sexta-feira, agosto 30, 2013

Hoje em dia

Os jovens que nos pedem o casamento, na sua maioria, já estão juntos há muito tempo. Os pais ou mães que nos pedem o batismo, muitos deles estão juntos e não casados, ou em situação irregular perante a Igreja. As Eucaristias estão vazias de gente nova, e cheias de gente que se habituou a ir à missa. A Catequese passou a ser apenas a preparação de umas festas engalanadas. O Crisma tornou-se a forma de poder ser padrinho. As confissões diminuíram. Culpa em parte dos padres que reduziram o tempo que lhe dedicavam, mas igualmente porque as pessoas deixaram de sentir essa necessidade ou a consciência do pecado. A forma de entender a sexualidade mudou completamente. A família desestruturou-se. Há diversas formas de existir em família. Monoparentais imensas vezes. Mais de metade dos filhos experimentam o peso do divórcio. Há cada vez mais cristãos recasados. Bem como divorciados. Parece que a sociedade perdeu a noção ou diferença entre bem e mal. O mal passou a ser aquilo que me incomoda e o bem aquilo que me agrada. Vivemos mais para os nossos interesses que para os melhores interesses. Não existem muitas vocações à consagração. Ser padre às vezes parece que é apenas mais uma profissão entre tantas. Hoje as pessoas sabem mais coisas, mas sabem viver menos. Deus tornou-se uma ideia e deixou de ser resposta. É o mesmo, mas mudou a forma de se entender. O mundo muda tão rápido que não conseguimos acompanhá-lo. Passa rápido e depressa morremos sem vontade, sem certezas, sem fé.
Por tudo isso, hoje gostava de perguntar a Deus como se sente. Como se encontra. E aproveitava para lhe perguntar também onde está ou deveria estar a Sua Igreja. Porque não sei ou não sei como saber, ou não sei como viver sem saber.

sábado, agosto 17, 2013

Como consideras a tua relacção de proximidade com o teu pároco?

A última sondagem proposta questionava-nos sobre a opinião que hoje a sociedade em geral tem sobre a Igreja em particular. A partir das respostas obtidas, podemos constatar que na opinião dos penitentes deste espaço, a maioria das pessoas é muito pouco favorável à Igreja. Se somarmos as respostas que abonam como favoráveis, obtemos um resultado de 13%, o que é muito pouco. As conclusões estão em baixo, mas cada um pode fazer as suas próprias conclusões.
Hoje propomos nova sondagem com uma pergunta que nos questiona sobre a relação de proximidade que temos ou não com o nosso pároco: Como consideras a tua relacção de proximidade com o teu pároco?
Já sabem que podem deixar aqui a justificação das vossas opções.

quinta-feira, agosto 08, 2013

Qual é o limite para amar a Deus?

