sábado, abril 20, 2024

a droga

Na aldeia toda a gente se conhece e toda a gente sabe tudo de todos. Toda a gente se mete na vida de toda a gente. Ninguém é indiferente a ninguém, para o bem e para o mal. Quando o filho da Antónia, de nome António por amor da mãe, entrou para o Seminário, não faltaram as murmuradoras e os murmuradores da aldeia nas conversas da rua. Mas uns vizinhos, que se achavam mais próximos da Antónia, já que mais não seja pela distância geográfica, bateram à porta para tirar nabos do púcaro. Ó Antónia, é verdade que o teu Antoninho foi para o Seminário? Dizem para aí que ele foi. E a Antónia, que não tinha nada a esconder, respondeu que sim. Sim, foi na outra semana. O rapaz quer ser padre e a gente não lho refuta. O que ela queria era que o filho fosse o que quisesse ser e que fosse feliz. E a resposta dos vizinhos não se fez esperar, pois que o assunto o merecia. Ó Antónia, não te aflijas mulher, sempre é melhor isso que meter-se na droga! 
 

quinta-feira, abril 18, 2024

peixe e pão [poema 386]

o peixe na brasa, o pão 
indizível 

as mãos que acenam são as pessoas a pedir 
há uma multidão por detrás das coisas 

é o milagre que acontece 
quando o peixe sai da água e vive 
quando a farinha se amassa e é carne 

as mãos agarram-se umas às outras sem desfecho 
e o peixe espera na brasa 
por mim

segunda-feira, abril 15, 2024

a Clara e as experiências da fé

A Clara participou num encontro religioso que mudou a sua vida. Pelo menos mudou a sua relação com Deus. Fez-lhe muito bem. Saiu daquele encontro, tal como a maioria dos jovens que nele participara, cheia de Deus, como me dizia. E notava-se abundantemente no seu rosto, que era muito mais descoberto e aberto que outrora. Senhor padre, quando houver mais coisas assim, lembre-se de mim. Lembre-se de me informar. E lembro. E ela participa. Faz-lhe bem. Mas fica nesse consumo de experiências. E a fé não vive de um conjunto de experiências de fé. A fé não se consome. Vive-se. É um processo de vida. É um caminhar constante, mesmo por entre altos e baixos, entre momentos mágicos e momentos sem magia. É um caminho para fazer diariamente e para se alimentar da correnteza do dia, da normalidade das coisas, da quotidianidade da vida. Não lhe chega o acumular de experiências marcantes. Porque o dia a dia, mesmo por dentro do consciente, marca muito mais quem somos e quem nos fazemos, para onde vamos e como vamos.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Não há caminhos certos"

sexta-feira, abril 12, 2024

faltas [poema 385]

falta-me o tempo da noite, 
como corrente de água que se aquieta 
 
faltam-me as construções das letras 
como pedras que têm pés e têm asas 
 
falta-me o papel, sim o papel 
de embrulho para deitar as palavras 
e abraçá-las 
 
faltam-me as forças porque se escondem 
entre os dias que são árvores a crescer para dentro 
 
faltas-me tu e falto-me eu

terça-feira, abril 09, 2024

A operação do Micael

O Micael é o terceiro filho de uma família que reza. É um pequeno que tem a especialidade de falar as coisas de um modo puro. Diz o que sente sem maldade e sem medir consequências. Tem a pureza das crianças de um modo muito apurado. E há dias precisou de uma intervenção cirúrgica. Não era complicada, mas tinha as suas exigências, cautelas e perigos. A mãe tentou explicar-lhe algumas coisas, mas a médica de serviço sentou-se na sua frente e dispôs-se carinhosamente a responder a todas as suas questões e dúvidas. O Micael não fez muitas. Parecia muito confiante. A conversa que, apesar de curta, foi sobejamente interessante, terminou com a médica a dizer-lhe que confiasse que tudo ia correr bem. Ao que o Marco respondeu que já o sabia. Sabia que tudo ia correr muito bem porque de manhã cedo todos tinham rezado por ela. Todos tinham rezado lá em casa pela médica que o ia operar. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A senhora vai à missa"

sábado, março 30, 2024

explicação dos mantos [poema 384]

desnudado, o tecido não tem explicação, é a inutilidade. 
mas depois faz-se a descoberta da divisão, em quatro partes 
cai sobre nós o que resta do amor e acontece 

