sábado, abril 20, 2013

A geração do telemóvel

Não falo da geração que passa o tempo a tocar nas teclas do telemóvel, ou a ver as horas, ou a mandar uns toques. Essa geração que é ainda nova e que vai ter doenças nos dedos de tanto mexer e remexer nessa invenção que foi o telemóvel. Falo antes da geração que tem mais idade e que também faz do telemóvel o uso diário que está no bolso das calças ou na carteira e que toca a qualquer hora. São aqueles que só sabem usar o telemóvel para ligar uns determinados números previamente marcados em teclas especiais, e que sabem atender cada vez que toca aquele som que, digamos, já o ouvimos um centenar de vezes e não conseguimos gostar. A geração que ainda é nova sabe usar o botão que diz silêncio e raramente ouvimos um telemóvel desta geração tocar durante a Eucaristia. A geração mais velha, como não sabe sequer que tem a possibilidade de deixar o telemóvel funcionar em silêncio, passa a vida a atender telefonemas em qualquer lado. Ou se não atende, deixa tocar indefinidamente até ele próprio se calar. É comum uma vez que outra um telemóvel destes tocar durante a missa e do meio da multidão ver-se alguém incomodado e tentar passar a bola para canto. E olhem que isto está a ser cada vez mais comum. Por isso não apontem sem dó o dedo aos mais novos, porque os mais velhos já aprenderam a ser geração do telemóvel sem aprender todas as suas funcionalidades. Que façam como eu, que nunca levo o telemóvel para a Igreja. Mas não. O telemóvel, que antigamente não existia, agora tem de ir connosco para todo o lado. Bom, e depois desta tão grande introdução, deixem-me contar o que esta tarde aconteceu apenas em duas Igrejas, em duas missas. Na primeira, um destes telemóveis tocou e a senhora salta do banco a meio da homilia, corre desenfreada para a porta e enquanto chega lá e não, já se ouve Tá lá, sim, tá. Na segunda Igreja, depois de um ou dois telemóveis se ouvirem esquecidos, há um outro que toca da carteira de uma outra senhora. Esta levanta-se com o telemóvel a tocar na mão, estávamos numa leitura, sai com passo calmo e sereno, como se nada estivesse a acontecer, e do lado de lá da porta da Igreja faz o seu diálogo que só não se ouviu distintamente, porque a leitora também estava a usar da palavra. Nisto veio o Aleluia, estávamos a preparar-nos para o Evangelho, e toca um terceiro telemóvel, pois não há duas sem três, e o seu dono não esteve com meias medidas, atende logo ali, meio acocorado, e diz Liga mais tarde que agora estou na missa. Ora, pois nós também estávamos na missa. Eu só acho é que qualquer dia quem sai da missa é Deus.

13 comentários:

Anónimo disse...

E porque não, todos fazerem silêncio e olharem para o referido dono?

Bem sei que não se deve fazê-lo, faz-me pena os idosos, sabe? Os filhos querem saber se estão bem, etc. E eles mal sabem utilizar aquela geringonça... talvez um saco dos valores, na Sacristia?! Vou falar nisso ao meu Pároco!

Anónimo disse...

Aqui há uns anos, num Tribunal situado algures no interior do país, quando os telemóveis eram bastantes caros e tinham o peso e a forma de um verdadeiro tijolo, um Sr. Dr. Advogado, muito conceituado, de Coimbra, preparava-se para entrar na sala de audiência de julgamento, onde ia intervir, quando o seu telemóvel tocou. Tocou, tocou, tocou. E o Sr. Dr. Juiz chamou, chamou, chamou… primeiro através do Sr. Oficial de Justiça, e depois, como o causídico não obedeceu ao subalterno, devido ao grave problema que tinha em mãos com a geringonça, erguendo a sua própria e poderosa voz.

Como o Sr. Advogado sabia marcar os números, mas ainda não aprendera a atender chamadas, nem a desligar o telemóvel, foi confrontando com a difícil situação de ter de calar o Sr. Dr. Juiz e a geringonça, no imediato e em simultâneo, sem saber como. E embora desse para perceber, que até lhe passou pela cabeça uma forma de calar o Sr. Dr. Juiz, fazendo uso do mero arremesso da geringonça, achou mais sensato não o fazer.

E foi assim, com grande pesar, que fui a única testemunha ocular do afogamento da valiosa geringonça, numa jarra de flores sem história, existente logo ali na entrada da Secretaria.

Quando terminou o julgamento, o Sr. Advogado regressou ao local do crime. Recuperou o corpo, virou-o de costas e deu-lhes umas palmadinhas, soprou... Esguichou uma aguinha... Sentiu-se a dor no bolso. Mas o telemóvel nunca mais deu sinal de si. Completamente falecido. Crime: Homicídio qualificado. Agente: O Sr. Advogado.Veredicto: culpado.

Anónimo disse...

Esqueci-me de concluir a história de cima. Ou antes de lhe dar uma moral, para que se possa sentir bem no espaço que ocupa. E, só por isso, passei por aqui propositadamente para recomendar vivamente ao Senhor Padre como solução para o assunto que tanto o preocupa, que durante as suas missas instigue os seus paroquianos à prática da morte por afogamento de todos os telemóveis mais atrevidos. Nestes casos não há dúvidas: não ressuscitam! Remédio santo. Nunca mais chateiam.

