Veio uma e sentou. Outra e sentou-se. Uma de cada vez. Sentaram-se várias senhoras, ao meu lado, para se confessarem. Cada uma com as suas vidas. No meio de tanta outra gente que não se confessa, ainda há quem tire um pouco da sua vida para tirar-lhe peso, e para o entregar a Deus, através do sacramento da Confissão. Ainda há quem busque a esperança que vem do saber-nos olhados por Deus com misericórdia. Foi assim ontem e hoje, dois dias, duas experiências, que tocaram a minha vida no mais íntimo de si. Nesta certeza de que, nós padres, somos um vaso muito frágil, às vezes algo partido, onde Deus deposita a sua água viva para refrescar quem dele beber. Aconteceu ontem numa paróquia envelhecida pelo tempo. Daquelas que são feitas de pedras antigas trabalhadas com vasos nos varandins. E no meio do desfiar de pequenos nadas daquelas muitas mulheres e alguns homens que se abeiraram da confissão, senti-me pequenino. Ouvia cada palavra como se aquelas fragilidades, aqueles pecados, fossem apenas a virtude que eu queria ter na minha vida. Porque eram uma manifestação de fé simples e humilde. Porque, na simplicidade daquelas confissões, eu me achava indigno da tamanha bondade que o sacramento da confissão tem por si. Tinha dificuldade em perceber como Deus me podia usar a mim, pois que ao lado daquela gente eu era um aprendiz. E hoje, ao confessar umas dezenas de crianças da catequese, ainda mais pequeno me senti. Elas, com o seu tamanhito de palmo e meio, fizeram-me crer que possuíam mais três ou quatro palmos que eu. Sei que eu estava na cadeira que concedia a absolvição e elas na cadeira dos absolvidos. Mas fiquei com a sensação de que as cadeiras estavam trocadas ou poderiam estar. Por mais teologias que saibamos. Por mais liturgias e pastorais, normas canónicas e sacramentais. Por mais certezas de fé que a nossa vocação sacerdotal tenha, na hora em que o perdão de Deus age através de nós, somos apenas uma frágil criatura, pequenina, que é somente instrumento, e mais nada. Inquieto por não me saber merecedor, depois destas horas em que estive a confessar, agigantou-se em mim a certeza de que sou muito pequenino.
20 comentários:
Fantastico ...também eu me sinto minuscula, o caminho que tenho feito leva-me à confissão brevemente. A primeira confissão em 40 anos de vida!Queria tanto que fosse um momento especial, sentido , com verdade , como tudo o que me tem acontecido nesta caminhada de fé. Creio no entanto que depende também muito de quem estiver sentado na cadeira que "concede a absolvição"...
A confissão!
Lá fora o vento sopra forte, é uma noite fria e escura, dentro e fora.
Quero acreditar que Deus olha para mim também, e respeitou a minha decisão de ficar, tinha até a esperança que Ele a apoiasse.
Mas a noite fria e escura traz também o cansaço e o desânimo.
Sinto-me tão distante d'Ele.
Este é o meu pecado.
Tenho passado este periodo da quaresma a tentar convencer-me que sou capaz de suportar um pouco mais... mas a verdade Deus é que estou quase quase a desistir e Tu bem o sabes. Todos os dias me entrego nas Tuas mãos e todos os dias me recebo de volta.
Tu não me queres.
Mas eu quero-Te a Ti... e neste meu tanto querer vou-me convencendo que sou capaz de um pouco mais.
Mas não sou Amigo.
Hoje entrego-me nas Tuas mãos... não me receberei de volta.
Se puderes perdoa.
Eu fui confessar-me. Já não o fazia há muito tempo e foi muito difícil chegar a esse momento. Foi a Deus que pedi a coragem, foi n'Ele que encontrei as forças que me faltaram durante tanto tempo, foi no Seu Amor que encontrei a confiança e, finalmente, consegui. Tenho a certeza que quem esteve do outro lado, na cadeira de quem concede absolvição, fez toda a diferença para que eu conseguisse. Sinto, sinceramente, que, na aleatoriedade, não foi um acaso, foi uma escolha de Deus para aquele momento.
O grande homem é silenciosamente bom...
É genial, mas não exibe o génio...
É poderoso, mas não ostenta poder...
Socorre a todos, sem precipitação...
É puro, mas não vocifera contra os impuros…
e sabe admitir que errou!
Anónimo de 24 de Março 02:14...:) Ao começar a ler o seu testemunho fiquei em dúvidas se tinha sido eu a autora :) Identifiquei-me com todas as suas palavras. Eu também o fiz, depois de muito e com muita vontade de querer ser uma melhor cristã. Não sei se conhece, mas gostaria de partilhar a página da Beata Alexandrina. Tem uma linda e poderosa mensagem para todos nós. Se tiver oportunidade http://www.alexandrinadebalasar.com/index.php?cod_lang=1&cod_menu_raiz=1&cod_menu=80
Maria Oliveira
Anónimo 24/03 12:10
Gostei de ler o seu comentário!
