sexta-feira, abril 04, 2014

Os meninos da Primeira Comunhão que não voltaram à missa

Já passou quase um ano desde a última Primeira Comunhão aqui da paróquia. Os meninos que a fizeram estavam no terceiro ano da catequese e passaram para o quarto, ano em que é sugerido que se faça a festa da Palavra. Uma festa que realça não só mais uma etapa de catequese, mas uma integração da Palavra de Deus, isto é, da Sagrada Escritura, na vida destas crianças. Até aqui não há novidade maior. Os pais, na reunião que tive com eles para preparar esta festa e para lhes prestar conhecimentos básicos da Bíblia, saíram contentes da reunião e desejosos que os seus filhos se confessassem. Até aqui tudo bem e não há novidade grande. Assim fizemos no Sábado antes da festa. Os meninos, como manda a regra do entusiasmo, perfilaram para se confessar. Mas qual não é o meu espanto quando descubro que alguns deles, talvez uns quatro ou cinco, não tinham voltado à Eucaristia desde a sua festa da Primeira Comunhão. Dito de outra forma mais óbvia ainda. Desde aquele dia em que comungaram pela primeira vez, não o tinham tornado a fazer. Culpa dos pais. Culpa dos catequistas. Culpa do pároco. Culpa da Igreja. Culpa da vida. Culpa de quem? Não há culpa que resista a um dado adquirido. A festa da Primeira comunhão é muitas vezes a festa da única comunhão. Negue-se o facto e estamos a esconder a cabeça na areia. Não se negue e teremos de repensar a catequese que tem servido, não para alimentar ou amadurecer na fé, mas para cumprir um ritual apenas social e festivo. Soube de colegas que têm obrigado as crianças, através de passaportes carimbados, ou coisas do género, a participar na Eucaristia. Sei de um colega que decidiu não fazer esta festa da Primeira Comunhão no ano passado porque nem as crianças nem seus pais iam à missa. Não sei se resulta ou se resultou. Não sei se deva ou se não. Eu não gosto que a fé seja exigida ou negociada. Assim como não gosto que a comunhão seja proibida. Sei o que não gosto e sei o que gostaria. Mas neste entretanto, não sei o que fazer. Alguém saberá?

15 comentários:

Ju Fidélis disse...

Ontem, quando me confessei, exprimi a minha tristeza como catequista em ver ser banalizado tudo o que é de Deus e da Igreja.
Fiquei pensando na multidão que chega querendo a Eucaristia para suas crianças mas não fazem nada para incentivar seus filhos. Pensei na incoerência do seguimento a Jesus que o mundo quer e cheguei num beco sem saida para tantas perguntas e cobranças que me faço.
Até que o Padre, muito bem inspirado pelo Santo Espírito, me disse: não podemos exigir perfeição de ninguém visto que também nós não somos perfeitos. O que dá sentido a tudo é Deus por isso onde Ele não está, onde Ele não é o centro, não tem sentido. Tudo o que é feito com AMOR, tem Deus por isso precisamos plantar a semente do AMOR para que os frutos Ele possa colher. Precisamos AMAR mais, assim não só catequisamos mas evangelizamos!

Anónimo disse...

Bom dia...
Eu a minha irmã mais velha e o meu irmão mais novo, sempre fomos à catequese, fizemos todas as festas correspondestes a cada ano.
E lembro me perfeitamente, que tanto eu como eles ficávamos revoltados porque não faltávamos, participávamos ativamente na eucaristia e na catequese, e eramos "recompensados" do mesmo modo que os meninos do nosso ano, que faltavam ou nunca participavam.
E acredite que é injusto, tira qualquer motivação que se possa ter. É injusto para quem vai, são crianças mas percebem.
"Se eles não vão, eu tenho de ir porque?"
Pense nas crianças que vão e que participam...

Anónimo disse...

Boa tarde,
infelizmente acho que isso acontece por todo o lado, não deve ser só na sua paróquia.
Os tempos mudaram muito, há uns anos atrás, não havia tantas televisões (uma em cada quarto) pois enquanto estão a ver televisão e a jogar, playstation, no computador (facebook), não "chateiam" os pais.
Nos dias de hoje acho que quando as crianças começam a catequese, se calhar também devia haver umas "aulinhas" para os pais... e tenho a certeza de que muitos iriam gostar e mudar de atitude...

Anónimo disse...

Bem me lembro das missas a que assistia, na idade deles. Um aborrecimento sem fim. Como os compreendo! Missas feitas por adultos e para adultos.
Caso ainda não o tenha feito, experimente fazer missas para crianças. Dirija-se-lhes especialmente, utilize uma linguagem que facilmente compreendam e apreciem.
E convide-os a participar e a preparar antecipadamente essa participação, seja através de um cântico, de uma récita, da encenação de uma leitura.... há tantas formas de as chamar!
Penso que assim, mais facilmente lhe tomarão o gosto.
Bem, todas estas "soluções" já devem ser do seu conhecimento. Ainda assim, aqui ficam.

