sexta-feira, janeiro 12, 2018

O matrimónio é coisa demasiado séria

Gostava de chamar José e Maria aos dois jovens que acabaram de sair do cartório paroquial depois de marcarem o matrimónio para a hora tal do dia tal. Gostava de lhes dar esse nome por analogia com a sagrada família de Nazaré, mas não me sinto no direito de estabelecer a comparação, sobretudo porque nem um nem o outro me pareceram suficientemente esclarecidos quanto a Deus ou quanto ao passo que querem dar. O diálogo foi franco e aberto. Tão franco e aberto que, ao final, me pareceu estar a oferecer um sacramento que nunca será entendido como tal. Também lhes falei de coisas como o Curso de Preparação para o Matrimónio ou a nulidade do matrimónio. Sobre este último, o interesse destes jovens veio ao de cima com rubores acrescidos. Sobre o referido curso, senti que lhes era um fardo que não pretendiam, embora tivessem de o cumprir. Estavam mais preocupados com pormenores cerimoniais, a beleza do espaço e da animação, os copos e bebes e as horas do casamento. Despedi-me deles com uma sensação estranha, uma sensação que já não é de hoje, mas de muitas outras ocasiões em que há algo que não entendemos mas desconfiamos. Vou rezar por eles esta tarde na Eucaristia.

13 comentários:

Anónimo disse...


Anda tudo ao contrário... Imagino Pe. a dificuldade que deves sentir em perceber o teu lugar no meio disto tudo.

A igreja deve sim ter um papel de abertura, acolhimento e misericórdia tal como quem a procura deve ter.

Mas quando se fala em acolhimento, tolerância por parte da Igreja, a maioria das pessoas entende tolerância e acolhimento a estas situações. Festa que é festa tem que ter cerimónia na Igreja porque é bonito. E, se Pe. fizer muitas exigências, aquelas reuniões que já ouvi muita gente a chamar de chatas, é um malandro e afasta as pessoas da Igreja.

A ti, imagino que te reste a esperança que as palavras que vais proferindo quer na preparação, quer na própria cerimónia de alguma forma toquem alguém. E com certeza alguém te ouvirá, ainda que não sejam os noivos.

Não percas sobretudo a alegria.

bjito,
SL


Anónimo disse...

Tb a mim me preocupa esta realidade, cada vez mais presente. Eu não saberia como fazer, até porque a maioria dos casamentos me parece que são casamentos sem fé.

Anónimo disse...

Creio que o casamento à igreja para muitos jovens seja a festa, a marcha nupcial... um dia para recordar para o bem e para o mal (caso dê em divorcio no futuro!).

É a festa para os avós darem uma prendinha melhor, para a mãe escolher o vestido da noiva e comparar com o seu casamento que não teve metade das coisas que o da filha vai ter... é a dívida que muitos contraem para pagar a boda onde convidam todos e nenhuns...

o casamento na verdadeira asserção da palavra não existe mais... é a pompa que faz a circunstância...

Como te entendo... falta a "magia" por de trás da magia do casamento! Tal como falta a fé à maioria dos cristão... não percas tu a fé para o que Ele te escolheu!

beijinhos
VL

Unknown disse...

Por isso mesmo que nunca menti pra Deus e nem. E estou numa curva que veio ao meu encontro. Pode ser que um dia ei de me casar com fé e uma uma magia que une o AMOR.

Paula Ferrinho disse...

É verdade tudo isso, tão verdade... e para si que está no ato do atendimento, deve ser doloroso constatar essa "impreparação"... (nem sei se esta palavra existe!!)
E a Pastoral do namoro? porque não apostar aqui? mas como, tb me pergunto... como começar e por onde? ás vezes tb já não sei!!!

francisco disse...

sr.padre é realmente uma triste situação, haja Esperança e continue a semear a Palavra em cada um.

Acho que o problema está principalmente em não sabermos o que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar.

Que resposta daria à questão «O que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar?»

Confessionário disse...

Francisco,

Tenho alguns textos sobre esse assunto. Não serão muitos. Mas são alguns.
Abraço

JS disse...

Ai, ai, Confessionário, será que te deixaste convencer de que andas a casar noivos? É tão fácil esquecer a especificidade deste sacramento...

