Estou aqui no lar, senhor padre. Não queira saber as minhas dores. Toco-lhe com carinho no ombro. Mas ela altera-se. Queixa-se do ombro. Ou não está habituada ou dói-lhe mesmo ou está habituada a queixar-se para fazer notar a sua sorte. Por acaso é muito assim cada vez que a vejo. Mas não deixa de ser um caso interessante. Dou-lhe atenção. Beijoca-me todo. E agradece. Às vezes não sei o que agradece. Mas agradece enquanto fala das dores, da zona que nunca mais foi curada. E chora quase sempre.
Mas ontem foi diferente. No final da missa de Natal do lar. Capela cheia. Muita criançada, novos e crescidos. Veio até à sacristia, mais uma vez, agradecer. E no meio do agradecimento e das dores, diz que não tem dinheiro para selos e envelopes. E chora com mais força. Depois explicou que só um filho lhe tinha mandado uma carta. Que os outros dois não. Que passava sempre assim o Natal à espera de cartas. Mas que anteontem tinha ligado ao mais velho, a dizer-lhe que queria o dinheiro que era dela. Que ela não via nem um tostão da reforma dela. E que queria ter ao menos dinheiro para uns selos, uns envelopes e uma folhas para poder escrever-lhes no Natal. Explicava-me depois a mim que eles não lhe escreviam porque ela também não lhes escrevia. Mas que quando ela o fizesse, eles também iam fazer. Por isso exigia ao filho que ficava com todo o dinheiro da reforma e que nunca lhe prestava contas dele, que lhe desse ao menos dinheiro para as cartas. E sabe que me fez ele, padre? Sabe! Desligou-me o telefone na cara. Por isso estou muito triste. Dói-me tudo.
Imaginei que o filho se tivesse cansado de ouvir as suas lamúrias. Mas será que ele tinha percebido a intenção daquelas cartas?!
Por isso, neste Natal desejei em mim um novo propósito: prestar mais atenção àquelas chatas que passam a vida a queixar-se, de forma a perceber o que elas de facto querem dizer ou precisar.
Sabe-se lá o que Deus nos possa querer dizer através delas!
Mas ontem foi diferente. No final da missa de Natal do lar. Capela cheia. Muita criançada, novos e crescidos. Veio até à sacristia, mais uma vez, agradecer. E no meio do agradecimento e das dores, diz que não tem dinheiro para selos e envelopes. E chora com mais força. Depois explicou que só um filho lhe tinha mandado uma carta. Que os outros dois não. Que passava sempre assim o Natal à espera de cartas. Mas que anteontem tinha ligado ao mais velho, a dizer-lhe que queria o dinheiro que era dela. Que ela não via nem um tostão da reforma dela. E que queria ter ao menos dinheiro para uns selos, uns envelopes e uma folhas para poder escrever-lhes no Natal. Explicava-me depois a mim que eles não lhe escreviam porque ela também não lhes escrevia. Mas que quando ela o fizesse, eles também iam fazer. Por isso exigia ao filho que ficava com todo o dinheiro da reforma e que nunca lhe prestava contas dele, que lhe desse ao menos dinheiro para as cartas. E sabe que me fez ele, padre? Sabe! Desligou-me o telefone na cara. Por isso estou muito triste. Dói-me tudo.
Imaginei que o filho se tivesse cansado de ouvir as suas lamúrias. Mas será que ele tinha percebido a intenção daquelas cartas?!
Por isso, neste Natal desejei em mim um novo propósito: prestar mais atenção àquelas chatas que passam a vida a queixar-se, de forma a perceber o que elas de facto querem dizer ou precisar.
Sabe-se lá o que Deus nos possa querer dizer através delas!
10 comentários:
yupiii. Já tenho net, e prometo voltar mais amiude.
Beijos a todos
Às vezes os filhos são cruéis!Se a reforma é da senhora, por que razão há-de estar o filho mais velho a usufruir dela? Antes de lhe doer fisicamente o que quer que seja, à senhora deve doer-lhe mil vezes mais o coração e a alma!Agora imagine-se que pensamentos e que anseios não irão lá por dentro... :(
Beijinho sereno
Tudo é Graça!
