O multiculturalismo chegou à hierarquia eclesiástica. Um em cada dez padres em Espanha vem de outro país. São oriundos, na sua maioria, da América Latina. Em Portugal a percentagem ainda não chegou a estes números, mas vai-se impondo a mesma realidade. Na minha diocese já se incardinaram alguns e aumenta o número dos que vão chegando, sobretudo de países lusófonos. Todos eles vão chegando com a sua bagagem vital e espiritual para acompanhar comunidades bem diferentes daquelas que conhecem. Não entendem determinadas devoções enraizadas e tentam introduzir costumes das suas terras. Têm dificuldade em se relacionar com o presbitério nativo e, não raras vezes, também são olhados com alguma desconfiança. Não se sabe ao certo se vêm em missão ou por uma oportunidade. Mas a realidade impõe-se.
As novas edições do Anuário Pontifício de 2025 e do Anuário Estatístico da Igreja com dados relativos a 2023, editados pelo Departamento Central de Estatísticas Eclesiásticas da Secretaria de Estado do Vaticano, dão conta que o número de sacerdotes diminuiu ligeiramente (-0,2%), sendo a Europa a detentora da maior diminuição (-1,6%) e África (+2,7%) e Ásia (+1,6%) os continentes com maior aumento. Quanto ao número de seminaristas, entre 2022 e 2023 registou-se uma quebra de 1,8%, numa diminuição que se estende a todos os continentes, com excepção da África, onde os seminaristas aumentaram 1,1%. Se a Europa levou a Boa Nova a países que foi designando de países de missão, agora é desses países que a Europa vai recebendo clérigos. É o que Zygmunt Bauman chama de era das diásporas no que se refere à migração em geral.
A aceitação da diferença num mundo global é altamente positiva e um anseio verdadeiramente cristão. Mas veremos se o multiculturalismo eclesiástico não redunda em multicomunitarismo eclesiástico, um fenómeno que, segundo o mesmo sociólogo, em termos gerais, se refere às pessoas que vivem umas ao lado das outras, mas se fecham e barricam na sua comunidade ou modo de vida. A Europa é hoje local de missão. Mas estará a Igreja preparada para este fenómeno religioso?
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Como será a Igreja daqui a vinte ou trinta anos?"
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