A Manuela é catequista do terceiro ano. Boa catequista e boa mãe. Simples. Tímida. Mas nas coisas da catequese sente-se a fazer algo de Deus e por isso entusiasma-se. Ontem estranhei a sua pressa em falar-me. Preciso desabafar consigo. Imaginei que viria repetir-me aquelas que ultimamente são as reclamações habituais dos meus catequistas. Os miúdos estão insuportáveis. Não querem nada. Não os vemos na missa. Faltam muito. Distraem-se e faltam ao respeito. Usam tudo para implicar connosco. As reclamações dos catequistas estão como o tempo. Frias. Ásperas. Caem como chuva, a desoras e em enxurradas. Mesmo as pequenas tempestades, de abundantes, soam a grandes temporais. Tento pensar que é ocasional. Que a seguir vem lá o sol e que esqueceremos depressa este frio. Por isso dispus-me, com alguma displicência, a ouvir a Manuela. Como estava com as mãos ocupadas, continuei a movimentá-las, seguindo-as com os olhos. Sabe, padre, ontem uma mãe veio ter comigo com um ar muito zangado, e a primeira coisa que me disse foi A senhora feriu o meu filho!
As minhas mãos pararam e eu parei também. Continuei com os olhos nelas. Mas o pensamento voou para a Manuela. Que teria acontecido? Perguntei. Ela respondeu com a pergunta que fez à dita mãe. Como, se eu nem lhe toquei? Ao que se seguiu a resposta da mãe. Feriu-o com o olhar.
Neste momento, os meus olhos e o meu olhar deixaram as mãos e voltaram-se completamente para a Manuela. As mãos ficaram desamparadas. Não sei sequer onde as coloquei, de tão estranha me ter parecido a reclamação daquela mãe. Aos tempos a que chegámos, onde já nem com o olhar podemos fazer educação!
Garanto que a Manuela é boa catequista e não vai desistir de olhar quem quer que seja. Mas são muitas as pessoas que querem fechar os olhos ou mantê-los fechados.
As minhas mãos pararam e eu parei também. Continuei com os olhos nelas. Mas o pensamento voou para a Manuela. Que teria acontecido? Perguntei. Ela respondeu com a pergunta que fez à dita mãe. Como, se eu nem lhe toquei? Ao que se seguiu a resposta da mãe. Feriu-o com o olhar.
Neste momento, os meus olhos e o meu olhar deixaram as mãos e voltaram-se completamente para a Manuela. As mãos ficaram desamparadas. Não sei sequer onde as coloquei, de tão estranha me ter parecido a reclamação daquela mãe. Aos tempos a que chegámos, onde já nem com o olhar podemos fazer educação!
Garanto que a Manuela é boa catequista e não vai desistir de olhar quem quer que seja. Mas são muitas as pessoas que querem fechar os olhos ou mantê-los fechados.
13 comentários:
Sou coordenadora da catequese na minha paróquia. As queixas dos catequistas são também aqui as mesmas. É difícil "prender" os miúdos, mas é com os pais que o trabalho é mais difícil. Tive recentemente uma situação parecida com uma mãe que ficou ofendida porque tive o "desplante" de chamar o filho à atenção e passar-lhe um sermão à frente dos colegas, o que não se faz com crianças de 11 anos!! Depois tive uma catequista em lágrimas a querer desistir depois de ter dito a uma criança que não podia continuar a chegar à catequese com meia hora de atrazo e o pai dessa criança entendeu que devia ir à sala de catequese e dizer tudo o que lhe apeteceu à dita catequista, à frente do filho e das outras crianças!
Tem-se feito por cá um bom trabalho de "relações públicas" com os pais, tentando envolvê-los o mais possível, criando uma Equipa de Pais que tem desenvolvido um excelente trabalho, mas mesmo assim há aqueles que só aparecem para fazer queixas, ou no dia da festa de catequese dos seus filhos. Quanto à missa, por muito que se motivem as crianças (porque com os adolescente já se lá não vai) se os pais não colaboram, nada feito. Como diz habitualmente o nosso pároco, "os miúdos passam a vida a vir aos treinos, mas quando convocados para o jogo, faltam, então, para quê os treinos?"
Enquanto nós tentamos formar cristãos, do outro lado temos alguns pais que apenas querem "coleccionar" sacramentos.
Pois é, não é a primeira e, infelizmente, também não vai ser a última catequista a quem os pais "agradecem" a ajuda voluntária aos filhos. Um dia, oxalá me engane, estes pais vão apanhar dos filhos.
Pois, os pais em casa não são capazes de se impor, nem de estabelecer regras e ainda ficam ofendidos se os outros educadores, tanto faz seja catequistas como professores que estão ao lado deles para os ajudarem a transmitir valores aos seus filhos, se impõem. Preocupa-me bastante quando penso nas mulheres e nos homens de amanhã saídos desta geração-
Bem, já vi que as reclamações dos catequistas são iguais em toda a parte... :)
Mas virando-me para a questão fulcral deste texto, não poderei deixar de dizer que, infelizmente, hoje os pais não dão educação aos filhos, mas também não admitem que alguém lha dê.
Não quero generalizar, mas a tendência é esta. :(
É de louvar todos aqueles que, de forma gratuita e sincera, se dispõem a educar e acompanhar na fé as crianças e jovens que, tendencialmente, andam de olhos fechados.
Porque ser catequista é mesmo muito difícil... mas gratificante.
