sábado, agosto 30, 2014

Eu desejava que os padres fossem cada vez mais... [5]

Vamos já na quinta sondagem relacionada com as características ou virtudes que gostaríamos de ver mais nos sacerdotes de hoje. Temos agora disponíveis mais seis opções possíveis. Recordo que este tipo de sondagens que têm aparecido aos poucos neste espaço têm como objectivo deixar algumas ideias aos sacerdotes sobre o que devem privilegiar na sua vida e vocação. Recordo que as quatro características mais votadas nas outras sondagens foram "autenticos", "acolhedores", "simples" e “pastores”, sendo que este último apenas teve mais 6% que a segunda opção, “disponíveis” e ficou pelos 37%. Deixamos os resultados da última sondagem e colocamos online a quinta edição desta "saga".
 

quinta-feira, agosto 28, 2014

nascer [poema 22]

Cinco crianças de mãos dadas
Brincam no alvor da praia.
À sua volta as areias não param
Nada as olha, são livres.
Não pensam se há olhares sobre elas.
São puras, genuinidade do ser.
Hoje queria ser a sexta criança,
Ser livre na imensidão dos olhares
Que se cruzam com as vidas
Emaranhadas nos lençóis de água.
Voltar ao Teu ventre,
Nascer dentro de Ti,
De mãos dadas com os que nascem
No âmago de Ti.

sábado, agosto 23, 2014

A Laura e os desanimados da vida de hoje

Faz parte do grupo de desanimados da vida de hoje. Cuido que hoje o desânimo faz mais parte da vida das pessoas do que no tempo em que as contrariedades não eram mais que obstáculos da vida. Cuido que hoje as contrariedades da vida se transformam excessivamente em formas de viver sem vontade. A Laura é boa senhora, boa mãe, boa funcionária, boa cristã. Mas ultimamente entrou pela porta larga deste grupo, passou a fazer parte dele. Anda cansada de não ser fácil o emprego, a relação com os seus e com os que não são seus, e com mais uma série de coisas que nem soube enumerar. Ó Laura, quando estamos bem connosco, o problema pode ser grave, mas será sempre pequeno. Quando não estamos bem, o problema pode até ser pequeno, que será sempre grave. Por isso, Laura, antes de te debruçares sobre os teus problemas, debruça-te sobre ti. Encontra-te e encontrarás todas as respostas. Procura estar bem por dentro e tudo será mais fácil por fora. Na verdade os problemas têm sempre duas formas de se encararem. Ou com desânimo. Ou com ânimo. Em ambos os casos os problemas são o mesmo. Mas são vistos e sentidos de forma diferente, assim como têm peso diferente na nossa vida. Um, de tão pesado, deita-nos por terra. O outro tem o peso que tem, mas lança-nos em frente.

terça-feira, agosto 19, 2014

mar cheio [poema 21]

Mão cheia de nada
Entrelaçados os dedos de vontade.
Tiberíades fica longe,
O vento é forte,
E vence a mão que teima
Em agarrar o mar,
A mão cheia de nada
Que deixa o mar fugir
Por entre os dedos
Entrelaçados de vontade
Agarra-te ao mastro, vá
Não vás cair ao mar
Que queres agarrar…

domingo, agosto 17, 2014

Uma mãe que quer baptizar seu filho

Ligou para o telemóvel. Já fui à sua procura, senhor padre, três vezes e não o encontrei. Escusado será dizer que não me procurou nas horas em que devia e que a maioria dos paroquianos sabe que estou à disposição. Algumas dessas horas até se confundiram com as horas das eucaristias da paróquia. Sorri na mesma sem maldade. Depois disse que queria baptizar a filha. Certo, e perguntei-lhe em que dia estava a pensar. Queria no dia tal que é um Sábado. Informei que os baptizados eram durante a Eucaristia, de preferência a dominical, porque no baptismo se entrava na Comunidade Cristã e eu fazia questão de levar isto a sério. É também assim que aconselham as normas. Ela disse que não havia mal e que podia ser na missa de Sábado. E aquela mãe não sabia, apesar de eu estar aqui há mais de dois anos, que, para poder dar alguma assistência nas muitas outras paróquias que tenho, aqui não há missa ao Sábado. Claro que esta forma de não saber as coisas pode dizer muito do tipo de católica que ela é. Tudo ficou esclarecido. Tanto quanto possível. Mas passada que foi uma hora voltou a ligar. Pelo menos foi correcta. Há quem não chegue a tanto. Olhe, senhor padre, é só para dizer que, como não dá para ser no Sábado, nós vamos fazer o baptizado na paróquia tal, que é a dos meus pais. Pediu-me desculpa e desligou. Aceitei, como é óbvio. Não é meu feitio complicar estas coisas. Mas agora que passou outra hora, de repente parei para pensar e senti assim como que uma nostalgia. Aquela mãe tem todo o direito de fazer as suas escolhas e destas serem respeitadas. Esforço-me até ao tutano para não julgar. E continuo a esforçar-me. Se calhar ainda não é suficiente. Não tem mal a decisão daquela mãe. Está no seu direito. Mas sendo uma cristã que não sabe das coisas básicas da comunidade em que está inserida, saberá das mais profundas?

