domingo, dezembro 09, 2018

Uma simples toalha que cai e que se levanta

Coloquei a toalha de rosto no local onde me pareceu que ficava mais segura. Era o local, para o efeito, mais óbvio que o quarto de banho possuía. Estava atrás da porta. Ali a pendurei porque também me pareceu óbvio. Entretanto, cada vez que entrava no quarto de banho, a toalha caía. Cada vez que havia um movimento da porta, ela caía. E eu fazia o óbvio. Baixava-me, para a apanhar e a devolver ao cabide. Caía e eu levantava-a. Numa dessas ocasiões, apeteceu-me desistir, como quem atira a toalha ao chão. Apeteceu-me deixá-la no soalho, mesmo que fosse pisada e não mais lhe fosse fácil cumprir a missão de limpar o meu rosto. Apanhei-a, apesar da pouca vontade. Pendurei-a de outro modo, mais segura. Mas a um novo movimento da porta, tornou a cair. 
É assim a nossa vida. Por mais que nos levantemos, tornamos a cair. Os movimentos da vida, oportunos e inoportunos, desejados e indesejados, naturais ou forçados, como uma necessidade, como uma urgência ou como a única saída, são movimentos que nos fazem cair. E que fazer perante tanta queda? Levantar. Erguer de novo a nossa vida. Pendurá-la de novo e procurar o local mais seguro. Talvez, mesmo assim, tornemos a cair. 
Talvez o melhor fosse pendura-la única e exclusivamente em Deus. Mas até nessa localização, o mais natural é cair de novo. Tal como a toalha possui um peso, por si só, que faz com que caia, mesmo sem querer, assim a nossa vida, por mais sustentada em Deus que esteja, tem um peso, por si só, que a poderá fazer cair. 
Não basta desculpar-nos que somos humanos. O melhor é assumir que somos vasos de barro, e que não há vaso de barro que não necessite de ser moldado, usado, gasto, remendado. Dizia Tolentino Mendonça, no “Elogio da sede”, que o caminho espiritual não nos impermeabiliza da vulnerabilidade. Transportamos o nosso tesouro em vasos de barro. As tentações sempre vão existir. O que a nossa intensidade espiritual pode fazer é ensinar-nos a olhá-las numa outra perspectiva. É a sabedoria de as interpretar. É a sabedoria de as incorporar. O melhor caminho da plenitude, em Deus, é o que fazemos com o que somos, melhor ou pior, mais querido ou mais preterido, mais amado ou mais odiado.

8 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Um texto reflexivo muito belo.
É assim a nossa vida feita de atropelos, quedas e tentativas de nos levantarmos para depois cairmos de novo tantas vezes.
Nestes momentos devemos fazer uma análise sobre o que somos e o que andamos a fazer neste mundo. Os momentos menos bons deverão ser para nós lições de vida, aprendendo com eles, de modo a que as quedas sejam cada vez menos frequentes.
Com fé e tendo a certeza que o Senhor nos ilumina e guia, nada nos demoverá de seguir em frente com confiança e esperança n'Aquele que nos deu a Vida.
Bom domingo.
Ailime

Anónimo disse...

Excelente refexao minuciosamente detalhes que realmente está sempre sendo provavelmente nos consumidos dia pós dia basta que cada um veja em estilo está sendo usado e pendurados as ações do indivíduo que sente a presença de Deus em sua vida.

Anónimo disse...


Gostei.
Contudo fiquei preocupado. Sei que há coisas de que não é bom falar, mas, ainda assim, por precaução: benzedura com água benta no aposento.
Tanta declinação não parece natural. Acautele-se, pode andar aí coisa má. Livre-se do azar.

Abraço em Cristo.

Anónimo disse...

Grande texto de espiritualidade, padre.
Sinto-me agradecida

Anónimo disse...


Sem dúvida, muito profundo e espiritual.

Por favor, conte com a minha empatia.

Tudo de bom.

Anónimo disse...


Peço desculpa ante mais, mas a verdade é que quando li o seu texto deu-me um calafrio, algo gelado me percorreu a espinha. Ainda estou todo arrepiadinho. Ai que não é? Pois é, li «trolha» e logo me assustei. Na minha mente já via um indivíduo despedaçado e uma família destroçada. Mais um acidente de trabalho, pensei para com os meus botões. As notícias más andam por todo o lado. Graças a Deus que não foi tão grave.
Já agora, curiosidade, e o Sr. Padre tirou seguro de trabalhos multiriscos? Se não apresse-se, elas estão sempre a acontecer e vêm de onde menos se espera. Não perca a coragem, melhores tempos virão.

Boas continuações e troque de porta, ora essa!

Confessionário disse...

Tenho-me rido com alguns comentários engraçados.
Talvez seja oportuno referir que a referida toalha e o referido espaço não são de minha casa, mas da casa onde me encontrava, na ocasião, em retiro espiritual.
Nem sempre estas casas têm um cabide em condições para as toalhas. hehehe

Anónimo disse...

EXCELENTE... Também me ri