De facto, ao ler esta comovente "história de Amor" descobri o maravilhoso Natal desta Alma...
Maria, José e o Menino ao estarem tão sós cheios de frio, com dores, sem dinheiro numa gruta foram convidar a estar com Eles esta Flor!
Foi a alegria deles pois também estavam sós sem ninguém e então lembraram-se dos amigos!
Foste convidada a seres a primeira a visitá-los pelos pontos em comum com Eles...
Os Filhos nem os reconheceram, todas as portas se fecharam, José aflito não tirava os olhos de Maria, nem cartas, nem dinheiro, frio e dor...
Apesar de tudo, por AMOR, lembraram-se de Ti por quem Ele nasceu para seres a primeira a vê-LO!
Eis o Natal do Amor e Graça.
Santo Ano.
Bem, este post deixou-me a pensar...é que eu para este ano pensei o contrário: deixar de dar tanta atenção a gente chata como essas senhoras, que cansam, que acabam por nos deixar preocupados, porque nada podemos fazer se não uma oração, porque muitas vezes tentamos dar uma mão e elas querem o braço...ou será porque sou egoista e perdi a paciência?! PAra reflectir...sem dúvida!
M. João
É verdade! Por vezes essas chatas apenas querem atençao. Eu sei bem do que falo! Na minha profissão encontramos muitas "melgas" que no fundo têm vidas completamente depedaçadas e que apenas querem um pouco de atenção e carinho.
No bairro do amor a vida é um carrossel
onde há sempre lugar para mais alguém
o bairro do amor foi feito a lápis de cor
pra gente que sofreu por não ter ninguém
No bairro do amor o tempo morre devagar
num cachimbo a rodar de mão em mão
no bairro do amor hã quem pergunte a sorrir
será que ainda ca estamos no fim do Verão
Eh pá, deixa-me abrir contigo
desabafar contigo
falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
descontrair um pouco
eu sei que tu compreendes bem
No bairro do amor a vida corre sempre igual
de café em café, de bar em bar
no bairro do amor o sol parece maior
e há ondas de ternura em cada olhar
O bairro do amor é uma zona marginal
onde não há prisões nem hospitais
no bairro do amor cada um tem de tratar
das suas nódoas negras sentimentais
Eh pá, deixa-me abrir contigo
desabafar contigo
falar-te da minha solidão
Ah, é bom sorrir um pouco
descontrair um pouco
eu sei que tu compreendes bem
Jorge Palma
Estas são situações muito tristes, mas também muito numerosas. Não podemos culpar só os filhos. A reforma da senhora, se calhar, vai para ajudar a pagar o lar e de certeza que não chega. O filho devia ser mais compreensivo, é verdade, mas conheço casos semelhantes. E se não conhecesse bem as pessoas em causa, também era capaz de tirar conclusões precipitadas.
Bom Ano
Leonor
É os velhos - e sobretudo as velhas- são chatos(as. Porque lhes faltam os carinhos devidos ou porque é um modo de se fazer notar.
Um dia seremos decerto como eles...
Tudo o que o Confessionário diz é verdade, todavia devemos ter cuidados ainda mais redobrados com os velhos que não falam. Enquanto os/as chatos(as) vão batendo à porta de um e de outro e, eventualmente, lá encontram quem os console... os calados vão sofrendo e mirrando em silêncio. Somos nós que temos de ir ao encontro desses. Cuidado com o Silêncio!
Fiquei para aqui a pensar... Como é o Amor!!! A senhora só queria ter dinheiro para os selos... Porque se ela escrevesse, teria resposta.... Quantas vezes não é assim no Amor? Quantas vezes O Senhor nos "escreve" e nos procura, quantas vezes é Ele que espera a nossa "carta"?....
... E nós???? Nós somos os filhos ocupados... aqueles que ficam com a reforma e esquecem....
beijinhos
Zu
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