terça-feira, dezembro 29, 2020

o inimaginável Deus vulnerável

O Deus que encarnou e se fez menino foi acomodado em palhas, numa manjedoura, sob os olhares de vacas, burros e ovelhas. Não sob o olhar de holofotes e de câmaras de televisão e jornais. Não teve as melhores condições sanitárias para vir ao mundo. Não teve direito nem a clínicas privadas nem a hospitais públicos. Não teve sequer lugar numa hospedaria. Encarnou junto dos animais, na solidão dos homens e sob a ameaça de um genocida. Nasceu na maior humildade e fragilidade da natureza humana. 
Deus quis entrar na nossa história anónimo e escondido, frágil e pobre, um deus vulnerável. O inimaginável Deus vulnerável! 
O Natal é a memória da vinda de Deus entre nós, na carne frágil, vulnerável e mortal que nós somos. A partir daquele dia, não se pode mais dizer Deus sem a humanidade, nem a humanidade sem Deus! A partir daquele dia, o sofrimento, a morte e o mal não terão mais a última palavra. 
Há que dizer, portanto, que, apesar dos tempos em que vivemos, nada nem ninguém nos tira o Natal, porque o verdadeiro Natal acontece nos nossos corações! É lá que Deus quer encarnar! É lá que Deus quer habitar! Talvez assim consigamos olhar o mundo e todas as adversidades do mundo com um novo olhar que brota de um coração cheio de Deus! 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Há gente para quem o Natal é só uma data"

quarta-feira, dezembro 23, 2020

os meninos [poema 295]

Veio, agarrado às mãos, do bolso de um menino, 
Cabia entre dois dedos, era tão pequenino! 
 
Fora tomado à pressa, no presépio da sala, 
Com auxílio do avô e de uma bengala. 
 
Juntou-se aos corcéis, comboios e carrinhos 
Numa azáfama grande de muitos carinhos.
 
Em duas mãos dançava, na brincadeira, 
Era quem mais rebolava no chão de madeira.
 
Era o mais querido, com quem mais brincava, 
O seu menino mais lindo, o que mais amava. 
 
Apertava-o e dizia: eu gosto deste menino! 
É tão parecido comigo. Ele é tão pequenino… 
 
 
Aproveito para desejar um santo e verdadeiro Natal a todos vós que aqui vindes buscar algo!

sábado, dezembro 19, 2020

Não é uma porta fechada que fecha uma igreja.

Parou em frente da porta da Igreja. Avistei-o da janela quando passava por ela. Apreciei os gestos, a inclinação da cabeça, a idade visível nos cabelos brancos que desprendera da boina que segurava na mão esquerda. A direita tocou ao de leve na porta fechada da igreja. Depois, passados uns cinco minutos ou o que me pareceu ser esse tempo, levou essa mão à fronte e benzeu-se. Inclinou-se, em gesto que me pareceu de despedida, e seguiu o seu passeio. Deixei de o ver em pouco tempo. E fiquei ali preso à janela, a olhar a porta e a imaginar Deus lá de dentro a sorrir. Não é uma porta fechada que fecha uma igreja. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "A menina que era para ficar à porta"

quarta-feira, dezembro 16, 2020

caim e abel [poema 294]

Não vou suportar o castigo do desamor 
E por isso mato por amor 
Próprio, dono de mim, trocado 
Por este pastor 
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Vou viver rodeado de irmãos 
E por isso vivo para além de mim 
Próprio, servo de quem vier 
Ao centro do meu fim

