sábado, fevereiro 22, 2014

Qual foi para ti o melhor post de 2012?

Depois da última sondagem que serviu para, ainda que de forma relativa, escolher os melhores posts de 2013, venho agora fazer ou propor o mesmo exercício para os posts de 2012. Escolhi 10 desses posts para colocar à votação, partindo daquilo que foram as vossas propostas e as minhas considerações. Por debaixo da sondagem, encontram-se os links respectivos, para quem quiser conferir. Agradeço todas as justificações nos comentários.
Como alguns fizeram alusão e depois de reflectir, achei que não deveria colocar nesta sondagem os posts relacionados com a história da Di(a)na. Vou dar-lhes destaque aqui, no menú do blogue.
Deixo ainda o resultado da sondagem que colocou nos primeiros três lugares os seguintes textos:
 
 

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

altar [poema 5]

Passo as mãos pela patena
Elevo-a, como a Ti
Carregando-te. Carregando-me.

Passo as mãos pelo cálice
Carrego-o contigo, para Ti
Elevando-me. Descendo-te.

Eu sou padre, Senhor
Mas não sou digno de Ti

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Um café com sabor a Deus

Gosto muito de café. Tomo uns três ou quatro por dia. A meio da manhã tem de ser. Como aquele que diz que se não for à missa ao Domingo nem é Domingo, manhã para mim sem café nem é manhã. Alguns paroquianos, um ou dois em particular, ligam e dizem Vai um cafezinho? E lá vou eu para o café. Não consigo estar lá muito mais tempo que aquele que demora o tomar do café. Mas sento-me à conversa, que também é bom e sabe tão bem como o café.
Há dias numa destas acções matinais, uma senhora chamou-me para a sua mesa. Estava sozinha, lendo o jornal. Primeiro, de costas um para o outro, foi metendo conversa. Depois convidou-me e acabei por me sentar a seu lado. Foi desabafando e contando que há mais de um ano que não ia à missa. Explicava-se, comprimia-se, metia as mãos uma na outra, remexia-se na cadeira. Dizia que não tinha motivos para ter deixado de ir à missa, uns mal-entendidos, umas histórias de mulheres. Desfiava coisas do passado que agora não achava bem, mas tinham acontecido. Depois de tanta palavra puxa palavra, perguntei-lhe se não gostaria de se confessar, pois que aquilo era uma autêntica confissão. Mas aqui, perguntou ela. A não ser que não queira, respondi. Sorriu e disse que sim. Estava mesmo a precisar, senhor padre. E foi logo ali, naquela mesa de café que se confessou e que recebeu a absolvição. O café estava praticamente vazio. Mas que não estivesse. Seria igual. Afinal, qual é o lugar mais sagrado para o perdão de Deus? É aquele onde esse perdão for mais genuíno. Além disso, quem mais precisa encontrar-se com o perdão ou a mão de Deus, não se encontra, geralmente, dentro das quatro paredes de uma igreja ou das quatro portadas de um confessionário. Naquela manhã o café soube-me muito melhor. Soube-me a uma presença especial de Deus. A ela também de certeza, pelas palavras com que terminámos a conversa e nos despedimos. Obrigada, padre. Veio mesmo a calhar. Já há muito que precisava deste momento. A partir deste Domingo vou passar de novo a ir à missa.

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Eu sou do contra

Há pessoas pelo mundo fora que são do contra, vivem do contra e sem o contra não são nada ou são pouco. Vivem para mostrar como são do contra. Muitos deles dedicam-se a escrever ou a comentar e usam o que lhes vier à cabeça para mostrar que são contra. Porque se assim não fosse não seria assunto. Quem é que gosta de ler textos ou vidas que assumidamente sejam sempre uma ratificação do que se disse ou fez?! O que é mesmo interessante é ser do contra. Basta recordar como sobrevivem alguns programas de televisão denominados reality-shows. Quem for mais do contra mais conta. Há gente que vive com o contra e sem ele não eram sequer tidos na devida conta.
Falo isto porque já cansa tanta gente que é contra isto ou aquilo da Igreja, que é contra isto ou aquilo do Papa, que é contra aquilo que a Igreja fez ou faz, que é contra os malfadados padres. Ora bolas, mas se não gostam, se não concordam nem querem nada com estas coisas, como afirmam desmesurada e despudoradamente, porque ocupam tanto tempo das suas vidas com elas?
É caso para dizer que ser do contra está na moda. É caso para dizer, embora não queira ser autor da afirmação, que estamos na época do contra. Porque nos é permitido dizer tudo o que nos apetece, bora lá fazer uso desta possibilidade, mesmo que seja sem dar a cara. Ou então damos a cara para que todos saibam do poder que temos porque somos do contra. Afinal, se posso ser do contra, porque é que havia de não ser coisa nenhuma?
Quer-me parecer que há muita gente pelo mundo fora a fazer vida à custa da Igreja, mesmo que seja só por ser contra ela.
E já que me é permitido dizer o que me apetece, hoje quero dizer que também sou do contra. Contra esta gente que está sempre contra.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Que faço de fazer [poema 4]

