Gostava de chamar José e Maria aos dois jovens que acabaram de sair do cartório paroquial depois de marcarem o matrimónio para a hora tal do dia tal. Gostava de lhes dar esse nome por analogia com a sagrada família de Nazaré, mas não me sinto no direito de estabelecer a comparação, sobretudo porque nem um nem o outro me pareceram suficientemente esclarecidos quanto a Deus ou quanto ao passo que querem dar. O diálogo foi franco e aberto. Tão franco e aberto que, ao final, me pareceu estar a oferecer um sacramento que nunca será entendido como tal. Também lhes falei de coisas como o Curso de Preparação para o Matrimónio ou a nulidade do matrimónio. Sobre este último, o interesse destes jovens veio ao de cima com rubores acrescidos. Sobre o referido curso, senti que lhes era um fardo que não pretendiam, embora tivessem de o cumprir. Estavam mais preocupados com pormenores cerimoniais, a beleza do espaço e da animação, os copos e bebes e as horas do casamento. Despedi-me deles com uma sensação estranha, uma sensação que já não é de hoje, mas de muitas outras ocasiões em que há algo que não entendemos mas desconfiamos. Vou rezar por eles esta tarde na Eucaristia.
13 comentários:
Anda tudo ao contrário... Imagino Pe. a dificuldade que deves sentir em perceber o teu lugar no meio disto tudo.
A igreja deve sim ter um papel de abertura, acolhimento e misericórdia tal como quem a procura deve ter.
Mas quando se fala em acolhimento, tolerância por parte da Igreja, a maioria das pessoas entende tolerância e acolhimento a estas situações. Festa que é festa tem que ter cerimónia na Igreja porque é bonito. E, se Pe. fizer muitas exigências, aquelas reuniões que já ouvi muita gente a chamar de chatas, é um malandro e afasta as pessoas da Igreja.
A ti, imagino que te reste a esperança que as palavras que vais proferindo quer na preparação, quer na própria cerimónia de alguma forma toquem alguém. E com certeza alguém te ouvirá, ainda que não sejam os noivos.
Não percas sobretudo a alegria.
bjito,
SL
Tb a mim me preocupa esta realidade, cada vez mais presente. Eu não saberia como fazer, até porque a maioria dos casamentos me parece que são casamentos sem fé.
Creio que o casamento à igreja para muitos jovens seja a festa, a marcha nupcial... um dia para recordar para o bem e para o mal (caso dê em divorcio no futuro!).
É a festa para os avós darem uma prendinha melhor, para a mãe escolher o vestido da noiva e comparar com o seu casamento que não teve metade das coisas que o da filha vai ter... é a dívida que muitos contraem para pagar a boda onde convidam todos e nenhuns...
o casamento na verdadeira asserção da palavra não existe mais... é a pompa que faz a circunstância...
Como te entendo... falta a "magia" por de trás da magia do casamento! Tal como falta a fé à maioria dos cristão... não percas tu a fé para o que Ele te escolheu!
beijinhos
VL
Por isso mesmo que nunca menti pra Deus e nem. E estou numa curva que veio ao meu encontro. Pode ser que um dia ei de me casar com fé e uma uma magia que une o AMOR.
É verdade tudo isso, tão verdade... e para si que está no ato do atendimento, deve ser doloroso constatar essa "impreparação"... (nem sei se esta palavra existe!!)
E a Pastoral do namoro? porque não apostar aqui? mas como, tb me pergunto... como começar e por onde? ás vezes tb já não sei!!!
sr.padre é realmente uma triste situação, haja Esperança e continue a semear a Palavra em cada um.
Acho que o problema está principalmente em não sabermos o que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar.
Que resposta daria à questão «O que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar?»
Francisco,
Tenho alguns textos sobre esse assunto. Não serão muitos. Mas são alguns.
Abraço
Ai, ai, Confessionário, será que te deixaste convencer de que andas a casar noivos? É tão fácil esquecer a especificidade deste sacramento...
