sexta-feira, novembro 23, 2012

Deus não quer a nossa religiosidade

Alguém me dizia há dias, porque estava a fazer coisas que, se notava, não me saiam propriamente do coração, que eu ainda não era livre. E não sou tal e qual. Há muito que não sinto a liberdade do Deus que me chamou a ser livre. Porque me canso com uma Religião que vive apenas a religião e que não me deixa viver a fé. Cansamo-nos a trabalhar partindo do princípio que as pessoas têm fé. Mas a verdade é que não têm. Dizia há dias um colega que quanto mais acreditava, menos fazia. Menos coisas fazia. E tinha razão. Ainda há-de chegar o dia em que as pessoas hão-de perceber nitidamente que Deus quer a nossa felicidade e não a nossa religiosidade. Um dia os padres hão-de cansar-se de ser ministros e vão deixar as paróquias serem comunidades. Um dia vamos fechar o super-mercado que são as nossas Igrejas para as transformarmos no abrigo da nossa comunhão. Um dia. Um dia. Entretanto, deixem-me continuar preso a esta correia que me puseram ao pescoço. Não, não é um cabeção. Não é um fio de ouro. Não é visível. Só eu é que a vejo, e quem me vai conhecendo. Mas Um dia há-de chegar.

20 comentários:

Ana Melo disse...

Amei. Comungo.

Anónimo disse...

Oh!
"...uma Religião que vive apenas a religião e que não me deixa viver a fé. "
Não fiquei surpreendida com o seu "desabafo".
A minha surpresa tem mais a ver com o fato de o ver exposto publicamente.
Permita-me o reparo, vocês padres mais jovens, colhem os frutos plantados pelos vossos antecessores (alguns não todos).
" ...que as pessoas têm fé. Mas a verdade é que não têm...." Eu não diria que as pessoas não têm fé, diria que nunca foram orientadas para viver essa fé em comunidade. E perante esta sociedade de consumo, acomodam-se, habituaram-se a ter tudo pronto a comprar tudo feito... Com a fé é uma situação idêntica ter fé e assumi-lo dá muito trabalho, pois a fé arranca em nós o "eu" e coloca o "nós". É algo que temos que ser nós a fazer, muitas vezes na solidão e no desespero.
Meu Amigo (permita-me a expressão) é uma tarefa que exige trabalho diário (árduo)constante e que nunca está concluida.
Entretanto terá que continuar a cumprir as obrigações que lhe foram atribuidas pela religião, até que e após muitos alertas como o que hoje aqui deixou todos cheguemos à conclusão que "A religiosidade mata", e que nós queremos estar vivos, viver e ser aqui e agora, convictos de que se deixarmos de fazer as coisas com o coração nesta terra, não serão feito na outra.
Confie que esse dia chegará, dessa forma será menos penosa a travessia.
Chegaremos, sei que alcançaremos essa meta.
Fique bem!
Muita Força!

Maria de Fátima disse...

Eu também o compreendo Sr.Padre.
Olhe, lembrei-me a propósito deste seu "desabafo" ( se é que posso chamar-lhe assim), do que disse o, então, Pe. Joseph Ratzinger sobre o futuro da Igreja, há 40 anos atrás.Está publicado na Revista Humanitas da Universidade Católica do Chile.

maria disse...

:)

meu querido amigo, penso que estás a ir muito bem. Só não esperes que as coisas mudem fora de ti. não me parece nada que isso vá acontecer. a meta tens de a continuar a procurar "dentro" - abrindo-te ao exterior, claro.

Um beijinho e força.

Unknown disse...