A maior parte das nossas Igrejas mais antigas, até tem uma pia baptismal, situada logo à entrada, que já ninguém utiliza. O que ajuda, na logística. Há que emprega-las ao serviço de uma nova funcionalidade, nunca esquecendo que se destinam ao serviço de Deus. Por isso, Senhor Padre, é enchê-la, é enchê-la, de água até a cima… deve-se estar sempre preparado, para situações de emergência.

Cabe-me contudo alertar que quanto ao instigador e ao perpetrante da destruição do aparelho (onde só não me incluo por mera conveniência), existem fundadas dúvidas se continuam a poder sonhar com o seu lugarzinho no Céu, ou, como alguém ontem dizia, se a pena não é mesmo a Geena…é que crime é crime, e não sei se passa sem julgamento (e condenação)! Mas olhe, entre ser agente de um crime, ainda que desta dimensão, ou ter Deus a sair zangado, porta fora, das suas missas… Senhor Padre… que venha o diabo e escolha! Por isso, que venha a Geena… até pode ser que lhe calhe em sorte a Davis, que tem cara de ser uma rapariga divertida e simpática...

Confessionário disse...

heheheh... qualquer dia conto outra história, mas este é mesmo para rir despregadamente.

Anónimo disse...

achei adorável este texto

Anónimo disse...

As "modernices"...eheheh! Lindo este texto. Fez uma observação engraçada! Abraço

Unknown disse...

Pois, Padre, não é só na tua paróquia que tal acontece; na minha, diria mesmo que é raro não acontecer.
A semana passada, por altura do ofertório, começou a tocar um telemóvel e a sua dona, com ele na mão, não o desligou porque queria primeiro encontrar o dinheiro para dar. Estes dois propósitos foram impossíveis de conciliar e o telemóvel foi tocando...até que se calou. Em tempos, foi posto na porta um dístico dizendo que Deus não chama por telemóvel. Mas a fé deve ser grande porque não resultou.
Mas, talvez que incluindo uma advertência no início da Missa, venha a produzir efeito,a médio prazo, e antes que seja Deus a estar a mais na Missa...
Beijinho
Ruth

PR disse...

Bom dia!
Gostei muito do texto especialmente desta parte "qualquer dia quem sai da missa é Deus.", irónico mas verdadeiro.
Faz já algum tempo, encontrava-me menos bem, saí de casa para espairecer, dei comigo à porta da igreja, entrei, estavam a decorrer as confissões, fiz as minhas orações e quase sem me aperceber dirigi-me a um sacerdote que estava a meio da igreja, não estava ninguém à minha frente e avancei, sentei-me disposta a confessar-me... entretanto o telemóvel toca, (bolas pensei eu) tinha-me esquecido que o tinha no bolso, atrapalhada meti a mão no bolso tentando desligá-lo, só que o raio do telemóvel era novo e não dava com a tecla. O sacerdote viu a minha atrapalhação sorriu e disse acontece a quem o tem e o traz consigo. Tirei-o do bolso e desliguei-o, foi embaraçoso para mim mas serviu -me de lição.
Dou graças a Deus por ter iluminado o sorriso do sacerdote, por não ter saído, pois naquele dia por meio daquela confissão aconteceu um milagre para mim.
PR

Anónimo disse...

Lol, fez-me lembrar aquele anúncio de há uns anos atrás, recordam-se do pastor no meio das ovelhas?
"Tô shim, é p'ra mim..."
Parece que aqui as "ovelhas", são mais requisitadas que o "pastor" ahahah

Peregrina Repetente disse...

Olá Conf.
Se há coisa para a qual sou cada vez menos tolerante é para os telemóveis durante a missa. Mão há missa que eu vá, seja onde for, que não toque pelo menos um telemóvel, já não há pachorra.
Tenho uma sugestão para os Srs. Padres: quando acontecer, interropam a celebração e façam uma advertência ao dono do dito e já agora aproveitem para na homilia( a jeito de sermão) pedir para os faltosos, aqueles que não desligam/silenciam o telélé os deixarem em casa.
Com mil diabos, há 20 anos atrás não tinhamos esses objectos e faziamos as mesmas coisas sem eles.
PR

Bartolomeu disse...

Pergunto: uma vez que o uso do aparelhómetro se generalizou e os seus usuários dele não prescindem em qualquer situação; não haverá forma de compatibilizar?
Ou seja: de a missa decorrer, enquanto alguém conversa ao telemóvel?
Estou lembrar-me do processo encontrado para os restaurantes e cafés, nos quais foram criadas zonas reservadas para os fumadores...
Nas igrejas, talvez fosse possível criar também uma zona acústicamente separada, onde permaneceriam durante a missa, aqueles que preferissem manter os aparelhos ligados, podendo assim atender ou fazer chamadas, sem desviar a atenção dos restantes, digo, dos não-palradores ao telemóvel.
Complementarmente, poderia ser instalada nessa zona, um descontador de tempo... como nos jogos de futebol. Assim, no final da prédica, aqueles que durante a missa tivessem usado o aparelho, ficariam durante um tempo suplementar, no qual assistiriam aos trechos que decorreram enquanto conversou.

Confessionário disse...

Bartolomeu, acho que devias registar essa patente, porque a ideia é, no mínimo, interessantíssima. Sobretudo aquela parte do descontador de tempo. ahahahaha

Anónimo disse...

Até aqui acreditava, sinceramente, do fundo do coração, nas boas virtudes dos telemóveis, se é que se pode falar em virtudes, quando nos referimos a telemóveis.