sábado, dezembro 26, 2015

Fizemos 10 anos de vida

Ontem, dia 25 de Dezembro, este espaço fez 10 anos.
Na verdade tinha-o iniciado uns tempos antes, como contei em Dezembro de 2006, mas renasceu e aqui está com 10 anos de vida, muitas histórias, muitas amizades, muitos passos dados, muitos textos, muitos comentários, muita coisa que não sei explicar.
Contas feitas:
  • 708 textos (544 textos de prosa,  76 sondagens e, nos últimos dois anos, 88 de poesia)
  • 13.743 comentários (alguns dos quais também são da minha autoria)
  • + de 662.000 visitas contabilizadas
Não sei bem que dizer! É meu costume usar poucas vezes o ponto de exclamação. Gosto mais de frases afirmativas. Porém, hoje é o que me apetece escrever mais. E ao lado dele alguns pontos de interrogação.
O que aconteceu ao longo destes anos está narrado nas palavras escritas, pelo meio delas, em frases não ditas, e com o auxílio de imensos comentários. Não vou esconder que fui muitas vezes ajudado, humana e espiritualmente, pelos comentários aqui deixados. Fazem parte deste espaço, que não é só meu.
Quando penso no futuro, não sei bem que dizer. Não sei bem que vai Deus pedir-me a seguir. Já pensei muitas vezes publicar em formato livro. Mas suponho que isso implicaria dar outro passo, deixando um pouco o anonimato. E não sei se isso é bom para quem me visita. Ou para mim. Às vezes também me vem à ideia um uso maior das redes sociais para que os textos cheguem a mais pessoas. Mas de igual modo não tenho certezas de ser assim que Deus quer. Os textos existem para que quem se encontrar com eles os possa ler.
Não sei muito bem o que por aí vem. Mas sei que já passaram 10 anos e tenho muito para agradecer a Deus. Sinto que neste espaço ficou espelhada a forma como cresci e como cresceu a minha espiritualidade. Sinto que fui muitas vezes força para gente que estava abatida. Sinto que fui algumas vezes um instrumento válido de Deus. E só por isso já valeu. E se, porventura, nalguma ocasião não fui tão correcto ou magoei alguém, mesmo sem querer, deixo agora o meu pedido de desculpas.
Obrigado a todos pelas vossas visitas, comentários, reacções, divulgação e partilhas.
Seja o que Deus quiser!



quinta-feira, dezembro 24, 2015

O tesouro [poema 88]

Preparou o seu nascimento
Amou-o como ao primeiro
Preparou-lhe um simples lar
Como casa que já existia
Mandou tecer roupas antigas
Em vasos de barro e argila
Para amar como ele queria

É um tesouro nascido
No local mais escondido,
O homem

Aproveito para desejar a todos os meus amigos um Natal cheio desse tesouro!

quarta-feira, dezembro 23, 2015

As três chaves

Tenho três chaves na mão. São chaves que me ofereceram quando ainda não sabia balbuciar que estava vivo. São as chaves imaginárias que coloquei hoje de novo nas mãos para olhá-las e compreender-me.
A primeira disseram-me que abria a porta da vida.
A segunda que abria a porta do paraíso.
A última que abria a porta de Deus.
Disseram-me também que só poderia escolher e ficar com uma. E para me ajudar a fazê-lo, disseram-me que se escolhesse a primeira, escolhia a vida. Se escolhesse a segunda, escolheria a vida em plenitude. Se escolhesse a terceira, era escolhido.
Mas escolhido como? Para quê? De que forma? Perguntei eu. Era escolhido para viver amado, receber o amor em plenitude, viver para sempre em Deus.
Meio encolhido, meio envergonhado, sem me achar merecedor, escolhi ser escolhido. Escolhi a terceira. Afinal era a porta das portas!

segunda-feira, dezembro 21, 2015

Já algumas vez propuseste a algum familiar teu entrar no Seminário ou numa vida de consagração?

