
O pai estivera com ele na mesa de jantar na noite anterior. De manhã ligaram-lhe para dizer que o pai partira. Não teve tempo para esperar a partida. Não teve tempo para o ver partir. O pai sempre lhe dissera que gostaria de morrer de repente e sem dor, e Deus ouvira o seu pedido. Mas o filho não tivera tempo para dizer adeus ao pai. E isto desesperava-o. Não tive tempo de me despedir, padre. Não tive. E repetia. Não tive. Mas teve. E tive de o recordar que teve. O senhor teve cinquenta e dois anos, tantos quanto a idade que tem, para se despedir dele. Os dias começam e acabam todos os dias. Cada dia é mais um dia para mostrarmos uns aos outros como nos amamos. Cada dia é um dia de amor e despedida.
Já lá vão uns três anos desde que tivemos este diálogo. Eu nem me recordava. Mas há dias fez questão de mo recordar, porque, dizia ele, não sabe as vezes que eu tenho dito as mesmas palavras a outras pessoas tal como o senhor padre mas disse a mim!
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Estava capaz de gritar"
1 comentário:
Boa noite Senhor Padre,
A minha mãe partiu no passado dia nove.
Também me telefonaram a dizer que se tinha sentido mal enquanto almoçava e partiu!
O sentimento que me assaltou no momento foi igual ao do seu amigo e também que nunca mais a veria.
Também tive muito tempo para me despedir, mas a visita que tinha marcada para a semana seguinte, foi uma despedida que ela já não viu, não sentiu.
São momentos dolorosos que ficam gravados para sempre no coração.
Emília Simões
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