é uma partilha 

é um cobertor de sangue, na terra seca onde nascem flores 
é a explicação do abraço entre braços ou a própria explicação 

da partilha 

por último construo o caminho com chicotes 
entre laços 

é a partida

Que este Amor ressuscite em nós! (Jo 19,23-24)
Páscoa 2024

quinta-feira, março 21, 2024

explicação da cruz [poema 383]

além do nome da manhã 
ouvi o meu nome e o teu sussurro de silêncio. 
foi rápido e mais rápido passou 
silêncio que permaneceu silêncio 
e quedou 
 
os olhos ficaram presos em água.
com ela tudo se dilatou. 
cresceram até ao lugar do sussurro,
não conheço bem essa estrada. 
 
ouvi-te como um murro. 
 
sei que é uma escada 
 
 
Hoje, dia Mundial da poesia, achei que fazia sentido lembrar o dia do amor!

terça-feira, março 19, 2024

A solução vocacional da inteligência artificial

No ano passado, numa pequena cidade alemã, uma multidão reuniu-se para uma cerimónia religiosa protestante que foi orientada, na sua quase totalidade, pela inteligência artificial. Os sermões, as orações e a música difundiram-se por quatro avatares num ecrã junto ao púlpito. Li que alguns dos presentes acharam que faltara autenticidade, mas que muitos outros se haviam entusiasmado com o potencial da IA para tornar mais acessíveis e inclusivos os serviços religiosos. Sei que a discussão está lançada e que muita tinta há-de correr ainda sobre esta ferramenta. Mas estará à vista a resolução para a falta de vocações ao sacerdócio ministerial? 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Uma Igreja virtual"

quarta-feira, março 13, 2024

O futuro da Igreja ou a Igreja do futuro

A Idade Média garantiu à Igreja um lugar na sociedade. A sociedade tornou-se cristã, sobretudo no Ocidente. Nascíamos praticamente cristãos. A fé não se questionava. A fé confundia-se com religiosidade. A religiosidade confundia-se com a cultura e, muitas vezes, com o poder temporal. Estamos, porém, numa época de mudança na Igreja. Estamos num tempo novo. Estamos, de certo modo, num tempo pós-cristão. Agora temos de anunciar o Evangelho a uma sociedade que já foi cristã, mas quis deixar de ser, e isso é novo. O primeiro anúncio era realizado junto de pessoas que não tinham ouvido falar do Senhor e agora é realizado junto de pessoas que se fartaram de ouvir falar dele ou que se fartaram de quem falava dele. 
Precisamos voltar ao início do cristianismo, recordando a razão do aumento exponencial do cristianismo. É a experiência do ressuscitado que tem de voltar aos nossos corações. É o testemunho dessa experiência que muda as vidas e os corações. O futuro passará por comunidades mais simples, mais pequenas provavelmente, ainda que em territórios grandes, mas numa organização mais aberta e participativa, mais vivas, coerentes e verdadeiras, mais capazes de testemunhar e ser exemplo, não tanto para a sociedade, mas nela. Serão sobretudo as relações inter-pessoais, familiares e afectivas, os instrumentos privilegiados da futura evangelização. Será necessário recuperar a vida normal como o espaço onde os cristãos dão testemunho de fé. A estrutura eclesiástica terá de assumir novos enquadramentos na sociedade e a sua organização eclesial terá de se assumir como um “nós eclesial”, deixando de lado "hierarquologias" instaladas. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "As paróquias que estão a morrer"