Quanto ao "curso de preparação", repara bem nos termos: quem é que normalmente se sente entusiasmado por ter de frequentar um curso? Ainda para mais um curso "religioso"... E para quê a "preparação"? Se os noivos decidiram casar, certamente têm a convicção de que estão preparados para isso. Não admira que o pessoal torça o nariz...
sr.padre estive a ler alguns textos do blogue em que fala da Salvação mas fico com a mesma ideia do casal de noivos, sem ver bem o que sejam os Sacramentos e a Salvação.
Parece indicar que «Deus é que salva» perto de uma «sola fide» ou universalidade automática em que só numa recusa explícita a podemos perder.
Dou a minha resposta à questão e no que vir de errado por favor pode-me indicar:
O que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar?
Cristo veio-nos salvar do pecado original, da lógica do mundo, do maligno e do pecado que nos impossibilitam a comunhão com Deus.
Sem Cristo estamos irremediávelmente afastados de Deus, Ele veio-nos mostrar que é possível renascer para a vida em Deus pelo baptismo e seguindo o Caminho que nos ensinou (tendo os mesmos sentimos de Cristo, realizando a Vontade de Deus, com o Seu olhar de misericórdia, justiça e santidade, praticando a Caridade) podemos chegar ao reino de Deus.
É a revelação da Verdade, uma oferta a todos mas que se realiza vivendo o amor divino. É o próprio Cristo: a Vida que devemos viver aqui e um dia no Céu plenamente, o Caminho que devemos seguir e a Verdade que devemos crer.
"Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso - não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre. "
"De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra."
"para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste."
Os senhores padres (e não só) precisam realmente dessa conversão de mentalidade, e de adoptar definitivamente um estilo pastoral de escuta e atenção autênticas, como pede o Papa Francisco.
As pessoas têm de ser acolhidas, encontradas na fase do caminho em que estão, não onde era suposto estarem ou deveriam hipoteticamente estar. Aproveitando tudo o que de bom já viveram e experimentaram no seu percurso, bem como a boa-vontade (que quase sempre existe) de fazer mais caminho, porventura não no ritmo que interessaria ao senhor padre ou com o entusiasmo que ele gostaria de ver nos seus rostos.
A Igreja tem uma proposta para fazer a quantos se dispõem casar, uma boa-nova que gostaria de partilhar com eles, e a disponibilidade para os acompanhar na aventura de crescimento e maturação do seu projecto. É isto o que cabe apresentar a cada novo encontro, a partir do respeito que é devido àqueles que serão, em sentido estrito, os únicos celebrantes do sacramento: os próprios noivos. O padre é aqui chamado a ser "apenas" testemunha (privilegiada, é certo)do enlace, assistente da celebração, representante da comunidade crente, alguém mandatado pela Igreja para apoio dos noivos no seu processo de discernimento e consciencialização.
Francisco, vais no caminho certo!
Padre,
pecadora me confesso!! É que essa frase para mim é tão real e acho o matrimónio uma coisa tão séria, que por esse motivo ainda não celebrei matrimónio. Vivo em união de facto com o pai dos meus filhos, que me pediu em casamento e me ofereceu um anel de noivado com um brilhante por cada ano de namoro, há catorze anos! Somos ambos crentes, frequentamos a igreja, mas claro, nunca comungo. Os meninos são batizados, andam na catequese, frequentam uma escola católica, oramos todos os dias quando queremos e sempre antes de cada refeição...casar é que não, porque não posso garantir que será para sempre! Vivo para a minha família, o meu companheiro e os meus filhos, mas para sempre parece-me muito tempo, caso venha a ser infeliz! Entretanto, durante estes catorze anos, já vimos muitos casamentos celebrados com grande pompa, de amigos, vizinhos, familiares, terminarem em divórcio e nós cá continuamos amancebados em pecado um com o outro, mas livres. Sem essa pressão e sem essa benção, em família, mas sem o sacramento. Temos muitos altos e baixos, mas vamos aguentando o barco. Às vezes sou mais dramática e ele quase indiferente, outras, é ele mais intempestivo e eu mais ponderada, o padre sabe como são as pessoas, cheias de pequenos, não é?
Olá, anónima de 20 abril, 2018 16:22
Não queres cometer um erro aos olhos de Deus e por isso evitas casar. mas já pensaste que não basta não fazer o mal, e é necessário fazer o bem? Se queres evitar estar mal aos olhos de Deus, porque não casar?
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