Rezamos pouco. Esta é a realidade. A nossa Igreja reza pouco. Dedica pouco tempo à oração. Mesmo quando celebra a Eucaristia ou outros sacramentos. Mesmo quando usa a piedade popular, o rosário, as jaculatórias, as orações dos postalinhos. Mesmo quando afirma, para sossegar a consciência, que a vida é toda ela uma oração. Pelo menos aquela vida de entrega a Deus. Nós, os padres, somos peritos em usar este argumento falacio. Eu também rezo pouco. Rezo muito pouco. Ou rezo poucas vezes.
Os momentos de oração são aqueles momentos em que entramos na intimidade com Deus, na intimidade de Deus, ou deixamos que Ele entre na nossa humanidade. É aquele espaço de encontro de amor que faz entrar em nós um entusiasmo sem explicação. Aquele entusiasmo que a criança sente ao colo da mãe. Aquele entusiasmo que o amor sente ao ver a amada. A oração não é para ter paz ou estar bem. A oração traz-nos essa paz e esse bem-estar, porque nela estamos em Deus. A oração é aquele não sei quê que não conseguimos explicar, porque entramos num mistério tal que só nos apetece estar ali. Ali com Deus e em Deus.
Por isso rezamos pouco. Porque poucas vezes fazemos autêntica oração.
4 comentários:
É isso mesmo. Estar com Deus (e) estar em Deus. Muito bem visto, Padre!
Ao ver a série do II canal "Os homens da Fé" - apesar de todas as correcções que possa conter ...faz aumentar a vontade de rezar com mais intensidade por quem foi chamado a entregar a Cristo uma vida, que por ser entregue a Seu pedido, não deixa de continuar humana.
Febe, eu tb vi. Perdi um episódio ou dois apenas. E gostei bastante. De vez em quando chocava, mas tb fazia reflectir. O problema desta série foi querer tratar tanto problema junto concentrando-os nas poucas personagens que havia. Imagino que a tua vontade de rezar surgiu de pensares nessas tantas coisas ou fragilidades tratadas no filme (até para além da vida dos sacerdotes foram tratados temas sensacionalistas, como o aborto, o suicidio, os refugiados...); mas tens de pensar que em 100 padres, só um ou dois viverá cada uma das problematicas tratadas. E o final foi muito interessante: cada um continuou com fragilidades, mas com a vontade de caminhar para Deus e fazer algo pela Igreja.
Tem razão... Obrigada pela partilha
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