"O grande homem é silenciosamente bom... "
Verdade que é, silenciosamente bom pois foi "tecido" "moldado" no "silêncio" da cruz.
"É puro, mas não vocifera contra os impuros…"
Também na minha óptica uma verdade inquestionável.
Quando alguém tem que "vociferar" já há muito deixou de ser puro.
No meu entender um dos maiores sinais da presença de Deus em alguém é a "doçura" com que fala mesmo que esteja muito "bravo", existe algo no tom de voz e nas palavras, que diz estou apenas irritado indignado contra esta ou aquela situação.
E eu tenho o privilégio do meu confessor ser um homem
Bom, silenciosamente bom
Genial, muito humilde
Poderoso, porque sábio bom e humilde
Socorreu-me, muito calmamente.
Mostrou-me o caminho da salvação. Vi e vejo Jesus na sua pessoa.
Puro... de coração.
Sabe admitir que errou e pedir perdão.
E aqui lhe deixo o meu humilde "tributo", pois mais palavras não tenho.
PR
Há largos anos atrás, tão largos que nem me cabem nos braços, por altura da Quaresma, o Senhor Padre bateu-nos à porta. Era meu amigo, mas veio visitar a minha bisavó. Essa, a mãe da minha avó materna, era uma mulher pequenina, redonda, com os cabelos muito brancos e os olhos muito azuis. Teve cinco filhos e um marido que lhe morreu novo. Enquanto esteve vivo, viveu para o alcóol. No intervalo, entre um copo e outro, batia na mulher. Ao que me contam, a mulher, a minha bisavó, rasurava com a cara pelas paredes, muito alvas, que coravam de vermelho muito vivo. Assim, quando o meu bisavô morreu, a minha bisavó sentiu um curto alívio. Não foi mais extenso, porque naquele tempo, não era usual haver sensações dessas com tamanho para caber uma viúva sozinha, com cinco bocas para alimentar. O miolo da sua vida foi consumido ora virada pelo marido, ora a virar-se por causa dos filhos. Na troço final da sua existência, a minha bisavó caiu à cama, onde esteve presa cerca de uma dúzia de anos. Os seus fios de cabelo brilhavam nos lençois muito brancos. Mas dizia eu, o Senhor Padre bateu-nos à porta, para visitar a minha bisavó. Num bom bocado, ele falou com ela e ela falou com ele. Foi assunto tratado a graça, a misericórdia e o perdão. No meio ou à ponta da conversa, a minha bisavó, que até nunca foi de padres, sentiu que este valia a pena. O Senhor Padre também sentiu que tinha valido a pena aparecer sem ser convidado. Em si cesceu a certeza de que iria receber uma confissão eminente, quiça salvar uma boa alma. Amparada pela intimidade proporcionada pela exiguidade do quarto e pela presença benigna do Senhor Padre, a minha bisavó, com toda a sua candura, decidiu que sim, que iria lavar a alma. Na simplicidade e humildade da imensa fé que sempre teve na misericórdia e no perdão, como caminho de salvação, desabafou rendida,com os olhos fitos na cara esperançosa do seu interlocutor, Senhor Padre, há já algum tempo que perdoei a Deus, do fundo do coração, a vida que Ele me deu, e acrescentou desanimada, Não sei porque Ele me castiga e ainda me traz por aqui! Ainda hoje me recordo da expressão de surpresa do meu querido amigo padre e professor, quando ouviu aquelas palavras, e do sorriso que se lhe seguiu e que tantou disfarçar enquanto se baixava para pegar no capacete da moto, e balbuciava, numa pressa entretanto surgida, que tinha que ser que tinha que ir, mas que a voltaria a visitar noutro dia.
Lembrei-me deste episódio e interroguei-me, E eu, já “perdoei” a Deus, como fez a minha bisavó? Aceito sem resistência que “Seja feita a Sua vontade” na minha vida?, Infelizmente, a resposta foi negativa. Penso que é precisamente devido à falta desta docilidade que ainda não me consegui sentar com a alma de joelhos e pedir a absolvição. Até porque, se a genuflectisse, muito provavelmente seria feita a Sua vontade, coisa que, como se viu, eu ainda tenho grande dificuldade em aceitar.
Fiquei comovida, ás vezes quando vou confessar-me fico no princípio um pouco acanhada e por fim abro-me totalmete porque sou muito escrupulosa, mas esqueço-me que estou à frente de uma pessoa humana, mas para mim é Deus que está ali, que deu Deus puder àquele sacerdote para o sustituir no perdão, na procura de um caminho mais santo, é assim que vejo o sacerdote, um instrumento do Senhor. Mas esqueço-me que tanto como nós os sacerdotes são humanos que também têm as suas dores e os seus sofrimentos e precisam~da retribuição do amor e compaixão que com tanta disponibilidade.Nós ouvem e aconselhem
Grande abraço
Maria
Boa noite Padre.
Vim agora de fazer o sacramento da reconciliação.
