segunda-feira, maio 29, 2017

Fazer catequese para se crismar

A senhora mãe daquele adolescente que já está no 8º ano da catequese soube pela catequista que o seu filho querido, porque ainda por cima é o mais novo, tem faltado a algumas sessões de catequese. Não sabia, disse. Por isso pediu desculpas à catequista. Contudo, talvez para amenizar a situação, para a desvalorizar, para não sentir o peso de uma certa culpa, ou porque simplesmente foi o que sentiu de verdade, lá foi acrescentando. Também são tantos anos de catequese! Acaba por cansar tanto tempo de catequese para fazer o crisma. 
A catequista respondeu que ninguém era obrigado ou deveria sentir-se obrigado a andar na catequese. Mas a mãe quer muito que o menino faça o crisma. Talvez o menino nem queira. Mas quer a mãe.
Creio que, ao invocar a quantidade de anos de catequese, a mãe tem alguma razão. Dez anos de catequese quase dá direito a um doutoramento de doutrina da fé. O problema é que a catequese não é como a escola. Quando muito é a escola do amor e da fé. E acerca destas coisas, nunca se sabe tudo. 
Ela também pode ter alguma razão ao invocar que é muito tempo para se fazer o crisma. Ou outros sacramentos. O problema é que a catequese não serve para se fazerem sacramentos. Quase como se fosse uma moeda de troca. Tanto a catequese como os sacramentos servem ou deveriam servir a fé. A catequese para a aprofundar, e os sacramentos para a alimentar. 
Não estará na hora de repensarmos este tipo de catequese preocupada com a doutrina e com os sacramentos?

sexta-feira, maio 26, 2017

quarta-feira, maio 24, 2017

[poema 146]

Olha-me aquela ave a esvoaçar em ti
Esse infinito que não te cabe, mas que está
entre o coração e os desejos, que são teus
e estão muito para além do que tu és,

Esse espaço enorme que é um voo sem asas
entre o aqui e o acolá, para lá
entre o que és e o que és para além
entre o teu eu e o nosso eu
entre ti e um nós que é do céu,

O céu que é terra de Deus
E voa

segunda-feira, maio 22, 2017

Oração especial

Venho aqui, hoje, rezar por um colega que decidiu fazer um ponto de interrogação à sua vida sacerdotal. O que ele não sabe é que esse ponto de interrogação se pode transformar em ponto final num ápice. Ele disse-me que se tratavam de reticências. Eu percebi o que ele queria dizer, mas também pensei em muitas vírgulas. E que se calhar perdera o entusiasmo próprio dos pontos de exclamação constantes da nossa missão sacerdotal. 
Às vezes é preciso enfrentar-nos e não enfrentarmos apenas a nossa vida. Estou com ele, no que está e no que vier, nas decisões que tomar ou que ficarem por tomar. Como creio em Deus, mais do que nos homens, estou seguro que Deus vai guiar cada um dos seus passos e reforçar o seu sacerdócio neste tempo solitário.
E rezarei, rezarei para que não seja um ponto final. Para que sejam apenas dois pontos.

sexta-feira, maio 19, 2017

Não sou daqui [poema 145]

Sou emigrante nesta terra emprestada
Refugiado da vida que me foi dada
Vivo escondido por detrás das coisas
Nas orlas do que acontece em mim
Vivo martírios em segredo no fim
Esse local perdido onde tu poisas.

quarta-feira, maio 17, 2017

[poema 144]

Em minha casa há um lugar sagrado
Que não se toca, não se desvela,
Como tesouro à meia noite guardado

Sabe-se mas finge-se que se não sabe
Para não saber
Que os lugares sagrados não são
Para se ter

segunda-feira, maio 15, 2017

Um dia 13 de Maio muito especial

O dia 13 de Maio de 2017 não volta mais. Não volta porque nenhum dia que passa pode voltar a passar. O que eventualmente permanece de cada dia que passa é a marca ou as marcas que ele deixa em nós. E o dia 13 de Maio de 2017 deixou em Portugal marcas que haveriam de ser gravadas no nosso coração e que nos deveriam fazer sentir bem como o país que somos. 
Destaco pessoalmente o centenário das aparições de Fátima e a canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta, com o suplemente da visita do Papa. Sim, que a sua visita foi o suplemento ou complemento que faltava, mas não foi o centro do que ocorreu nesse dia. 
Deixem-me também dizer que sou benfiquista e que me alegrei com o tetra. Mas foi apenas uma alegria com um tamanho pequeno. Tamanho maior reservei para a vitória no festival da Eurovisão. Sim, gosto muito de música e desde pequeno que assistir a este evento faz parte da minha gramática pessoal. Alguns até poderiam lembrar-se de fazer alusão a um verdadeiro milagre de Nossa Senhora ou por intermédio de algum dos novos santos. Não vou tão longe. Mas de facto o dia 13 de Maio deste ano, no centenário das aparições de Fátima, trouxe-nos um novo salvador, o Salvador Sobral. Portugal venceu o festival da Eurovisão com a autenticidade deste rapaz que nos salvou de cinquenta e não sei quantos anos de festival, quase sempre em lugares que faziam esquecer o país que somos. 
Foi deveras um dia em cheio, que me encheu por dentro e por fora. Sobretudo por dentro. Encheu-me de orgulho por ser português, por ter fé, por ser assim como sou. Contudo, e como sempre, não há bela sem senão. Ainda recordo os comentários na internet que fui lendo desde o dia em que o Salvador venceu o programa em Portugal. E mesmo com a vitória nas mãos, os mesmos derrotistas que falavam mal dos seus tiques e de uma pobre melodia, pouco festivaleira e que nos ia envergonhar na Ucrânia, continuam a sua ventura de dizer coisas e mais coisas para justificar as coisas e mais coisas que já haviam dito. 
Já sobre as notícias que a internet dava a conhecer a propósito dos dias 12 e 13 em Fátima, então não queiram saber. Os muitos comentários que apareciam depois de muitas dessas notícias falavam de embustes, de analfabetismo dos que professam a fé católica, do engodo que é o catolicismo, de lavagens cerebrais, da inquisição e por aí fora. 
Creio que andamos realmente muito distraídos. Vivemos num mundo de pseudo-intelectuais que se acham donos de poder fazer todo o tipo de afirmações, mesmo sem saber do que falam. Só porque sim. Só porque temos a possibilidade de dar opiniões. Ainda bem que a maior parte delas são virtuais, isto é, são muito menos reais do que pensam os seus autores. São na maioria das vezes, faltas de atenção e respeito. E dizem muito mais de nós do que da nossa opinião. Isso sim é que é real. 
Ainda há coisa de uns minutos passei pela página de facebook de um amigo que já faleceu e que cumpriria hoje, se fosse vivo, mais um aniversário. Pasmei com alguns comentários postados exactamente neste dia. Sobretudo com aquele que desejava votos de um dia feliz. E olhem que ele é bem capaz de estar a festejar no céu e a rir-se de nós.