terça-feira, agosto 12, 2014

Oração dos fieis super especial

Numa das minhas mais pequenas comunidades, daquelas que quase não precisam do sino para se avisar que o padre chegou, pois as casas são contíguas à Igreja, o insólito que já não é assim tão insólito, aconteceu. Estava a minha pessoa a verbalizar a homilia quando o telemóvel do António tocou. Este, que se encontrava numa das pontas de um dos bancos, retirou o dito som do bolso e, sem o desligar, atravessou o banco de uma ponta à outra, atrapalhado e atropelando os que lá estavam sentados, esquecendo-se que teria sido mais fácil sair pela ponta do banco onde se encontrava. As cabeças da comunidade voltaram-se para ele e não tardaram em ser abanadas para a direita e para a esquerda. Ainda o António não se encontrava na rua e já se ouvia o habitual Estou, sim, Estou. Interrompi a homilia o suficiente para que o António não fosse interrompido. O à vontade numa comunidade cristã familiar dá para estas coisas, assim como para outras que vieram a seguir. Até final da homilia, mantive-me o mais possível contido. Mas já na Oração dos Fieis, estando o António no seu lugar do banco, não resisti a fazer a seguinte petição. Nós te pedimos, Senhor, por aqueles que não sabem ou se esquecem de desligar o telemóvel antes de entrar na missa, e por aqueles que saem a correr da Igreja para o atender e ainda antes de saírem já o estão a atender. Oremos irmãos. E a pequena comunidade em coro, a sorrir, devolveu um Ouvi-nos, Senhor. O António virou-se para o lado correspondente à sua ponta do banco e recusou-se a dizer, como os outros, Ouvi-nos, Senhor. Ainda agora estou a ver a cara do António e a imaginar a cara do Senhor.

sábado, agosto 09, 2014

gostar de Jesus como se gosta do Micas

O Luizito sentou-se e ao seu lado permaneceu um lugar vago que eu ocupei. Ficámos os dois lado a lado a olhar na mesma direcção, A mãe mandara-o confessar-se, disse-me, e antes que lhe déssemos início, fomos entabulando conversa. Então, como estás, Luís? Não sei bem a idade dele, mas tem aquela idade que se trata por criança. E como a maior parte das crianças, o Luís desfiou um novelo de palavras sem pontas. Ouvi sem pestanejar, pois que as crianças gostam que os nossos olhos as ouçam, e às tantas resolvi perguntar-lhe, como quem não quer a coisa, se ele gostava de Jesus. Prontamente me respondeu que sim. Continuei com alguma matreirice. Quem é o teu melhor amigo, o teu melhor amigo na escola? Parou meio segundo para pensar, e contou-me que era o Micas. Então, diz-me cá, tu gostas de Jesus tanto quanto gostas do teu melhor amigo Micas? Com a sinceridade própria da sua idade, olhou para mim, baixou os olhos depois, e com voz embargada, disse-me que não. Não o recriminei. Foi honesto e genuíno o Luizito, como o são quase sempre as crianças. Levantei-lhe o rosto para me ouvir bem, e ensinei-lhe que para se ter fé autêntica, palavras que já devia ter ouvido à catequista, era preciso gostar de Jesus como gostava do Micas. Acho que entendeu. Melhor que um adulto entenderia.
Na verdade, para termos fé precisamos gostar de Jesus tanto quanto gostamos do nosso melhor amigo.

quarta-feira, agosto 06, 2014

Eu desejava que os padres fossem cada vez mais... [4]

A "saga" das últimas sondagens ainda não terminou. Hoje são lançadas mais seis opções possíveis para escolhermos as carecterísticas que gostaríamos de rever ainda mais nos sacerdotes. Recordo que este tipo de sondagens que têm aparecido aos poucos neste espaço têm como objectivo deixar algumas ideias aos sacerdotes sobre o que devem privilegiar na sua vida e vocação. Recordo que as três características mais votadas nas outras sondagens foram "autenticos", "acolhedores" e "simples", sendo que este último atingiu a larga maioria de 66%. Deixamos os resultados da última sondagem e colocamos online a quarta edição desta "saga".