sábado, março 09, 2024

enterro religioso de animais

Um padre católico zoólogo, de nome Rainer Hagencord, há muito que se preocupa cientificamente com a relação entre o homem e os animais. O padre que, pelo que me foi dado ler, dirige o Instituto de Zoologia Teológica de Münster, é a favor de que haja igrejas para sepultar animais, pois hoje, e cito palavras suas que li, “os animais são membros da família de muitas pessoas”. Como, na sua opinião, o processo de luto requer rituais, há dias manifestava publicamente o seu entusiasmo com a inauguração de uma igreja para animais. Um outro senhor, professor de teologia moral na Universidade Católica de Linz, na Áustria, Michael Rosenberger, a este propósito, informava que as igrejas cristãs evitam os enterros religiosos de animais, mas não existem declarações doutrinais em contrários. 
Não sei se é necessário haver declarações doutrinais para justificar a acção pastoral da Igreja. Nada tenho contra o padre Rainer e o seu amor pelos animais. Numa época em que tanto se fala do cuidado da Casa Comum, faz sentido reaprendermos a cuidar dos animais. Contudo, inquieta-me pensar na hipótese dos animais serem considerados membros das famílias, serem tratados como pessoas e, ainda por cima, como se tivessem fé. É, no mínimo, altamente estranho. Carece de uma maior reflexão. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Será que os animais vão para o céu?"

quarta-feira, março 06, 2024

soalhos [poema 382]

há pessoas que são soalhos 
nascem no chão e dele não saem para ser outra 
coisa que terra onde se pisar. São esse caminho sem nome 
à espera de ser húmus

segunda-feira, março 04, 2024

A confissão pelas redes sociais

Estava em casa, assolapada no sofá, no meio das teclas da virtualidade e, quando se apercebeu que o seu amigo padre internauta estava disponível, perguntou-lhe se a poderia confessar daquela maneira, por email ou por whatsapp ou através de uma outra rede social. E o padre respondeu-lhe que a confissão era presencial, era um tu a tu com Deus por meio de um instrumento chamado confessor. Podia desabafar e receber conselhos pelas redes sociais, mas a absolvição é presencial. 
Porque já o fizera um dia destes, questionava-se também e questionava o seu padre amigo da internet se podia pedir perdão a Deus diante do Santíssimo Sacramento e se isso bastava para se confessar. Pelos vistos, tinha vontade em se confessar diante de Deus, mas não diante do padre. Muito menos de forma presencial, olhos nos olhos. Talvez porque custe ou porque nem sempre os padres temos sido acolhedores o suficiente. 
O que esta amiga não sabia é que uma coisa é pedir perdão a Deus, o que é sempre bom, seja em que ocasião for, e outra um sacramento com o qual recebemos especialmente a graça de Deus com o Seu perdão. Parece-me que se tem esvaziado o sacramento da Confissão. Percebe-se isso de forma óbvia na diminuição daqueles que se confessam. Mas também no modo como se percebe a graça sacramental. A confissão não existe apenas para descarregar pecados, mas para se encontrar especialmente com a Graça de Deus.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Já ninguém se confessa"

quarta-feira, fevereiro 28, 2024

Tê-lo cá para o ver e amar assim

O meu pai teve de ser levado, de ambulância, ao hospital e levar quatro pontos na nuca. A funcionária do lar não conseguiu segurá-lo para não cair. Com estas notícias fica-se com o coração a palpitar, embora se confie nas pessoas que cuidam dele. Como a sua saúde está frágil e o problema maior está situado no cérebro, com sucessivos ait’s, fica-se com o coração a palpitar nas mãos. Para tranquilizar as minhas irmãs, mas ao mesmo tempo porque é assim que penso estas coisas, ao informá-las da situação, disse-lhes e cito-me: O problema, penso eu, que não sei nada destas coisas, é que para a situação clínica do pai, estas coisas só pioram. Mas também sabemos que nada está nas nossas mãos. Nem podemos ser egoístas ao ponto de querer tê-lo eternamente connosco. É o que é ou o que tem de ser. Eu prefiro vê-lo e amá-lo assim do que não o ter cá para o ver e amar assim, mas a vida é isto. Somos frágeis e peregrinamos para um dia chegarmos plenamente a Deus!

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Feliz dia do pai"