Padre, o seu desabafo e quase um grito. Tenho andado a pesquisar artigos sobre a Igreja e seus Ministros e digo-lhe que a fe nao se desmoronou mas abanou um bocado, E digo fe indevidamente, pois quase sempre se considera Fe e Religiao como um todo, o que nao e verdade.Mas uma leva a outra.
A religiao, que considero necessaria, pois em tudo tem de haver principios e regras, precisava tambem de ser refundada.
Os seus sacerdotes sao tratados duma forma demasiado terrena para servirem o divino,ocasionando, ao fim de algum tempo, o desmoronar de sonhos e um desgaste psicologico conducentes a crises por vezes dificeis de ultrapassar.
Mas creio que o seu grito agora exposto , nao trara resultados positivos a curto prazo.
Tera de serenar e ganhar animo para cumprir nao o que sonhou mas o que lhe foi destinado e, certamente com Amor,por vezes esforcado, conseguira estabelecer um elo de ligacao entre o que e e o que deveria ser.E que, quem sabe, um dia venha a ser.
Um abraco
Ruth

Adalberto Macedo disse...

Confessionário.
A resignação e a frustração alastram no seio do clero e entre os membros mais jovens da igreja. Nalgumas aldeias as comunidades católicas são fundidas e os poucos padres disponíveis estão completamente sobrecarregados e apenas servem para disfarçar uma reforma atrasada 200 anos, como dizia o cardeal Martini.
Parodiando um verso de El ama: “ Ela e o campo fizeram-me poeta “ - foi a religiosidade e a fé que te fizeram sacerdote! Não vai ser fácil conviver com a cúria romana, com o pilar institucional nesse estado! A hierarquia a quem fizeste o voto de Obediência tem poder decisivo. Totalmente decisivo, ainda que não actue de modo mecânico e sempre igual, pode funcionar através da sedução, da reação, de uma escolha de influências …, eu sei lá.
“Entretanto, deixem-me continuar preso a esta correia que me puseram ao pescoço.” Confessionário, já uma vez disse-te que tens a minha mão. A decisão é tua. A mão é minha e continua disponível. As reformas não são fáceis, mas são urgentes ….

Anónimo disse...

Também penso que Jesus nao deve gostar nada da Igreja que se arquitectou, desde que subiu ao céu. Aqartelou-se segundo os mesmos moldes que se usa na luta dos povos para sobreviver e predominar. Construiu castelos, com muralhas e exército próprio,ergueu paços prenhes de luxo e eminências pardas. Imperializou-se através das terras como susenarias pricipescas. disputou o poder político e soberania como se fosse um estado. Distribuiu terras pelos servidores. Ordenou seus fiéis representantes como regedores das consciências.
Elaborou códigos de conduta e boas maneiras, engalanados de espalhafatosas liturgias.
Organizou festejos e rotinas de clubes...
Toda uma descomunal parafernália de métodos e artes de salvar as almas...da sua condenação eterna.

Viveu dos medos dum Deus castigador e não paternal...

O resultado está à vista: tantas incertezas e desadaptações ao que é essencial que é levar as gentes a amarem Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos...

Anónimo disse...

Bom dia Confessionario.

Já não é a primeira vez que certas inquietações que me causam desconforto se encontram publicadas neste blogue,ou no próprio dia ou nos dias que se seguem. Mais uma vez assim aconteceu!
Ontem foi um daqueles dias em que o pensamento,teimosamente,nos leva para longe daquilo em que nos devíamos concentrar.
Fui á missa e confesso com muita pena que não me lembro da maior parte da homilia.A cabeça teimava em não permanecer.
Quando me deitei aquilo ainda me incomodava.Então dei por mim a pensar na maneira como rezo. Já tenho notado algum tempo que não me faz sentir Deus como eu gostava. Muitas vezes rezo com os lábios mas o coração anda longe e fica um vazio que incomoda. E perguntei:
Meu Senhor e Meu Deus as orações repetitivas agradam-Te?
Os rituais da maneira que estão instituidos são ao Teu gosto?
Em resposta veio a lembrança de quando era criança e tinha medo do escuro,quando ia pra cama e a minha mãe insistia que tinha de apagar a luz. O que eu mais queria era ter um adulto que ficasse ali toda a noite a guardar o meu sono e que afastasse pra longe os papões que povoavam a escuridão. Só assim o meu sono podia ser completamente sossegado.
A minha mãe bem me dizia pra não ter medo que Jesus estava lá comigo.
Pois sim!!! Selá estava ,devia estar todo encollhido a tremer mais que eu,porque eu bem abria os olhos mas Dele nem sinal.
Isto tudo pra dizer que cometia em criança o mesmo erro que cometem muitos adultos que é procurá-Lo fora quando Ele está dentro.
Dentro do nosso coração,tal como a mulher grávida sente o filho no ventre.
Daí a falta de fé de muita gente que bem escancara os olhos mas coma não vê,desiste.Pra muitos Deus ou está no céu ,e isso deve ser longe como tudo,ou está trancado na igreja , ou recebem a sagrada comuhão e como a particula é engolida,e digestão segue o seu curso e Deus tem dentro deles um prazo limitado.
Isto leva-me ao principio deste comentário será que Deus não prefere que ao longo do dia eu o sinta dentro de mim tal como disse, como uma mãe sente o filho dentro de si ? E se nesses breves segundos o amor me inundar,não valerá mais a pena que todas as orações?
Fiz um propósito.Apartir de hoje vou rezar mais assim.
Beijinhos.Maria Ana.