Faço um céu como as crianças
De azul e de nuvens

Faço um Deus como os homens
Estranho e de longe

Faço uma oração como um padre
Repetida e esquecida

Faço tudo como acho
que queres, Deus

Mas que faço eu
Se faço como os outros
E não faço como eu?

domingo, fevereiro 09, 2014

Confessionário Dum Padre em 2012

Após os resultados da revisão e da escolha dos melhores posts de 2013, senti vontade de fazer o mesmo em relação a outros anos. Irei fazê-lo com calma e não pretendo ser maçador. Por isso, seleccionei grande parte dos meus textos preferidos publicados ao longo do ano 2012, e agora peço a vossa ajuda para seleccionar aqueles que considerais ou considerastes como os melhores ou os mais tocantes. Indiquem o nome ou os nomes dos vossos preferidos nos comentários. Agradeço desde já a vossa participação e colaboração. Tenciono colocar os melhores à votação, como fizemos com os do ano 2013.
 
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Há-de ser o que Deus quiser

Os oitenta e quatro anos da senhora Lucília usam lenço preto na cabeça coberto com um gorro da mesma cor. Bengala na mão. Botas até aos joelhos que o frio chega ao coração. Veio ao meu encontro falar por entre os poucos dentes. Os olhitos apagados falavam da doença. Custa muito, senhor padre. E no meio do que dizia, acrescentava e repetia. Há-de ser o que Deus quiser. Falava da dor que a solidão lhe trazia, e dizia Há-de ser o que Deus quiser. Contava-me da família que está longe, e dizia Há-de ser o que Deus quiser. Voltava sempre à doença num tom que misturava melancolia com doçura. E dizia Há-de ser o que Deus quiser. Dizia-o de uma maneira que entrava cá dentro como se fosse a certeza mais certa que alguém consegue afirmar. Por mais que a motivasse com palavras bonitas, ela repetia Há-de ser o que Deus quiser, e eu desarmava a beleza das minhas palavras para me encantar com as dela. Não eram palavras soltas ao vento. Não eram palavras ditas por dizer. Não eram palavras resignadas. Eram palavras de quem já se entregara no colo e no aconchego de Deus. A despedida dela foi Há-de ser o que Deus quiser. Retirei as minhas mãos das dela, uma foi-lhe no encalço do rosto e, com a mesma vontade com que ela repetia Há-de ser o que Deus quiser, eu chamei-a de Linda.

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

O Papa N

Para o caso, deixem-me primeiro explicar que na Oração dos Fieis, aquela leitura que se faz após o Credo e que coloca pedidos ao Senhor Deus e à qual respondemos qualquer coisa como Ouvi-nos Senhor, aparece de vez em quando uma letra N. Aparece assim como escrevi, em maiúscula, e numa cor que me agrada e não vou agora explicar o motivo de tal agrado, mas é a vermelha. Ora acontece que essa palavra substitui um nome concreto, de uma pessoa ou de uma terra ou não sei mais. Se acaso antes do N em si estiver a expressão O Nosso Bispo, não vamos dizer o Bispo En ou Nê, mas o Bispo António, ou Manuel, ou outro, consoante os nomes dos bispos ou a diocese onde é lida a oração. Se acaso antes do N em si estiver a expressão O Papa, devemos substituir o N pelo nome do actual Papa, e assim por aí fora no mesmo procedimento com Diocese N, Paróquia N, e o que vier.
Toda a minha gente já entendeu, e se não entendeu, convido a perguntar ao seu pároco. O que ele não poderá explicar é o que vou contar a seguir e se passa somente no meu subconsciente. Ou se calhar consciente. Isto é, bem dentro de mim, nos lugares dos pensamentos, mesmo que não consentidos ou previamente induzidos. Passa à frente, que é palavreado a mais. Deixa falar os pensamentos e cala-te. Calo-me então e conto.
No passado Domingo, após uma leitura tal e qual como descrevi onde aparecera o N para o Papa, os meus leitores, todos eles, fosse de que paróquia fossem, não estiveram com meias medidas ou engasgos ou dúvidas e acrescentaram ou substituíram o N pelo Francisco, o Nosso Papa Francisco. Alguém desse lado me dirá que isso não é nada de nada, nada de mais, nada de estranhar, nada do outro mundo. Porém, nos últimos tempos este facto tem-se repetido praticamente sempre que aparece o Papa N. Direis que isso continua a não ser nada de nada. Porém, há um ano e tal e na generalidade, quando o leitor chegava a esse N costumava engasgar, enganar-se no nome, tentar vários nomes, ou mesmo passar à frente como se lá não estivesse nada escrito. Informo que nutri e nutro simpatia e empatia pelo Bento XVI e mais ainda pelo João Paulo II. Mas um facto é um facto.
Não sei bem o que ele quer dizer ou pode significar. Pode dizer pouco e significar ainda menos. Mas cá para as bandas da minha cabecinha algo ficou a cirandar.