sábado, fevereiro 24, 2024

A nossa língua

Num encontro de padres de diferentes idades e proveniências, antes da refeição comunitária, em bom modo eclesial, rezou-se para pedir a bênção dos alimentos. Qual não é o meu espanto quando o padre convidado para presidir à breve oração o fez em latim. Assim que terminou de rezar, naturalmente a uma só voz, a dele, eu intervim, em tom de brincadeira, para sugerir. Vá, agora, rezemos como deve ser. Alguns esboçaram um sorriso. Insisti, no mesmo tom, perguntando porque rezara em latim e, para aumentar o meu espanto, ele respondeu que era a ‘nossa língua’. Não tenho a certeza se ele entendeu o que disse ou se fui eu que não entendi. Falava seguramente do latim como a língua própria do clero, que o define e o delimita. E esta coisa da ‘nossa língua’ deixou-me inquieto. Durante a refeição pouco mais fiz do que alimentar maus pensamentos para com a ideia de uma certa casta especial que, dentro da Igreja, utiliza uma linguagem ou língua que ninguém entende, muitas vezes, nem os que a usam. Respeito que o colega diga o que pensa e faça como acha que deve fazer, assim como respeito as roupas ou gestos que utiliza e me parecem excessivamente clericais. Respeito a sua postura, porque faço esforço por respeitar as posturas que diferem da minha. Mas não gosto de ouvir expressões que parecem fazer de nós, os padres, gente especial.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O colarinho branco"

sábado, fevereiro 17, 2024

A meia homilia

Estava a meio da homilia do funeral quando a senhora entra na igreja, sobe a coxia até ao cimo, perto do altar, como se nada estivesse a ocorrer ao seu redor. Todas as atenções se voltaram para ela. Também a minha. E depois as atenções passaram para os beijos e abraços sentidos aos familiares. Gestos que nunca mais paravam. Parei eu de falar. Porque paralisei, sem querer, o raciocínio da homilia. Perdi-o. Mesmo assim, ela não parou porque eu parara. Provavelmente nem deu conta de que tudo parara em seu redor. A homilia terminou pouco depois porque eu perdera o fio à meada e não consegui mais saber que dizer. Ela não teve propriamente culpa. As minhas capacidades é que não chegam para tanto.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Um senhor Joaquim"

terça-feira, fevereiro 13, 2024

A escassez de padres e a oportunidade

Há cada vez menos padres, sobretudo na Europa. A tendência vai em crescendo. Entre 1985 e 2005, houve uma redução de 11% no número de padres no continente. Dados de 2021, as últimas estatísticas do Anuário Estatístico da Igreja, davam conta que em 2020 houve uma perda de 3.632 padres na Europa, perfazendo um total de 160.322. O número de seminaristas em estudos teológicos também diminuiu, rondando uma perda de quase 900 seminaristas. O único continente a registar aumento, tanto num caso como no outro, foi África. 
Esta escassez poderia ser a oportunidade para se repensar uma Igreja clerical, patriarcal e, de certo modo, machista, que finalmente aceitasse transformar-se para se tentar tornar uma comunidade de pessoas a caminho, na diversidade e na complementaridade, na responsabilidade partilhada. Em vez disso, vemos os bispos e os planos pastorais a insistir no mesmo, mesmo que se usem slogan’s a pedir uma Igreja menos clerical e mais sinodal. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os quatro primeiros apóstolos"

segunda-feira, fevereiro 05, 2024

Best post 2023 [parte III]

Deixamos os resultados da sondagem que perguntava: Qual foi para ti o melhor post de 2023? 

Os resultado passarão a estar junto aos restantes resultados de anos anteriores, AQUI.
 

terça-feira, janeiro 30, 2024

O padre e o outro lado da dor

Pouca gente se lembra dos que têm de trabalhar no meio da dor. Dos que estão do outro lado da dor. A Isabel não é assim. Não faz parte desse grupo. Ligou-me depois de ter ido dar um abraço apertado à ‘senhora Maria”, a senhora da funerária. E agora ligava-me para me dar um abraço pelo telefone. Com poucas palavras. Mas a chegarem ao coração como força. A Isabel tem o dom especial de estar atenta aos outros. Atenta ao ponto de ver o que poucos conseguem enxergar. Por sinal, hoje, aqui na paróquia, um acidente de automóvel e as mortes que ocorreram nele deixaram meio mundo num caos de emoções, eu incluído. E poucas pessoas conseguem entender a dureza do que é estar do lado da dor que não tem refúgio possível. O lado da dor que tem de dar a cara para que a dor pareça mais leve, como uma luz ténue ao fundo de um túnel. Esse lado que se aguenta somente por amor a Deus e às pessoas! 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os funerais fazem-me dor de estômago"

quinta-feira, janeiro 25, 2024

Onde estava Deus?