Na paróquia, que frequento, o pároco faz uma celebração penitencial o que ajuda bastante a nossa preparação para nos confessarmos, mas mesmo assim,fico sempre um pouco constrangida.No final fica-se bem e aliviada.
Gostei imenso do seu texto, pois nós, não imaginamos muitas vezes o que vai na alma do outro, neste caso do confessor.
Claro que há pessoas simples mas com um coração muito grande,mas Deus serve-se de si para estar ao serviço das pessoas.Acho que não se deve sentir assim " tão pequenino"
pois é mesmo assim que o Senhor o quer na sua missão,pois Cristo quando escolheu os apóstolos escolheu-os também com defeitos e fragilidades.
Peço ao Senhor, pela Sua Igreja e que aumente a nossa fé.
Uma boa Semana Santa.
Parece que não sou única a quem a Confissão assusta. Tenho imensa vontade de o fazer e maior a necessidade, mas falta-me a coragem! Não consigo ter confiança nos sacerdotes, da minha paróquia, não consigo ter uma conversa sequer, sobre o que me angustia. Talvez mais uma Páscoa passe e eu sem me confessar. Não quer dizer com isto que tenha pecados mortais ou que se pareçam, penso eu, mas há questões que me perturbam. Até ter coragem e confiança, que Deus me perdoe e tenha paciência comigo. Pois se há algo em que acredito firmemente é na misericórdia de Deus Pai Todo Poderoso. Feliz e Santa Páscoa
Tenho medo, medo a sério.
Padre confessionário, gostava de esclarecer uma duvida se possivel.
Á um ano confessei-me, desde entao não tenho cometido pecados muito graves, pelo menos mortais acho.
Sera que posso continuar a comungar sem voltar a confessar-me este ano,
Ou temos que nos confessar todos os anos?
obrigado.
Também fui instrumento de Deus..quando ensinei cada um dos meus filhos a dar os primeiros passos..e a a balbuciar o nome da Mãe...e isso você não sabe...
Confesar só tem sentido...se for ajudar alguèm a pedir perdão ao Pai...e voltar a amar...
Devemo-nos confessar para ficar em graça. Caso estejamos em graça (não tivermos cometido pecados graves) não precisamos confessar-nos.
No entanto, como sacramento que é, devemos de vez em quando abeirar-nos dele. Daí que pode ser conveniente, para preparar melhor a Páscoa, confessar-nos.
abraço e Boa Páscoa a todos
Não sei viver sem o sacramento da confissão, aproxima-me de Deus, Deus vai crescendo cada vez mais em mim...dá-me o dom da humildade...enche-me com a Sua Luz e eu...vejo cada vez mais defeitos...Ele vai arracando raízes...raízes do pecado... e plantando sementes de Amor...O Sacramento da Confissão fortalece-me nos caminhos tortuosos da vida.
Um sacramento de cura...de tantas feridas interiores já fui curada por este sacramento, inclusivé curas físicas que nem sequer pedi a Deus, mas Ele concedeu-me por intermédio deste sacramento. Os benefícios da frequência deste sacramento não afeta apenas a nós, mas, também, o nosso próximo. Um filho meu obteve uma cura após uma confissão feita por mim. Na confissão partilhei com o meu confessor habitual o problema que estava enfrentar. Graças a Deus vivo de forma habitual em estado de graça, mas não dispenso a confissão. Agradeço do fundo do coração a todo o sacerdote e a Deus o Dom do sacerdócio. Que Deus vos abençoe, que Maria Vos proteja com o Seu Manto.
Confessionario disse : "...E no meio do desfiar de pequenos nadas daquelas muitas mulheres e alguns homens que se abeiraram da confissão, senti-me pequenino. Ouvia cada palavra como se aquelas fragilidades, aqueles pecados, fossem apenas a virtude que eu queria ter na minha vida. Porque eram uma manifestação de fé simples e humilde."
Hoje cai aqui de paraquedas, encontrei este espaço ao consultar um bloguer de um amigo e confesso que gostei muito de alguns textos que li aqui espostos.
Contudo gostaria apenas de referir que neste texto algo me intrigou e chamou e virou a minha atençao por isso vou deixar aqui uma questao, que contudo me agradaria uma resposta, se possivel do autor do confessionario.
Que pecados e fragilidades pode alguem confessar, que leva um padre a escrever que era a virtude que queria ter na sua vida sendo uma manifestaçao de fé simples e humilde?
Achei estranha esta passagem do texto.
Obrigado pela atençao.
Muito interessante este seu espaço confessionario.
Abraço.
Gabriel
Olá, Gabriel
Não se trata propriamente dos pecados das pessoas serem virtudes, mas que me fazem sentir pequeno, pois que ao seu lado, ao lado dos seus pequenos pecados, me sinto imensamente pequeno para ser o instrumento de Deus a fim de lhes serem perdoados.
Obrigado pela explicçao meu caro.
Abraço Gabriel
Nossa Padre...fiquei chocada com tudo que escreveu aqui...
O senhor eh um homem de profundo sentimento...
Nao se sinta pequeno, Deus da a cruz que podemos carregar...
Fique em paz.
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