sexta-feira, março 03, 2017

Os seres perfeitos dos padres

Sinceramente, e não levem a mal, às vezes tenho alguma pena das pessoas que fazem uma imagem dos padres como se fossem seres perfeitos, sem dúvidas, sem questões, com tudo já sabido da parte de Deus, como se tivessem o privilégio de saber as coisas de Deus antes dos outros. Ou daquelas que olham para os padres como alguém que vive acima do mundo, na estratosfera dos seres angelicais. Ou ainda daquelas que só querem saber dos padres quando querem saber de si mesmas, e lhes exigem os sins todos, como se eles tudo pudessem fazer. 
Tenho pena delas e mais pena tenho de mim. Pois queria ser apenas eu, sem mais, e ser apenas mais um padre que tem de esforçar-se... como todos os cristãos.

15 comentários:

Anónimo disse...

Ia fazer este comentário no post anterior a dizer isso mesmo. É que parece que se esquecem que os padres sao seres humanos como todos nós. Todos temos épocas boas e más, uns dias mais preguiçosos, outros mais activos, uns dias mais espirituais outros menos! Qual é o problema? Nenhum! Olhemos para um padre como um de nós e nao como alguem que vai mais além do que nós leigos! Existe leigos mais espirituais que alguns padres, ainda bem para os leigos!
MJ

Dulce disse...

É normal, não? Em primeiro lugar, presidem à Eucaristia (ou são um veículo da mesma, como queiramos), isto só por si é um fator de diferenciação. Depois fazem votos, como os de celibato, um fator de distanciamento em relação às pessoas ditas "normais" e , por vezes, ainda ajem com distanciamento, frieza ou seriedade (ou tudo misturado). Como o comportamento exemplar é algo que se espera daquele que escolhe ser padre, isto leva a que no geral as pessoas os tomem como seres perfeitos.
Com a agravante que as suas falhas vão ser muito mais julgadas ao ponto de se negar a Fé em si, ou a existência de Deus, pelo mau comportamento dos representantes da Igreja.
Thomas Halik no Paciência com Deus fala desse dimensão escatológica da Igreja, como a noiva perfeita do fim dos tempos e da aliança com os Homens. O verdadeiro exercício na Modernidade é entender que a Igreja tem defeitos porque é humana e essa imperfeição deve ser aceite numa espécie de perdão radical.
Mas creio que os representantes da Igreja devem constituir-se como um fator de mudança para que esse perdão ocorra, devem trabalhar a proximidade (no que lhes for possível). Sem esse trabalho a mudança será sempre (aos olhos humanos) demasiado lenta.
Não sei se me fiz entender... ou se baralhei

paula disse...

as saudades que eu tenho de encontrar padres que erram, que têm lutos e são imperfeitos. não é só aos padres que faz falta isso, também aos cristãos faz falta verem as pessoas antes do padre. verem que o padre é só uma pessoa.

Anónimo disse...

de facto um padre é um ser humano como qualquer um de nos.. nem nos apercebemos que ao querer que o padre faça o que para nos parte do prencipio que é boa ideia...estamos a ser hipocritas ou egoistas...mas o padre tera que entender uma coisa... as pessoas dependem da aprovaçao das ideias sugeridas... certo? contrario gerava-se uma salada russa...discordias....e um padre esta a frente dma paroquia...é responsavel pela administraçao da mesma....porque pensa que as pessoas querem que lhes faa as ditas vontades? isso é suborno e tbm jjuízos de valor entre ambos...ate pode ter razao...
ja pensou que podem apenas e so apenas partilhar consigo ideias? coloque-se no lugar de quem apenas partilha...o que leva essa pessoa partilhar sistematicamente algo....talbez apenas precise de alguma orientaçao...apenas....
ao pensarmos que essa pessoa quer que se faça o que ela apenas partilhou de coracao estamos a julgar essa pessoa...
talbez essa pessoa precise apenas que ela hexiste...purisimplesmente...

JS disse...

Desgraçado do padre quando as pessoas deixarem de procurar nele um modelo, um exemplo, uma imagem minimamente fiel do próprio Cristo.
Desgraçado também quando as pessoas não compreendem ou não lhe desculpam os momentos de mau humor ou as palavras menos felizes, não toleram minimamente os seus defeitos ruins e as horas de pecado, não aceitam que ele seja apenas humano.

(Note-se: há coisas que as pessoas toleram ao padre melhor que outras. Por exemplo, mais facilmente lhe desculpam que ande agarrado a uma mulher do que seja agarrado ao dinheiro.)

Claro que se cada um de nós se preocupasse verdadeiramente com o seu coração e a sua própria conversão, talvez não nos sobrasse tempo nem vontade para andar de dedo em riste atrás dos padres. Mas também se alguns padres não fossem tão moralistas e não passassem tanto tempo a desancar o povo, talvez não se virasse o feitiço contra o feiticeiro...

Anónimo disse...

Saiu-me um PALMAS PARA O JS!

Confessionário disse...

