quinta-feira, julho 11, 2013

São muitos os convidados

(in)completa 3
autoria de Bruno
 
Oito andores à minha frente cheios de flores, pesados. Um mar de gente por todos os lados com roupas novas e óculos de sol. Está calor. Vou debaixo do pálio. Mas o calor insiste em entrar por debaixo da sombra, por debaixo da alva e da estola. Uma banda filarmónica faz por abafar o barulho que a multidão faz. É festa. A festa de um santo que agora não me lembra, porque são muitos os santos que vão nos andores. É festa porque o barulho é de festa. A multidão ri, conversa como se estivesse na rua e está, atende telemóveis, faz da procissão uma feira de pessoas que no aparato da coisa esquece que uma procissão não é bem uma feira. São assim as nossas festas religiosas. E ali vai um padre atrás de oito andores… e de repente apercebo-me que falta o mais importante. Jesus não foi convidado. Como ainda estamos perto, tiro a alva e a estola, entrego-as a um dos homens que segura o pálio, e vou à igreja buscar um crucifixo, aquele que me deram na comunhão para o meu quarto e que me tem acompanhado nas minhas paróquias. Volto. A procissão continuou e, sem a alva, ninguém se apercebeu que eu saí e poucos se aperceberam que voltei. São assim as nossas festas religiosas, convida-se toda a gente, mas nem sempre há tempo para convidar Deus.

9 comentários:

Confessionário disse...

Caros amigos

Gostei da generalidade dos textos que completaram o meu.
Gostei da positividade de alguns (o olhar mais positivo é sempre melhor) como o caso da Fá e do Joaquim.
O último texto que apareceu tb achei fantástico. O do Cisfranco tem um remate que gostei imenso.
Mas, tendo em atenção que se pretendia tb uma certa semelhança na escrita, e que seguissem umas certas características que me são próprias, achei por bem escolher o do Bruno, que é meio ficção (pois era quase impossível isso acontecer) mas achei fenomenal tanto a ideia como o remate que nos leva a pensar. Aliás, era num remate assim que eu estava a pensar quando escrevi este início de texto.
Um abraço a todos os que se esforçaram em escrever. Valeu!
Obrigado.

Anónimo disse...

Bom dia!
Excelente escolha.
Verdade são as festas e romarias cheias de tantas coisas e vazias de Deus.
A última a que assisti foi o crisma.
Estavam tão lindos os meus jovens, havia uma jovem que aparentava uma deusa grega de tão delicada de tão bem vestida que estava.
Eu estava ali olhava para todos eles, enviando-lhes pequenos sinais para que as coisas corressem pelo melhor e o bispo não se "espigasse", pois o homem sorri muito mas gosta que as corram na perfeição dele.
A olhar para os jovens e conhecendo-os um pouco por dentro, fiquei triste muito triste e percebi que muitos deles não tiveram a consciência do compromisso que tinham acabado de celebrar com Deus. O meu padre percebeu também e referiu-o no final de uma forma muito subtil e delicada... aquele homem muitas vezes rabugento foi a única pessoa ali dentro que se apercebeu da minha tristeza pois finalizou olhando-me nos olhos e dizendo ... mas não devemos desistir desta missão que Deus nos confiou...
Duas lágrimas teimosas caíram, Estávamos todos tão empolgados com o que haveríamos de vestir de dizer, de saber como nos comportar-mos perante o bispo, que nos esquecemos de convidar Deus, esquecendo-nos de nos comportarmos perante ELE e só ELE.
PR

Fá menor disse...

Gostei deste remate.
Enquadrou-se muito bem, sim. Acho-o perfeito.
Parabéns ao Bruno!

Gosto destes desafios.
Valeu! :)

Fá menor disse...

E parabéns a todos os que se esforçaram para escrever o remate desta (in)completa.

Teresa disse...

Tbém gostei da escolha, parabéns ao Bruno!
Só não votei nele, porque desta vez queria ler uma história diferente, com um final um pouco mais feliz...

Mas segundo o pe. Confessionário, parece que este texto apresenta um remate, bastante adequado à realidade das nossas procissões.

bjs

Anónimo disse...

Uma excelente escolha. :)

Dulce

Bruno disse...

Obrigado pela escolha.
Em parte, eu próprio muitas vezes me pergunto se tenho Deus junto a mim quando estou numa procissão. Também pela extensão que costumam ter, torna-se "fácil" perdermo-nos no que ela verdadeiramente significa. É mais útil (e necessário até), muitas vezes darmos um recado a quem vai ao nosso lado num estandarte, num andor, etc. É mais prático ir conversando para passar o tempo e aguentar o calor. Não é só para quem assiste que Deus, por vezes (talvez, a maioria) é esquecido. Também para quem a compõe. Se calhar, algumas das procissões que fiz, em que tinha Deus mais presente, foram precisamente as que fiz numa altura em que andava meio afastado dEle, precisamente porque me estava a magoar esse afastamento (embora neste domingo, e pelo calor que estava, pensei em como lhe estava a oferecer um sacrifício na parte em que o calor mais custou).

E já agora, para o PR, fui Crismado há 11 anos e posso dizer que só comecei a ter verdadeiramente consciência daquilo que significou há 2 ou 3 anos atrás. É normal isso acontecer. Hoje em dia o Crisma faz-se numa altura em que, apesar de já decidirmos por nós próprios, ainda não temos noção das consequências (e a maturidade dos jovens também diminuiu um pouco). Não se preocupe que Deus sabe como os fazer chegar à barca em que têm de pescar... pode durar 1 dia, ou 40 anos, mas se esse sacramento tiver tido significado para eles, mesmo que não tenham percebido a sua magnitude, eles vão conseguir perceber e escutar o que Deus lhes pede

Bruno

Confessionário disse...

Parabéns, Buno...

Anónimo disse...

Bruno,
"E já agora, para o PR,..."
Sou uma PR :)
Hoje, soube imensamente bem ler as suas palavras.
Não duvido que Deus saiba como os fazer chegar à barca, eu é que estou a começar a ficar sem ideias.
Fiz recentemente uma caminhada por uma levada com um parte do grupo, a ideia era incentivá-los a viver e apreciar a natureza tão rica por estes lados, promover o convívio sadio e fraterno fora do "templo" de pedra.
Para minha surpresa e ao atravessar um dos túneis cheirou-me a fumo, um deles, resolveu fumar enquanto estava no túnel, o mais "indignante" é que não foi um cigarro normal.
Será que não ficou nada de nada daquilo que eu tentei transmitir ao longo do tempo que os acompanhei?
A mensagem é grandiosa, disso eu não tenho dúvidas, e estou sem resposta.
Será que fui uma nulidade?
Ou o "solo" não estava preparado?
Ou então não estando o solo preparado eu também não o soube preparar?
É deveras angustiante.
E neste momento o que é que eu faço... Continuo, tomo outro rumo... Sinceramente não sei.
O que sei é que fiquei mais confortada ao ler esta parte do texto "pode durar 1 dia, ou 40 anos,".
Obrigada
PR