quinta-feira, novembro 26, 2015

A auto-salvação

O padre António é um pouco mais novo que eu. Andámos na mesma escola e no mesmo Seminário com diferença de poucos anos. Há dias, ou semanas, tivemos a oportunidade de nos cruzarmos e cumprimentarmos num funeral. O padre António presidiu à celebração e, portanto, à homilia. Falou oportunamente da salvação que vem de Deus através de Jesus Cristo. Que bem falava o António. E recorria à frase conhecida de Jesus que se apresentava como o Caminho, a Verdade e a Vida, dizendo que este caminho que era Ele, era o mesmo que fazer como Ele, segundo o seu exemplo, virtudes, valores, os valores do Evangelho, para que assim pudéssemos chegar ao céu, ao céu da eternidade. Reconheço que de certa forma já falara assim do assunto, com essa explicação que parece óbvia. Mas ao escutar o António, e talvez porque não tinha que pensar no raciocínio do que dizer a seguir, recordei as famosas heresias de Pelágio e de Jansen. Conhecidas respectivamente por pelagianismo e jansenismo. E naquele dia dei por mim a reconhecer que esta forma de falar da salvação é mais uma auto-salvação que uma salvação por Jesus, é mais uma salvação por méritos que pela graça de Deus. Só Deus salva afinal. A nós resta-nos abrir o coração a essa graça tão grande que é o anseio maior da vida. A nós resta-nos o livre arbítrio. A Deus a graça da salvação.

5 comentários:

JS disse...

E lá me obrigaste, Confessionário, a reler a Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação.
E até faz bem, para nos prepararmos para o Jubileu da Reforma. Vai ser de arromba!

Mas já dizia o teólogo: como falar de salvação a quem não se sente perdido?...

Confessionário disse...

Esse é outro problema, JS
Mas penso que la no fundo todos desejamos ou ansiamos a felicidade... Não sabemos é que, de acordo com o Criador, a isso se possa chamar salvação. Mas permanece outra pergunta:

Será que vale a pensa pensarmos em salvação neste mundo em que vivemos?

Paulina Ramos disse...



Se pensarmos que o homem é o único responsável pela sua salvação sem necessitar intervenção da graça divina, teremos um Deus externo ao Homem sem qualquer "elo" ligação entre si, se o pensarmos sem livre arbítrio, destinado a fazer apenas o que lhe estaria destinado tereamos um Deus ditador, sem misericórdia.
Não me identifico com nenhuma destas posturas.
Como cristã, leiga, sempre à procura de uma vivência mais completa, que tu definiste como o "abrir o coração a essa graça tão grande que é o anseio maior da vida.", creio que nem o homem existe independentemente de Deus nem Deus independentemente do homem, creio que se Ele constitui a génese de tudo o que existe então jamais poderemos colocar a salvação como uma questão isolada dos dois e a sua responsabilidade apenas num ou noutro.
Se pensarmos a salvação como um caminho de constante realização/revelação da nossa humanidade afirmo que faz sentido. Se a pensarmos como uma recompensa pelo nosso agir diário, pelo nosso comportamento não fará sentido falar dela nos dias de hoje.
É uma questão tão complexa como avassaladora.

Anónimo disse...

A salvação está sempre além do nosso merecimento. Como ninguém a merece, a salvação será sempre graça de Deus. Confiamos que a iremos obter fazendo de Cristo caminho, não pelos nossos méritos mas segundo a Sua Palavra. E esta é uma esperança fundada: uma promessa de vida eterna. Todos queremos marcar pontos. Obviamente que a Ele nada é impossível, que a Sua lógica não é nossa e que a sua misericórdia é infinita. E com este paleio e o da salvação por méritos lembrei-me da parábola dos trabalhadores da vinha.

Anónimo disse...


“Será que vale a pensa pensarmos em salvação neste mundo em que vivemos?”

Quem não se salvar neste mundo, salvar-se-á no outro?