JS, concordo contigo

mas acrescento, para sermos mais correctos: "Desgraçados dos cristãos, incluídos os padres, quando as pessoas deixarem de procurar neles um modelo, um exemplo, uma imagem minimamente fiel do próprio Cristo".

Confessionário disse...

03 março, 2017 13:34

a referencia ao "Ou ainda daquelas que só querem saber dos padres quando querem saber de si mesmas, e lhes exigem os sins todos, como se eles tudo pudessem fazer" tem mais a ver com outras coisas e não com partilhas de ideias. Tem mais a ver com exigências e pedidos sacramentais e que tais...

Confessionário disse...

ó Dulce (e restantes pessoas que acham que os padres por terem esse ministério têm de ser melhores que os outros):
creio que uma coisa é quereres que o padre seja um modelo para ti (isso é bom!); outra coisa é querer que seja um modelo "perfeito", à tua medida ou à medida do teu entendimento das coisas.

Gui disse...

Prefiro achar-vos seres humanos perfeitos:
perfeitos na medida em que tomaram a decisão coerente de fazer um caminho de perfeição.
humanos com todas as fragilidades que isso implica

Dulce disse...

Acho que não me fiz entender...
Eu não quero que o padre seja um modelo para mim, eu acho é que ele deve ser um modelo para todos, pois acredito que o sacerdócio não é uma profissão, é um caminho e alguns dirão e pensarão, é o caminho... logo quem escolhe percorre-lo deve percorre-lo com a percepção de que o seu comportamento humano é parte fundamental da sua "profissão". É inseparável...

Agora o que podemos discutir é se ser padre é mais caminho do que ser outra coisa qualquer e se todos nós, nos caminhos que escolhemos, não deveríamos ter o nosso comportamento como a parte mais importante da nossa vida / caminhada. "É bater a bota com a perdigota" e não "Olha para o que eu digo e não para o que eu faço". Porque para exemplos teóricos podemos sempre ler livros, onde os comportamentos são perfeitos e onde não encontramos falhas.

Não quero que o padre (qualquer um) seja um modelo à minha medida, gostaria sim de ver nele a medida de Deus. Mas sem cair na ambivalência de ser um modelo à medida de todos pois não podemos servir dois senhores, logo, muito menos, uma multidão deles. E ainda que as religiões orientais vejam na variedade a perfeição "Todas as flores são perfeitas", logo a imperfeição não existe porque faz parte do todo, não me parece que aceitar a imperfeição seja caminho algum.

Digo eu... :)
Note eu não quero que os padres sejam perfeitos, eu gostaria que todos nos preocupássemos mais em ser melhores... e contra mim falo porque, por vezes, me deixo cair na mesquinhez da má língua e dos julgamentos fáceis.

Confessionário disse...

Dulce, gostei mt de te ler

Talvez fosse preferível chamar-lhe "humanidade" que chamar-lhe "imperfeição", mas é a forma de nos entendermos como seres que, humanos e em busca de uma certa perfeição, temos todos de caminhar. Se não assumimos essa nossa humanidade, dificilmente nos disporemos a caminhar em busca de Deus e da tal perfeição, creio eu.
Assim como creio que um suposto "bom padre" sê-lo-á tanto quanto mais humano for... e quanto mais próximo for dos outros humanos, como seres que em conjunto estão a caminhar... (mais ou menos como disse tão bem Gui)

Anónimo disse...


"Falando serio; saudade tenho de um simples vigário, de uma capela por onde frequento. Que se preocupava com a comida que estava sobrando das festas, e logo ele saia e dava se um jeito de doar. A necessidade de um lugar limpo e descente para as pessoas trabalharem pela comunidade, com facilidade, este homem-padre, que ia buscar doações longe para melhorar as igrejas, preocupados com os jovens e com toda estrutura de uma capela que prontamente seria uma paróquia e muito pouco e seu superior se preocupava com as questões de organizações. De vários cultos, cerimonias e celebrações, entre outros eventos mas la estava ele preocupado com seu confessionário com as pessoas com certos problemas que simplesmente ele acho que buscava força em Deus para aconselha-lhes. Isto não é perfeição é dedicação, que alguns tem e muitas vezes se sobrecarregam e nem seus próprios colegas buscam amenizar esses fardos. Ele deve na atualidade sabe la onde hoje fazendo as mesmas coisas. Mas pouco é valorizado."

Anónimo disse...

Ensinaram-me na catequese que devemos olhar para os outros como se fossem Jesus e para os Padres como seus representantes.
E o testemunho?

Confessionário disse...

07 março, 2017 18:54

Ver nos outros Jesus não é dizer que os outros são como Jesus (quem conseguiria sê-lo?!), mas para tu conseguires ver neles a pessoa de Jesus e amá-los como se fossem Jesus.

Quanto ao testemunho: todos devíamos ser testemunho; não apenas o padre. Mas testemunho de quê? De perfeição? Ou de humanidade verdadeira? Quem é que consegue dar um testemunho de perfeição? Eu creio que o testemunho deve ser, mais ou menos, mostrar o rosto de Jesus que nos habita e que age no meio das nossas fragilidades (S. Paulo dizia: quando sou fraci então é que sou forte)