Quanto ao "curso de preparação", repara bem nos termos: quem é que normalmente se sente entusiasmado por ter de frequentar um curso? Ainda para mais um curso "religioso"... E para quê a "preparação"? Se os noivos decidiram casar, certamente têm a convicção de que estão preparados para isso. Não admira que o pessoal torça o nariz...

francisco disse...

sr.padre estive a ler alguns textos do blogue em que fala da Salvação mas fico com a mesma ideia do casal de noivos, sem ver bem o que sejam os Sacramentos e a Salvação.
Parece indicar que «Deus é que salva» perto de uma «sola fide» ou universalidade automática em que só numa recusa explícita a podemos perder.

Dou a minha resposta à questão e no que vir de errado por favor pode-me indicar:

O que é a Salvação e do que Cristo nos veio salvar?
Cristo veio-nos salvar do pecado original, da lógica do mundo, do maligno e do pecado que nos impossibilitam a comunhão com Deus.

Sem Cristo estamos irremediávelmente afastados de Deus, Ele veio-nos mostrar que é possível renascer para a vida em Deus pelo baptismo e seguindo o Caminho que nos ensinou (tendo os mesmos sentimos de Cristo, realizando a Vontade de Deus, com o Seu olhar de misericórdia, justiça e santidade, praticando a Caridade) podemos chegar ao reino de Deus.

É a revelação da Verdade, uma oferta a todos mas que se realiza vivendo o amor divino. É o próprio Cristo: a Vida que devemos viver aqui e um dia no Céu plenamente, o Caminho que devemos seguir e a Verdade que devemos crer.

"Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso - não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre. "

"De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra."

"para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste."

JS disse...

Os senhores padres (e não só) precisam realmente dessa conversão de mentalidade, e de adoptar definitivamente um estilo pastoral de escuta e atenção autênticas, como pede o Papa Francisco.
As pessoas têm de ser acolhidas, encontradas na fase do caminho em que estão, não onde era suposto estarem ou deveriam hipoteticamente estar. Aproveitando tudo o que de bom já viveram e experimentaram no seu percurso, bem como a boa-vontade (que quase sempre existe) de fazer mais caminho, porventura não no ritmo que interessaria ao senhor padre ou com o entusiasmo que ele gostaria de ver nos seus rostos.

A Igreja tem uma proposta para fazer a quantos se dispõem casar, uma boa-nova que gostaria de partilhar com eles, e a disponibilidade para os acompanhar na aventura de crescimento e maturação do seu projecto. É isto o que cabe apresentar a cada novo encontro, a partir do respeito que é devido àqueles que serão, em sentido estrito, os únicos celebrantes do sacramento: os próprios noivos. O padre é aqui chamado a ser "apenas" testemunha (privilegiada, é certo)do enlace, assistente da celebração, representante da comunidade crente, alguém mandatado pela Igreja para apoio dos noivos no seu processo de discernimento e consciencialização.

Confessionário disse...

Francisco, vais no caminho certo!

Anónimo disse...

Padre,
pecadora me confesso!! É que essa frase para mim é tão real e acho o matrimónio uma coisa tão séria, que por esse motivo ainda não celebrei matrimónio. Vivo em união de facto com o pai dos meus filhos, que me pediu em casamento e me ofereceu um anel de noivado com um brilhante por cada ano de namoro, há catorze anos! Somos ambos crentes, frequentamos a igreja, mas claro, nunca comungo. Os meninos são batizados, andam na catequese, frequentam uma escola católica, oramos todos os dias quando queremos e sempre antes de cada refeição...casar é que não, porque não posso garantir que será para sempre! Vivo para a minha família, o meu companheiro e os meus filhos, mas para sempre parece-me muito tempo, caso venha a ser infeliz! Entretanto, durante estes catorze anos, já vimos muitos casamentos celebrados com grande pompa, de amigos, vizinhos, familiares, terminarem em divórcio e nós cá continuamos amancebados em pecado um com o outro, mas livres. Sem essa pressão e sem essa benção, em família, mas sem o sacramento. Temos muitos altos e baixos, mas vamos aguentando o barco. Às vezes sou mais dramática e ele quase indiferente, outras, é ele mais intempestivo e eu mais ponderada, o padre sabe como são as pessoas, cheias de pequenos, não é?

Confessionário disse...

Olá, anónima de 20 abril, 2018 16:22

Não queres cometer um erro aos olhos de Deus e por isso evitas casar. mas já pensaste que não basta não fazer o mal, e é necessário fazer o bem? Se queres evitar estar mal aos olhos de Deus, porque não casar?