O João é um homem atarefado. Um homem dos tempos modernos que fala com pressa de dizer tudo, com pressa de ir para outro lado ter outra conversa ou tarefa. Tem uma vontade enorme de absorver o que a vida tem para lhe dar. E assim procede nas coisas de Deus. Quer Deus em todos os minutos da sua vida, mas não sabe como ajustá-lo à vida preenchida que tem. Por isso, à saída de uma daquelas missas que o tinha feito reflectir, fez-me uma série de perguntas que afinal eram a mesma. Qual é o limite para amar a Deus? Em termos emocionais qual é o limite razoável para não perdermos o equilíbrio e mantermos uma dedicação a Deus e aos outros? Como é que noventa por cento dos crentes podem amar a Deus acima de todas as coisas e ao mesmo tempo trabalhar para ganhar a vida, dar atenção à mulher, aos filhos, ao carro, aos estudos para ter aquela promoção, ao grupo coral, aos colegas, aos outros? Sim, sei que tudo isto é ou pode ser amor a Deus. Mas estou a falar do sentimento, daquele que nos faz sentir pequeninos, de nos tirar a respiração, de sentir como se nos furassem o peito com uma lança.
Fiquei encantado com a pergunta e com a vontade de ouvir a resposta. E ela veio-me com o mesmo ímpeto. Amar a Deus não deve ter limites, como amar uma pessoa no mais íntimo não deve ter limites. Mas tudo deve ser feito no equilíbrio, porque o amor verdadeiro é equilibrado, livre, desinteressado, aberto. Se não for desta forma, deixa de ser amor para se tornar uma obcessão ou fanatismo. O verdadeiro amor não nos oprime ou prende. Não ocupa espaço ou tempo. O verdadeiro amor acontece para além da distância, das horas ou do espaço. Para além da presença. É uma entrega nem sempre revelada, mas que nos faz agir em quase tudo conformes a esse sentimento. Além disso, uma das mais claras formas de amar a Deus é exactamente amar os outros todos e tudo no máximo de nós. A família, o trabalho, os colegas de trabalho, os jovens do grupo, da escola, a casa, o que acontece, o que nos rodeia. Em tudo podemos amar a Deus sem limites. Em tudo podemos ver o Deus que amamos. Em tudo podemos sentir o amor de Deus a agir em nós. A nossa vida pode ser um constante amar a Deus. Se for autentico, o nosso amor a Deus não tem espaço, tempo ou limites.

segunda-feira, agosto 05, 2013

Os padres também se confessam

Quando entrei no confessionário, penso que no número cinco da fileira de confessionários do Santuário de Fátima, não sabia o que esperar. Há sempre aquela expectativa. Que rosto estará do outro lado do confessionário! Já me aconteceu aproveitar a passagem por Fátima para me confessar, e sair de lá com a sensação de que o colega foi mais juiz que instrumento do perdão, e com a nítida sensação de que me faltava ainda a graça de Deus. Numa dessas ocasiões fiz o meu exame de consciência de confessor e prometi a mim mesmo nunca julgar ninguém na confissão. Ao abeirar-me do confessionário quero apenas pensar na misericórdia de Deus. Não quero pensar quem será o meu confessor. Mas penso. E creio que deve acontecer o mesmo com todos os que se abeiram de um padre para se confessarem. Como me vai acolher este padre. Como me vai olhar. Que irá pensar de mim, das minhas fragilidades, do peso dos meus pecados. Irá aliviar-me ou ainda me fará sentir mais pecador. Sairei de lá com a graça ou com a desgraça de Deus. E ocorrem-me também estas perguntas todas. Porque com o saco dos pecados aos ombros, não há sotaina ou batina que faça diferença. Ou que lhe retire peso.
Entrei e o colega recebeu-me com um português meio arranhado. Cheguei a pensar que estava safo. Informei que era padre. Abri o meu coração. O colega era muito acolhedor. Reparei no pormenor do terço na mão. Agarrava nele, sem o rezar. Ouviu-me, e afinal entendeu-me. O que conta na confissão somos nós e Deus. O padre é apenas a ponte de misericórdia de Deus. Mas este colega surpreendeu-me. Não me julgou nunca. Já há bastante tempo que não me confessava. Às vezes, nós padres, deixamo-nos andar. Também para nós nem sempre é fácil encontrar o colega que nos ouça em confissão. Aqueles que nos estão mais próximos e que nos conhecem e que até nos ouvem nos nossos desabafos, nem sempre são aqueles que escolhemos para entregar o saco dos pecados. E o meu colega confessor lembrou-me aquela frase do Papa Francisco que dizia algo mais ou menos do tipo “Deus nunca se cansa de nos perdoar; nós é que nos cansamos de lhe pedir perdão”. Quantas vezes eu não lera já essa frase. Mas dita naquele momento e por aquele colega confessor, abriu em mim algo que não consigo explicar. Falo tantas vezes do perdão de Deus para os que me escutam, que acabo por esquecer de perceber o perdão de Deus em e para mim. No final da confissão, saí mais vazio e mais cheio, na certeza e vontade de me confessar mais vezes.