minha mãe fez-nos viver estes vinte e três anos muito mais um para o outro. Até porque a fé e o modo de entender Deus nos unia imenso. Assim como o ministério ordenado. Diziam as minhas manas que quando lhe faziam uma proposta, obtinham sempre a mesma resposta. Tenho que falar com o vosso mano. Por isso não admira que tivéssemos passado juntos grande parte dos últimos dias antes da partida. Muito rezámos juntos também. Ou eu rezava e ele acompanhava-me. Eu rezava e ele tentava respirar a custo a minha oração. Devo-lhe a ele e à minha saudosa mãe, não só a vida, como grande parte da fé e da vocação. Só posso estar grato a Deus pelos pais que tive. Por isso foram muitas horas de acção de graças, que ainda se prolongam hoje. Para que meus paroquianos compreendam porque ando alegre, explico que não sou super-homem e que sofro como qualquer ser humano sofre na partida de quem ama. Mas a fé é muito mais forte que a dor. O meu pai partiu, mas vem constantemente ao pensamento. E eu sou feliz. Sou feliz pelo pai que tive na terra e que ainda tenho no coração.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "Feliz dia do pai" e "Obrigado pela fé que me destes"