Anónimo disse...

As pedagogias 'cientifizadas', características do nosso tempo, também invadiram a catequese (cheias de boas intenções)e soçobraram-na. Completamente!
Basta olhar os resultados. Só não vê quem não quer!
Há que ter a coragem de o reconhecer e desde já, corajosamente, colocar fora o que não presta, por que não serve os fins.
E partir, de imediato, para um outro mundo, talvez às escuras, como Abraão, mas na sua Fé.
Com quem, de facto, assim quiser.
A catequese não pode ser escolarismo, nem ocupação tempos livres, nem reservatório de moralismos. Mas sim,convite, testemunho e acompanhamento.
E assim, sacramentalismos por calendário... NÃO HÁ!

barro disse...

Acolhe e pronto, à boa maneira daquele pai do filho pródigo, sem perguntas nem discursos morais, acolhe apenas, não percas essa oportunidade de ouro que é o regresso dos filhos, o resto deixa com Deus que fará com que o ES convença esses pequenos como os pais que querem o melhor para os seus! Não é a Igreja de Deus, então!

xaxia disse...

Não sei de quem é a culpa, mas se tivesse que escolher alguém, seriam os pais. Mas já ficou a semente, e um dia poderão escolher se querem voltar a comungar, a ir à Eucaristia, pelas próprias perninhas. Digo-lhe eu, que não cheguei a fazer a primeira comunhão em criança porque os meus pais me tiraram da catequese antes que acontecesse, e agora cá estou eu, a fazer o meu caminho, juntamente com as minhas filhas,e ainda à espera de comungar pela primeira vez.

Anónimo disse...

Não sei que fazer. Alguém saberá?
Uma coisa é certa: não será mais pelo caminho que temos trilhado.

barro disse...

Anónimo de 04 Abril, 2014 17:40, não sei se já te deste conta, mas a “vida cristã”, a tua, a minha e a de muitos é gerida e organizada na dependência de calendarizações! Olha a forma como nos reunimos e quando nos reunimos como comunidade cristã, e as dinâmicas temporalizadas de todos os sacramentos que vivenciamos! Queres um exemplo, tens os horários estabelecidos para alguns sacramentos como por exemplo as eucaristias etc…! Seria bom se a nossa vida espiritual não fosse gerida por compartimentos, mas não podemos esquecer que assim como toda a vida humana é pautada por ritmos que encaixam no estabelecido socialmente, também a vida espiritual “institucionalizada” não escapa a esses condicionamentos! Sobre o tema das “pedagogias”! Como achas que consegues fazer “acompanhamento” que julgo se encaixa dentro de um processo-caminho-discipulado após o tal “convite” que também falas, sem alguma dose de pedagogia! Não estou a ver como! Ficam-me depois sérias dúvidas, se “acompanhamento” não pede também aprendizagem de “regras”! Não é isso também marcas de (moralismos!), mesmo que eles cheguem com outras formas ou linguagens!

Anónimo disse...

...
não à calendarização,por puro e infalível cumprimento de sistemas;
não às pedagogias, por puras execuções de técnicas modernas;
não aos moralismos, por observância de puras e duras regras.
Sim à Vida, diária e verdadeira!

paula disse...

rezar sobre isso parece a coisa mais sensata a fazer.

JS disse...

Talvez o caminho seja a catequese familiar, um projecto que ainda está a dar os primeiros passos entre nós mas que promete.

Ou talvez tenhamos que optar por uma espécie de Curso Alpha para crianças e adolescentes.

Ou talvez seja tempo de começar a sério a adiar a recepção dos sacramentos da iniciação cristã e de dar a prioridade aos adultos e ao catecumenado.

Quanto ao estilo das missas, uns dirão que faz falta uma adaptação, com mais informalidade e criatividade; outros dizem que o problema é a falta de solenidade e sacralidade...

Ricardo Luis Santana disse...

Boa noite.

