segunda-feira, janeiro 27, 2025

Best post [parte III]

Deixamos os resultados da sondagem que perguntava: Qual foi para ti o melhor post de 2024?

Os resultados passarão a estar junto aos restantes resultados de anos anteriores, AQUI.



Os três mais votados foram:

sexta-feira, janeiro 24, 2025

E mesmo assim mataram-no

Não posso afirmar que a homilia havia sido brilhante, porque não sou juiz de causa própria. Mas que tinha agradado, tinha. Sobretudo aos homens. Bom, e a algumas mulheres que, se pudessem, se escondiam, ruborescidas, por detrás de um véu. Pena que já não é costume usar. O evangelho proclamado, no qual se focara a homilia, continha a famosa passagem das bodas de Caná, ocasião em que Jesus transforma a água em vinho. Foi este, segundo o evangelista João, o primeiro milagre de Jesus. Ou seja, o primeiro milagre de Jesus não foi uma cura ou uma ressurreição. O primeiro milagre que, em princípio, seria a chave de leitura para o que Jesus iria fazer e dizer depois, durante a sua missão, imaginem só, foi este milagre que parece algo banal mas que é sempre muito agradável de escutar. Afinal, Jesus transformara a água em vinho, e não fora um vinho qualquer, pois o texto refere que se tratava do melhor vinho. Já se está a ver porque é que a homilia chamou a atenção dos presentes, sobretudo daqueles que gostam de entornar uns bons copos. Por isso não foi de estranhar que, no final da missa, a homilia continuasse como assunto das conversas animadas. E nisto, diz um dos homens lá da terra, daqueles dos mais castiços: O homem transforma a água em vinho e, mesmo assim, mataram-no. É que foram uns burros! 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A comunhão do casamento"

quinta-feira, janeiro 16, 2025

O último beijo

Lembro-me bem do teu último beijo. Foi o último dos teus murmúrios de beijo. Tirei-te a máscara de oxigénio, encostei a minha cara nos teus lábios e tu moveste-os na direcção dela. Só isso. Mas tanto e sem medida. Mentiria se não dissesse que guardava cada beijo com receio que fosse o último. Fazia por guardar cada milésimo de segundo do movimento de cada beijo em ralentando. Era a minha forma de lidar com o adeus a qualquer hora. É difícil desmistificar as partidas, desconstruir a vida humana num segundo de morte que se arrasta. É difícil viver a pensar nisso. E não obstante, é a sequência natural da vida. E depois lembro esse beijo. Lembro-o bem. Lembro que fechei os olhos ao aproximar-me dos teus lábios. Foi o gesto natural de quem queria encerrar o beijo por dentro para o poder ir buscar sempre que precisasse. Como agora. Na altura fui o filho mais feliz do mundo. Desde que ficaras a oxigénio que apertavam as saudades dos teus murmúrios de beijo. Por isso fui o mais feliz dos filhos. A felicidade não cabia em mim. Foi o último beijo. Tinha quase a certeza que o seria. E hoje fui buscá-lo. E de olhos abertos, cai uma lágrima, sem que a consiga guardar dentro de mim… como guardei esse beijo. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Feliz dia do pai" e "O beijo do meu pai"

quinta-feira, janeiro 09, 2025

Os funerais religiosos do futuro

O padre que presidiu ao funeral faz muitos funerais. A terra não tem muita gente, mas já teve e é hábito regressarem à terra para se despedirem dela. O falecido, depois das cerimónias religiosas, ia ser cremado. Cada vez é mais comum a cremação. De entre as cerca de trinta pessoas presentes, só uma sabia as respostas da missa. Os outros assistiam sem abrir a boca. Não havia ninguém para ler e o padre viu-se obrigado a fazer apenas a proclamação do evangelho. Muito menos havia quem cantasse. Nem o padre tem voz para tanto. Para comungar apenas uma pessoa se aproximou. Era a colaboradora da paróquia que prepara as coisas para a missa e que respondia aos diálogos. O padre, que não conhecia senão a colaboradora, foi empático tanto quanto possível. Embora tenha sentido falta de alguma fé na celebração, ao menos rezou pelo falecido e encomendou a sua alma. Cumpriu o seu papel de funcionário do religioso.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os funerais fazem-me dor de estômago"

segunda-feira, janeiro 06, 2025

Best post 2024

Nos últimos anos, por esta altura, costumo colocar os textos de todo o ano a uma votação. Embora sabendo que não é o mais importante, é uma boa desculpa para revermos e relermos um ano que passou. Peço novamente a vossa ajuda para seleccionar aqueles textos/prosa que considerais ou considerastes como os melhores, os mais tocantes ou interessantes em 2024. 

Indiquem nos comentários o título ou títulos dos vossos preferidos. Deixo algumas sugestões, de acordo com a minha apreciação particular e tendo em conta alguns dos que foram mais visualizados, mas podem indicar outros que aqui não se encontrem linkados. Depois colocarei os 10 mais apontados a uma votação.  

 

Agradeço desde já a vossa participação e colaboração. A mim fez-me bem relê-los. Pode ser que faça bem a mais alguém.

 

Nota que os poemas não entram nesta sondagem.
Quem quiser dar uma espreitadela aos "best post" de 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023 clique AQUI.

Janeiro

Onde estava Deus?

As homilias 

A eucaristia dos abraços

 

 Fevereiro

A nossa língua          

 

Março

O futuro da Igreja ou a Igreja do futuro          

 

Abril

As categorias tridentinas

a droga

a Clara e as experiências da fé

 

Maio

As promessas e as despromessas

Leigos a presidir eucaristias?

Também te amo

O dia de Páscoa

 

Junho

Os avós, esses evangelizadores modernos

a Igreja e o 'um aqui e um ali'

Dou por mim muitas vezes a não dar por ti, Senhor

 

 Julho

Uma Igreja que se quer sinodal, mas na mesma

 

Agosto

A santinha

vir à missa

 

· Setembro

A senhora que não quis crismar-se, de modo algum

O milagre da morte

 

· Outubro

as romagens que tiram a religião às pessoas

O canto a meio

· 

Novembro

A camisa de cabeção

A celebração litúrgica pouco sinodal

 

Dezembro

Chegou a Hora do meu pai...

 

sexta-feira, janeiro 03, 2025

A filha que berra

Tem cinco filhos e já não sai da cadeira de rodas sem ajuda. Embora esteja muito consciente de tudo, ali fica à mercê de quem a ajude. Não é muito velha. Apenas tem uma doença que a impede de fazer as coisas mais básicas sem ajuda. Tem cinco filhos, todos eles muito bons, senhor padre. É o que me diz. Só se queixa de uma filha. Diz que ela é uma força da natureza e é quem cuida de mim, senhor padre. Mas também diz que ela tem um feitio muito difícil. Os outros quatro não. No entanto, quando lhe pergunto se os outros eram capazes de estar ali com ela diariamente a cuidar das suas necessidades, a tratá-la, olha para mim com olhos de quem está a pensar no assunto pela primeira vez e diz que, na realidade, é capaz de ser muito difícil. Ora, portanto, a filha que vive sempre preocupada com ela e que a cuida, é a mesma que, às vezes, lhe berra porque não tem paciência quando a mãe não faz o que lhe pede. É certo que, às vezes, a ameaça de a colocar num lar. Mas também é aquela que está sempre ali e que a mãe tem de ouvir. Porque está ali. Porque se esforça. Porque se preocupa. Porque, com certeza, a ama. Olhe, sugeri, diga-lhe muitas vezes que a ama.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A pequena Sónia e a sua mãe doente, em Fátima"