mj disse...

Os perigos da Igreja imperial de Constantino.

Por isso S.Bernardo lembrou ao Papa da altura:"És sucessor de Pedro e não de Constantino".

Anónimo disse...

O teu post Padre e agora este que aqui deixo de outro blog, são aragens que vão soprando do ES por estes cantos… graças aos dois por eles… o caminho vai abrindo-se aos poucos…

http://religionline.blogspot.pt/2012/11/a-justica-como-rosto-social-da-caridade.html

Abraços fortes...

Anónimo disse...

Será que devemos deixar-nos presos, apesar de todas as validas justificaçoes que possamos ter para nada fazer? Se sentimos que estamos apresionados, não seriamos melhor se falassemos menos e fizessemos mais pela nossa liberdade? Não tentar pelo menos viver de acordo com o que o que acreditamos não se Vive, sobrevive-se e isso não é nada. Nascemos para Viver, aprender e sermos felizes :)

Maria Oliveira

Confessionário disse...

Eu esforço-me, Maria. Mas tb me canso de me esforçar! E volto a tentar. E volto e cansar-me. É sempre assim... Julgo que tb é assim que se faz o Caminho!

Anónimo disse...

Votos sinceros que o esforço seja o correcto e que o direcione sempre para o que o faça feliz, que nunca se deixe abalar pelo cansaço.Afinal, às vezes, o grito, mesmo que mudo, tem que ser ouvido e sentido para a mudança. É assim que me sinto. Maria Oliveira

Anónimo disse...





Armado com fé,
Sigo em frente,
Nos sendas da vida,
Sei que não vou só.

Alguém vai sempre a meu lado,
Atento a mim.
Com ar paternal.

Só preciso sentir

Sem Ele,
Eu não sou ninguém.

Tudo o que faça,
Pense ou diga,
Fica marcado
Com a marca que vem
Sem eu a marcar.

Sigo em frente
E sei que um dia,
Ao chegar,
Vim no caminho
Que Deus me traçou,
Nas sendas da vida.

Como agora eu sou
E sempre serei.

Basta ser d’Ele,
Por fora e por dentro.

Ouvindo André Rieu em Deus Pai

Zehlendorf, 27 de Novembro de 2012
8h13m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes





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Anónimo disse...

Bom dia
"...falassemos menos e fizessemos mais pela nossa liberdade?..."
Não é simples!
Deve ser uma da tarefas mais complicadas desta vida.
Não sou de falar muito. Cresci com poucas palavras.
O "trabalho/acção" foi sempre o mediador entre o eu e a aprendizagem. Costumo dizer que sou pouco inteligente, sou apenas trabalhadora. Em todas as àreas da vida.
Estou "presa" numa situação. Tomei uma decisão errada.
Humanamente já fiz tudo o estava ao meu alcançe. Já falei e já desesperei, caí num esgotamento fisico. Pedi ajuda. A situação em nada se alterou. Apenas se agrava com o passar dos dias, digo dias pois não há um único dia em que essa "condição/estado" não se verifique.

