quarta-feira, agosto 26, 2015

conversa entre o discípulo e o mestre [poema 67]

O discípulo, envergonhado, disse
Achas que olhavam para mim
Quando pregava tua palavra?

O mestre, sorrindo, disse
Eles não te escutavam a ti
Escutavam a Palavra.

terça-feira, agosto 18, 2015

mãos da morte [poema 66]

Porque
as mãos do morto teimam em permanecer abertas
E as nossas mãos vivas teimam em fechar-se?

A morte desagarra-nos de nós
A vida que fechámos nas mãos

sexta-feira, agosto 14, 2015

As mordomas das festas

Entregaram-me um papel com seis nomes dias antes da festa para que, por ocasião da mesma, nomeasse as novas mordomas. Pelos nomes não as conhecia. Mas como estas coisas se comentam, alguém me veio contar que não deveria nomear algumas delas. Uma era divorciada. Outra tinha fama de se meter na cama com homem alheio. Pelo menos essas. Que o senhor padre não deveria nomear.
Na verdade, faço questão de que algumas das pessoas que fazem parte de uma mordomia de festa assegurem o sentido de fé nas festas religiosas e que todas as pessoas nomeadas aceitem as normas que nos são propostas para este tipo de festas. Porém, como pároco, sinto o dever de acolher todos, indistintamente da sua estrada de vida. Judeus ou gregos, escravos ou homens livres, pecadores ou que não se sabem pecadores.
A Igreja não é uma comunidade de perfeitos. O papa Francisco tem dito isso imensas vezes. Aliás, não podia ser de outro modo, porque não há gente perfeita. Além disso temos de confiar na mão de Deus.
E respondi a quem me chamou a atenção. Nas minhas paróquias quero que todos se sintam acolhidos. Repare que as mordomas deste ano, por exemplo, depois da proposta que lhes fiz, confessaram-se. E a maior parte delas já não o fazia há dezenas de anos.
Não basta abrir portas às nossas igrejas. É preciso deixar a porta aberta.

sexta-feira, agosto 07, 2015

Igreja dos homens

Dois mil anos de história não mudam porque um padre o deseje, ou um bispo, ou até um papa. Os caminhos de Deus são insondáveis. Mas teimamos em fazer dos caminhos de Deus caminhos dos homens. A paróquia precisa de uma administração. Então fazemos dos padres administradores. A Igreja precisa de cristãos. Então fazemos de forma proselitista um caminho de angariação de pessoas. A Igreja precisa de uma organização, então enchemo-la de estruturas e pastorais estruturadas. A Igreja só precisa de Deus. Mas teimamos em fazer da Igreja um lugar dos homens. Quando a Igreja devia ser um lugar de Deus para os homens. Sinto-me estranhamente cansado de não saber como entender o lugar de Deus nesta Igreja ou nesta missão. Sinto que não sei bem como fazer para fazer a Igreja de Cristo, e por isso continuo a manter a Igreja dos homens. Talvez Deus lá esteja, mesmo que escondido.