É os papas que temos... não se pode dizer nada aos meninos...Os papás fazem daquela hora de catequese um acréscimo ao infantário semanal...e de nós educadoras...enfim Manuela, não desanime. No sábado, depois da hora da catequese, todos os meninos foram para casa com os pais excepto um...isto porque a mãe só se lembrou dele quando eu lhe toquei á campainha de casa para o entregar... sorri-lhe(á mãe) mas, em boa verdade bem que me apeteceu feri-la com o olhar, mas não fui capaz.
É por causa dessas mamãs que temos tantos meninos mal educados!
Que pena!
Bjs
BEM, CONSTATA-SE QUE O MAL É "GLOBAL". cÁ EM CIMA TB É DIFÍCIL AGRADAR. NA M/PARÓQUIA AS CATEQUISTAS SERVEM ÀS SEXTAS À NOITE. NÃO É BOA FORMA DE APELAR À PRESENÇA DAS CRIANÇAS.
Tambem estou no 4 ano de atequese é muito difiçil , ser catequista , mas estou lá por as crianças e por Jesus não se pode perder a força e a coragem , as mães andam cançadas de tudo não podemos julga-las a vida é muito difiçil , Jesus tambem sofreu muito ...
Como eu entendo a Manuela...
Também eu sou catequista... comecei o meu percurso catequético aos 6 anos e desde então nunca mais deixei... de inicio, como catequizanda, depois dos 16 anos como "auxiliar" e desde os 19 como catequista.
Não é fácil... se o faço é por amor a JC que é, sem dúvida, quem me move e por amor aos meus "adolescentes favoritos". Sabem, na minha paróquia sinto-me muito sozinha no grupo de catequistas... sou a mais nova e talvez por isso, os meus pontos de vista não sejam muito apreciados pelos outros catequistas... sou um pouco revolucionária... a mim interessa-me mais o "sentido" das vivências de fé, do que propriamente "fazer o bonito" nas Eucaristias...
Sabe Senhor Padre, em jeito de confissão, sinto uma tristeza muito grande por tudo que me têm feito passar na catequese, e aqui nao falo dos pais (com quem tenho optima relação), nem dos catequizandos, mas sim dos catequistas e do pároco, de quem não sinto qualquer tipo de apoio. :((
Um abraço apertado em Cristo*
Gostei muito do seu blogue, tenho a certeza que passarei por cá mais vezes! :)
Já agora, aqui fica o link do blogue do meu grupo de catequese: http://catequesedemansores.blogspot.com
A catequese …
Tenho 57 anos, frequentei normalmente a catequese com miúdos da minha idade e ainda tive também nos dois primeiros anos do então Ciclo Preparatório, uma disciplina de Religião e Moral.
Confesso que da catequese gostei, mas já na disciplina de Religião e Moral já não tanto. Explico porquê. Num ano, julgo que no 1º, Sr Padre, pela maneira como expunha os temas, gerava na turma o desinteresse geral e normais tensões. Ainda cheguei a pensar que a prática dele era mais anti-cristã do que um ateu assumido. E era muito fácil cativar aquela malta nova, como aliás tive o prazer de testemunhar no ano seguinte com outro padre como professor. Com este padre, os 50 minutos eram sempre muito curtos devido a participação activa de todos. No fim do ano ficamos todos amigos dele.
Mais tarde – hà 25 anos atrás -, já com um filho, entendi que ele devia fazer a catequese. Andou lá umas semanas e para meu espanto tinham-no colocado com miúdos muito mais novos do que ele, completamente desenquadrado, que a meu ver ele não se sentia lá muito bem. Fui à igreja e indaguei a razão e a justificação que me deram não mereceu o meu acolhimento. No entanto, tive o cuidado de perguntar ao meu filho se sentia bem ali. Como a resposta dele foi negativa, retirei-o da catequese, para escândalo da avó.
A minha justificação foi muito simples: Prefiro que seja de motu próprio a procura da verdade da nossa religião - com a natural ajuda dos pais - do que andando lá forçado a criar anticorpos contra a mesma. Em último caso e pelo menos, ter mais respeito pelos ensinamentos da Igreja, do que muitos com catequese feita mas tristemente sem formação religiosa e cívica para com a mesma.
Esta minha “confissão” não pretende de modo algum desvalorizar o trabalho voluntarioso de muitas pessoas que de boa fé dão o seu melhor. Pessoalmente admiro-as e merecem uma palavra de ânimo e coragem. Principalmente nos dias conturbados nos dias de hoje.
Olá,
Estou visitando a blogosfera cristã em busca de páginas interessantes para ler e trocar idéias.
Parabéns pelo seu trabalho, já estou sendo seu seguidor.
No Um pouco além do óbvio você encontrará temas relevantes sendo abordados por um livre-pensador cristão, adepto da "teologia da vida", aquela que enxerga o homem possível, e não o idealizado.
Ficarei honrado com a sua visita.
Um forte abraço.
N'Ele, a autoridade máxima em matéria de salvação.
Pensei que aqui a censura não existia mas enganei-me. O meu comentário foi eliminado e nem rasto dele. Ao menos que aparecesse a conhecida mensagem do "comentário eliminado". Porquê sr padre?
Uma educadora
Olá, amiga educadora.
Deve haver aí algum engano, porque os coments deste post foram todos, até ao momento, aprovados.
Pode mandar de novo...
Por norma não costumo regeitar coments, a não ser que sejam ofensivos aos outros comentadores, ao autor do blogue ou a Deus... mas até esses, na maioria das vezes, aprovo.
Bons trabalhos
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