sábado, dezembro 12, 2020

Esta coisa dos dogmas da Igreja

Não é muito costume os leigos fazerem este tipo de perguntas. Embora tenhamos vindo a assistir nos leigos um progressivo afastamento da passividade eclesial, a verdade é que, até pela falta de formação religiosa que muitos têm, não costumam surpreender-nos com este tipo de perguntas. Mas a Deolinda é uma mulher culta, que lê muito e gosta que lhe expliquem as coisas de Deus e da Igreja que desconhece. E esta coisa dos dogmas, como ela disse, não as entendo muito bem. Afinal, o que são os dogmas, padre? 
Os dogmas são verdades de fé que a Igreja ensina como reveladas por Deus. Se quiser pode conferir isto no catecismo da Igreja Católica, ora deixe-me cá confirmar, entre os números setenta e quatro e noventa e cinco. São pontos firmes da nossa crença, deixe passar a expressão. Quase todos eles foram reconhecidos, como tal, em concílios, embora como resposta a heresias. E comecei a desfilar dogmas mais ou menos da seguinte forma. Os principais dogmas são: Deus é Uno e Trino; o Pai é o criador de todas as coisas; Jesus, seu Filho, é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encarnado, morto e ressuscitado pela nossa salvação; o Espírito Santo é Deus; a Igreja é una, como o Batismo é uno. E ainda: o perdão dos pecados; a ressurreição dos mortos; a existência do Paraíso, do Inferno e do Purgatório; a transubstanciação; a maternidade divina de Maria, a sua virgindade, concepção imaculada e Assunção. 
As caras que a Deolinda fazia a escutar-me denotavam o seu estado de espirito, o que acabou de revelar quando acabei. Fiquei quase na mesma, padre. Entendo que assim tenha de ser, mas não sei porque é assim. Sabe, padre, a mim os dogmas não me fazem ter nem mais nem menos fé. Nem sei bem para que é que eles servem, afinal. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "As desavenças entre a Senhora de Fátima e a Imaculada"

quarta-feira, dezembro 09, 2020

habitação [poema 293]

Quero refazer as palavras em silêncio 
Na tua habitação. 
 
Passá-las no crivo. Tu és a obra 
Da sua reconstrução. 
 
Quero fazer com que o meu corpo se traduza 
num gesto de comunicação 
Ao entrar por ti no silêncio 
da comunhão.

sábado, dezembro 05, 2020

Mãos ao alto

Uma paroquiana que é funcionária na escola e que tem a responsabilidade de fazer com que os meninos, à entrada, desinfectem as mãos, contou-me que aproveitava a ocasião para lhes ensinar a por as mãos ao Senhor. Mão direita sobre a esquerda. Alcool Gel e esfrega. Agora volta as mãos para o alto e agradece a Jesus o dom da vida. E não é que os pequenitos fazem os gestos, olham para o alto, e esboçam uma oração!? 
Lá está, não precisamos de grandes planos e programas de pastoral e de evangelização. O que precisamos é de cristãos que diariamente, mesmo em pequenos gestos, falem de Jesus e, mais ainda, testemunhem Jesus. Mãos ao alto, por favor! 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Obrigado pela fé que me deste"

quarta-feira, dezembro 02, 2020

O Miguelito e o Papa

O Natal vem aí. E como está a chegar o tempo de escrever cartas ao “pai natal”, a mãe do Miguelito, que tem quatro anos, achou oportuno oferecer-lhe o livro que tem por título “Querido Papa” e contém respostas do Papa Francisco a cartas escritas por crianças de todo o mundo. Também achou que seria uma boa ideia propor-lhe redigirem uma carta ao Papa. O Miguelito, depois de ver o livro e porque não sabe ler, procurou-lhe Mamã, quem é o Papa? E ela respondeu dizendo que o Papa era o representante de Jesus na terra. Seguiram-se uns momentos de silêncio. Ele olhava o livro e depois olhava a mãe. Olhava de novo o livro e voltava a olhar de novo a mãe. À terceira não hesitou perguntar. Olha, mamã, o Papa Francisco também vai morrer na Cruz? A mãe, admirada pela associação que o filho fizera em tão tenra idade, respondeu-lhe imediatamente dizendo que Não, meu Filho. E a seguir ouviu o coração bom do Miguelito nas palavras: Se não, podíamos trazê-lo cá para casa para o proteger.