Há uma senhora, de nome que não interessa, que, já reparei, gosta de reparar na vida dos outros e falar dela, a vida dos outros.
Em cada terra, em cada paróquia, há sempre senhoras, de nome que não interessa, que vivem a sua vida a reparar na vida dos outros. Nas mais pequenas, sentam-se ao cimo do balcão e fazem uso da sua língua, geralmente má, para desfazer novelos e criar novelas da vizinha, da amiga da vizinha, e das amigas das amigas da vizinha. As que moram em terras ou paróquias maiores sentam-se à mesa do café para que o chá seja bem regadinho com a história que ouviram falar.
A senhora, de nome que não interessa, gosta de andar atrás do padre e assim como fala das vizinhas, aproveita e fala do padre, que esse dá uma novela de maior audiência. Por azar da vida, veio contar-me duas ou três coisas a respeito de duas ou três senhoras que colaboram na Igreja. Não gosto de dar importância a conversas destas, mas, como é hábito, escutei-a porque o meu dever é escutar. A meio da conversa pedi-lhe para falar coisas boas dessas senhoras e ela não conseguia. Foi quando se calou. Aproveitei para ensinar que dos outros só devemos falar bem, e que devemos ter atenção se não recalcamos nos outros aquilo que está dentro de nós. Terminámos assim a conversa e quero pensar que ela vai melhorar. Mas depois de ela sair porta fora, lembrei um dito senhor da televisão, de nome que não interessa, que há dias se saiu com esta à frente do écran. Aqueles que passam o dia a falar da vida dos outros que arranjem uma vida. De facto, quem está de bem com a sua vida, não gasta tempo a falar, geralmente mal, da vida dos outros.
Em cada terra, em cada paróquia, há sempre senhoras, de nome que não interessa, que vivem a sua vida a reparar na vida dos outros. Nas mais pequenas, sentam-se ao cimo do balcão e fazem uso da sua língua, geralmente má, para desfazer novelos e criar novelas da vizinha, da amiga da vizinha, e das amigas das amigas da vizinha. As que moram em terras ou paróquias maiores sentam-se à mesa do café para que o chá seja bem regadinho com a história que ouviram falar.
A senhora, de nome que não interessa, gosta de andar atrás do padre e assim como fala das vizinhas, aproveita e fala do padre, que esse dá uma novela de maior audiência. Por azar da vida, veio contar-me duas ou três coisas a respeito de duas ou três senhoras que colaboram na Igreja. Não gosto de dar importância a conversas destas, mas, como é hábito, escutei-a porque o meu dever é escutar. A meio da conversa pedi-lhe para falar coisas boas dessas senhoras e ela não conseguia. Foi quando se calou. Aproveitei para ensinar que dos outros só devemos falar bem, e que devemos ter atenção se não recalcamos nos outros aquilo que está dentro de nós. Terminámos assim a conversa e quero pensar que ela vai melhorar. Mas depois de ela sair porta fora, lembrei um dito senhor da televisão, de nome que não interessa, que há dias se saiu com esta à frente do écran. Aqueles que passam o dia a falar da vida dos outros que arranjem uma vida. De facto, quem está de bem com a sua vida, não gasta tempo a falar, geralmente mal, da vida dos outros.
14 comentários:
Meu caro:
Diz também o povo que Deus deu-nos duas orelhas e uma boca, digo eu que para escutarmos mais do que falamos. Agora... sempre que falamos estamos a mostrar o nosso sistema de valores relativamente às coisas que falamos e comentamos.
E isso serve para nos posicionarmos relativamente aos outros e os outros relativamente a nós, portanto, mesmo nas cusquisses de mais má língua, esta está a negociar a relação dela contigo... Que depois da tua última tirada não vai ser igual... pendo eu de que.
Aquele abraço
Confessionario
:)
Sorri ao ler este post.
Alguém escreveu "Que a vida vista de perto é uma tragédia, vista de longe é uma comédia".
Eu costumo dizer que, falar da vida dos outros desvia as atenções dos nossos "podres".
É bem verdade que existem senhoras dessas em todos os lugares, em todas as comuidades, em todas as paróquias.
"...pedi-lhe para falar coisas boas dessas senhora..."
Foi de mestre a sua atitude.
Tinha acabado de chegar à paróquia onde moro actualmente, tinha ido matricular o meu filho na catequese, e aguardava que o padre chegasse.
Atráz de mim as senhoras sem nome falavam animadamente entre si.
Falavam do padre, e do filho do padre. Falavam da vizinha tal, e do caso amoroso que afirmavam que essa vizinha tinha com o padre da paróquia x.
Faziam questão de falar num tom de voz que parecia estarem a falar em segredo mas assegurando-se que eu a "Cubana", ouvisse.
Tiveram azar que nomomento em que falavam do tal padre da paróquia x e o suposto caso que tinha com a vizinha, entra o padre, silêncioso, sem pressa, ajoelhou diante do sacrário, virou-se para as senhoras, que entretanto se calaram, e disse: Eu ouvi apenas a parte da pouca vergonha, mas Jesus ouviu a conversa toda, penso que Ele tal como eu sente vergonha, e dirigiu o olhar na minha direcção, por forma a que as senhoras percebessem a mensagem.
Ninguém disse uma palavra.
Olhou de novo para mim, esboçou um sorriso e disse num tom de voz meigo e muito mais calmo que o antes usado, venha comigo.