Imagem de mdjaff no Freepik
Estava aflita, perdida, quase revoltada com a morte de uma familiar que lhe era muito querida e ainda não tinha a idade que nós achamos que já seria suficiente. Por isso me perguntava onde estava Deus na hora em que a sua familiar morrera de forma tão drástica e inesperada. Nestes momentos, ainda que faltem as palavras, temos o dever de dizer algo desde a nossa fé na ressurreição. Ocorreu-me dizer-lhe o que lera em tempos nalgum texto que me tocara e que não sabia agora o seu autor. Não sou eu, mas concordo absolutamente com ele. Deus estava no mesmo local onde estava quando morreu o seu filho. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Estava capaz de gritar"

terça-feira, janeiro 23, 2024

Best post [parte II]

Agradeço as indicações que me foram dadas e coloco à votação aqueles textos que, segundo essas indicações e segundo me pareceu, por gosto pessoal ou por terem sido mais comentados, podem ser os 10 melhores, mais tocantes ou mais interessantes textos não poéticos de 2023.
 
Agradeço agora o vosso contributo para apurar os 3 melhores. Podem efectuar essa escolha na barra lateral, no sidebar. 
 
Quem os quiser "revisitar", tem os links respectivos abaixo da sondagem. Bem haja pelo vosso interesse e colaboração!

terça-feira, janeiro 16, 2024

Best post 2023

Nos últimos anos, por esta altura, costumo colocar os textos de todo o ano a uma votação. Embora sabendo que não é o mais importante, é uma boa desculpa para revermos e relermos um ano que passou. Peço novamente a vossa ajuda para seleccionar aqueles textos/prosa que considerais ou considerastes como os melhores, os mais tocantes ou interessantes em 2023. 
 
Indiquem nos comentários o título ou títulos dos vossos preferidos. Deixo algumas sugestões, de acordo com a minha apreciação particular e tendo em conta alguns dos que foram mais visualizados, mas podem indicar outros que aqui não se encontrem linkados. Depois colocarei os 10 mais apontados a uma votação. 
 
Agradeço desde já a vossa participação e colaboração. A mim fez-me bem relê-los. Pode ser que faça bem a mais alguém.
 

Nota que os poemas não entram nesta sondagem.
Quem quiser dar uma espreitadela aos "best post" de 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022 clique AQUI.

 

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sábado, janeiro 13, 2024

maçã trincada [poema 381]

senti-lhe o peso de maça quando a trinquei 
pela primeira vez 
era um peso de qualquer coisa 
que me carregava o estomago 
o vómito fazia-se em palavras, e eu 
apenas engolia mais outro pedaço de 
maça trincada

terça-feira, janeiro 09, 2024

As homilias

Estava a fazer a homilia numa eucaristia de dia de semana e eu, que concelebrava, escutava. Falou ligeiramente da primeira leitura, depois do evangelho e ainda falou da solenidade do dia. Coisas vagas. Coisas. Faltou-lhe alguma lógica, mas não falou mal. Durante cerca de quinze minutos, no meio do voo das suas palavras, voaram também os meus pensamentos. 
É muito comum que nós, padres, falemos coisas nas homilias. Coisas. Não actualizamos a Palavra de Deus, que é o objectivo da homilia. Não falamos para as pessoas que nos escutam, isto é, não comunicamos. E costumamos complicar as palavras. Poucos as entendem. Menor número ainda são os que as levam para a vida. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Falar de Deus e com Deus"

sexta-feira, janeiro 05, 2024

A eucaristia dos abraços

Chegaram para a missa do mês, que as condições e as condicionantes só permitem uma eucaristia por mês. A população reúne-se. Vêm pessoas de fora. Todos se cumprimentam. Colocam a conversa em dia. Dá gosto ver a realidade da eucaristia antes ainda de ela começar. E dizem-me que a eucaristia até para se verem e se saudarem é uma mais-valia. Só começamos o rito do sacramento quando terminam esta parte. Fico feliz que assim seja e participo na alegria dos abraços. Até se celebra melhor!

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "a senhora vai à missa"

terça-feira, janeiro 02, 2024

o tempo de sensação [poema 380]

penso muitas vezes no tempo. 
e não o vejo senão entre os dedos, 
como água fria que petrifica a mão 
e depois se escapa, e fica a sensação 
de tempo que passou