quarta-feira, maio 10, 2017

Fui assim criada e assim hei-de morrer

Senhora Maria, diga-me porque tem fé. Fui assim criada e assim hei-de morrer. Ou assim hei-de ser até que o Senhor me leve. Podia ser deste modo o início de uma conversa com a senhora Maria ou com muitas das senhoras que, às vezes nas nossas comunidades, mais vão à missa ou mais dispõem as mãos para a oração. Seria, quase de certeza, uma conversa curta, pequena, sem discussão, encerrada em respostas breves e cerradas no Sempre foi assim. 
Não digo que a forma como essas pessoas receberam a fé é má ou desajustada. Quem sou eu para a questionar! Era recebida de pais para filhos, como se recebia tudo o resto. Ora isso é bom. Eu mesmo sou fruto dessa transmissão geracional. Dessa herança de fé. O menos bom é que isso, muitas vezes, ficava por ali. Por receber-se. Por ficar infantilizada. 
Também acho de uma enorme coragem, nos dias conturbado de hoje, que hajam pessoas a fazer convictamente a afirmação de que sempre terão esta fé que receberam. Assim como penso que não seria justo e correcto afirmar que essas pessoas não têm fé. Têm, com certeza. 
Contudo, tenho alguma dificuldade em aceitar que se tenham contentado com uma fé infantil. Muitas vezes descomprometida da vida, presa ao passado e ao culto. Uma fé que é mais uma religião ou uma forma religiosa de viver.

domingo, maio 07, 2017

[poema 143]

Olha-me
Nos olhos e diz-me se te vês

Abraça-me
No peito e diz-me se estás

Beija-me
Por dentro,
E diz-me se sou
Um pedaço do teu amor

sexta-feira, maio 05, 2017

Esta é para ti, Dina, parte XII, já lá vão cinco anos

Faz hoje cinco anos que faleceu a Di(a)na. Apetece-me dizer que ela faleceu, mas a sua história não, porque os santos permanecem na vida de outras vidas. Eles regressam a todo o momento, não por causa da saudade, mas por nos terem marcado na parte interior do coração. Por teimarem em palpitar dentro do nosso coração. 
Tenho uma foto da Dina, junto com outros nossos amigos, na parede do quarto. Foi ela que ma ofereceu. Está colocada na parede à altura do olhar quando estou para me deitar e adormecer. Está, portanto, à altura de todos os dias a olhar. Eu não sou muito saudosista. Não é meu costume magicar com o passado. Mas hoje, sem explicação aparente ou verificação de datas, estando diante do computador a escrever coisas que cuido serem de Deus, abri este espaço na Internet e, sem pensar ou saber porquê, premi no menu o “Especial D(i)ana”. Li tudo de novo. Vivi tudo de novo. Só depois me apercebi da data. Verti de novo umas lágrimas. Respirei fundo de novo, aquele mais fundo de nós mesmos. E comecei a escrever este texto para te dizer, Dina, que ainda estás viva. Pelo menos no coração de muitos que te amaram e amam. Para te dizer que a tua história não acabará senão quando acabar a vida dos que te conheceram, real ou virtualmente. Bem-hajas mais uma vez, porque hoje senti de novo aquele arrepio de Deus que não se explica!

quarta-feira, maio 03, 2017

sonho meu sonho teu [poema 142]

Roguei aos céus que não voasse
Que não fugisse por entre os ramos
Que uma mão o detivesse, o parasse.

Mas o sonho partiu em papel com asas
O poema foi-se destilando em palavras
E as nuvens desenhando-se para as apanhar

Uma correria louca instigava as águas
E elas caíam tão juntas como a chuva
Por entre os ramos do meu sonho de papel

E o sonho desapareceu,
amarrotado,
sem palavras,
sem asas

Ficou escondido,
guardado e esquecido
Por entre papeis que dobrei em mim