Eu queria enfiar-me num buraco, não abri a boca e segui-o até à sacristia.
Já na sacristia olhou para mim com ar sério, disse: Seja bem-vinda.
As senhoras lá devem ter continuado a lavar a roupa, e penso que na lingua suja delas e também no não menos sujo coração, nunca está bem lavada.
Muita paz e muita luz.
Agora fui eu que me escangalhei a rir com a história que contas, amiga anónima! fabulosa!!! E essa tirada de que Deus deve ter ouvio tudo ainda mais! Até fico com inveja de não ter sido eu a contar a história! lol
Também conheço histórias deste tipo protagonizadas por padres. Bem tristes.
Peço desculpa, por, mais uma vez, fazer de advogado do diabo e patrocinar com algum sarcasmo e ironia! A senhora de nome que não interessa, faz-me lembrar aquele velhinho, cujo nome não interessa, que passa a vida a pedir desculpas, por arquétipos da perfeição, cujos nomes não interessam porque tudo não passa de novela de senhora cujo nome não interessa.
Moral da estória: Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.
Abraços.
Não se poderá acrescentar um botão para partilhar os post's? Seria muito útil. Se a intenção não é, naturalmente, que não sejam partilhados noutras redes. Um abraço e bom trabalho.
Não será possível acrescentar aos post's um botão de partilha com outras redes sociais? Seria muito útil se a intenção não é que não sejam partilhados. Um abraço e bom trabalho.
Olá, Miguel
Não sei propriamente como isso se faz!
Ola Padre,
O seu post relata com uma grande fidelidade o que se passa mesmo nas cidades. Se formos aos cafes de bairro, podemos encontrar grupos de senhoras que ali passam boa parte da manha ou, preferentemente, da tarde em amena conversa, sendo que esta se baseia em "cortar na casaca alheia". Se acaso alguem se lembra de chamar aquela mesa "mesa da cusquice" ficam mesmo indignadas pois so estao a falar verdade.
Mas acho que tambem convem lembrar que, na sua grande maioria, sao pessoas simples e com pouca instrucao que nao tem nada que possam fazer para passar os ultimos anos de vida,nao tem interesses e, porventura, estao vivendo uma enorme solidao, ainda que tenham filhos ou parentes.Sao pessoas que ja estao esquecidas pela sociedade. Arrastam-se e vao arrastando moralmente os outros ate ao dia final. Grande parte das vezes nem tao pouco acreditam Nele o que lhes retira qualquer motivacao para alem da sua triste vida terrena. Se houvesse estruturas que os motivassem a fazer algo talvez, ou nao, tivessem outra postura. Mas tambem ha as ditas beatas que, por vezes, antes de passarem a porta da igreja, ja estao "crucificando" alguem e, de preferencia, o padre. Actualmente, os bares das igrejas sao os "ideais" para promover/despromover quem por la vai passando.
Beijinho
Ruth
Eu também sou de opinião que essas pessoas não têm vida própria. Coitados/as!
Alguns de nós achamos piada e rimos! Outros olhamos pacientes como quem acredita um dia acontecer alguma mudança nesta gente que se move em tais contextos onde arrasar uma vida e um nome de uma pessoa de bem leva apenas 5 minutos de conversa e na gravidade acrescida de serem normalmente espaços ditos “sagrados”! A maior parte de nós vai passando ao lado em nome de uma suposta liberdade que devemos respeitar mesmo sabendo que outro lado está se borrifando para a liberdade alheia!
Resumindo, tudo gente de bem que depois terá a possibilidade de limpar alguma coisa que ficou para trás numa confissão mais anónima! E depois surpreende-nos que os templos estejam cada vez mais vazios! E assim vão correndo os dias sem ocaso da tão propalada comunhão espiritual entre irmãos!
Peço desculpa pela dureza da linguagem, mas cada vez acredito mais que o espaço dos cemitérios é muito mais arejado do que muitos espaços desses onde a mesma língua que adora e louva ao Pai, é capaz de destruir e queimar vidas sem que a sua alma trema ou pestaneje um segundo que seja! Insanidades! Resta-nos deixar que os “mortos enterrem os seus mortos”…!
Oh meu amigo, afinal estão a fazer um favor à sociedade!!!
Levam muito a peito aquela frase:
"falem bem de mim ou falem mal, mas falem de mim!"
deve ser para ninguém se sentir "excluído"!!!!
Gostei muito da história da "amiga anónima".
Um abraço
Eu gostava de apontar para o outro lado da moeda. Vem isto a propósito de um artigo que li há já uns bons anos na revista do DN e que se intitulava qualquer coisa como "Elogio do mexerico". E lá se procurava demonstrar como essa prática é essencial nas relações comunitárias e no controlo social.
Percebo as injustiças originadas pela cusquice, e até sei de algumas histórias bem dramáticas; mas vivendo em meio citadino, onde as pessoas se ufanam de não se meterem com a vida de ninguém, aquilo que vejo é a indiferença a reinar, as pessoas encerradas nas suas vidinhas e nas suas casinhas, sem saberem nem quererem saber do vizinho que está a morrer na porta mesmo ao lado; ou incapazes de chamarem a atenção de alguém com um comportamento errado, porque é suposto que ninguém tem nada a ver com a vida dos outros, com o que eles fazem ou deixam de fazer.
Ó JS, aqui não se trata de saber se é um menor mal relativamente à indiferença; mas saber se é uma virtude cristã esta da maledicência!
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