Depois da pergunta no mês passado sobre a hipótese de alguém da tua família decidir ser padre, e depois dos resultados sumamente positivos e esperançadores, a mim surgiu-me uma outra pergunta que, no fundo, é o outro lado da questão: Já algumas vez propuseste a algum familiar teu entrar no Seminário ou numa vida de consagração?
Numa época em que celebramos a entrega de Deus a cada um de nós, faz sentido pensar na nossa entrega.

sábado, dezembro 19, 2015

Não falo não falo e não falo

Hoje não me apetece olhar-te. Estás aí na Sagrada Custódia e estás bem. Deixa-te estar quietinho. Teimo que não me apetece, mas procuro-te de soslaio, para que nem eu dê conta que te estou a olhar. Baixo a cabeça. Olhar o chão é-me mais fácil. Conto as pregas da madeira e assim não penso em nada. Queres falar, fala para aí sozinho. Hoje não me apetece escutar-te. A vida está meio estranha. Não me canso dela. Gosto da vida que me deste e gosto da missão que me deste. Mas hoje apetece-me ficar sozinho. Não me procures. Lá estas tu a tentar-me. Não estou sozinho nesta capela diante do altar e de ti que estás exposto à adoração, senão assobiava para o lado. Ó pá, não compreendo porque há tanta coisa na vida que não me deixas compreender. Por isso hoje fico aqui sem te falar e sem te olhar. Talvez assim faças alguma coisa à minha maneira. Queres fazer à tua maneira? Não estás cansado que assim seja? A tua maneira já passou de moda. Não falo não falo e não falo, já disse. Sossega que eu também fico aqui sossegado. Não te incomodo. Por isso também não me incomodes. 
Levanto enfim a cabeça com vontade de assobiar para o lado, e olho-te. Não queria falar, mas já falei tanto contigo hoje! Não queria olhar-te, mas não deixava de te ver nos meus pensamentos! Ele há cada uma!

sexta-feira, dezembro 18, 2015

não vida [poema 87]

Vivo sem viver em mim
Vivo na rua das cores e das lojas
Que é mais fácil, mais comum
Fingir que se é o que se assiste

quarta-feira, dezembro 16, 2015

Senhor, toma o meu pecado

Como um amigo me dizia um dia e eu fixei no mais íntimo da memória, Para Deus sempre o melhor. E tenho-me esforçado para que o que lhe dou seja sempre o melhor de mim. O melhor que lhe possa dar. Hoje descobri, por isso, que não me tenho entregado por inteiro, pois nunca me lembrara de lhe entregar o meu pecado. Já falei com Ele várias vezes disso. Mas guardei o pecado para mim, como uma coisa que só se diz. E faz. Não é algo que se entregue a Deus. Que falta de gosto em oferecer a Deus pecados! Que faria com eles? Não os necessita nem faz parte da sua condição divina. Mas preciso eu de lhos entregar para que nada de mim fique por entregar-lhe. 
Não o faço para me aliviar deles. Não o faço para que mos perdoe. É estranho dizer isto, porque bem preciso que mos perdoe. Mas hoje quero fazê-lo a pensar no sentido que faz entregar-lhe todo o meu pecado, para que ao fazê-lo, me entregue deveras com tudo o que sou. Aceita-me, Senhor, como sou, e toma o meu pecado.

segunda-feira, dezembro 14, 2015

Entrada sem explicação [Poema 86]

Entraste sem bater pela porta encerrada
E a casa encerrou-se em redor da mesa

Comemos e falámos de paixões
Entrámos em nós, como um de dois

Não pedimos, deixámos,
Não quisemos, permitimos,
Não nos despedimos, amámos
E aconteceu estares onde estamos