Encontrei o seu Site ao fazer uma busca no Google por causa da Catequese do meu filho, e achei interessante a descrição.
O meu filho vai fazer a sua Primeira Comunhão no próximo dia 25 de Maio, mas o mais provável é que seja mais uma "Festa da única Comunhão". Embora a nossa situação seja ligeiramente diferente da normal, e explico porque: A minha esposa é Católica não praticante e eu sou Judeu, também não praticante mas por razões muito diferentes. Se a minha esposa (e família) não frequentam a Missa e outras celebrações é um pouco por conformismo e comodidade. O famoso "Não tenho tempo" e outras causas.
Para mim é mais complicado pois a única Sinagoga é muito longe e não me posso deslocar essa distância. Viver numa família Católica também não ajuda, pois parte da família da minha esposa não aceita bem ou não compreende a minha Fé. "Celebro" muitas festas e ocasiões só, pois não tenho com quem partilhar...
O meu filho foi baptizado e assiste à Catequese por obrigação familiar. Porque os avós querem, porque a mãe quer, porque a sociedade quer e a tradição manda. Vivemos numa cidade bastante conservadora a nível religioso, pelo que a família ainda sente mais a pressão por fazer "o que deve ser feito".
Acompanho-o muitas vezes e faço-lhe perguntas sobre a Catequese. Tento-o ajudar naquilo que posso, sem interferir naquilo que lhe é ensinado e como lhe é ensinado. Não acho que seja o momento adequado para lhe falar noutras religiões ou pontos de vistas, noutras filosofias, etc. Tudo terá o seu tempo. Agrada-me? Nem me agrada nem me desagrada, pois continuo a pensar que o que interessa é o que vai no coração da pessoa, seja crente, ateia ou agnóstica. O código de moralidade e ética não é exclusivo da religião. Já me fez várias perguntas e eu respondo-lhe com a honestidade que um Pai deve a um Filho, ou seja, não lhe minto, mas deixo-lhe bem claro quais os desejos da Mãe e da família e que terá muito tempo para pensar por si e formular as perguntas que ele considerar pertinentes.
Uma coisa é no entanto certa, desde muito cedo lhe incuti o respeito pelos outros e pelas outras crenças; não os deve colocar de lado, não os deve julgar e deve dar-lhes sempre uma oportunidade para se expressarem! Como estudante de história já lhe mostrei de forma muito simples o que acontece com os extremismos religiosos e o perigo de acreditar cegamente em qualquer coisa.
Mas tem apenas 9 anos...
Claro que gostaria que frequentasse a Sinagoga comigo, que seguisse o Sabbath, que fizesse o Bar Mitzvah, etc. mas que faço? Costumo brincar (não apenas eu ;-) ) que uma coisa que nós Judeus temos é tempo e paciência.
Já lhe disse várias vezes que após a Primeira Comunhão o levo à missa se assim o desejar, já que em princípio a mãe ou outro familiar não o fará. Mas a resposta dele foi bem clara de todas as vezes que toquei no assunto: Em princípio não Pai.
Tem o futebol, a escola, os amigos e aquilo que faz na Catequese não lhe agrada. Diz que a missa o aborrece. É uma criança normal, está tudo dito.
E não vou forçar, pura e simplesmente porque ele ainda não tem a idade certa para compreender os fundamentos básicos da religião. Não tem a maturidade e a mensagem não o atrai. Também eu demorei a "acordar" para a Fé, para o meu próprio caminho. Enquanto fui obrigado, pura e simplesmente rejeitei tudo por rebeldia. Só com o devido tempo, idade e estudo é que voltei à religião dos meus familiares paternos. Mas para isso acontecer tive de estudar bastante, tive de amadurecer, tive de lutar contra mim próprio.

fim 1ª parte (continua)

Ricardo Luis Santana disse...

2ª parte (continuação)


Endoutrinar, para mim, não é a resposta. Li alguma literatura que lhe foi entregue e senti que o tempo tinha voltado para trás. Parece que a Igreja Católica Apostólica Romana de Portugal fala com as crianças como se estivéssemos no Século XV.
Quando sentir que está mais maturo, então falar-lhe-ei da minha religião e do que Eu penso e sinto, mas não como uma doutrina ou como um missionário. Apenas lhe darei as ferramentas necessárias para que estude e forma a sua própria opinião e decida em consciência. Se decidir continuar a abraçar os ensinamentos e a Fé da Igreja Católica, ao menos será como um Católico practicante e com a devida consciência do que quer e pensa, não por obrigação ou tradição.
Sinto que não o ajudei numa resposta, mas fui um pouco egoísta e quis deixar a minha experiência pessoal. Espero que encontre a resposta certa, mas acima de tudo, que sempre sinta felicidade naquilo que faz.

Peço-lhe as minhas desculpas pela extensão do comentário e por ter de ir em duas vezes.

Confessionário disse...

Caro Ricardo
eu é que agradeço o comentário!
Eu tb penso muito dessa forma honesta. Embora não meta tudo no mesmo saco, nem ache que seja igual ter fé ou não ter, ser agnóstico, ateu ou o que seja, a verdade é que seja qual for a forma de vivermos a nossa fé, devemos fazê-lo de forma consciente, autêntica e honesta!

Gostei muito do seu comentário. mesmo muito, e de alguma forma estamos unidos, um católico e outro judeu!
abraço amigo