sexta-feira, julho 28, 2023

Sou um privilegiado de Deus

Quando se fala pessoalmente da fé, corremos sempre o risco de não saber dizer a verdade dela, porque a verdadeira fé não tem medida nem peso nem forma. Embora muitas palavras e gestos a transpareçam, ela não tem palavras ou factos que a provem. E eu até tenho receio de dizer o que penso quando penso na minha fé. Contudo, faço esforço para ser autêntico com ela. Trato-a por tu, meio a medo ou com receio. Parece-me algo tão belo e tão inexplicável ao mesmo tempo, que tento encontrar as palavras certas e não sei se as encontro. Mas sei que sou um privilegiado de Deus na fé que tenho. Foi assim que o afirmei num encontro com jovens. Não sei se o pensaram, mas eu pensei pela cabeça deles que deveriam estar a pensar, do género, ‘olha-me este que se acha mais que os outros’. Por isso achei que devia explicar. O facto de ser padre e quase toda a minha vida girar à volta de Deus, com as celebrações que tenho de preparar, com as homilias que tenho de fazer, com os momentos de oração que tenho de proporcionar, com a reflexão que tenho de fazer, com os estudos e leituras que faço, com a entrada recorrente em espaços sagrados, a minha vida é um constante estar com Deus. Nisso sou um privilegiado. Creio que qualquer padre é um privilegiado. Porque os nossos afazeres, o nosso trabalho, é um constante estar com ou em Deus.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Não sei o que é não ter emprego"

quarta-feira, julho 19, 2023

Catequese para miúdos sem fé

Não rezam e não vão à missa. Não sabem estar na missa. Não se confessam nem se sabem confessar. São capazes de comungar só porque os outros também vão comungar. Não sabem o que é a oração da via-sacra e sobre o terço têm uma vaga ideia. Só ouvem falar de Deus na catequese, quando conseguem ouvir a catequista no meio da barulheira e da distração. Não se lembram de Deus. Passam-se dias e dias sem que Deus venha ao pensamento. Pouco mais sabem que o nome de Jesus. Não entendem o que é o Espírito Santo e confundem Deus com Jesus. Sabem que Nossa Senhora é a mãe de Jesus e os pais já os levaram algumas vezes a Fátima. Não faltam à festa religiosa da terra. Mas são capazes de gozar com as beatas. Sabem da existência do Natal e da Páscoa. O primeiro talvez mais pelas prendas e o segundo talvez mais pelos ovos de chocolate. E ambos pelas férias. Ouviram falar de advento e de quaresma, mas são nomes estranhos. São capazes de gostar de algumas coisas que se fazem na catequese ou nas festas da mesma. Todos têm fotos da Primeira Comunhão e da Profissão de fé. A maioria aguenta-se até ao crisma para poder se padrinho. E, no meio disto tudo, os nossos catequistas, grande parte deles não tão bem preparados pedagogicamente como era necessário, lá vão tentando fazer uma catequese que, a maior parte das vezes, é mais escolar que kerigmática, é mais passar conhecimentos que alimentar e ajudar a crescer a fé. Sei que estou a escrever uma hipérbole, e sei que a fé é muito mais que celebrações, sacramentos, credos e doutrinas. Mas parece-me que temos promovido uma catequese a pensar que os miúdos têm fé e não proporcionamos experiências de fé. No fundo, temos fomentado uma catequese para miúdos sem fé que dificilmente a irão ter.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Queria saber como posso ter fé"

sexta-feira, julho 14, 2023

isto [poema 370]

entre o antes e o depois 
está este nada que já passou 
que era mas sempre foi, no passado 
ficou

terça-feira, julho 11, 2023

Doze funerais por semana

Doze funerais são os funerais que um colega amigo teve numa semana destas. Doze funerais são, no mínimo, trinta horas de trabalho doloroso, entre os minutos da celebração, do acompanhamento, da cerimónia no cemitério, da preparação da homilia, da viagem para as comunidades onde se realizam os funerais, e eventualmente de algum momento no velório ou no acompanhamento personalizado com os familiares. Acresce ainda a intensidade emocional de uma celebração de despedida. Doze funerais é quase uma semana de trabalho de um trabalhador comum. Acresce ainda a desorganização do que já estava organizado na vida ministerial do padre. Doze funerais são doze oportunidades de encontro com o Senhor através do limite da vida e da dor. Mas doze funerais também são o cansaço dos padres e a morte das paróquias.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A minha avozinha"

sexta-feira, julho 07, 2023

O caminho da fé nunca está terminado!

A sala estava ocupada pelos jovens da paróquia que se tinham inscrito para as jornadas mundiais da juventude. Tratava-se do primeiro encontro para prepararmos a nossa participação. A conversa foi muito informal e aberta. Sem estereótipos. Falámos da expectativa para as jornadas e do estado da nossa fé. Todos usaram da palavra. Uns mais à-vontade, outros mais a medo. Creio, no entanto, que todos foram sinceros. E ao fazermos um ponto da situação da nossa fé, numa escala de 0 a 10, eu, pessoalmente, não consegui ir além de um 8. E todos ficaram admirados com o padre, pois achavam que ele só podia autoavaliar-se com um 10. Respondi-lhes, com sinceridade, que uma fé de 10 é uma fé que para por ali, e que eu não queria parar a minha fé. Que estava convencido de ter uma fé forte, intensa. Mas que não era uma fé que não precisasse de andar mais. Tal como o amor, a fé precisa de constantemente se alimentar, aprofundar e amadurecer. O caminho da fé nunca está terminado!

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O Ano da Fé que bem precisamos"