sexta-feira, dezembro 11, 2015

Rezamos pouco

Rezamos pouco. Esta é a realidade. A nossa Igreja reza pouco. Dedica pouco tempo à oração. Mesmo quando celebra a Eucaristia ou outros sacramentos. Mesmo quando usa a piedade popular, o rosário, as jaculatórias, as orações dos postalinhos. Mesmo quando afirma, para sossegar a consciência, que a vida é toda ela uma oração. Pelo menos aquela vida de entrega a Deus. Nós, os padres, somos peritos em usar este argumento falacio. Eu também rezo pouco. Rezo muito pouco. Ou rezo poucas vezes.
Os momentos de oração são aqueles momentos em que entramos na intimidade com Deus, na intimidade de Deus, ou deixamos que Ele entre na nossa humanidade. É aquele espaço de encontro de amor que faz entrar em nós um entusiasmo sem explicação. Aquele entusiasmo que a criança sente ao colo da mãe. Aquele entusiasmo que o amor sente ao ver a amada. A oração não é para ter paz ou estar bem. A oração traz-nos essa paz e esse bem-estar, porque nela estamos em Deus. A oração é aquele não sei quê que não conseguimos explicar, porque entramos num mistério tal que só nos apetece estar ali. Ali com Deus e em Deus.
Por isso rezamos pouco. Porque poucas vezes fazemos autêntica oração.

quarta-feira, dezembro 09, 2015

Queres e eu queria

Vens até mim e eu não te chamei. Bates-me à porta e eu não sei abrir. Queres entrar e eu não tenho espaço. Queres visitar-me e eu não sei estar. Queres estar comigo e eu não sei parar. Queres falar e eu não sei atender. Queres animar-me eu não sei sorrir. Queres dar-me a mão e eu não sei se dê. Queres abraçar-me e eu não sei que é. Queres amar-me, e eu não sei amar. Queres salvar-me e eu não sei viver. Queres sempre sem desistir. Eu resisto sem agradecer.

segunda-feira, dezembro 07, 2015

Miserere II [poema 85]

Estava nas palavras sentado
Quando caiu da cadeira, adormecido
Ficara sem pés, e de joelhos
Caminhava, acordado pela cadeira

Às vezes é preciso cair
Para perceber as palavras

quinta-feira, dezembro 03, 2015

Vem aí a misericórdia

Vem aí o ano da misericórdia. Por isso toda a gente vai usando a palavra como se de um slogan se tratasse. É agora que a misericórdia vai acontecer. Como se ela não tivesse já ocorrido em Deus para connosco de uma forma que não se repetirá jamais. Éramos nós que precisávamos do seu perdão e foi Ele quem tomou a iniciativa de se aproximar de nós para nos amar. Mas eu também me entusiasmo com este desejo ansioso de que algo de belo, autêntico e transformador aconteça este ano. 
Porém não posso esquecer-me daquela senhora que me contava da sua dificuldade em lidar com umas vizinhas e, por outro lado, manifestava um desejo sincero de fazer umas partilhas com uns pobres da terra. Porque também queria ser misericordiosa no ano da misericórdia. 
Cuido que no plano das relações a dificuldade existe porque geralmente nos colocamos no centro da relação. O outro tem de ser como nós queremos, ajustado à nossa forma de pensar, de sentir e de ser. Mesmo sem querer, os problemas com os outros têm na raiz esta dificuldade em nos relacionarmos com eles como são, a partir do ponto onde estão. Não era assim Jesus. Não é assim Deus que teima em aproximar-se de nós como somos. 
Quero dizer-vos hoje que este olhar o outro a partir de nós poderá também impedir a nossa misericórdia. O Papa bem disse e farta-se de repetir: temos de ir às periferias, temos de ir ao encontro dos outros, sobretudo dos que mais necessitam. Temos, afinal, de sair de nós mesmos. Temos de deixar de ser o centro. Senão o que fizermos ao outro não será por ele, mas por nós. Senão o bem que fizermos não será para os outros, mas para nós. Senão os outros não serão sujeito, mas objecto. Nós seremos apenas um deus sem saber que o somos, centrados nesse poder de podermos ser deus. 
No ano da misericórdia se não sairmos de nós ao encontro do outro, poderemos até praticar as obras da misericórdia, mas não seremos misericordiosos. Seremos apenas condescendentes.

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Porque sim [poema 84]

Preparou a criação porque sim
Como a rosa nasce sem saber porquê
Já antes viera porque veio a mim
Como a onda vem e torna a vir

Preparou tudo desigual a si
Que é tudo e por um tudo é
Amou primeiro sem que eu fosse
Amou segundo sem que eu seja
Amará depois sem que eu queira

Preparou-se para mim
Tão só porque sim