"...Nascemos para Viver..." Concordo, no entanto recordo-me de algo que outrora alguém escreveu "O homem é ele mesmo e as circunstâncias" eu acrescento que as circunstâncias condicionam o agir do homem, negá-lo seria insensatez.
Seria fácil para mim sair dessa "condicionante", mas as conseqências dos meus actos seriam nefastas para pessoas que amo mais do que a minha própria vida.
"...Eu esforço-me...", "...Mas tb me canso de me esforçar! E volto a tentar. E volto e cansar-me...", Se bem que num ambiente diferente é como me sinto, com uma variante, não há caminho.

Confessionário, muita força para si.
Neste momento, peço-lhe que acredite, que desejo que tenha a força que me falta. Atrevo-me a dizer (timidamente) ainda que se canse não desista, faça-o pensando em si, e porque não dizê-lo, pensando em alguém algures que você não conhece, mas que precisa muito dessa força para manter-se "viva".


Joana disse...

Aónima de 27 Novembro, 2012 11:40

Compreendo muito do que descreve.
Mas na minha opinião, ao contrário de si, eu quero acreditar que há e existe caminho, nós é que neste momento mais obscuro das nossas vidas, ainda não o conseguimos ver, nem alcançar...

Bjs

laureana silva disse...

Estou consigo, o seu texto leva-nos à reflexão, um dia essa correia invisível que o prende, há-de soltar-se. Sobretudo não perca a fé e a esperança.Lembra-me o meu professor de religião e moral há uns quarenta anos atrás, que nos dizia: um dia nós vamos deixar de ser obrigados a andar de batina e cabeção, porque isso não faz de nós melhores padres. É preciso mudar as mentalidades.Naquele tempo era chocante ouvir dizer isso. Caramba, os padres estavam tão acima de nós, porque haviam de querer ser iguais aos leigos e até trajar da mesma maneira? Mas a liberdade de escolha chegou e não deixaram de ser menos respeitados por isso.Há um tempo para tudo, só que às vezes não é tão rápido quanto nós desejamos.
Abraço fraterno.
Maria

Rosa disse...

De volta ,e a ler tudo que deixei e que gosto muito,tem razão um dia vai chegar de verdade,uma Igreja em que todos vivam Cristo em Comunidade,trabalhando para o mesmo Deus,sem desejo de prémios e louvores.Igreja fraterna.
Sr Padre tem facebook? gostava muito de...absorver mais um pouco

Anónimo disse...

Se faz a sua parte porque deixa que os resultados o desmoralizem? E se Deus age no coração de cada um porque deseja ver quase como seus os frutos? E se se sente preso, sem que possa viver a fé, não poderá isso ser mais um problema seu do que da religião ou do povo sem fé? Que produtos vende o seu supermercado padre, mas não a minha igreja? Serão as missas? Serão as confissões? Serão as intenções? Será a catequese? O que será? O que está disposto nas prateleiras do seu supermercado, que se sinta servir como quem avia um freguês, que eu não disponha na minha paróquia? E se, deseja envolver a comunidade nas paróquias onde é pároco, porque não o faz ao ponto de se sentir realizado e menos frustrado? Nunca forçamos o que desejamos para Deus, porque Deus não precisa dos nossos esforços, apenas do nosso amor, mas forçamos o que necessitamos para nós.

Anónimo disse...

Eu tenho um sonho… sonho que todos os padres aprenderão a ser livres. Que deixarão Deus torna-los livres. Que se deixarão a eles mesmos serem livres. Eu ainda tenho um sonho… que o cabeção seja superior a qualquer correia… que os padres do mundo saibam encontrar os seus próprios sonhos nos sonhos de Deus.

(Hoje, Martin Luther King “I have a Dream”, de há 50 anos…)